sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17829: Agenda cultural (589): Congresso Internacional, dedicado a Gomes Freire de Andrade, na Academia Militar (Campus Amadora), nos dias 11 e 12 de Outubro de 2017, com a uma intervenção a cargo do Cor Art.ª Ref António J. Pereira da Costa

CONGRESSO INTERNACIONAL

ACADEMIA MILITAR (CAMPUS AMADORA)

DIAS 11 E 12 DE OUTUBRO

GOMES FREIRE DE ANDRADE: O HOMEM E O SEU TEMPO

COM PARTICIPAÇÃO DO COR ART REF ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA DA COSTA,  MEMBRO DA NOSSA TABANCA GRANDE


Clicar nas imagens para ampliar


OBS: - O nosso camarada António José Pereira da Costa fará a sua intervenção na segunda sessão do dia 12, entre as 11h30 e as 12h45. Entrada livre. Os amigos e camaradas da Guiné serão bem vindos. 
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17826: Agenda cultural (588): "Os Negros", de Jean Genet... Teatro Municipal de São Luiz, Lisboa, de hoje até 15 de outubro... Sinopse: "Os negros. Treze atores negros. Uma peça escrita por um branco. Para um público de brancos. Mas afinal o que é ser negro? O que é ser negro quando não se vive num país negro ? E antes de tudo, qual é a cor de um negro?"...

Guiné 61/74 - P17828: Notas de leitura (1001): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (3) (Mário Beja Santos)

Primitivo Palácio do Governador, 
Imagem retirada do blogue Rio dos Bons Sinais, com a devida vénia

Terceira recensão dos relatórios que o Banco Nacional Ultramarino (BNU), da então Guiné Portuguesa, enviava periodicamente para Lisboa, e que Mário Beja Santos descobriu por acaso nos arquivos da Caixa Geral de Depósitos, onde, além dos relatórios de contas, se fazia menção às ocorrências de ordem social e política naquele território ultramarino.

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
Levo alguns meses a folhear estes documentos, filtrados das diferentes pastas que tenho andado a consultar no arquivo histórico do BNU, e ainda estamos no princípio da narrativa, mas dá perfeitamente para perceber que estamos perante uma documentação desassombrada, por vezes com comentários cruéis e apreciações políticas destemidas, seguramente eram estas as apreciações que o BNU pretendia receber em Lisboa, para tomar decisões afinadas com a realidade da colónia.
Pasma como tem sido possível andar a levantar estes pedaços da História da Guiné sem conhecer tão inusitados e densos comentários de cronistas anónimos, que escondiam discretamente estas informações no final do seus relatórios técnicos, semestrais ou anuais.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (3)

Beja Santos

No seu relevante trabalho de investigação com o título “a Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, o investigador Armando Tavares da Silva levanta questões que ajudam a compreender o teor das verberações dos diferentes gerentes do BNU em Bolama. A páginas 617, refere as concessões nos Bijagós. Terá sido o caso de uma companhia inglesa que se instalara em Bolama com o fim de explorar a indústria do óleo de coco e não era claro quem teria feito a concessão do terreno e em que condições. Em Janeiro de 1913 o jornal A Capital informava que tinham sido ordenadas superiormente todas as facilidades para aquelas descargas e que essa companhia estava negociando, sem licença, álcool, tabaco e coconote, comprava aos indígenas a preços superiores ao dos mercados de Bolama e Bissau. O governador veio desmentir dizendo que a companhia não possuía plantações e o empresário, o Sr. Hawkins, tinha tirado licença idêntica aos nacionais e estrangeiros para permuta com os indígenas. O assunto não ficou por aqui. A 28 de Janeiro de 1913 o ministro telegrafa para o comandante militar de Bissau informando que o súbito inglês Isaac Thomas Hawkins tinha requerido um total de 21.395 hectares em várias ilhas dos Bijagós. Questão nada pacífica como é evidente, será levada a debate na Câmara dos Deputados. Antónia Silva Gouveia, que exercia funções de deputado e tinha interesses no comércio da Guiné, reclama junto do ministro contra estas concessões que considera contrárias aos interesses da província. O melodrama teve continuidade. Perceba-se como os Bijagós viviam com humilhação esta discriminatória repartição de terrenos.

Em 1917, o ano em que abriu a agência do BNU em Bissau, será o ponto de partida para guerras de afirmação entre Bolama e Bissau. Não propriamente logo em 1917, a agência de Bissau vai funcionar num andar arrendado, com mobiliário emprestado. O seu horário de serviço era das oito ao meio dia e das duas às quatro, fechando ao sábado à tarde, em Outubro de 1918 dilatará o seu horário de funcionamento. Agência em casa arrendada num estado arruinado, era feita de adobe. Em Setembro de 1918 será autorizada a compra do terreno e a construção do edifício da agência. O gerente de Bissau insistia na solução de se fazerem as obras na época seca de 1918-1919, dá preços de salários, de pintores e serventes, de materiais a cal de casca de ostra, sugere a construção de armazéns, vai sempre dizendo que se vive em condições deploráveis, em quartos térreos e imundos.

