domingo, 3 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24912: Notas de leitura (1642): Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (1931-1939) - Parte III: A lenda de Ohbapuma (ilha de Orango, arquipélago dos Bijagós)


Nota de LG: 

Lapso de registo ou transcrição: Mancane deve "Mancanha", e Nolu deve ser "Nalu"...  Unnhocomo é "Unhocomo" (a ilha mais ocidental do arquipélago dos Bijagós)... "Campune" é rapariga antes do casamento, bajuda (termo já grafado nalgum dos nossos dicionáros)."Cabarro"/rapaz" ainda não está grafado com este significado.
 
Armando de Landerset Simões terá nascido em Moçambique, Caconda, em 1909. Além de funcionário da administração colonial, tem livros publicados como Simões Landerset, nomeadamente  "Babel negra: etnografia, arte e cultura dos indígenas da Guiné" (Porto, Oficinas Gráficas de O Comércio do Porto
1935) (prefácio de Norton de Matos).

A ilha de Orango, a mais afastada, do arquipélago dos Bijagós (2,6 mil km2 e  34,2 mil hab.) tem, segundo a "Wikipedia, uma área aproximada de 272,5 km e 1.250 Hab (2009).

A ilha conjuntamente com as ilhas de Meneque, Orangozinho, Canogo e Imbone, bem como os ilhéus de Adonga, Canuopa e Anhetibe fazem parte do Parque Nacional de Orango.  "No parque existe uma colónia de hipopótamos e de acordo com as crenças religiosas da população local, o hipopótamo é um animal sagrado, pelo que não pode ser morto ou ferido. Outros animais que se podem encontrar são as tartarugas marinhas e manatins africanos."
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Guiné 61/74 - P24911: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (1): "Assinada e tudo"


1. Em mensagem de 1 de Dezembro de 2023, o nosso camarada Adão Cruz enviou-nos este conto cheio de humor:

ASSINADA E TUDO…

adão cruz

Vem isto a propósito ou a despropósito daquela moça trintona que se sentou à nossa frente na mesa da esplanada, entre dois tipos iguais, de fato escuro e pasta preta na mão. Acendeu o cigarro, pousou o maço na mesa, aspirou bem fundo e expeliu para o ar uma longa baforada de fumo e CO2.

Os cabelos caíam pelos ombros em estrias de várias cores, dentro da mesma tonalidade aloirada. Ostentava no alto da cabeça um par de óculos escuros com vidros do tamanho de um CD.

A pele castanha, de cima a baixo, um tanto ebanácea, denunciava uma enorme quantidade de dias, semanas ou meses de ultravioletas dentro das células, encharcadas de melanina. Um vaporoso vestido branco de renda cobria parte do corpo desde o meio dos seios ao terço superior das coxas, deixando perceber que por baixo havia, como que emboscados, um soutien e umas cuecas também brancos, ora espreitando, ora se escondendo, ao sabor dos movimentos.

Um colar cravejado de bolinhas de cor lilás, era irmão dos brincos que chegavam à clavícula. Afilavam os dedos das mãos umas unhas pontiagudas, de uma cor vermelha arroxeada igual à dos lábios, dando ao conjunto um ar vampiresco. Na mão direita havia dois anéis, um duplo, na falange e na falangeta do anelar, presumivelmente ligados por uma fina ponte invisível, e outro enorme, no indicador, com uma cabeça de urso, azul, do tamanho de uma bola de pingue-pongue. No braço esquerdo, uma enfiadura de pulseiras. De resto, céu limpo até aos pés, onde davam nas vistas uns sapatos completamente abertos, com saltos inspirados na Torre Eiffel de cabeça para baixo e cheios de atacadores que se inseriam a meio da perna e desciam até às pontas dos dedos, sendo que o eixo desse complexo de atilhos, tinha um correr de pérolas iguais às da gargantilha. No pé direito, entre o dorso e a planta, uma assinatura percorria o espaço que vai do calcanhar ao dedo mínimo.

Foi quando o meu amigo, de boca pasmada, me disse baixinho:
- E está assinada e tudo, carago!

