segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8627: Patronos e Padroeiros (José Martins) (21): Mártir S. Sebastião, Padroeiro dos Arqueiros, da Infantaria e dos atletas (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) [, foto à direita, no seu escritório,] com data de 29 de Julho de 2011:

Boa noite camaradas
São Sebastião, não sendo (oficialmente) patrono militar, foi um militar que, mercê das suas virtudes de mártir, veio a ser elevado à honra dos altares.
Foi alguém que, depois de Soldado foi Santo.

Um abraço e bom fim de semana.
José Martins


PATRONOS E PADROEIROS XXI

Soldados que se tornaram Santos

Mártir S. Sebastião

Imagem de São Sebastião, Orago da Igreja da Granja – Vialonga - V. F. Xira.
© Foto José Martins -2011/07/29

São Sebastião

Sebastião nasceu em Narbonne, no sul da França, no ano de 256 d. C., local onde existiu a primeira colónia romana fora da Itália - Colónia Narbo Martius – localizada na Via Domitia, estrada romana construída na Gália.

O nome Sebastião deriva do grego “Sebastós”, que significa divino, venerável, que seguia as virtudes do Altíssimo.
Escritos apócrifos, atribuídos a Santo Ambrósio, que foi à época Arcebispo de Milão, refere que Sebastião era um soldado, que se alistou no exército romano, por volta do ano de 283 d. C., tendo portanto acerca de 27 anos.
A intenção que o norteava era ajudar os cristãos a revitalizar a sua Fé, que era bastante abalada, após as torturas e perseguições a que eram submetidos.

Os Imperadores Diocleciano e Maximiano, apesar de o saberem cristão, mas reconhecendo o seu valor, convidaram-no para integrar a Guarda Pretoriana, ou seja, a sua guarda pessoal.
Manteve, contudo, a sua postura perante os prisioneiros cristãos, o que levou o imperador a considerá-lo traidor e a mandá-lo executar por meio de flechas.

Foi dado como morto e atirado ao rio, mas Sebastião não tinha morrido e foi socorrido por Irene, uma jovem de família grega e que viria a ser canonizada como Santa Irene. Depois de restabelecido, apresenta-se a Diocleciano, que o manda espancar, até à morte e atirá-lo para o esgoto público de Roma.

O seu corpo foi recuperado por outra mulher, que viria a ser Santa Luciana, que recolhe o seu corpo, limpa-o e, assim, foi sepultado nas catacumbas.

Estes casos ocorreram em Roma no ano de 286.

A Igreja Católica comemora a sua festa litúrgica em 20 de Janeiro, enquanto a Igreja Ortodoxa comemora em 18 de Dezembro.

É considerado patrono dos Arqueiros, dos Soldados, da Infantaria e dos Atletas.

Igreja da São Sebastião em Granja – Vialonga – Vila Franca de Xira.
Festeja o seu Padroeiro, este ano, nos dias 29 / 30 e 31 de Julho.
© Foto José Martins -2011/07/29
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8610: Efemérides (52): 27 de Julho de 1970: Amélia teve um menino (José Marcelino Martins)

Vd. último poste da série de 24 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7495: Patronos e Padroeiros (José Martins) (20): Padroeira da Sagres (Navio Escola da Marinha Portuguesa)

Guiné 63/74 - P8626: Álbum fotográfico de João Graça (9): Os djubis (putos) de Bissau (II e última parte)




 



Guiné-Bissau > Bissau > 17 de Dezembro de 2009 > Bairro popular,  não identificado > Auto-retrato do artista, rodeado de um grupo de djubis (putos) de Bissau...
 

Fotos © João Graça (2009). Todos os direitos reservados


1. Segunda e última parte do tema "Os djubis de Bissau"... Fotos do Álbum fotográfico de João Graça (*), médico e músico, que esteve na Guiné-Bissau, entre 6  a 19 de Dezembro de 2009... Membro da nossa Tabanca Grande, está a tirar a especialidade médica de psiquiatria no Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), e toca violino no grupo musical Melech Mechaya.

Estas fotos, tiradas ao fim da tarde de uma 4ª feira, 17 de Dezembro de 2009, podem ter as mais diversas leituras... Numa todos estaremos de acordo: o sorriso das crianças é igual em toda a parte, independentemente da cor da pele, da etnia, da língua, do nível de desenvolvimento do país, etc.  Numa época em que parece haver, em muitas partes do mundo, uma escalada de xenofobia, de racismo e de chauvinismo, estas fotos falam por si... Obrigado, João!

[ Selecção e edição de fotos: L.G.]

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8625: Álbum fotográfico de João Graça (8): Os djubis (putos) de Bissau (Parte I)










Guiné-Bissau > Bissau > 17 de Dezembro de 2009 > Bairro popular de Bissau, não identificado > Os djubis (putos) de Bissau...

Fotos  © João Graça (2009). Todos os direitos reservados


1. Continuação da série O Álbum fotográfico de João Graça (*), médico e músico, que esteve na Guiné-Bissau, nos finais de 2009 (e 5 a 19 de Dezembro), num jornada mix de voluntariado e de férias. Ofereceu os cinco primeiros dias  (de 6 a 10 de Dezembro de 2009), para trabalhar como médico no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém, no Cantanhez, com apoio da AD - Acção para o Desenvolvimento.   

Para além de Bissau e do Cantanhez, ele nesteve nos Bijagós, na zona leste (Banbadinca, Bafatá, Tabatô e Gabu) e na região do Cacheu (São Domingos) ... 

As fotos referentes aos djubis de Bissau  foram tiradas no bairro onde moram alguns elementos do grupo musical Super Camarimba, ao fim da tarde de 17 de Dezembro de 2009, 4ª feira, 13º dia da estadia do João Graça na Guiné-Bissau...

Parafraseando Fernando Pessoa (**), eu diria que o melhor da Guiné são as suas crianças , os seus djubis... Os seus putos (, vindo-me à memória o fado do Carlos do Carmo, com letra de Ary dis Santos)... O nosso João Graça assim também o entendeu, e tirou com a sua Nikon algumas das suas melhores fotos, tanto em Bissau como no Cantanhez, tendo por subject os djubis...

Em grande plano, aparece o artista, auto-retratado, rodeado dos seus amiguinhos de ocasião, ensaiando as mais divertidas caretas... Aqui fica uma amostra (Parte I).