Nesse mesmo ano de 1917, em Julho, o gerente de Bolama informa Lisboa sobre a guerra nos Bijagós. Começa por dizer o seguinte:
“Já regressou das operações militares no arquipélago dos Bijagós o Estado-Maior da coluna organizado pelo governo da Guiné, sob o comando do Chefe de Estado-Maior, Major Ivo Ferreira, que tinha ido para aquele arquipélago a fim de bater o gentio da ilha de Canhambaque e outras. Segundo nos informou aquele oficial, a ilha de Bubaque onde existe a concessão Hawkins e a sede da Companhia Agrícola e Fabril da Guiné, está pacificada; a ilha de Canhambaque está batida mas não pacificada. Ficaram nesta ilha forças militares das companhias de guerra para, sobre o comando de dois oficiais subalternos, montarem e guarnecerem dois postos militares para efetivar a ocupação. O gentio da ilha, fazendo a guerra a seu modo infligiu nas forças fiéis algumas perdas”.
Em Agosto, presta novas informações:
“Em aditamento temos a informar Vossas Excelências que o governador da Província tendo reconhecido que se não devem pôr entraves nas ilhas cujos habitantes estão aparentemente submissos, determinou em portaria que o estado de guerra se limitasse só às ilhas de Canhambaque e João Vieira e ilhéus em redor das citadas ilhas, em virtude dos seus habitantes se encontrarem em estado de rebelião armada.
Aproveitamos a oportunidade para transcrever parte de uma carta reservada da agência de Bissau, datada de 2 de Julho, referindo-se ao Sr. Isaac Thomas Hawkins, que, diga-se de passagem, não tem as simpatias pessoais do nosso gerente em Bissau: ‘Para o fim de anotar o cadastro deste senhor, devemos dizer que confidencialmente soubemos que à reclamação apresentada por ele ao vice-cônsul inglês desta província dizendo, na mira de alguma indemnização, que a coluna de operações em Bubaque o prejudicava no seu intenso negócio, o cônsul em Bathurst lhe respondeu que ele devia acatar as leis portuguesas e que não lhe tolerava que ele pretendesse imiscuir-se nas medidas que o governador da província entendesse tomar’. É positivamente resposta de um homem que tem cabal conhecimento de Hawkins, que por algum tempo esteve na Serra Leoa, de onde aprece ter vindo par aqui”.
Em Outubro presta o seguinte esclarecimento a Lisboa:
“Continua a rebelião armada do gentio da ilha de Canhambaque, tendo o governador sido recebido a tiro numa recente visita que ali fez".

 Imagem retirada do blogue Rio dos Bons Sinais, com a devida vénia

No relatório da filial de Bolama partilhando os anos de 1917 e 1918, temos um novo documento surpreendente pela forma e conteúdo, não destoa pela franqueza de documentos anteriores e posteriores, tem uma enorme carga política:
“Nada há a acrescentar ao que se tem dito se não o que tudo aqui continua na mesma apatia, no mesmo desleixo, na mesma inconsciência de sempre. Saiu o governador Ivo Ferreira que nada produziu de útil, entrou o governador Josué de Oliveira Duque que é boa pessoa mas o que deseja é que o deixem ganhar os seus vencimentos sem grandes incómodos; este governador não tem a confiança do secretário de Estado das Colónias, vindo para aqui por imposição do Presidente da República de quem é amigo pessoal e como prémio de consolação por se ver o governador central obrigado a tirar-lhe o comando da Guarda Nacional Republicana em Lisboa.
Aqui é manejado por Oliveira e Castro; tendo anunciado durante a viagem e à chegada que o seu primeiro ato seria fazer recolher a Lisboa o referido Oliveira e Castro, dias depois telegrafa para Lisboa a pedir a sua conservação aqui como diretor da fazenda (…) A Carta Orgânica foi em parte suspensa; desorganizaram-se serviços que nos termos dela se tinham organizado. No Boletim Oficial aparece uma portaria censurando o diretor interino dos correios e telégrafos por ter demonstrado por várias vezes incompetência para o exercício do cargo, mas este funcionário continua a teste de tão importantes serviços que de notável só têm as irregularidades, o desleixo e a indiscrição. O serviço de saúde está numa lástima; tudo falta, remédios, desinfetantes, aparelhos e instrumentos, etc. À data em que escrevemos, a vida em Bolama está por assim dizer paralisada; a população aterrada com a grande quantidade de óbitos que ultimamente tem havido não só devido à época mas porque também desde a última estadia aqui dos vapores vindos de Lisboa a epidemia da gripe infeciosa deu entrada na província e por ela alastrou com grande rapidez, causando, principalmente em Bolama grandes estragos na população, tanto europeia como indígena”.