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Guiné 61/74 - P24910: Notas de leitura (1641): Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (1931-1939) - Parte II: Lourenço Marques (hoje Maputo): foto galeria dos anos 30


Moçambique > Lourenço Marques > O histórico hotel Polana, debruçado sobre a baía de Lourenço Marques (hoje Maputo). Foto: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, nº 2, maio de 1932, pág.26

(...) "Implanta-se na Avenida António Enes/Julius Nyerere nº 1380 e data do ano 1922; constitui um grandioso edifício, virado panoramicamente ao Índico, com arquitetura de expressão classicizante. Projetado, ao que se sabe, por Walter Reid (1866-1947), "em estilo Palace", terá sido projeto deste arquiteto, ativo em Joanesburgo e irmão do colega Arthur Henry Reid, que também ali trabalhou; pertenceu ao grupo de arquitetos britânicos fixados na África do Sul que incluía o famoso Herbert Baker (1862-1946), autor dos famosos edifícios governamentais em Pretória e Nova Deli, a quem também alguns atribuem o Polana. O hotel foi construído pelo engenheiro Hugo Le May, por iniciativa da Delagoa Bay Lands Syndicate, em 1917-1922." (Fonte: HPIP - Património de Influência Portuguesa) (...)

Moçambique > Lourenço Marques (hoje Maputo)  > O cine-teatro Scala, construído em 1931. Foto: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, nº 2, maio de 1932, pág.27


Moçambique > Lourenço Marques (hoje Maputo) > O pavilhão de chá  na praia da Polana. Foto: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, nº 2, maio de 1932, pág.26 .


(...) " Na transição das décadas de 1920-1930, floresceu a chamada "arquitetura do betão armado" e o sequente Modernismo, dentro da arquitetura art déco. Em Lourenço Marques podem assinalar-se o Palácio Maçónico, depois Escola Industrial 1.º de Maio, o Grémio Náutico (atual Clube Naval), obra de desenho entre art nouveau e art déco; e o Pavilhão de Chá, uma típica arquitetura de betão em varandas e consolas. Podemos associar-lhes o Hotel Polana, de 1922, de influência anglo-saxónica e expressão classicizante. 

"A partir dos anos 1930 a produção arquitetónica em Lourenço Marques caracterizou-se, esquematicamente, pelo surgimento de uma arquitetura moderna, segundo uma produção praticamente anónima que retomava, com um ligeiro atraso, os temas de sucesso em Portugal; e por uma produção mais ousada e experimental que aprofundava, por vezes com mais liberdade do que então era possível no lugar de origem, as tendências inovadoras da arquitetura internacional, experimentando materiais diversos e tomando em conta expressões figurativas estranhas à cultura dominante".(...)  (Fonte: HPIP - Património de Influência Portuguesa)


1. Do nº 2 do Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, maio de 1932, e do artigo "Lourenço Marques", por António Augusto de Miranda (pp. 24/27) retiramos estas três fotos, que pretendem ilustrar o rápido surto de modernização da capital da colónia. 

Lourenço era uma vila em 1876, tendo sido elevada a cidade 11 anos depois, em 1887. No início da década de 1930, era já, na opinião deste magistrado, António Augusto de Miranda, "uma das lindas, mais garridas e modernas cidades do mundo" (pág. 24). E pergunta,  embevecido, o autor: "É qualquer  coisa  que nos desvanece como povo colonizador, não acham?"... Faz um apontamento sobre o crescimento urbanístico da capital da colónia, em termos de números de casas, estradas e arrruamentos contruídos ao longo dos anos de 1920 e princípios de 1930.

O termo "colonalista" neste Boletim, na aceção que tinha na época, era o que (ou quem) defendia, sem complexos,  o colonialismo, a manutenção e o desenvolvimento das colónias.