Algumas destas fotos já constavam do mural da página do João Graça no Facebook.

[Selecção e edição das fotos: L.G.]

 
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Notas do editor 

(*) Vd postes anteriores da série:

(**) Transreve-se aqui, na íntegra, o conhecido poema do Fernando Pessoa,. que era genialmente recitado pelo João Villaret:

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro pra ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha quer não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca.

Fernando Pessoa - 16/3/1935
(Originalmente publicado na Seara Nova, n.º 526, de 11/9/1937)

Guiné 63/74 - P8624: Os nossos médicos (42): O Teles de Araújo, o Morais Sarmento, o Horta e Vale e o Fernando Garcia (J. Pardete Ferreira / P. Santiago / M. Amaro / A. Paiva / J. Câmara / C. Cordeiro)

1. Comentário de J. Pardete Ferreira, com data de 31 de Julho, ao poste P8555:


Caros Camarigos, vamos lá ver que não me perco com a azimute!

(i) Começo pelo Paulo Santiago (*): relativamente ao Teles de Araújo (**)... foi meu companheiro em quase todo o Curso! Não fui a Aldeia Formosa mas o Morais Sarmento, do Porto, onde o pai tinha um Consultório de Radiologia na Praça da Batalha, foi meu Companheiro de camarote no Uíge, como médico do BArt 2865 e depois, veio para a Radiologia do HM241.


O Horta e Vale, "Jean-Jean la Mitraillette", foi meu companheiro na primeira "república" que habitei em Bissau, junto ao campo de Futebol e a meio caminho entre a casa do Comodoro Bastos e a casa das... Marinetes (Barbosa e filhas do Barbosa, Secretário da R.P.S.S. Guiné).

Sobre ele, escrevi um artigo no Boletim da Associação de Combatentes ou Ex-Combatentes do Ultramar, ao gosto de cada um.

"Qual não foi o meu espanto quando encontrei um indivíduo de cuecas vermelhas, eu que era do tempo das ditas brancas... até pensei que ele fosse larila!"

Após a devida autorização vou tentar transcrever no Blogue. Penso que está uma história conseguida.

(ii) Ó Paiva, o Garcia que eu cito e que em Santa Maria tinha como alcunha o "Tin Tin"... [ Fernando Garcia] (***) foi o Chefe da Equipa Cirúrgica do HM241 que precedeu o Dr. Diaz Gonçalves. Posso, igualmente, sem grande dificuldade esclarecer a nossa dúvida.


(iii) Para terminar, o Cordeiro (****): Não tenho ideia, até porque já não estava na Guiné em 1972, de nenhum Oficial Médico com essa patente fora de Bissau. Os Médicos do QP também têm a situação de Reserva.

O Oficial médico com patente mais elevada que vi na Guiné foi um Brigadeiro, em visita de inspecção, vindo de Cabo Verde com 13 Kg de lagosta que foram por todos (?) nós comidos no 10. Inspecções assim podia haver muitas.

Alfa Beta.

José Pardete Ferreira  (*****)

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Notas do editor:

(*) Comentário anterior do Paulo Santiago:


(...) Conheces o Horta e Vale? Esteve temporariamente no Saltinho, antes da chegada do teu colega Faria. As histórias que ele, sem se rir, contava davam um livro delicioso, só que,em livro,faltaria a gaguêz, o que não seria a mesma coisa. (...)

(**) Comentário de Manuel Amaro sobre o Teles Araújo:

(...) O meu médico. O Dr. Pardete não teve oportunidade de conhecer o meu médico, porque ele fez toda a comissão no mato, em Aldeia Formosa, 1969/71. Era o Dr. Teles de Araújo, Pneumologista e Presidente da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias.  Ainda nos anos 70 tratou no Hospital Particular de Lisboa, um amigo meu que "estoirou" um pulmão, a empurrar um carro, sem bateria. Excelente profissional, reservado, utilizava um tipo de humor muito British com os soldados, que resultava em pleno. Não tenho [o] contacto [dele] , mas, porque estamos a falar de médicos, aqui fica a devida referência. (...)

[Nota do editor: Artur Diogo Teles de Araújo é  hoje pneumologista no British Hospital Lisbon XXI...  Também já esteve ligado aos órgãos sociais da Sociedade Portuguesa de Pneumologia].

(***) Comentário de António Paiva:

(...) Se formos pensar em décadas, são só 4, o número nem é muito grande...mas se formos pensar em anos, quarenta e um já estão passados, e a cabeça já não tem a capacidade de 20 ou 30 anos a trás. O que me leva a fazer-te esta pergunta: No nosso tempo, que estivemos lá pelo menos um ano, só me lembro de um Médico com o último nome GARCIA. O Dr. Horácio David Garcia, tinha o posto de Capitão, será o mesmo a quem dás o nome Fernando Garcia ? (...)

(****) Comentários de:

(i)  José Câmara(...)  Na segunda metade do ano 1972 chegou a Bolama um Coronel Médico.  Sem o poder confirmar, fui informado que o tal coronel era de origem açoriana. Também me esqueci do seu nome. Agradeço a ajuda possível à indentificação deste oficial médico. (...)

(ii) Carlos Cordeiro: (...) Que me lembre, médico açoriano do QP - Exército - houve o Dr. Cabral (talvez Machado Cabral, mas não me lembro do nome). Não sei se em 72 teria ainda idade para ser mobilizado ou se já estaria na reserva (os oficiais médicos também tinham esta situação?). (...)


(*****) Último poste da série > 20 de Julho de 2011 >

 
Guiné 63/74 - P8574: Os nossos médicos (41): Por fim, e não menos importantes, os nossos anestesistas (C. Martins / Joaquim Sabido / J. Pardete Ferreira)

Guiné 63/74 - P8623: In Memoriam (87): Fur Mil João Fernandes Machado da Silva da CCAÇ 816, morto numa emboscada no dia 1 de Agosto de 1965 (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 28 de Julho de 2011:

Caros amigos Luís Graça e Vinhal.
Recebam um grande abraço, extensivo ao meu querido amigo Magalhães Ribeiro e a outros co-editores e colaboradores e a toda a Tertúlia do Blogue.

No dia 1 de Agosto de 1965 faleceu em combate o meu querido amigo Fur Mil Silva da minha Companhia (816).
Gostava que tal desditosa efeméride fosse evocada no nosso Blogue, precisamente no dia 1 de Agosto próximo.