Para tudo complicar, até a gripe espanhola eclodira na Guiné. Se este relatório é firme e desassombrado, as informações sobre a colónia que acompanham a documentação do relatório de 1919, terão o poder de nos surpreender, aqueles gerentes do BNU pareciam falar de igual para igual e deixam o leitor desnorteado pela severidade com que julgam os decisores e os militares.
Como veremos a seguir.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 29 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17807: Notas de leitura (999): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17815: Notas de leitura (1000): “A França contra África”, por Mongo Beti; Editorial Caminho, 2000 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17827: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (6): 5.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Binar e Bissorã (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (6)

5º DIA: DIA 03 DE ABRIL DE 2017 - BISSAU, SAFIM, BULA, BINAR E BISSORÃ

BULA

Mais uma noite bem dormida, mais um pequeno-almoço ingerido e eis-nos de novo na estrada para cumprir o programa planeado para o 4.º dia da nossa estadia por terras africanas da Guiné-Bissau.

Tal como acontecera nos dois dias anteriores, saímos do Aparthotel, cerca das 08,00 horas da manhã, dirigindo-nos para norte em direcção de Safim, percorrendo 13 quilómetros de uma via muito movimentada, mas com o piso com pouco asfalto e muitos buracos.

Ultrapassámos depois o Rio Mansoa, cuja passagem vencemos utilizando a Ponte Amílcar Cabral, que ali foi construída no ano de 2007, seguindo depois em direcção a Bula, onde havíamos previamente decidido fazer a primeira paragem.

A vila de Bula, tal como muitos outros locais da Guiné, está, em minha opinião, bastante pior do que a conheci nos anos de 1973/1974, realidade que se compreenderá pelo regresso a Portugal dos militares portugueses, que constituíam o Batalhão 8320/72, alguns com famílias, e que davam movimento e proporcionavam algum rendimento e bem-estar às populações locais, em áreas tão distintas como a frequência de pequenos restaurantes, cafés e bares e até de algumas pequenas lojas que, por todo o lado existiam, ou até do recurso às lavadeiras locais, que faziam o tratamento das roupas desses militares.

Tal como o pudemos confirmar não só aqui, mas também noutras localidades guineenses que visitámos, as instalações dos antigos quartéis das tropas portuguesas estão completamente abandonadas e muitas delas destruídas, dando péssimo aspecto a quem visita estas terras. Creio que os responsáveis guineenses não souberam rentabilizar os apoios financeiros que receberam de instituições internacionais, já que, pelo menos, poderiam tê-los aproveitado para o desenvolvimento de actividades escolares, ou para instalação de pequenas unidades de saúde, ou até para a construção de pequenas indústrias ligadas aos produtos que produzem. O único dado positivo que ali vimos, foi a existência, junto à entrada do antigo quartel, de uma pequena unidade da PSP, mas que, segundo verificámos, não reúne mínimas condições de funcionalidade, face à ausência de equipamentos e de viaturas de apoio, para rentabilizar a sua actividade.

Das instalações do antigo quartel, apenas visualizámos vestígios das paredes onde funcionava a Messe dos Oficiais, ruínas de uma das casernas dos soldados, um palco e um écran, ambos em cimento e ainda em estado razoável de conservação e locais onde se projectavam, naquela época, alguns filmes e ainda o que resta da antiga Capela do aquartelamento.

Outro pormenor que me chamou a atenção foi a inexistência de toda a vedação que rodeava e defendia as instalações do antigo quartel.

Dirigimo-nos depois à Escola do EB 23 de Janeiro, um estabelecimento de ensino com vários pavilhões e cuja propriedade era de foro privado, onde fomos recebidos pelo Director dessa Escola e por alguns dos seus professores que, nesse dia, ali se encontravam a dar aulas.

O objectivo da nossa paragem, era o de não só verificar o estado das salas de aula e as condições em que as crianças locais tinham as aulas visando um futuro apoio, mas também para ali deixar diverso material escolar, a fim de ser distribuído e utilizado pelos alunos daquela escola, tendo também sido distribuídas algumas guloseimas e duas bolas de futebol, para a prática desportiva.

De salientar que, ao contrário das escolas do ensino público que encontrámos noutros locais, casos de Binar e Bissorã, onde os alunos já estavam a gozar de férias da Páscoa, nas privadas, como era o caso desta em Bula, essas férias só se iniciavam no fim-de-semana que se seguia.

Antes de seguirmos para Binar, tivemos oportunidade de dar um pequeno passeio a pé e depois de jeep, pelas duas principais ruas de Bula, confirmando a ideia que já tínhamos sobre a vila, tendo-nos apenas chamado a atenção, pela positiva, a existência de uma feira de rua que, iniciada logo a norte do antigo quartel, se alonga pela rotunda que conduz a Binar e a S. Vicente e por mais umas dezenas de metros, na estrada que segue para Binar e locais onde se vendia um pouco de tudo.