Todos estes homens (e algumas mulheres), que aqui escreviam, civis e militares,  em geral republicanos e democratas, africanistas e panlusitanistas (sic),  não tinham pejo em assumir-se como "colonialistas" (no "bom sentido" do termo)... Na esteira do gen Norton de Matos, sócio honorário da Sociedade Luso-Africana  do Rio de Janeiro, defendiam o "povoamento branco" das colónias e a "assimilação" dos seus naturais.

Sobre Maputo ver aqui o magnífico portal HPIP - Património de Influência Portuguesa, que poucos dos nossos leitores conhecem...e que merece uma visita demorada. 

(...) "Heritage of Portuguese Influence/ Património de Influência Portuguesa — HPIP — é a evolução natural do projeto Património de Origem Portuguesa no Mundo: arquitetura e urbanismo que, sob a direção de José Mattoso, a Fundação Calouste Gulbenkian desenvolveu entre 2007 e 2012. Teve como objetivo uma publicação em três volumes, mais um de Índices, de uma compilação de informação sobre o tema, composta sob a forma de dicionário de matriz geográfica. (...)

(...) Evolução natural porque a obra impressa tem um preço e uma expressão física que na realidade só a torna acessível ao grande público em bibliotecas, mas também porque face à matéria e ao seu âmbito geográfico tem um enorme potencial de constante atualização. Mesmo com uma vasta e qualificada equipa como a que se reuniu para o efeito, não é possível cobrir a totalidade do planeta em casos e conhecimento já disponível e atualizado. São pois evidentes os dois eixos desejáveis de desenvolvimento do projeto: divulgação mais ampla e reunião integrada de informação dispersa. Uma vez conjugados de forma eficaz, podem gerar um feliz efeito recíproco de bola de neve. Basta que a divulgação estimule a colaboração e vice-versa.

Para atingir tais objetivos o meio ideal é o de um sítio em linha, que se apresente e funcione como portal público interativo da base de dados georeferenciada na qual se concentre e administre toda a informação reunida. Como capital inicial contamos com o conteúdo dos livros, que é, por certo, suficientemente atrativo e estimulante para suscitar a integração do contributo de todos quantos pelo mundo fora tenham algo a acrescentar ou a corrigir, seja através de conteúdos escritos ou gráficos (fotografia, desenhos, iconografia, etc.) (...)

sábado, 2 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24909: Os nossos seres, saberes e lazeres (603): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (131): Querubim Lapa, mago da cerâmica azulejar, mas irrefutável pintor e desenhador neorrealista (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
Aqui acaba a visita a uma exposição surpreendente, alvo de um catálogo de referência, num espaço arquitetónico único, concebido por Alcino Soutinho e onde se revela que Querubim Lapa é muito mais do que um grande ceramista azulejar, foi o nome maior da pintura neorrealista, a sua obra é a demonstração eloquente de que os neorrealistas não bebiam todos da mesma cartilha e como escreve o curador da exposição, David Santos, "Ao desenvolver um sentido poético da análise social do nosso país nas décadas de 1940 e 1950, Querubim Lapa realizou uma pintura singular, como poucas, soube conciliar o testemunho social com uma observação lírica da comunicação artística". No texto anterior, encetámos a viagem por esse Pós-Guerra em que uma nova geração, manifestamente congregada em oposição ao Estado Novo, assumia um compromisso entre a arte e a sociedade. Diga-se o que se disser, "os objetivos reclamados pelo neorrealismo constituíram-se como uma verdadeira alternativa cultural para a maioria dos artistas portugueses da terceira geração modernista - onde se inclui Querubim Lapa, nascido em 1925 - aqueles que na segunda metade dos anos 1940 frequentavam ativamente as escolas de belas artes, pressentindo no fim do conflito mundial a oportunidade de uma mudança política no nosso país". Iremos neste apontamento acompanhar a evolução do artista até se chegar a uma nítida fase de afastamento das formulações e inspirações usadas no período inicial, é quando chegamos ao distanciamento que se pode constatar como este artista plástico, atraído pela explosão da cor, e porventura pelas necessidades impostas pela vida, optou pela cerâmica azulejar, onde foi grão-mestre entre mestres.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (131):
Querubim Lapa, mago da cerâmica azulejar, mas irrefutável pintor e desenhador neorrealista (2)


