Guiné > Zona leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Posição relativa de Fá Mandinga, a escassa meia dúzia de quilómetros de Bambadinca, na direção de Bafatá.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).
1. E a propósito de Fá Mandinga ter sido (ou não) uma "terra importante" no TO da Guiné (*)... Aparentemente teve um papel discreto na guerra... E,. durante muito tempo esteve associada ao nome do engº agrónomo Amílcar. De facto, a estação agrária experimental de Fá tinha boas instalações, entretanto desafetadas com o início da guerra. Mas Amílcar Cabral nunca ali trabalhou, e muito menos viveu. Ele e a sua primeira esposa, portuguesa, Maria Helena Rodrigues, silvicultora, viveram e trabalharam na estação agrária experimental de Pessubé, nas imediações de Bissau, entre setembro de 1952 e março de 1955 (Vd. planta da cidade de Bissau, em baixo).
Mas foi lá, em Fá Mandinga. que se formou a 1ª Companhia de Comandos Africanos e de lá partiu para a aquela que viria a ser mais tarde, em 22 de novembro de 1970, a Op Mar Verde (, invasão anfíbia de Conacri). E a seguir à 1ª, vieram lá formar-se a 2ª e 3ª CCmds Africanos. com as quais se constituiu mais tarde o Batalhão de Comandos Africanos. Sem esquecer o Pel Caç Nat 63, comandado pelo nosso "glorioso alfero Cabral"...
Para tirar as dúvidas, o nosso assessor militar, José Martins [, foto atual à direita ], mandou-nos esta lista, a seguir publicada, de unidades que passaram por Fá Mandinga,...
Curiosamente parece haver um lapso em relação ao Pel Caç Nat 63, que de facto esteve em Fá Mandinga pelo menos desde o 2º semestre de 1969 até meados do 1º semestre de 1970 (ou mais), indo depois para Missirá em substituição do Pel Caç Nat 52 (que era comandado pelo Beja Santos). O Pel Caç Nat 63 voltaria a Fá entre novembro de 1972 e agosto de 1974 (quando foi extinto).
O primeiro batalhão (, ou respetiva CCS,) a estacionar em Fá Mandinga terá sido o BCAÇ 607 (julho de 1964/abril de 1966). O BCAÇ 1888 também lá esteve, a partir de abril de 1966, indo depois para Bambadinca em novembro desse ano. Também passaram por Fá, a CCAÇ 1589 (entre dezembro de 1966 e abril de 1967, seguindo depois para Madina do Boé (**). Igualmente lá estiveram, cerca de 3 meses, antes de irem construir Mansambo, os "Viriatos", a companhia do Carlos Marques dos Santos e do Torcato Mendonça, a CART 2339 (***). E muitas mais... (LG)
Unidade
|
Origem
|
Chegada
|
Saida
|
Destino
|
BCaç 697
- CCS
|
RI 15
|
Jul 64
|
Abr 66
|
Fim
comissão
|
CCaç
674
|
RI 16
|
Jul 64
|
Jul 64
|
Fajonquito
|
CCav
678
|
RC 7
|
Set 64
|
Jan 65
|
Ponta do
Inglês
|
Pel
Rec Daimler 809
|
RC 6
|
Nov 64
|
Jan 66