Apesar de algum desencanto, mesmo assim gostei de ver e sentir Bula, localidade em cujo quartel participei em diversas reuniões e local onde, interinamente comandei, nos finais de 1973, a 1.ª Companhia do Batalhão de Cavalaria 8320/72, que aguardava a chegada de Portugal de um novo Capitão Miliciano para ocupar esse lugar.


Foto 51 - Rio Mansoa (Guiné-Bissau): Ponte Amílcar Cabral, sobre o Rio Mansoa, entre as cidades Bissau e Bula e que tem o comprimento de 785 metros e a largura de 11,40 metros


Foto 52 - Bula (Guiné-Bissau): Entrada principal do quartel de Bula, obtida na década de 80, mas que actualmente se encontra com os edifícios totalmente degradado


Foto 53 - Bula (Guiné-Bissau): Entrada da Escola EB 23 de Janeiro, onde eu próprio, o Isidro e o motorista Fernando, temos a simpática companhia de 8 alunos daquela escola, onde entregámos diverso material escolar.



Fotos 54 e 55 - Bula (Guiné-Bissau): Duas fotos, recordando a nossa visita a uma sala de aulas de uma escola de Bula, onde entregámos material escolar e desportivo e onde aparecem os colegas, Ferreira, Rebola, Isidro e Azevedo. Na nossa companhia estão, a professora dessa sala e o director da escola. Repare-se na data escrita no quadro


Foto 56 - Bula (Guiné-Bissau): Os colegas Ferreira e Isidro, distribuindo objectos de apoio escolar, na escola local


Foto 57 - Bula (Guiné-Bissau): Foto do exterior da escola de Bula, que visitamos e onde deixámos material escolar


Foto 58 - Bula (Guiné-Bissau): O João Rebola e o Azevedo, no interior do antigo quartel, acompanhados por dois agentes do posto da PSP, instalado à entrada

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BINAR

Percorridos cerca de 10 quilómetros por uma estrada bem asfaltada e com muitas retas, chegámos a Binar, onde no período de 1973 e 1974, se sediou o aquartelamento da Companhia de Caçadores 17 (CCAÇ 17), constituída por 23 homens do Continente Português (1 Capitão, 4 Alferes, 1 Sargento, 9 furriéis, 5 cabos e 3 praças e mais 144 elementos africanos (5 furriéis, 11 cabos e mais 128 soldados, que comandei, como Capitão Miliciano, durante cerca de oito meses.
Ao chegarmos ao cruzamento da localidade, virámos para norte, para cerca de 500 metros depois, chegarmos ao local onde existiu o antigo aquartelamento, tendo de imediato sentido um arrepio ao ver o local onde estive instalado e em zona onde também existiam habitações da administração e tabancas da população local.

Começando por falar da vedação das nossas antigas instalações, referiria que da mesma, na altura constituída por duas redes de arame farpado paralelas e separadas cerca de uns 15 metros uma da outra, com entrada/saída nos topos norte e sul, nem sinais dela agora existem.

Mal estacionámos no local onde era a parada do antigo aquartelamento, senti logo uma profunda emoção ao ver ainda de pé e em estado de boa conservação, uma antiga capelinha, encostada a um enorme poilão, que continha no seu interior um pequeno oratório, onde estava colocada uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima, capelinha essa que havia sido construída pela Companhia de Militares Portugueses que nos antecedeu e da qual não me recordo a sua identificação.

Essa capelinha, creio que foi construída como agradecimento a Nossa Senhora pelo facto de quase no topo dessa árvores e bem lá em cima, ainda se poder ver uma granada de RPG, que havia sido disparada por tropas do PAIGC e que lá ficou espetada, sem explodir.

Verifiquei, também com natural espanto, que ainda existiam as paredes do edifício de pedra e cimento, propriedade da administração local, onde eu e mais três dos quatro Alferes, dormíamos a maior parte das noites que lá passámos e da qual tirei, para memória futura, algumas fotos que abaixo reproduzo, acrescentando desde já que, em duas das suas paredes, cresceram duas árvores, que atingem algum porte, uma das quais se vê por cima da janela maior, local onde era o meu quarto.

Por razões estratégicas, de segurança e de comando, um dos quatro Alferes, de forma rotativa, dormia num abrigo subterrâneo, que ficava localizado cerca de 30/40 metros para nascente do nosso edifício.
Embora a tal não fosse obrigado, por razões de boa camaradagem, também algumas vezes entrei nesse sistema de rotação de dormir no abrigo, onde porém, as condições eram um pouco piores que na casa que nos tinha sido cedida.

Quanto aos nove Furriéis continentais, que dormiam num outro edifício, também propriedade da Administração e situada a uns 20 metros para norte do abrigo e aos cinco guineenses que dormiam nas suas tabancas, havia idêntica rotação, ficando no abrigo três por noite, com o Sargento, também, por razões de camaradagem, a entrar periodicamente nessa rotação.