Mário Beja Santos

É uma exposição surpreendente, o nome Querubim Lapa (1925-2016) associa-se instantaneamente a notabilíssimos trabalhos de cerâmica azulejar, de que ele foi um artista de referência, está agora patente no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, até 29 de outubro de 2023, uma exposição que tem o propósito de dar a conhecer a sua atividade quando ele aderiu a um cânone que marcou uma geração. São cerca de duas centenas de trabalhos entre as décadas de 1940 e 1960. Querubim começou por desenhos de pequeno formado que realizou entre 1945 e 1948, profundamente inspirados no realismo de observação social, vamos ver mendigos, feirantes, vendedeiras, cenas de circo, tudo marcado pelo realismo. Esta observação social prolongar-se-á até à década de 1960, findo o arco temporal que justifica o título da exposição Querubim Lapa, uma poética neorrealista.

Observa David Santos, diretor científico do Museu do Neo-Realismo, “Se hoje Querubim Lapa é pela história de arte identificado como um dos nomes mais decisivos da arte moderna em Portugal ao nível da cerâmica azulejar, ele deve ser igualmente reconhecido como um dos maiores pintores neorrealistas que o nosso país reconheceu”. Não nesta sua arte nada que se aparente com o cânone do realismo socialista, mas também não há folclore, o cômputo é uma poética de liberdade singular, não pelos temas, esses sim, recorrentes na obra destes jovens que partilhavam de uma oposição ao Estado Novo, cenas de trabalho, um mostruário da vida dos pobres, dos sacrificados, não faltando mesmo cenas circenses, uma das poucas ilusões de magia que era permitida aos marginalizados, os do fundo da pirâmide social; mas o que o distingue é o sopro lírico, os revérberos da luz, das cores, a filiação cultural ampla, ao longo da sua trajetória neste domínio das artes plásticas encontra-se a sua forte atração por temáticas do mundo antigo, na sua busca diferenciadora encontramos algo da iconografia russa, da influência bizantina, do gótico italiano, o que se exprime na postura dos corpos, na evidência das formas.

Também no estudo que David Santos preparou para este catálogo de referência se observa a atração de Querubim pelo espelho, o outro eu que atua como um reflexo, e o historiador tece considerações sobre o uso do espelho, já patente no seu autorretrato de 1949, no uso de elementos distrativos para confundir os códigos dos elementos que ele coloca na obra, que tanto pode ser a cor vermelha como o símbolo da alcachofra. Um crítico observou que Querubim era um guloso da cor, um trapezista da linha. Muito exigente na experiência, com o seu caminho próprio no realismo social, esgotados os filões perfilhados pelo uso da arte em que a forma devia estar ao serviço do conteúdo, Querubim, chegada a década de 1960, enveredará por outros rumos, tal como outros artistas da sua geração (caso de Jorge Vieira, Nikias Skapinakis, Rolando Sá Nogueira). Poder-se-á dizer, contudo, e volto a citar David Santos: “Querubim Lapa meter-se-á fiel, no essencial, a um compromisso pessoal que, não abdicando da esperança coletiva de uma sociedade, insistirá na realização de uma arte que exige de si própria um equilíbrio entre o humanismo das suas referências reais e iconográficas e a surpresa das descobertas determinadas pelo fazer artístico.” Há uma linha sequencial que vamos encontrar em cenas como a hora do almoço, o regresso do trabalho agrícola, as figuras das vendedeiras até à fase terminal desta poética neorrealista em que se representa o descanso, porventura em fainas agrícolas. É uma síntese dessas imagens que eu pretendo aqui mostrar para acicatar o desejo do leitor em vir visitar este esplêndido edifício concebido por Alcino Soutinho e percorrer dois andares para conhecer o pulsar do artista plástico, o seu compromisso, a sua estética humanista.

Vamos, pois, continuar a visita.

