Ponte de Sor > 5 de novembro de 2016 > Convívio anual do pessoal da CCAÇ 557 (1963/65) > O Zé Colaço, à esquerda; o Chico Santos, à direita.
Foto (e legenda): © José Colaço (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Troca de 'mimos poéticos' entre o nosso editor, Luís Graça, e o poeta popular Chico Santos, o bardo do Como e do Cachil, ao tempo da CCAÇ 557 (1963/65)... Como o Chico, mesmo sendo nosso grã-tabanqueiro com todo o mérito, não tem email, é o Zé Colaço que serve de pombo correio...
Mote (Luís Graça)
Sois os últimos moicanos,
Os do Como e do Cachil,
Se a guerra vos tirou anos,
O bom irã dá-vos mil!
Fomos os últimos moicanos,
No Como cheios de sebo,
O bom irã dá-nos mil anos,
De seres do além não percebo.
Errar resposta não quero,
Por isso à box me encosto,
A minha educação é zero
E, como nada sei, até gosto.
A escola para mim foi pouca,
Só respondo à m'nha maneira,
É que ás vezes eu abro a boca,
Entra mosca ou sai asneira.
Mote (Chico Santos)
A escola p’ra mim foi pouca,
Só respondo à m’nha maneira,
É que ás vezes eu abro a boca,
Entra mosca ou sai asneira.
Glosa(Luís Graça)
A escola p’ra ti foi pouca,
Mas és poeta popular,
Fizeste uma guerra louca,
E estás cá para a contar.
Só respondes à tua maneira,
És forte na desgarrada,
Tens sempre uma na algibeira,
E outra melhor artilhada.
Ainda bem que abres a boca,
P’ra fazeres prova de vida,
Não és dos de orelha mouca,
Dás a resposta devida.
Entra mosca e sai asneira
Na boca de alguns senhores,
Que até falam de cadeira,
Armados em professores!
A escola p’ra ti foi pouca,
Mas és poeta popular,
Fizeste uma guerra louca,
E estás cá para a contar.
Só respondes à tua maneira,
És forte na desgarrada,
Tens sempre uma na algibeira,
E outra melhor artilhada.
Ainda bem que abres a boca,
P’ra fazeres prova de vida,
Não és dos de orelha mouca,
Dás a resposta devida.
Entra mosca e sai asneira
Na boca de alguns senhores,
Que até falam de cadeira,
Armados em professores!
Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > Março de 1964 > CCAÇ 557 (1963/65) Construção do aquartelamento de Cachil na sequência Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) > À boa maneira do faroeste americano... uma paliçada, neste caso feita de troncos de cibe!
Foto: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:
(*) Vd. comentários ao poste > 6 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17941: Convívios (830): Os "últimos moicanos", o pessoal da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), fizeram prova de vida em 4 do corrente, em Sapataria, Sobral de Monte Agraço (José Colaço / Francisco Santos)
(**) Último poste da série > 3 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17725: Os nossos passatempos de verão (20): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte V: O sexo dos anjos... ou 'a anjinha de Ancede', em Baião (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 3 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17725: Os nossos passatempos de verão (20): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte V: O sexo dos anjos... ou 'a anjinha de Ancede', em Baião (Luís Graça)
7 comentários:
Conheci estes toros ao alto de palmeira. Um por um...
Eram a nossa muralha d'aço impenetrável.
As ameias eram guaritas onde permaneciam, dia e noite, os sentinelas.
Eram a matéria prima das camaratas,
da cozinha, como os bidões de chapa do paiol, naquele saudoso quartel de apaches, onde a minha companhia, 728, passou uns dez meses de ricas férias...
Depois, em Catió, foi para esquecer...aqueles tempos de intervenção. Com guerra a sério.
"Falar de cadeira" ou "ex cathedra"...
Cadeira > ca.dei.ra > subst feminino > Etimologia: do latim cathedra, -ae, do grego kathédra, -as, assento, cadeira, banco, fundamento...
"cadeira", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/cadeira [consultado em 09-11-2017]. d do grego "káthedra", via lat)
Várias aceções:
(i) assento para uma só pessoa, em geral portátil, com quatro pernas e espaldar, com ou sem braços;
(ii) função do professor; cátedra;
(iii) ciência ou dom+inio de conhecimento que serve de objeto de ensino de um professor ou lente: disciplina; cátedra;
(iv) lugar de membro de uma corporação política, literária ou científica: cadeira de deputado, cadeira de acadêmico, etc.
Falar de cadeira : falar com conhecimento de causa, com autoridade; mas também, abusar da autoridade, falar com arrogância, "em tom doutoral", "de cima", em plano de não igualdade...
https://www.priberam.pt/dlpo/cadeira
A arrogância intelectual é das coisas que mais abomino, nos seres humanos, sobretudo naqueles que se arrogam o direito de "falar por cima" dos outros, ou seja, "de cátedra", "de cadeira"...
É uma pecha nacional, que contamina tudo e todos, desde a universidade à comunicação social, dos partidos políticos às redes sociais...
E a este propósito faz sempre bem lembrar a célebre quadra, do poeta cauteleiro e analfabeto:
A Mosca, do António Aleixo
Uma mosca sem valor
pousa c'a mesma alegria
na cabeça dum doutor
como em qualquer porcaria.
Fica-se de boca aberta ao ler os dois comentários da "TaBANCA GRANDE"...
QUE NEXO TEM aquele estranho e exaltado comentário COM O COMENTÁRIO ANTERIOR, ONDE DEI MEU TESTEMUNHO SIMPLES E PRESENCIAL DA REALIDADE DO CACHIL?...
AGRADECIA UMA EXPLICAÇÃO do seu autor.
Joaquim, de facto não bate certo a bota com a perdigota... Nem a carapuça é para tu ou alguém em concreto enfiar... Não estou a referir-me ao teu pertinente e oportuno comentário, o primeiro desta caixa... Estou apenas a comentar a minha própria quadra e o sentido da expressão "falar de cadeira":
Entra mosca e sai asneira
Na boca de alguns senhores,
Que até falam de cadeira,
Armados em professores!
Nada de confusões e muito menos de susceptibilidades... A ser alguém viaso são os senhores professores que, às vezes, abusam da sua autoridade, quando "falam de cadeira"... Também pertenço a essa tribo...
Um grande abraço fraterno para o nosso poeta das baladas de Berlim, o nosso querido camarada J. L. Mendes Gomes, que me deu a honra de apresentar o seu primeiro livro de poesia, e que é ativo colaborador!...
Luís Graça
Meu caro Joaquim, meu dr. Joaquim Luís Mendes Gomes, jurista e poeta, a quadra do Aleixo obviamente também não era para ti...
Eu devia ter feito essa ressalva, já que foste tu a inaugura os comentários a este poste de ontem...
"Guiné 61/74 - P17951: Os nossos passatempos de verão (21): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte VI: Glosando o mote "Sois os últimos moicanos, / Os do Como e do Cachil, / Se a guerra vos tirou anos, / O bom irã dá-vos mil! (Luís Graça / Francisco Santos / José Colaço)"
Caro Luís
Obrigado pela tua explicação. Tudo como dantes. Em Mafra e Abrantes...
Reagi a quente, ao ler aqueles comentários, pouco depois de acordar, estremunhado com um pesadelo de Catió...
Tudo esclarecido e justo. Como sempre.
Um grande abraço. Saúde às resmas, por muitos mais.
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