Além destes graduados, dormiam também no mesmo abrigo, em noites também rotativas, cerca de 30 elementos que constituíam cada um dos quatro pelotões da Companhia de Caçadores 17 (CCAÇ 17).
Tinha que ser, e assim se fazia, cumprindo as ordens e as normas de segurança de todo o pessoal da Companhia em que estávamos todos os 167 homens integrados.

Além dos edifícios já referidos, existia ainda no interior da zona vedada, o edifício onde habitava o Administrador de Binar, o edifício da Secretaria da Administração e ainda um outro edifício designado celeiro e que servia de local de recolha dos produtos agrícolas produzidos na região (arroz, mancarra, caju, manga e creio que peixe e marisco) e que eram controlados pela Administração e ainda um grupo energético que enviava para um depósito elevado, a água que retirava de um furo existente no terreno, com algumas dezenas de metros de profundidade.

Como curiosidade, o facto de os habitantes desta pequena aldeia guineense, que não deveria ultrapassar as 500 pessoas, pertenciam às quatro seguintes etnias: Balantas, Fulas, Manjacos e Mancanhos, cada uma delas com o seu Chefe de Tabanca, mas todas subordinadas ao Chefe dos Chefes, que de nome António Quade, era Balanta e era o mais velho dos quatro.

Procurámos manter sempre um bom relacionamento com todos eles, mas havendo o cuidado e a atenção de, qualquer assunto importante, passar previamente pelo Chefe dos Chefes.

Antes de nos retirarmos e tal como noutras localidades, onde outros colegas prestaram o seu serviço militar, também aqui entregámos na Missão Católica de Binar, roupas e material diverso, deixando na Escola de Ensino Básico Unificado de Binar material escolar e uma bola de futebol.

Outra curiosidade, para mim muito emotiva desta minha passagem por Binar, relaciona-se com a agradável surpresa de ao falar com o responsável da Missão Católica, que nas fotos aparece com uma t-shirt vestida, lhe ter perguntado se ainda por ali viviam pessoas dos já longínquos anos de 1973/1974, ficando surpreendido quando ele me disse que um tio dele, já vivia ali nessa época, que ainda era vivo, e que residia ali próximo.

Logo se prontificou a ir chamá-lo, o que fez de imediato, ficando eu a aguardar com alguma expectiva a sua chegada, mas aproveitando esse tempo para irmos à Escola local entregar a um dos professores que lá se encontrava e que se vê numa das fotos seguintes, algum material escolar que tínhamos levado, para lá deixar.

A certa altura vejo chegar, montado numa bicicleta, um homem já idoso que, ao ver-me, logo atirou a bicicleta para o chão e que veio direito a mim para me dar um abraço e chamando-me Capitão, o que para mim foi um espanto total, pois nem sequer me deu tempo para pensar se eu o conhecia, ou não, confirmando-me logo de seguida, que era neto de António Quade, o tal Chefe dos Chefes de Tabanca, a quem atrás já me referi.

Ainda que naquela altura ele tivesse cerca de 20 anos, acabei com mais calma por o reconhecer, já que naquela altura ele acompanhava muitas vezes o avô, mas ele reconheceu-me primeiro a mim, o que me encheu de natural alegria, como é fácil supor.

Prontificou-se a mostrar-me como se encontra a actual Binar e fiz-lhe a vontade, acompanhando-o numa pequena volta pelo meio de algumas tabancas, durante cerca de 15/20 minutos, pormenor muito importante para mim e satisfação plena para ele, que o levou a chorar agarrado a mim quando nos despedimos, atitude que também me emocionou, porque tal como nos aconteceu noutros locais, ele ao despedir-se de mim dizia em voz alta e comovente: Não nos abandonem… Voltem para cá outra vez…

Seguem-se algumas belas e para mim cativantes imagens que me recordam com alguma saudade a minha passagem por terras guineenses de Binar, que muito gostei de rever.


Foto 59 - Binar (Guiné-Bissau): Uma pequena capela construída encostada a um poilão, que felizmente ainda se encontra de pé, e em cujo interior se encontrava exposta uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima, que já lá não está. Fui aqui Comandante, como Capitão Miliciano, da então CCAÇ 17, que era constituída por 23 militares do Continente e por 144 militares da Guiné. Na frente da capela, situava-se a parada do nosso quartel.


Foto 60 - Binar (Guiné-Bissau): O belo “palácio”, onde eu e mais 3 alferes da CCAÇ 17 dormíamos. Repare-se no actual requinte de 2 árvores invadindo as paredes do edifício. A abertura larga do lado direito do edifício, era o meu quarto, mas afirmo que não fui eu que plantei a árvore que lá se vê. A porta de entrada era a que se vê à esquerda


Foto 61 - Binar (Guiné-Bissau): Ainda com o edifício onde dormia, em fundo, aqui deixo com esta imagem, um memorial aos militares da CCAÇ 17 e outras companhias anteriores, que passaram por Binar e que por aqui faleceram, em defesa da Pátria Lusitana. Paz à sua alma