|
Dulombi
|
BCaç 1856
- CCaç 1417
|
RI 1
|
Set 65
|
Mai 66
|
Bajocunda
|
Pel Mort
1028
|
RI 2
|
Set 65
|
Nov 66
|
Bambadinca
|
BCaç 1888
- CCS
|
RI 1
|
Abr 66
|
Nov 66
|
Bambadinca
|
BCav
705 - CCav 702
|
RC 7
|
Abr 66
|
Mai 66
|
Fim
comissão
|
BCaç 1887
- CCaç 1547
|
RI 1
|
Mai 66
|
Set 66
|
Bula
|
Pel Rec
Daimler 1133
|
RC 6
|
Ago 66
|
Out 66
|
Bambadinca
|
BCaç 1887
- CCaç 1546
|
RI 1
|
Out 66
|
Dez 66
|
Bissau
|
BCaç 1888
- CCaç 1551
|
RI 1
|
Nov 66
|
Jan 67
|
Xitole
|
BCaç
1894 - CCaç 1589
|
RI 15
|
Dez 66
|
Abr 67
|
Madina do
Boé
|
CCaç
817
|
BC 10
|
Jan 67
|
Fev 67
|
Fim
comissão
|
CCaç
818
|
BC 10
|
Jan 67
|
Fev 67
|
Fim
comissão
|
CArt 1661
|
RAC
|
Fev 67
|
Abr 67
|
Enxalé
|
BCaç 1912 –
Ccaç 1685
|
RI 16
|
Abr 67
|
Out 67
|
Fajonquito
|
CCaç 1426
|
RI 16
|
Abr 67
|
Mai 67
|
Fim
comissão
|
CCaç 1439
|
BII 19
|
Abr 67
|
Mai 67
|
Fim
comissão
|
BArt 1913
- CArt 1689
|
RAP 2
|
Mai 67
|
Jul 67
|
Catió
|
BArt 1904 - CArt 1646
|
RAP 2
|
Ago 67
|
Jan 68
|
Xitole
|
BArt 1904 - CArt 1646
|
RAP 2
|
Set 67
|
Out 69
|
Fim
comissão
|
BCaç 1933
- CCaç 1790
|
RI 15
|
Out 67
|
Jan 68
|
Madina do
Boé
|
BCaç 1888
- CCaç 1551
|
RI 1
|
Nov 67
|
Jan 68
|
Fim
comissão
|
CArt 2338
|
RAL 3
|
Jan 68
|
Abr 68
|
Nova
Lamego
|
CArt 2339
|
RAL 3
|
Fev 68
|
Mai 68
|
Mansambo
|
CCaç 2383
|
RI 2
|
Mai 68
|
Jul 68
|
Nova
Lamego
|
CArt 2413
|
RAP 2
|
Ago 68
|
Set 68
|
Xitole
|
BCaç 2852
- CCaç 2405
|
RI 2
|
Dez 68
|
Dez 68
|
Galomaro
|
BCaç 2851 –
Ccaç 2403
|
RI 1
|
Fev 69
|
Abr 69
|
Mansabá
|
1ª CCmds
Africana
|
CTIG
|
Jul 69
|
Jul 69
|
Bajocunda
|
1ª CCmds Africana
|
CTIG
|
Set 70
|
Jul 71
|
Brá
|
Pel Caç
Nat 52
|
CTIG
|
Jan 71
|
Jul 71
|
Missirá
|
2ª CCmds
Africana
|
CTIG
|
Abr71
|
Out 71
|
Brá
|
3ª CCmds
Africana
|
CTIG
|
Abr 72
|
Set 74
|
Extinção Unidade
|
Pel Caç
Nat 52
|
CTIG
|
Abr 72
|
Jul 72
|
Ponte R Unduma
|
Pel Caç
Nat 63
|
CTIG
|
Nov 72
|
Ago 74
|
Desativada
|
BArt 3873
- CArt 3493
|
RAP 2
|
Dez 73
|
Jan 74
|
Bissau
|
Undiades que passarm por Fá Mandinga
Fonte: José Martins (2014) (****)
Planta da cidade de Bisssau (c. 1975) > Posição relativa de Pessubé que, no início dos anos 50, ficava já bastante longe do centro de cidade de Bissau.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).
____________Notas do editor:
(*) Vd. poste de 9 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13263: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): 14 mesas, de 10 lugares cada uma, com os nomes das localidades que foram sedes de batalhão ao longo da guerra... Mas cada participante (camaradas e seus acompanhantes) senta-se onde muito bem lhe aprouver...Não há lugares marcados à sombra do poilão da Tabanca Grande ...