Obrigado
Rui Silva


Gostava de prestar (e julgo que também todos os camaradas da CCaç 816 - Guiné 65-67) através do nosso Blogue (que melhor sítio?) uma sentida homenagem ao nosso querido amigo Fur Mil João Machado Silva que sucumbiu em combate no dia 1 de Agosto de 1965 na célebre e fatídica estrada do K3 (Olossato-Farim) com pouco mais de dois meses de Guiné.
Saúdo também os seus familiares que seguramente viverão este dia com muita mágoa e emoção.

 Fur Mil João Fernandes Machado da Silva
morto em combate em 01AGO1965

Localização de Joboiá, na estrada Olossato/K3, onde se deu a emboscada do dia 1 de Agosto de 1965 que vitimou o Fur Mil Silva

Alguns extractos do relato desta operação nas minhas memórias “ Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”:

…“Naquele célebre domingo, dia 1 de Agosto de 1965, pelo alvorecer, a caravana pôs-se uma vez mais a caminho do K3….

…Ainda me recordo do desventurado do Silva aquando da altura das queixas deste e daquele, dizer-me, no sítio onde dormíamos e quando calçava as alpercatas a preparar-se para a partida: “Eu tenho um forte motivo para ficar, pois tenho os pés cheios de bolhas”, (daí ele ter calçado sapatilhas em vez das habituais botas de campanha) e apontava-os ao dizer-mo, “mas eu vou”. Lembro-me também que ele usava um grande terço religioso à volta do pescoço…

…1 de Agosto, dia de pleno verão na metrópole; as praias por certo, ou não fosse domingo, cheias de gente folgazona a gozar das delícias do mar e da areia e, nós ali, em cenário de guerra, guerra latente, aberta e declarada. Que contraste, meditei eu…, se bem, que, passageiramente pensei nisto, pois logo me conformei ao lembrar-me que tinha de ser assim… talvez… talvez…

…Extenuados, física e psicologicamente, aproveitamos aquela breve paragem para descansarmos um pouco. Deitados no chão, de braços e pernas abertas, olhando o céu e esquecendo por momentos aquela clima de guerra, assim se prostrou a maioria da malta ganhando força e alento para a derradeira mas “longa etapa”: o regresso, o sempre temeroso e difícil regresso à base: o nosso aquartelamento de Olossato…
Era para cima de uma dezena de quilómetros que teríamos de vencer para chegar ao Olossato…

…Mas, num ápice e em potência eis que rebenta a emboscada. A terrível emboscada!...

Esta é desencadeada à base de lançamento de granadas de mão. Estas chovem de todos os lados e ouvem-se também tiros de metralhadoras ligeiras e pesadas do lado deles.

…A emboscada que marcaria de forma indelével a Companhia 816…
…Jamais outra causaria tantas vítimas e traumatizasse tanto o espírito da malta…
…Jamais outra, e agora no sentido positivo, nos espicaçaria tanto o brio e nos ferisse tanto o orgulho com evidentes resultados em operações futuras…

O tributo pago foi alto, e testemunha o desventurado do Silva, a grande e principal vítima daquela violenta e surpreendente emboscada, Sim, em Joane, Famalicão, jaz o saudoso Silva, o Silva… o que tinha os pés cheios de bolhas e que quis vir à operação…

…Os feridos, onde estão? - Perguntei eu. Alguém apontou-me um Unimog. Passei pelo Ludgero, que chorava e me dizia que o Silva morrera. Saltei para a viatura e então tive uma terrível visão: no chão da carroçaria jaziam uns poucos de corpos envoltos numa toalha de sangue. Uns gritavam de dores, outros de desespero e, entre eles, de olhos vidrados, estava o Silva. Todos se mexiam, menos o Silva que, inerte, parecia completamente alheio ao cenário que o rodeava. O Silva estava morto. Sucumbiu logo ali na emboscada. Não viveu nem um minuto, disse depois alguém…

…A noite caiu então sobre aquele fatídico e triste dia, e a noite, negra, de negro pôs ainda mais tudo.

Demos o nome de: “O dia mais longo” a esta operação de retirada de abatizes.

Rui Silva
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8492: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (6): A Doença do Sono (Rui Silva)

Vd. último poste da série de 30 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8620: In Memoriam (86): Recordando o Joaquim Vicente Silva, 1º Cabo At da 3ª CCCAÇ/BCAV 8323, falecido em 23JUL2011 (Abreu dos Santos)

domingo, 31 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8622: Memória dos lugares (157): Djufunco, no chão felupe, junto à foz do Rio Cacheu

Neste poste falamos de Jufunco (lê-se: Djufunco) e Bolol, tabancas situadas em chão felupe, junto à foz do Rio Cacheu, zona onde os portugueses sentiram alguma resistência ao contacto e dificuldade em convencer homens a combater ao nosso lado contra o PAIGC.


Djufunco e Bolol, junto à foz do Rio Cacheu


Canhão do Fortim de Bolol

Durante o período colonial, no final do século XIX, os portugueses estabelecem um Fortim em Bolol para controlar o movimento marítimo na embocadura do Rio Cacheu, já próximo do Oceano Atlântico.

A tabanca felupe de Djufunco, situada a pouca distância de Bolol, não aceita a presença desse Fortim e faz uma investida que acaba por destruí-lo e impedir de vez o seu funcionamento.

Ofendido, o governador da Guiné, sediado em Cabo Verde, organiza uma expedição punitiva a Djufunco, que acaba por se traduzir na morte de quase todos os soldados portugueses envolvidos nesta operação.

Passará a ficar conhecido na história como o Desastre de Bolol, vindo a ter como consequência imediata a afectação de um governador na Guiné, em vez de continuar a estar em Cabo Verde.

Nota do editor: Foto e texto retirados do site da AD (Acção para o Desenvolvimento), com a devida vénia

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Lagoa de Djufunco

[...] Ainda dentro deste projeto, temos em desenvolvimento uma parceria com o Complexo de Ténis da Câmara Municipal da Maia que pretende dinamizar um Torneio de Ténis nos dias 30 e 31 de Julho cuja receita reverterá integralmente para um novo poço cuja localização será no Djunfunco na Região de Susana – Norte da Guiné.