Foto 62 - Guiné-Bissau: Estrada Bula / Binar, mapa onde também aparece a povoação de Pete, local no qual comandei temporariamente, a 1.ª Companhia do Batalhão de Cavalaria 8320/72, sediado em Bula, em conjunto com a da CCAÇ, 17, em Binar, até à chegada de um novo Capitão, ido do Continente. No mapa vê-se, a noroeste de Binar, a base do Choquemone, que o PAIG, ali mantinha

Infogravura: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Foto 63 - Guiné-Bissau: Outro mapa, onde se vê a localização geográfica de Bissau, de Binar, de Encheia, de Mansoa e ainda de Porto Gole, com o curso do Rio Geba a ladear, a sul, estas terras guineenses
Infogravura: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Foto 64 - Binar (Guiné-Bissau): Edifício da antiga administração da pequena vila, com cujo responsável mantive as mais cordiais relações institucionais, quer de amizade quer de colaboração


Foto 65 - Binar (Guiné-Bissau): Foto da Escola de Ensino Básico Unificado, onde entreguei diverso material escolar e uma bola de futebol


Foto 66 - Binar (Guiné-Bissau): Foto junto a um poço de água da localidade, onde da esquerda para a direita aparecem os colegas, Vitorino, eu próprio, Monteiro, Isidro e Ferreira. Ao nosso lado, um professor da escola de Binar


Foto 67 - Binar (Guiné-Bissau): No mesmo local da foto anterior, saio eu da imagem e entra com uma “t-shirt” verde, um bisneto do Chefe dos Chefes das Tabancas de Binar, que atrás refiro e responsável pela Missão Católica de Binar.

Fotos: © A. Acílio Azevedo

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17820: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (5): 4.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Có, Pelundo, Canchungo, Bachile e Cacheu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17826: Agenda cultural (588): "Os Negros", de Jean Genet... Teatro Municipal de São Luiz, Lisboa, de hoje até 15 de outubro... Sinopse: "Os negros. Treze atores negros. Uma peça escrita por um branco. Para um público de brancos. Mas afinal o que é ser negro? O que é ser negro quando não se vive num país negro ? E antes de tudo, qual é a cor de um negro?"...


Cartaz > Fonte: Página do Facebook do Teatro São Luiz (com a devida vénia...)



1. Eu vou à estreia!...  Hoje no Teatro Municipal de São Luiz, em Lisboa.


A peça é do célebre Santo ("Saint") Genet, como se lhe chamava o "mestre" Sartre!... O autor maldito de "As criadas".

"Os Negros", nunca tive ocasião de ver a a peça ao vivo!...

Hoje marco presença no São Luíz, para mais a produtora executiva é a minha querida "sobrinha" Urchi Cardoso!...

Divulgue-se na agenda cultural do nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné!...

Ler poesia, e ir ao teatro, faz bem aos neurónios, dizem os cientistas que previne o Alzheimer

e acrescenta anos de vida à tua esperança média de vida, camarada!




2. Teatro > Estreia


Passado e Presente, Lisboa – Capital Ibero-Americana de Cultura 2017


5 – 15 out 2017
OS NEGROS
de Jean Genet
Teatro GRIOT

Encenação de Rogério de Carvalho

Quarta a sábado, 21h; domingo, 17h30
Sala Luis Miguel Cintra
M/14
€12 - €15 (com descontos €5 - €10,50).

Sinopse:


Os negros.
Treze atores negros.
Uma peça escrita por um branco.
Para um público de brancos.
Mas afinal o que é ser negro?
O que é ser negro quando não se vive num país negro ?
E antes de tudo, qual é a cor de um negro?



3. Segundo se lê no respetivvo sítio, o Teatro GRIOT, estrutura apoiada pela Câmara Municipal de Lisboa, "é uma companhia de actores que se dedica à exploração de temáticas relevantes para a construção e problematização da emergente identidade europeia contemporânea, intercultural e desterritorializada, e do seu reflexo no discurso e na estética teatral.

"A identidade e as dinâmicas inter-identitárias, entre o africano e o europeu, e o território de intersecção entre ambos, são um dos eixos de desenvolvimento das actividades da companhia, o que se reflecte na programação, na escolha dos textos, dos encenadores e dos actores.

"A Memória e o Esquecimento, a Transgressão, a Língua, os Espaços Intersticiais e o Outro são conceitos estruturantes da companhia". (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17816: Agenda cultural (587): Apreciação dos 3.º e 27.º livros da coleção Fim do Império, da autoria do Major Piloto-Aviador Carlos Acabado, "Kinda" e "Histórias de uma Bala Só" (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 61/74 - P17825: Historiografia da presença portuguesa em África (96): primeira relação de nomes geográficos da Guiné Portuguesa, em 1948, ao tempo do governador Sarmento Rodrigues (Parte II)


Freixo de Espada à Cinta > Lápide evocativa do nascimento de Sarmento Rodrigues (Freixo de Espada à Cinta, 15 de Junho de 1899 / Lisboa, 1 de Agosto de 1979), prestigiado oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, político, africanista, homem de cultura, escritor... Homenagem do povo do Freixo, em 20 de junho de 1999.