(**) Vd. poste de 11 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4510: Memória dos lugares (31): Fá Mandinga, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)
(...) Sobre o Aquartelamento de Fá Mandinga, ainda recordo que:
Em Dezembro de 1966, a minha CCAÇ 1589, recebeu Guia de Marcha para Fá Mandinga. Embarcamos em Bissau numa LDG em direcção a Bambadinca e daí seguimos em viaturas, pela estrada em terra batida, que estava a ser aberta pelo Batalhão de Engenharia, em direcção a Bafatá [, mais tarde alargada e asfaltada, no 2º semestre de 1967].
A certa altura viramos à esquerda e entramos na picada que nos ia levar a Fá. Era tão estreita que mal lá cabiam uma GMC ou uma Mercedes. Passamos o Aquartelamento de Fá de Cima e começámos uma íngreme descida até Fá de Baixo.
O Aquartelamento era constituído por 4 grandes barracões, dois de cada lado, com uma grande parada no meio. À volta era só capim, que era preciso desbastar para podermos ver mais longe e evitar surpresas “desagradáveis”, embora o pessoal de Fá de Cima nos protegesse pois, devido á sua posição no cimo da colina, viam muito mais longe. Mas, pelo que eu sei, Fá nunca foi atacada.
A partir daqui fizemos várias operações, com outras Companhias que tinham a sua base em Porto Gole. A maior delas foi à mata do Saraoul, durou 10 dias e foi feita a nível de Batalhão.
A partir daqui fizemos várias operações, com outras Companhias que tinham a sua base em Porto Gole. A maior delas foi à mata do Saraoul, durou 10 dias e foi feita a nível de Batalhão.
(...) Pouco tempo depois recebemos guia de marcha para Madina do Boé.
Quanto ao quartel de Fá, lembro-me que o 1º barracão se situava do lado direito de quem entrava no quartel e servia de caserna dos praças e quartos dos sargentos, e o 2º destinava-se aos Comandantes e, creio que também, a camarata dos oficiais.
Nas traseiras do 1º barracão estava instalado o “meu” Posto de Socorros e o reboque com o material de Campanha do SS, que nunca foi usado. O 2º pavilhão, do lado esquerdo, só estava meio ocupado por nós, pois a outra metade estava vedada com rede e tinha guardado o material, para a fazenda do Amílcar Cabral [, informação errónea, já que o eng agr Amilcar Cabral nunca trabalhou aqui, mas sim na Granja de Pessubé (LG)].
Não me lembro onde ficavam a cozinha nem as oficinas auto. (...) Armandino Alves, 1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589 (1966/68) (...)
(***) 11 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4809: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (12): Fá Mandinga, o único sítio onde tive direito ao luxo de um quarto
(****) Último poste da série > 28 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13202: Consultório militar, de José Martins (3): O ataque do PAI - Partido Africano da Independência a Catió em 25 de junho de 1962, seguido da destruição da jangada de Bedanda, do corte de fios telefónicos e estradas com abatizes
8 comentários:
José Martins
Dizes de Fá Mandinga logo no início:
"Aparentemente teve um papel discreto na guerra".
Pois! Talvez para quem andou só por ali, Xime, Xitole, Enxalé... e mesmo assim...
Para a minha Companhia (CART 1689) foi, praticamente só um dormitório, pois para além dessas operações "locais", serviu para base de saída (e, depois, de descanso) para operações para a zona do OIO, que duravam quatro, cinco dias, seguindo-se até ao norte de Bafatá em viatura. Nem todas as Companhias faziam só a guerra na SUA zona de aquartelamento. Apesar de termos sido, depois, deslocados para Catió, fomos, a partir de lá, fazer guerras à zona de Empada (construção de Gubia) e à zona de Aldeia Formosa (construção de Gandembel).
Um abraço
Alberto Branquinho
Peço desculpa...mas há que corrigir alguns lapsos.
O Pel. Caç. Nat.63 foi para lá em Julho de 1969.
A 1ª Comp. Com. Afric. chegou em Fev de 1970.
Abração.
J.Cabral
Alberto, o texto introdutório é do editor, e não do assessor... Só conhecei Fá, de julho de 1969 a fevereiro de 1971... O relativo oásis nessa época, comparado com Missirá... Daí a minha entrada, cautelosa: "Aparentemente" teve um "papel dsicreto"... na guerra.