Djufunco tem uma população de cerca de 810 pessoas, com 180 crianças.
Utilizam para consumo a água de uma lagoa existente na tabanca, relativamente grande onde toda a gente vai fazer as suas necessidades fisiológicas, desde banhos a lavagem de roupa.[...]

Foto e texto retirados do P563 do Blogue Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné, com a devida vénia.

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Djufunco

Passada a floresta, atravessado o deserto, avista-se, além do labirinto das barreiras das bolanhas, a tabanca de Djufunco, uma de 54 aldeias em que o VIDA trabalha no norte da Guiné-Bissau.

As casas de adobe agrupadas debaixo das enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança.

No chão aqui e além vê-se dên-dên a secar e no ar ressoa o chiar da roldana do poço e o bater do pilão.

Djufunco aparece já referenciada nos primeiros relatos dos Franciscanos na Guiné sendo famosa pelo seu conhecimento de venenos.

No terreiro onde está o bombolon o povo construiu com o VIDA a sua Unidade de Saúde Comunitária: uma farmácia, uma sala de consulta e uma sala de parto.

A velha parteira tradicional veio buscar a sua mala para ir fazer um parto na “maternidade sagrada” da aldeia, lugar tabu para homens e sítio da glória de todas as mães da aldeia.

O grande curandeiro aceitou que os meninos já não tenham terra colocada no umbigo e que quem tem dores vá buscar “mezinho” à Unidade.

São tempos novos e os barcos já não têm de fazer mais uma viagem ao fim do dia para ir procurar pelo mar o Hospital do outro lado da fronteira, no Senegal, onde há guerrilha.

Em 2005 as 54 Unidades de Saúde Comunitária feitas pelo VIDA com outras tantas aldeias isoladas do norte da Guiné-Bissau, assistiram mais de 10.000 adultos e 11.866 crianças. Estes são tempos novos diz o régulo de Djufunco orgulhoso diante do seu “hospital”.

Texto retirado do site Vida - Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento Africano, com a devida vénia.
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8455: Memória dos lugares (156): Texas, o anexo do Hospital Militar Principal, na Rua da Artilharia Um, em Lisboa (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / António Tavares)

Vd. postes de autoria do nosso camarada Luís Fonseca sobre os Felupes na série Cusa di nos terra

Guiné 63/74 - P8621: Parabéns a você (295): Manuel Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350 (Guileje 1972/73)

Com um abraço de Miguel Pessoa, restante Tertúlia e Editores
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Notas de CV:

- Manuel Reis foi Alf Mil da CCAV 8350 que esteve em  Guileje nos anos de 1972/73

Vd. último poste da série de 30 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8618: Parabéns a você (294): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, CCS/BCAÇ 2930; Francisco Palma, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2748; Júlio da Costa Abreu, ex-1.º Cabo do Grupo de Comandos "Os Centuriões" e Victor Tavares, ex-1.º Cabo da CCP 121/BCP 12

sábado, 30 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8620: In Memoriam (86): Na morte de um Cavaleiro do Gabu


1. Em homenagem ao nosso camarada-de-armas Joaquim Vicente da Silva, 1º Cabo Atirador da 3ª/BCav8323 (Pirada, 1973-74), o nosso leitor Abreu dos Santos enviou-me quatro documentos, que, com os nossos agradecimentos, aqui exponho à consideração de quantos habitualmente nos visitam.

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série, também sore o Joaquim Vicente Silva, em:


Guiné 63/74 - P8619: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (13): O chefe ganhava pouco

1. Mensagem do nosso camarada Belmiro Tavares, (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), datada de 27 de Julho de 2011 com mais uma das suas histórias e memórias:

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (13)

O “chefe” ganhava pouco

No dia 10 de Abril de 1974 (quinze dias antes da bronca) comecei a trabalhar no Hotel Jorge V, um 3*** muito simpático no centro da grande Lisboa. Já conhecia esta unidade hoteleira, embora muito superficialmente, pois já tinha trabalhado lá, durante uns meses e a tempo parcial.

Ainda não tinha aquecido bem a cadeira, quando um empregado de mesa veio ao meu gabinete perguntar quando poderia atendê-lo.
- Pode ser já, respondi; qual é o assunto?
- Sabe! Eu sou escanção, um cargo de muita responsabilidade, e ganho apenas como chefe de turno; acho que devia ser aumentado.

Mais umas palavras ditas de circunstância, comentei:
- Tanto quanto sei tu não és escanção; mas sim encarregado ou controlador das vendas de bebidas. Mas isso não é assunto que mereça ser tratado, pelo menos agora. Não me surpreende que tu queiras ganhar mais; espantar-me-ia se tu me pedisses para reduzir o teu salário. Vamos lá ver se nos entendemos.

O teu pai é um vitivinicultor em pequena escala; estou certo?
- Está certíssimo! Ele vende uns almudes de vinho por ano além de trabalhar também como pedreiro.

Vinhas do Dão

Eu sabia que o rapaz era natural de São Pedro do Sul; o pai sendo pedreiro, conseguia tempo para tratar das suas terras. Na província quase toda a gente tinha “dupla” ocupação; ou antes: trabalhava de sol a sol.

- A última colheita foi boa?
- Foi! Boa em qualidade e quantidade e proporcionou uma receita razoável ao meu pai.

- Qual foi o preço de venda?
- Seis escudos por litro; é um preço simpático para a zona; lá não há grandes produtores de vinho.

- Muito bem! Como sabes o teu pai começa a tratar da vinha logo em Janeiro: cava, adubação, poda, curas e mais curas até final de Junho; não é verdade?
- É sim senhor! A vinha dá muito trabalho mas vai compensando; é um dinheiro que vem junto!

- No princípio do Verão, frequentemente ocorrem trovoadas violentas, por vezes acompanhadas de granizo; se tal acontecer na tua zona, o teu pai pode perder toda a colheita ou boa parte dela; não é assim?
- Isso acontece muitas vezes! A agricultura é sempre um grande risco!

- Vamos partir do principio que tal não acontece. O teu pai continua a tratar cuidadosamente da vinha e, em Setembro/Outubro faz a festa da vindima; as uvas são esmagadas. Se durante a noite, uma pedra do lagar se quebrar, pela manhã o teu pai vai ver se o vinho está em fermentação e... só encontra “bagaço” no lagar. Isto pode acontecer ou não?
- Pode! Embora não seja vulgar! Hoje muitos lagares já são de cimento; mas ainda há muitos em pedra!