Transmontano de Freixo Espada à Cinta, era considerado: (i) um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo; (ii)  um homem "à esquerda" do regime, com afinidades político-ideológicas com Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias; (ii) governador geral da Guiné entre 1945 e 1949, terá sido talvez o melhor dirigente da administração colonial que passou por aquele território, tendo-se encetado com ele um processo, tardio mas irreversível, de modernização da economia e da sociedade guineenses; e (iv)  o eleito por  Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.

Nessas funções governativas levou a cabo uma vasta reforma da administração colonial portuguesa, tendo visitado o Extremo Oriente, o Sueste Asiático e a África. Entre 1961 e 1964 foi governador-geral de Moçambique. onde terá deixado saudades.

Tem uma extensa obra publicada sobre assuntos navais, de defesa e de administração colonial. Cite-se apenas algumas das suas publicações, relacionadas com a Guiné: Os maometanos no futuro da Guiné Portuguesa (1948), No governo da Guiné: discursos e afirmações (1949), Horizontes para um médico em África: conferência pronunciada no Instituto de Medicina Tropical (em 30/3/1950), A nossa Guiné (1972)...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






















Anexo à Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948, do Governo da Colónia da Guiné: alguns anexos (pp. 7, 23, 37, 52, 57, 68, 67, 69, 72)


1. São apenas algumas páginas da extensa  "Primeira Relação de Nomes Geográficos da Guiné Portuguesa" elaborada em 1948 nos tempos do Governador Sarmento Rodrigues, e que nos chegou por mão do historiador Armando Tavares da Silva, membro da nossa Tabanca Grande..

Por ela se pode ver que havia 2 povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu (p.  23).  O Canchungo, nome gentílico, coexistia com a nova vila, Teixeira Pinto (p. 72).

Quanto à tabanca Portugal, havia dois lugares com este nome: (i) povoação na área de Bolama; e e uma outra na região de Fulacunda, sendo nesta que morava, em 1947, o régulo Bacar Dikel (p. 57).

Gabú era uma circunscrição, Gabú-Sara era uma povoação (p. 37)  e Nova Lamego uma vila tal como Nova Sintra (p. 52). Também existia uma Nova Cuba (p. 52).

Quanto a Aldeia Formosa  (p. 7) esta aparece como uma povoação de Fulacunda, a par de Quebo (p. 57).

Releia-se  o preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues e a expressa vontade de normalização da escrita dos nomes geográficos da Guiné (*). Alguns nomes são novos, ou aparecem pela primeira vez: Teixeira Pinto, Nova Lamego, Aldeia Formosa...

Lembre-se, por fim, que Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula, acompanhando a "expansão" do chão fula... . Entre elas (e são mais de centena e meia) notámos a a existência de uma Sinchã Comandante (p. 67) e outra Sinchâ Sarmento  (p. 68)... Também, para além de Aldeia Formosa, há mais 3 Aldeias (p. 7). Há ainda, topónimos pouco vulgares ou pitorescos como Algodão, Acampamento ou Achada do Burro (p. 7) ou ainda Quartel (p. 52), Porcoa, Preço Leve (p. 57)...

Desafia-se o nosso leitora a verificar se algumas destes topónimos, aportuguesados, sobreviveram à guerra e à independência...

No nosso blogue há, por exemplo, há várias referências a lugares começados por Sinchã... Destaque para Sinchã Jobel que foi uma base do PAIGC ou "barraca" no regulado de Mansomine (carta de 1/50 mil. Bambadinca).

Sinchã Abdulai (1)
Sinchã Bambe (1)
Sinchã Dumane (1)
Sinchã Jobel (16)
Sinchã Madiu (1)
Sinchã Molele (1)
Sinchã Queuto (2)
Sinchã Sambel (1)

2. Tirando um ou outro nome português, do nosso roteiro poético-sentimental (Nova Sintra, Nova Lamego...), o essencial dos nomes geográficos da Guiné não nos diziam nada, nem tinham que dizer, eram exóticos, pitorescos... mas não suscitavam curiosidade por aí além...  Eu, que não sabia mandinga, só muito mais tarde é que vim a saber que Bambadinca, por exemplo, queria dizer "a cova do lagarto"...

De facto, quem é que se lembraria de ir fazer umas "férias", em 1948,  a Gadamael ou a Pejungunto, ou a Bajocunda ou a Buruntuma... ? Eram nomes completamente estranhos aos militares portugueses que foram aportando a Bissau, a partir de 1961...

Mais pica tinham, na nossa santa terrinha, algumas povoações com  conotações... erótico-satíricas, se não mesmo anatómico-sexuais (ou que se prestam  a trocadilhos, mal entendidos, piadas de mau gosto, brejeirices, etc.).