O tema do espelho, obsidiante na sua obra
As carquejeiras, o trabalho duro reservado aos mais humildes
As carquejeiras num contexto de atividades laborais que tanto podem ser a costura como a faina agrícola
O regresso do trabalho, a censura não terá gostado do motivo, a foice não engana, mas o contraste lírico não é menos pesado, aquele pai com o seu menino às cavalitas, com um furacão de luz ao fundo
A mulher omnipresente, no óleo, na tinta-da-china, na aguarela, lápis, o rosto inteiro, o perfil, em atividades laborais com outras, com o menino ao colo, com o espelho partido, em desespero, caçando borboletas, vendeira de peixe, com uma pomba em ambas as mãos… É a expressão mais evidente constante do compromisso do artista com observação social. Como, aliás, se escreve no catálogo: “De modo singular, Querubim Lapa concilia no seu exercício de consciente situação histórica, uma mais subtil relação com o ambiente reivindicativo do realismo social, voluntariamente adotado desde os desenhos iniciais. Essa era uma opção que o situava, sob o ponto de vista discursivo, na esfera desse encontro entre o passado clássico e o presente moderno.”
Ousadia, irrequietude, a febre da experiência. Tendo como fundo uma volumetria que nos parece convocar para um castelo tipo São Jorge e a descida do casario numa geometria organizada, há depois um tropicalismo que parece saído do Brasil… É um choque, mas Querubim queria mesmo experimentar. Este quadro que não tem título, data de 1955, tenho para mim que o artista, já trabalhava em cerâmica azulejar, pesquisava novas formulações, aliás o final da exposição termina com o tópico “Memória e distanciamento”, atingira-se uma nova dimensão cromática e volumétrica, vamos por ali à volta desta atmosfera experimental e procuramos analogias que nos mostram os prelúdios do afastamento, o encontro com novos processos, no íntimo o visitante vê também a evolução de outros artistas, caso de Maria Keil, Rogério Ribeiro, Nikias Skapinakis. Mas a identidade de Querubim é inatacável, é como estar a ver Almada Negreiros e saber que é impossível não ser Almada Negreiros, ou Cruzeiro Seixas ou Raúl Perez
Exemplos dessa inventividade, temos agora uma paleta mais alegre, um novo tratamento das figuras, nota-se outros chamamentos de artistas figurativos seus contemporâneos, um deles, indubitavelmente, Marc Chagall.
O processo da cor está em alteração, esta vendedeira distancia-se das figuras criadas no Pós-Guerra
Este óleo dá pelo nome “O fardo”, é de 1963, a cromática é de Marc Chagall, a distância do processo neorrealista é insofismável.
“O descanso”, tema que apaixonou os naturalistas, os tardo-naturalistas, modernistas como Almada Negreiros, o que é marcante é a expressão lírica da obra, o apaziguamento, a manipulação magistral dos tons neutros e dos verdes e o poder da luz, como se houvesse um candeeiro a iluminar o repouso destes trabalhadores.
Obra icónica de Querubim Lapa na Pastelaria Mexicana, entre a Praça de Londres e a Avenida Guerra Junqueiro
Querubim Lapa na Avenida da Índia, Lisboa
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Notas do editor:

Vd. poste de 25 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24886: Os nossos seres, saberes e lazeres (601): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (130): Querubim Lapa, mago da cerâmica azulejar, mas irrefutável pintor e desenhador neorrealista (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24900: Os nossos seres, saberes e lazeres (602): Abandono do Património Histórico (Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf)

Guiné 61/74 - P24908: As nossas geografias emocionais (18): Boma ou a fonte de Bafatá do meu tempo da Mocidade Portuguesa (em 1973) e depois de estudante liceal (1975) (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 2010> A antiga fonte de Bafatá. "(...) em 1968/69 estava num grau de conservação normal, quando fui lá em 2010 o terreno, por força das chuvas, tinha subido mais de um metro subterrando o tanque. Também em 2010 já tinha desaparecido a placa com a data da construção." (...)