- Tal não vai acontecer certamente; o teu pai coloca o vinho na pipa; durante a noite, um arco pode quebrar-se e, pela manhã, a pipa estará vazia. O teu pai perdeu logo ali todo o fruto do seu enorme trabalho assiduo de um ano!
- Pode muito bem acontecer! O trabalho agricola tem muitos imprevistos!

- Não vamos ser maus para com o teu pai; ele não merece tanta maldade! Não havendo azar o teu pai venderá o vinho a 6$00 cada litro que, como disseste, não é mau preço.
- É como o senhor diz! Lá na zona é considerado um bom preço!

- Se um cliente te pedir uma garrafa de vinho para acompanhar o almoço ou o jantar, tu vais à garrafeira e tiras de lá a tal garrafa; se escorregares e a quebrares, não tens a responsabilidade de a pagar. Não é assim?
- É sim senhor! Tal e qual!

- Os vinhos que temos cá são vendidos em média a 100$00 cada garrafa de 0,75l. Deste montante, além do teu ordenado, tu recebes 10$00. É assim ou não?
- É assim mesmo!

O rapaz não se apercebeu do meu subterfúgio ou truque; os tais 10% não eram só para ele! Os empregados que “lidavam” directamente com os clientes recebiam quinzenalmente 10% da receita – a então chamada taxa de serviço. Ele já se sentia “manietado”. Creio bem que já estava arrependido de se ter metido naquela alhada.

- Afinal quem ganha pouco?: serás tu que recebes 10$00 por uma garrafa de 0,75l além do teu ordenado e sem qualquer responsabilidade ou contigência ou é o teu pai que depois dum longo ano de trabalho intenso e duro, vende um litro de vinho por uns miseros 6$00, além dos perigos enormes que corre permanentemente?

Não houve resposta. Assunto encerrado!

Quanto anos mais tarde foi “embrulhado” num despedimento colectivo. Claro que não foi por pedir aumento! O restaurante e a cozinha foram encerrados por inviabilidade! Era a única saída!

Julho de 2011
Belmiro Tavares
Ten. Mil. Inf.
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Notas de CV:

Foto retirada do Blogue Pingas no Copo, com a devida vénia.

Vd. último poste da série de 28 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8612: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (12): Louvores e condecorações

Guiné 63/74 - P8618: Parabéns a você (294): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, CCS/BCAÇ 2930; Francisco Palma, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2748; Júlio da Costa Abreu, ex-1.º Cabo do Grupo de Comandos "Os Centuriões" e Victor Tavares, ex-1.º Cabo da CCP 121/BCP 12


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Notas de CV:

- Amaral Bernardo foi Alf Mil Médico na CCS/BCAÇ 2930, Catió, 1970/72

- Francisco Palma foi Soldado Condutor Auto Rodas na CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72

- Júlio da Costa Abreu, foi 1.º Cabo Radiomontador do Batalhão 506, Bafatá, e Chefe da 2.ª Equipa do Grupo de Comandos "Os Centuriões".

- Victor Tavares foi 1.º Cabo Pára-quedista, da CCP 121 /BCP 12 (Guiné, 1972/74)

Vd. último poste da série de 27 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8611: Parabéns a você (293): Agradecimento de António Dâmaso

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8617: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (20): Uma Grande Mulher (ou uma imagem de uma geração)

1. Em mensagem do dia 28 de Julho de 2011, o nosso camarada José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta comovente memória (boa) da sua guerra:


Memórias boas da minha guerra - 20

Uma Grande Mulher
(ou uma imagem de uma geração)

Feirães, em Terras de Santa Maria, era conhecida pela relativa abundância de Padres, Médicos e Professores, e pelas suas tradições na oposição ao regime de Salazar. Depois da “vitória abafada” do General Humberto Delgado, em 1958, seguiram-se tempos de retorno à calma habitual, à política “surda”.

Recordo muito daquela época alguns serões, junto dos sapateiros que trabalhavam (à tarefa) até tarde, agrupados no rés-do-chão de algumas casas, ouvir as histórias dos mais velhos e suas discussões desportivas e políticas. Foi com alguns deles que ouvi, clandestinamente, a rádio Moscovo, que, como sabem os que viveram aqueles tempos, era um perigo enorme.

Desde a escola primária que cimentámos um núcleo de amigos que continuou ligado através das actividades na JOC, que era um grupo de forte implantação e muito bem aceite pela maioria da população.

Os rapazes que continuaram os estudos foram para os Carvalhos e para Espinho e as raparigas seguiram maioritariamente para o Porto. Mas, a maioria dos jovens seguia o caminho dos pais: fábricas de cortiça e de calçado, que proliferavam nessa região.

Não era fácil o relacionamento entre rapazes e raparigas no nosso tempo. Apenas as actividades religiosas ou afins mereciam alguma tolerância familiar na aproximação dos jovens de sexos diferentes.
Todavia, havia alguns elementos com laços familiares que facilitavam a aproximação.

A Missa da manhã e as cerimónias da tarde, na Igreja Matriz, aos Domingos, eram o ponto de partida para alimentar qualquer pontinha de relacionamento.
Em prolongamento das actividades religiosas e, sempre que possível em sua substituição, dávamos uns passeios pelo Monte das Pedreiras ou pelas Ribeiras. Desta forma, chegámos a ter um grupo de convívio bastante salutar e muito divertido.

Um dos jovens mais activos era o Neca Ribeiro que, ao contrário do seu irmão Berto, não tinha muito jeito para “conquistas amorosas”. Gostava de praticar qualquer desporto popular e não se importava nada com a roupa ou com o calçado quando jogava a bola, na posição de guarda-redes. Ao contrário do irmão, não gostava de usar gravata e desvalorizava muito o vestuário. Com eles conviviam o Zéquita, o Jalmito, o Mocas, o Lizito, os Bastos e, mais de perto, o Zénico.

No grupo das raparigas, destacava-se a Ilda, que vinha do Porto só aos fins-de-semana. Através da sua habitual boa disposição e das suas exuberantes gargalhadas, transpirava alegria permanente. Como era prima do Neca e do Berto, relacionava-se muito bem com eles desde criança. Essa aproximação com eles e com os seus amigos mais próximos, facilitava a convivência com as suas amigas Zelma, Cassandra, Nelinha, Gita, Dina e outras.

