sábado, 11 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17961: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capº 1: Aprovado para todo o serviço militar




















Ontem e hoje: o José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74. Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside hoje em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um  "homem que se fez a si próprio", sendo hoje autor, com dois livros publicados (um de poesia e outro de ficção). Senta-se debaixo do poilão da Tabanca Grande no lugar nº 756. (*)

Fotos: © José Claudino da Silva (2017).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Vamos começar a publicar uma nova série, da autoria do José Claudino da Silva, com excertos das memórias que ele deixou registadas nas cartas que trocou com a futura esposa, ao longo da sua comissão de serviço no CTIG (1972/74). 

Em 18 de outubro último, ele já tinha concorado com "a publicação de alguns episódios do livro 'Em Nome da Pátria', com a seguinte ressalva: "O que estiver a negrito mesmo que contenha erros vou manter inalterado pois quero ser fiel ao que escrevi há 45 anos. No restante agradeço alguma revisão que seja necessária."

Originalmente o livro era para se chamar  "Em Nome da Pátria"... Alguém, do nosso blogue, o nosso crítico literário Mário Beja Santos, alertou-o para o facto de esse título já estar registado (Em nome da Pátria: Portugal, o Ultramar e a Guerra Justa,  da autoria de João José Brandão Ferreira: Lisboa, Livros d'Hoje, 2009,  608 pp.; prefácio do prof Adrinao Moreira).

Então ele e nós pensámos em outros títulos possíveis...Por exemplo, "O Que Te Aconteceu, Soldado ?!... Acabou por comunicar-nos a sua últimna decisão: " Mudei o nome para: 'AI DINO! O QUE TE FIZERAM! Foi uma frase que me disse a minha avó quando me viu fardado pela 1ª vez."

E assim vai ser... esperando nós que ninguém, outro Dino, lhe roube o título... [O subtítulo, a usar no blogue, é da nossa responsabilidade: Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)... Naturalmente é demasiado comprido e obstruso para um livro.).

Vamos começar então a publicar as suas memórias, não na íntegra (, porque ele vai querer editar e vender o livro em papel, falta-lhe apenas escolher a editora...), mas através de uma seleção de capítulos, feita pelo próprio... Temos, para já, disponíveis, os seguintes capítulos, num total de 20 páginas:  1, 6, 13, 16, 20, 23, 30, 41, 50, 63.

Entretanto, no mesmo dia (22 de outubro último) ele decidiu "enviar a versão completa já com uma primeira revisão" e a seguinte observação:  "Ando a tentar encontrar um preço menos oneroso que a Chiado Editora para publicar o livro".

Esta "versão definitiva" tem data de 7 de outubro último: são 7 dezenas de capítulos, 119 pp, incluindo imagens. Temos que esclarecer ainda se ele nos autoriza a fazer a pré-publicação, na íntegra, deste seu "manuscrito" (ainda com o título "Em Nome da Pátria")... Se sim, é um privilégio que ele concede aos seus camaradas da Guiné, esperando em contrapartida os seus comentários,  generosos sem deixar de ser críticos. (LG)


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capº 1: Aprovado para todo o serviço militar


POR AQUILO QUE JÁ LI SOBRE A GUERRA COLONIAL, NAS ANTIGAS PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS, PARECE-ME QUE A MINHA GUERRA FOI OUTRA.

A MINHA GUERRA FOI ESCRITA NA ÉPOCA. POR VEZES, HORA A HORA.

TODOS OS CAPÍTULOS SE BASEIAM NO QUE ESCREVI ENTRE O DIA 4 DE JANEIRO DE 1972 E O DIA 9 DE JUNHO DE 1974. NESSE PERÍODO, ENVIEI, POR ESCRITO, E SÓ PARA UMA PESSOA, MAIS DE 400.000 PALAVRAS, UMA MÉDIA DE 450 PALAVRAS DIÁRIAS.

COMEÇOU… ASSIM!
CICA  1 - Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas

Foi ali, junto ao Palácio de Cristal, um local paradisíaco, que comecei a minha luta "Em Nome da Pátria".