A própria terra em que nasceu o grande "africanista"  Sarmento Rodrigues... Quem é o "tuga" que já alguma vez foi a Freixo de Espada á Cinta, que ficava lá no  "Cu de Judas" ?...

Aqui vai, a título exemplificativo uma lista de topónimos portugueses que se prestam, muitos deles,  à risota ou à mais série meditação e contemplação... (indica-se o respetivo concelho)... Imaginem agora os nossos futuros conquistadores ou colonizadores de amanhã, em papos de aranha a tentar descodificar o raio desta porno-corografia deste "famoso reino de Portugal", e encontrar um equivalente semântico para as suas línguas (alemão, chinês, árabe...) 

Aldeia da Cuada - Lajes das Flores, Açores

Alçaperna - Lousã

Amor - Leiria

Bexiga - Tomar

Bicha - Gondomar

Buraca - Amadora

Cabeça Perdida - Portimão

Cabrão - Ponte de Lima

Cabrões - Santo Tirso

Cama Porca - Alhandra

Casal do Corta-Rabos - Alcobaça

Casal da Gaita - Lourinhã


Casais Pia do Mestre - Lourinhã

Catraia do Buraco - Belmonte

Cemitério - Paços de Ferreira


Chiqueiro - Lousã

Coina – Barreiro

Coito - (Vários concelhos)

Colo do Pito - Castro Daire


Coxo - Oliveira de Azeméis

Cu de Judas – Ilha de São Miguel, Açores

Cu Marinho - Évora (distrito)


Curral das Freiras - Câmara de Lobos, Madeira

Endiabrada - Aljezur e Odemira

Fandinhães - Marco de Canaveses

Farta-Vacas - Lagos

Filha Boa - Torres Vedras


Focinho de Cão - Aljustrel

Fonte da Rata - Espinho

Margalha - Gavião


Mata Pequena - Mafra

Moita Longa - Lourinhã

Monte do Pau - Évora (distrito)

Monte do Trambolho - Évora (distrito)

Monte dos Tesos - Avis

Montedeiras - Marco de Canaveses

Montoito - Lourinhã

Namorados - Castro Verde

Paimogo -  Lourinhã

Paitorto - Mirandela

Paixão - Celorico de Basto

Papagovas - Lourinhã

Pedaço Mau - Vila Nova de Famalicão

Pena Seca - Lourinhã

Pernancha de Cima - Portalegre (distrito)

Pernancha de Baixo - Portalegre (distrito)

Pernancha do Meio - Portalegre (distrito)

Picha - Pedrógão Grande

Pirescoxe - Santa Iria da Azóia, Loures (a terra em que viu nascer gente operária e militantes comunistas como o nosso camarada Jerónimo de Sousa)

Pitões das Júnias - Montalegre

Porcalhota (apelido de um proprietário de terras que esteve na origem da Amadora)

Pousaflores - Ansião

Punhete - Valongo

Rabo de Peixe - Ilha de São Miguel, Açores

Rabo de Porco - Penela

Rata - (11 concelhos, pelo menos: Arruda dos Vinhos, Beja, Castelo de Paiva, Espinho, Maia, Melgaço, Montemor-o-Novo, Murça, Santarém, Santiago do Cacém e Tondela)

Rego do Azar - Ponte de Lima


Rio Cabrão - Arco de Valdevez

Rio Seco dos Marmelos - Ferreira do Alentejo

Sempre Noiva - Évora (distrito)

Sítio das Solteiras - Tavira

Terra da Gaja – Lousã

Tomates - Albufeira

Traseiros - Oliveira de Azeméis

Triste Feia - Torres Vedras

Vaginha - Vagos

Vale da Rata – Almodôvar

Vale das Pegas - Albufeira


Vale de Viga - Lourinhã

Venda da Gaita - Tomar

Venda da Luísa - Condeixa a Nova

Venda da Porca - Estremoz

Venda das Pulgas - Mafra

Venda das Raparigas - Alcobaça

Vergas - Vagos

Vila Nova do Coito - Santarém

PS - Espero que nenhum leitor leve a mal esta lista corográfica do "Portugal, país porreiro", que nos coube em sorte. A gente tem que nascer em qualquer sítio... E, como diz o nosso povo, "a vida tem uma porta só, a morte tem cem"... 

Muitos destes lugares do Portugal Profundo já deram, por certo, filhos e filhas, ilustres,  bravos e honrados, à Nação... Em todo o caso, não deixa de ser engraçado alguém, escritor com numerosos livros publicados, nascer numa terra como... "Pena Seca"... E eu,  confesso, também teria dificuldades em escolher um sítio para nascer como "Pernancha" (de cima ou de baixo, tanto faz)... 

A língua portuguesa é traiçoeira, é preciso um falante ser especialista na arte de codificar / descodificar... Dito à mesa, "Ó Maria, dá-me o pito", no norte do país, não quer dizer exatamente o mesmo que a expressão,  em crioulo da Bafatá colonial, "parte catota comigo"... (LG)
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