Durante vários anos, viveram-se alegres convívios, donde resultaram amizades e amores eternos.
Devido às suas constantes brincadeiras e uma certa ligação/simpatia pelos movimentos dos anos 60 (as serenatas eram sempre um fracasso e o conjunto musical não passou de acção de “fachada”), estes rapazes de cabelos compridos começaram a sentir algumas dificuldades com a geração de seus pais, especialmente quando se “abeiravam” das filhas.

A primeira grande viravolta deu-se no relacionamento do Neca com a família da Ilda. A tia dele, que o vinha tolerando dentro de casa como o sobrinho preferido, ficou ofendida com o aparente namorico. Expulsou-o de casa e passou a proibir à filha esse tipo de relação. Passou a ser evidente o amor sofrido entre ambos. Ela vivia abaixo da Boavista, no Porto, em casa de uma tia, ao mesmo tempo que frequentava o liceu Carolina Micaelis. Ele fazia tudo para se encontrar com ela. E quando isso era possível ele esquecia, frequentemente, o último autocarro de regresso. Tentava a boleia mas, por vezes, já cansado, metia-se num táxi e mostrando o dinheiro que tinha, dizia:
- Dê-me este dinheiro de táxi, na direcção de Feirães.

Entretanto, a guerra colonial havia estalado em Angola e prometia alargar-se à Guiné e a Moçambique. Mas a convicção inicial era a de que tudo se resolveria a curto prazo. Porém, o tempo ia passando e esses conflitos iam-se agudizando. Talvez por isso, todos os jovens da nossa geração acabaram por ser apurados para o serviço militar. Ressalve-se o caso do Lizito (que fez dietas incríveis) que ficou adiado, para no ano seguinte vir a ser livre da tropa com números impressionantes: 37,5 Kgs de peso 1,48m de altura. Ganhou então a alcunha do “Transparente”.

O Neca foi com o Jalmito para o quartel das Caldas da Rainha e uns meses depois o Zenico seguiu para o de Santarém. Embora a Ilda e o Neca se tenham ligado mais que nunca, era evidente que a alegria de outrora estava muito longe. Ele andava revoltado e em litígio com a tia que continuava a perseguir o amor da sua filha. Mas esta, apesar de viver triste, respeitou sempre os seus pais, mas nunca recuou perante o amor da sua vida.

Agora era o perigo da guerra que vinha ensombrar ainda mais a sua relação. E o pior aconteceu. Tanto o Neca como o Jalmito seguiram para a Guiné.

Lá longe, na perigosa ilha do Como, no sul da Guiné, o Neca vivia desesperado com a sorte que lhe calhara e com o ambiente hostil que imaginava existir junto da sua amada. Durante esses seis ou sete meses de sofrimento duplo, resolveram dar um enorme passo para a resolução parcial dos seus problemas. Resolveram casar. Ele marcou férias e viria, para casar, nos princípios de Maio (1967). Entretanto, ela já passara a viver mais junto da família dele, que a acarinhara.

Nos fins de Abril, o amigo Zenico partiu também para a Guiné. Combinaram encontrar-se em Bissau, no dia 1 de Maio. Era intenção do Zenico transmitir-lhe o testemunho de que a Ilda já parecia outra, pois que mostrava felicidade com o passo que iriam dar. Como o Zenico não chegou a conhecer Bissau, tendo desembarcado directamente para uma barcaça com destino ao interior da Guiné (Bambadinca), não teve hipóteses de se encontrar com o seu maior amigo.

No entanto o Neca também não pôde estar no Cais de Bissau. No dia 29 de Abril fora dispensado de participar numa operação militar para poder viajar para Bissau, rumo ao seu casamento.
Por azar, um colega Furriel adoeceu e o Capitão pediu ao Neca para o substituir nessa Operação nocturna, uma vez que só viajaria no dia seguinte.

Desconheço pormenores sobre o combate nessa fatídica noite. Só sei que o Neca levou um tiro na coluna vertebral, entrou em coma e foi evacuado para Lisboa.

Em Feirães seguiram-se dias muitos tristes. Ninguém ficou alheio a essa tragédia, precisamente na semana do seu anunciado casamento. Aquela paixão era conhecidíssima e o Neca era o rapaz mais benquisto de toda a população. Foram tempos dramáticos. Ele lutava pela vida prostrado numa maca em Lisboa e ela quase desfalecia de tanto sofrimento, à sua espera.

Logo que ele começou a recuperar, passou a não querer ver as pessoas que lhe eram mais queridas. Não suportava vê-las sofrer nem os lamentos à sua volta. Quanto à Ilda, esclareceu-a sobre a sua situação de paraplégico irreversível e, depois, aconselhou-a a que se afastasse.

Ela não desarmava e procurava permanentemente contactá-lo. Além de familiares e amigos, agora havia outras pessoas a aconselharem-na a abandonar aquela relação. Como ela não desistia, ele passou a rejeitá-la e a procurar que ela o detestasse.

O amigo Zenico, envolvido na guerra, no Oio, lá no norte/centro da Guiné, pouco sabia do que se passava, mas, quando ciente do drama, também teve o cuidado de escrever à Ilda, aconselhando-a a medir bem a situação para não se prejudicar ainda mais, até porque era o próprio Neca a aconselhá-la nesse sentido.

Caro amigo Zenico
Sei que os nossos amigos também vêm sofrendo com a nossa situação. Sabeis que gosto muito de vós e que vos estou muito grata. Porém, não insistam em alterar a minha determinação. Já sofri muito e não quero outro caminho: só viverei para o meu Neca.
Estou a sofrer mais porque ele agora não me quer. Mas eu não acredito nisso porque sei quão forte é o nosso amor. Ele rejeita-me porque é meu amigo mas eu nunca o largarei. Ele é o homem da minha vida e só quero estar com ele. Estávamos prometidos para o melhor e para o pior e eu sei que ele agora vai precisar ainda mais de mim. E o meu prazer será ajudá-lo.

Quase um ano se passara e o Neca ainda não fora a casa. Estava no Centro de Recuperação de Alcoitão. Foi o Zenico, vindo de férias, que o foi buscar. Foram momentos de choque retraídos, para que o Neca não sofresse. Curioso que esta dupla conhecida pela produção de boa disposição permanente, reatou relacionamentos incríveis, como se nada se tivesse passado. Brincavam até com a cadeira de rodas. Foram ao café Central e a todos os lugares que se sabia de grande valor afectivo. E a Ilda, de olhos húmidos, já soltava alguns sorrisos.