Ainda bem que leste, estavas atento e comentaste...
Um abraço. Luis
Jorge, não acho que tenhamos de pedir desculpa uns aos outros por lapsos, erros ou gralhas que não são obviamente intencionais, feitos de má fé, etc. Há imprecisões, omissões e erros factuais que nos escapam ou de que não damos conta, e que já v~em, muitas vezes, de trás, de outras fontes...
O que temos a fazer, nestes casos, é simplesmente chamar a atenção e corrigir. Pedagogicamente.... Um erro (ou umamentira) sistematicamente propalado corre o risco de se transformar numa verdade...
Por exemplo, a estadia de Amílcar Cabral em Fá Mandinga é um "mito" que se vai perpetuando nos nossos escritos...
É possível que ele, o engº agr Amílcar Cabral, tenha passado por lá, como terá passado por outros postos agrários experimentais, Bula, Safim, Bigene, Nhacra e Prábis... Mas onde ele teve casa e viveu com a sua 1ª esposa foi em Pessubé, na estação agrária de Pessubé de que foi diretor... Falei com o Pepito diversas vezes sobre isso...
Jorge, não acho que tenhamos de pedir desculpa uns aos outros por lapsos, erros ou gralhas que não são obviamente intencionais, feitos de má fé, etc. Há imprecisões, omissões e erros factuais que nos escapam ou de que não damos conta, e que já v~em, muitas vezes, de trás, de outras fontes...
O que temos a fazer, nestes casos, é simplesmente chamar a atenção e corrigir. Pedagogicamente.... Um erro (ou umamentira) sistematicamente propalado corre o risco de se transformar numa verdade...
Por exemplo, a estadia de Amílcar Cabral em Fá Mandinga é um "mito" que se vai perpetuando nos nossos escritos...
É possível que ele, o engº agr Amílcar Cabral, tenha passado por lá, como terá passado por outros postos agrários experimentais, Bula, Safim, Bigene, Nhacra e Prábis... Mas onde ele teve casa e viveu com a sua 1ª esposa foi em Pessubé, na estação agrária de Pessubé de que foi diretor... Falei com o Pepito diversas vezes sobre isso...
Amílcar Cabral foi-lhe inaugurado simbolicamente um monumento naquele cruzamento da Estrada da Granja, onde ele trabalhou com a sua esposa "provisória".
Esse mapa de Bissau está desacualizado, é já do tempo a seguir ao 25 de Abril, e já mudou muita coisa.
Esse cruzamento com essa estrada e a Unidade Guiné Caboverde e a 2ª cintura, (Chapa Bissau) ou seja o verdadeira entrada na Bissau daquele tempo, é que Nino Vieira simbolocamente nos 20 anos do aniversário do assasinato de Amílcar prometeu um futuro monumento.
Mas A estátua de Amílcar ficou perto do aeroporto, bem longe da velha entrada da capital, contemporânea de Amílcar.
"E já teve muita sorte"
Luís
Obrigado pelo esclarecimento.
José Martins
Desculpa o meu lapso de leitura. Sempre a apreciar os teus trabalhos de investigação!
Abraço para ambos
Alberto Branquinho
Eu e a minha CCav 703 também estivemos aboletados na granja experimental de Fá, em fim de comissão, quando fomos rendidos em Buruntuma pela CCaç 1416, em finais de Abril de 1966.
Dizia-se que fora criada e dirigida pelo engº Cabral, para experimentação de novos métodos da cultura do arroz (não me recordo de ter bolanhas).
Fomos embarcar a Bambadinca em LDM (ou LDP?) e, à vista de Bissau, protagonizamos o "adeus às armas" lançado ao Geba a nossa tralha de uso pessoal, em grande algazarra, ficando apenas com a roupa do corpo. E escaparemos por pouco a uma "porrada".
Mil anos de vida para a malta do blogue!
Manuel Luís Lomba
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