1º Capítulo: APROVADO PARA TODO O SERVIÇO MILITAR

Entre o dia 27 de Junho de 1970 e o dia 17 de Outubro de 1974, fui apenas um número, e os números são insensíveis. Afinal, são apenas 1.358 dias, ou 32.592 horas. Em minutos, apenas 1.955.520 e uns míseros 117.331.200 segundos. Pois bem, durante cento e dezassete milhões, trezentos e trinta e um mil e duzentos segundos, eu deixei de ser José Claudino da Silva e passei a ser o 158532/71.

Se acreditam que, de facto, os números são insensíveis, não leiam mais, mas em contrapartida, se já foram apenas um número, e, se por qualquer razão, o vosso possa ter afinidades com o meu, venham comigo.

É pela ordem cronológica das cartas que escrevi, há 45 anos, para a dona Maria Amélia Moreira Mendes que faço o relato do que vivi na guerra colonial. A primeira carta foi escrita no dia 4 de Janeiro de 1972. A última no dia 9 de Junho de 1974. No dia 10 do mesmo mês, recebi um dramático telegrama.

Em momento algum me passou pela cabeça fugir, para evitar a tropa. Fervoroso admirador do Major Alvega e da guerra aos quadradinhos, nos anos 60 do século XX, estava longe de pensar, quando assentei praça nas forças armadas do meu país, que iria mesmo participar numa guerra real.
Filho duma mendiga que tinha mais cinco filhos, a viver com a minha avó e uma prima que dependiam de mim para sobreviver, enviarem-me para a guerra colonial. Qual filme, o regresso do soldado Ryan, foi um crime que deveria ter sido julgado pelo tribunal dos direitos humanos.

Passei a pertencer às forças armadas em 27 de Junho de 1970, mas só tive a real noção de que não era meu dono no dia 3 de Janeiro de 1972.Durante estes meses, já a minha avó e eu vivíamos numa espécie de tortura psicológica e, sempre que o carteiro trazia uma carta, a minha avó, analfabeta, dizia-me:
– Dino, chegou uma carta, deve ser da tropa.

Acreditem! Foi uma libertação a chegada do dia em que assentei praça; a espera tinha acabado, eu ia mesmo para a tropa. Talvez não fosse para a guerra. Afinal, eu não era lá muito corajoso.

(Continua)
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Notas do editor:


18 de outubro de  2017 > Guiné 61/74 - P17875: Tabanca Grande (449): José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART /BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74, escritor, natural de Penafiel, a residir agora em Amarante... Passa a ser o novo grã-tabanqueiro nº 756

17 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17868: O nosso livro de visitas (195): José Claudino da Silva, ex-1º cabo condutor auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74, autor do livro de ficção "Desertor 6520" (Lisboa, Chiado Editora, 2016, 418 pp.)

4 comentários:

Valdemar Silva disse...

Muito interessante venha mais.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro Dino:

O título para o teu 3º livro ("AI DINO! O QUE TE FIZERAM! Foi uma frase que me disse a minha avó quando me viu fardado pela 1ª vez"), pode ser rejeitado pelo diretor de "marketing" da editora... (Quem é que vai comprar um livro com um título desses ?, vai perguntar o gajo)... Mas que é lindo, é... Deves ter orgulho nessa grande mulher que te criou, a tua avó materna!... Foi ela que te fez homem e não... a tropa.

Um abraço, Luís

Fernando Gouveia disse...

Caro José Claudino:

Não sei se ainda vou a tempo mas com respeito a gráficas (não editoras) a que eu conheço a fazer mais barato é "Várzea da Rainha". Claro que, como gráfica que só é, tem que se mandar todo texto já organizado, capa incluída. Se fores ao seu site podes fazer uma simulação e saber o preço. Este não diverge muito quer sejam 20 ou 100 ou 1000 livros, por livro.

Um abraço
Fernando Gouveia

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Obrigado, Fernando Gouveia, que destas coisas tens experência... Aqui fica o sítio da Várzea da Rainha Impressores, SA, "uma empresa de apoio à edição, com um novo conceito de produção/impressão digital"... Fica no concelho de Óbidos.

http://www.varzeadarainha.pt/