Ele regressou a Alcoitão e o Zenico a Catió (no sul da Guiné). Ninguém era feliz, mas a Ilda era a pessoa que mais se aproximava. Casaram ainda antes do Zenico voltar. O amor triunfou!

A vida da Ilda e do Neca decorreu normalmente. Foram sempre um casal exemplar dedicado à família, especialmente aos sobrinhos. Mas o Neca foi sempre um caso especial. Viveu intensamente as mudanças políticas do 25 de Abril, foi autarca de destaque e um entusiasta enorme pelas colectividades desportivas e outras associações de âmbito cultural. Teve sempre a sua vida preenchida com trabalho e obras de solidariedade social.

Lisboa no dia 25 de Abril de 1974
Foto retirada do site Olhares, Fotografia Online, com a devida vénia

Há uns anos, quando a mãe de Ilda, já viúva, adoeceu gravemente, coube à consciência desta filha maltratada, entre quatro irmãos, assumir os seus cuidados finais. Foram mais uns anos de sacrifício permanente, para amenizar o sofrimento de sua mãe. Esta, acusava o seu arrependimento e manifestava-o constantemente. Confessava-o a toda a gente.

Recentemente, num dos raros reencontros da malta daquele tempo (anda cada um para seu lado), à mesa, o Neca, sempre com a mulher ao lado, ouvia cada um falar da sua vida, da dos seus e dos seus azares. Acrescentavam ainda algumas maldades, traições e outras desgraças dos ausentes. A dada altura, o Neca, reposicionou-se a pulso na sua cadeira de rodas e interrompeu o rol de misérias:
- Ó malta..

Foi logo interceptado pelo Joca:
- Tens razão. Nós a lamentarmo-nos para aqui e tu, que hás-de dizer depois do azar que tiveste?

- Não, nada disso, retorquiu o Neca: - Quero apenas aproveitar para vos dizer que, graças aqui “à minha patroa”, sou o homem mais feliz do mundo!

E ela, envolvendo-o carinhosamente com uma mão nas alvas barbas e outra contornando os cabelos da mesma cor, exibia o seu semblante resplandecendo de alegria, dizendo-lhe:
- Obrigada “meu trengo”, sabes muito bem que tu é que me fizestes a mulher mais feliz do mundo! E, comovida, encostou demoradamente a cara à dele e deixou cair algumas lágrimas enquanto sorria de felicidade.

Silva da Cart 1689
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Notas de CV:

Foto do General Humberto Delgado na Praça de Carlos Alberto em 14 de Maio de 1958 retirada do site Porto Antigo - Histórias e imagens da cidade, com a devida vénia

Vd. último poste da série de 8 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8529: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (19): O alferes maluco... está tolo

Guiné 63/74 - P8616: Notas de leitura (260): Costa Gomes, o último Marechal, por Maria Manuela Cruzeiro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Julho de 2011:

Queridos amigos,
A diferentes títulos, a análise que o Marechal Costa Gomes faz aos acontecimentos da Guiné, em 1973, são de um inquestionável interesse, tanto para o leigo como para o historiador. Pela primeira vez se ficou a saber em que consistia a alteração do dispositivo que retiraria as forças colocadas nas fronteiras, onde deixariam de ficar à mercê dos morteiros 120. Não dá para entender como os historiadores não analisam as consequências que tal dispositivo acarretaria, sobretudo para o moral das tropas. É um olhar perpassado por uma inteligência fulgurante, está aqui um registo de que mais significativo ocorreu durante a guerra e o seu depoimento sobre o turbulento período que se viveu entre 1974 e 1976 é incontornável.

Um abraço do
Mário


Marechal Costa Gomes e a Guiné em 1973

Beja Santos

“Costa Gomes, O Último Marechal” (Círculo de Leitores, 1998) é uma longa entrevista que o antigo presidente da República concedeu a Maria Manuela Cruzeiro, do Centro de Documentação 25 de Abril, é um olhar sobre toda a sua vida, desde que ingressou no Colégio Militar até às ocupações que teve depois de abandonar Belém, em 1976. Uma longa trajectória de actuação, recheada de controvérsia em que pessoas como Spínola, cuja amizade com Costa Gomes foi sólida até aos acontecimentos do Verão quente e posteriores, não tiveram rebuço em dizer que o seu papel foi determinante para evitar uma guerra civil, nem os seus adversários mais acérrimos esconderam que foi o oficial general português mais prestigiado do século XX.

A análise que faz dos acontecimentos da Guiné, em 1973, e que constam desta entrevista, é da maior importância. Começa por referir que a acção de Spínola na Guiné foi muito contraditória, ou seja, ao perceber que a guerra não se podia ganhar pela força das armas quis conquistar as populações e, em simultâneo, concebeu operações militares absolutamente condenáveis, incluindo o ataque a Conacri.

Perguntado sobre a visita que efectuara à Guiné após o aparecimento dos mísseis Strella e da resposta que dera a Marcello Caetano de que “no estado actual” a Guiné era defensável e devia ser defendida, respondeu que era defensável se se modificasse o dispositivo e se o PAIGC não utilizasse os Mig que dizia possuir. E explicou em que consistia a alteração do dispositivo: “Significava a retirada de todas as forças colocadas nas fronteiras para um espaço onde não fôssemos vítimas dos morteiros 120 e pudéssemos perseguir os guerrilheiros do PAIGC. Na altura, com o dispositivo utilizado, as forças no interior estavam muito enfraquecidas, porque demasiado concentradas nas fronteiras. E, a meu ver, com enorme desvantagem, já que não há nada pior do que combater para a retaguarda. Por variadíssimas razões, sobretudo morais, as tropas são capazes de actos heróicos quando perseguem o inimigo na direcção que elas consideram lógica, ou seja, do interior para a fronteira. A operação Mar Verde foi um desastre e a invasão do Senegal pelos Comandos foi outro. Melhor: ainda que, tacticamente, a operação levada a efeito no Senegal tenha registado algum sucesso, a questão fundamental centrou-se nas Nações Unidas, onde fomos ameaçados de sanções graves se voltássemos a violar as fronteiras dos países limítrofes. De facto, a extensão da fronteira terrestre (enorme para o tamanho da Guiné) desmoralizava as tropas e dava uma vantagem fantástica ao inimigo: é que ele atacava-nos quando queria, tinha a iniciativa das operações e nós não podíamos ripostar a não ser com armas de fogo”.

Questionado se não devia ter dado um apoio mais explícito a Spínola, que procurava a resolução do problema militar por via política e se conhecia essas intenções declarou o seguinte: “Nunca me apercebi essa intenção com a clareza que afirma. É claro que várias vezes discutimos a questão da guerra colonial, concluindo sempre que a solução não seria militar, mas sim política. Essa era, aliás, uma posição constantemente assumida por mim, como ele o sabia muito bem, nas reuniões do Conselho Superior de Defesa Nacional”. Mais adiante, quando o entrevistador lhe pede um comentário sobre a afirmação de Spínola de que considerava praticamente esgotadas as hipóteses de uma vitória militar, exactamente na sequência dos mísseis Strella, depois de tecer considerações sobre as desigualdades de armamento, as insuficiências dos contingentes metropolitanos e os erros que ocorriam na instrução dos batalhões, Costa Gomes declara ter estado de acordo com Spínola de que militarmente se tinham esgotado todas as possibilidades.

E chegamos ao derradeiro ciclo, a saída de Spínola e a chegada de Bethencourt Rodrigues. Teria havido, reflecte Costa Gomes, uma viragem no relacionamento entre Spínola e Marcello Caetano, quando este recusou novas reuniões com o presidente Senghor, em 1972. Ao chegar a admitir uma derrota militar pensando que deste modo podia salvar Angola e Moçambique, Caetano não só praticou um erro político como gerou o spinolismo. Havia, recorda o Marechal, uma profunda interligação entre os movimentos africanos, é escusado encontrar paralelos entre a queda da Índia e querer presumir que a queda da Guiné não tornaria inevitável a queda das outras colónias. Perguntado se Bethencourt Rodrigues levava como missão acabar com a guerra ou continuar com a guerra, emitiu o seguinte juízo: “Só podia ser para continuar a guerra. A primeira pessoa indicada para substituir na Guiné o general Spínola foi o general Diogo Neto, na altura comandante da Força Aérea de Moçambique. Bethencourt Rodrigues apenas aceitou lugar (disse-mo pessoalmente) por ser muito amigo do professor Marcello Caetano”. E faz a seguinte avaliação do desempenho do general na Guiné: “Ele era um oficial excelente, mas foi encontrar uma situação quase caótica. Fez o que pode. Mais de uma vez veio a Lisboa, dizendo-me que, além da situação militar ser bastante má, enfrentava ainda outras grandes dificuldades administrativas, já que não conseguia obter verbas idênticas às concedidas ao general Spínola. O facto prejudicava a parte social e um certo bem-estar das populações que o general Spínola tinha conseguido e que ele queria manter, convencido de que, numa terra como aquela, se consegue muito mais através de uma actuação junto das populações do que com acções militares”.

A seguir a conversa envereda sobre a formação do Movimento dos Capitães, tema desajustado às finalidades do blogue e por isso paramos por aqui.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8599: Notas de leitura (259): No Pincha, por Vasco de Castro (Mário de Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8615: Fotos à procura de... uma legenda (4): O Alfredo, eu e o Levezinho, álbum fotográfico de Humberto Reis



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca  > CCAÇ 12 (1969/1971) > A foto, tirada com a máquina do Humberto, veio acompanha da seguinte legenda: "O Alfredo, eu e o Levezinho"...




Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Mais uma proposta para o nosso "passatempo de verão"... Mais uma foto à procura de legenda(s)... São três tugas do 2º Gr Comb, com ar de desalento ou simplesmente de cansaço, fome, sede... no regresso de mais uma operação, já que a CCAÇ 12 era pau para toda a obra... O resto fica à imaginação de cada um dos nossos leitores que queira participar no "passatempo"...


Da esquerda para  a direita, o 1º Cabo Alves (mais conhecido por Alfredo) e os Fur Mil Humberto Reis e Tony Levezinho... O Alfredo era talvez o cabo metropolitano mais bem disposto e prestável que eu conheci na CCAÇ 12... Acho que a alcunha foi-lhe posta pelo Humberto, seu comandante de secção...  (Talvez ele possa explicar quando e porquê...).


Não sei por onde pára este camarada, que era um verdadeiro camaradão, de seu nome completo, José Marques Alves. Há uns anos atrás morava em Fânzeres, Gondomar, Rua das Cruzes, 107 R/C, 4510-542 FANZERES / Telef 2 2480 1560.


Se alguém souber dele, que nos dê notícias e lhe mostra este foto, com cara ainda de menino e moço... Com o Tony Levezinho e o Humberto Reis, a gente vai-se vendo, telefonando... e amparando.


O edíficio que aparece na foto parece-me  ser o depósito de engenharia, identificado na foto aérea de Bambadinca como o edifício nº 15, à direita das instalações de oficiais e sargentos (6, 7).


By the way, aqui fica a composição da 2ª secção do 2º Gr Comb da CCAÇ 12:

 Fur Mil Op Esp 05293061 Humberto Simões dos Reis;
1º Cabo 17626068 José Marques Alves;
Soldado Arvorado 82116569 Mamadu Baldé (Fula);
Soldado 82101469 Udi Baldé (Futa-fula);:
Sold 82101069 Sajo Candé (Fula);
 Sold 82108069 Alfa Jaló (Fula);
Sold 82116469 Iéro Juma Camará (Ap Mort 60) (Futa-fula);
Sold 82111969 Mamadú Jaló (Mun Mort 60) (Fula);
Sold 82111069 Adulai Baldé (Fula);
Sold 82117269 Adulai Bal (Fula).


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Nota do editor:


ÚLtimo poste da série > 23 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8594: Fotos à procura de... uma legenda (3): Cais do Xime, o "princípio da autoestrada do leste"... Álbum do Arlindo Roda (campeão de damas, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


Postes anteriores:


19 de Julho de 2011 >Guine 63/74 - P8569: Fotos à procura de... uma legenda (2): Carlos Miguel (Fininho), e Carlos Alberto Maravilhas Soares, do Comando de Agrupamento nº 1980 (Bafatá, 1967/68): Álbum de Amaro Oliveira António


17 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8565: Fotos à procura de... uma legenda (1): Álbum de Torcato Mendonça (CART 2339, Mansambo, 1968/69)