Foto (e legenda): © Fernando Gouveia (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > "Fonte Pública de Bafatá, 1918". Na foto, o Manuel Mata, que vive no Crato,  ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47 do Esq Rec Fox 2640. Esta belíssima fonte, na zona da "Mãe de Água", também conhecida na época colonial como "Sintra de Bafatá", é portanto do início do desenvolvimento urbano de Batafá, ainda no tempo da República. Ainda chegou aos tempos do Cherno Baldé, quando, depois da independência, ele foi para Bafatá estudar.

Foto (e legenda): © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Fajonquito > 10 de junho de 1971 >  "O meu irmão Carlos (2 anos mais velho, hoje Farmacêutico, formado pela Faculdade de Farmácia da Universidade Técnica de Lisboa), durante a alocução por ocasião do dia 10 de Junho de 1971, Dia de Portugal e de Camões, na escola primária de Fajonquito. Na imagem estão dois oficiais da companhia do cap Figueiredo (CART 2742), um dos quais, o alferes Félix encontrou a morte no mesmo dia que o seu capitão."

Foto (e legenda): © Cherno Baldé (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P24805 (*):


Cherno Baldé, quadro superior
com formação em  economia e gestão,
vive e trabalha em Bissau;
colaborador permanente do nosso blogue:
 integra a Tabanca Grande
desde 19/6/2009; tem cerca de 290
referências no blogue.

Caros amigos,

A fonte (nascente) de Bafatá que conheci desde a minha primeira viagem a esta cidade na qualidade de "infante" da Mocidade Portuguesa ou mocidade "treco" (ou "tareco"), como nos apelidaram os colegas de Bafatá em 1973, praticamente serviu-nos de residência durante alguns dias, pois vindos do interior não conhecíamos ninguém na cidade, mas só durante o dia, porque à noite, por força do arvoredo, da escuridão e isolamento, o pequeno vale se transfigurava num local sinistro de que poucos se atreviam a atravessar. 

As pessoas que vinham ou saíam do Hospital para o Bairro de Ponte-Nova seguiam pelo trajecto que levava ao quartel da cavalaria (?), passando à frente da sua porta d'armas, antes de descer para o Bairro junto da entrada do Cemitério local.

Um ano depois, em 1975, já na qualidade de estudante do primeiro ciclo, voltaria a serviu-nos de local aprazível para estudos e passatempo, sempre no período diurno, pois ainda prevalecia o medo do local e durante a noite predominava a escuridão e o silêncio, nesse período, entre a malta jovem já era mais conhecido por Boma.

Em alguma parte das minhas memórias, falando da guerra de Bissau (junho de 1998-maio de 1999) nossa fuga de Bissau para Fajonquito, faço referência a minha passagem por Bafatá e ao Boma (fonte Bafatá) nosso local predilecto de estudos e brincadeiras.

Um abraço amigo,
Cherno Baldé (Bissau) (**)

(Seleção, revisão e fixação de texto, negritos: LG)
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Notas do editor:

(*) V.d poste de 29 de outubro de  2023 > Guiné 61/74 - P24805: As nossas geografias emocionais (12): A fonte pública de Bafatá, construída em 1918, na zona conhecida como a "Mãe de Água" ou "Sintra de Bafatá", local aprazível e romântico onde chegou a haver almoços dançantes ao tempo do Esq Rec Fox 2640 (1969/71)

(**) Último poste da série > 25 de novembro e 2023 > Guiné 6mbro de 1/74 - P24885: As nossas geografias emocionais (17): Empada: a Fonte Frondosa (1946): uma foto tirada à minha mulher, no dia 25 de dezembro de 1969, dia de Natal (Eduardo Moutinho Santos, ex-cap mil grad, cmdt, CCAÇ 2381, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)

Guiné 61/74 - P24907: Em busca de... (322): Combatentes do CTIG que tivessem conhecido o então Tenente-Coronel Acácio Dias da Silva, Oficial do Serviço de Administração Militar, que cumpriu comissão(ões) de serviço entre 1964 e 1968

Através do Formulário de Contacto do blogue, chegou até nós este pedido de Paulo Dias da Silva para encontrar camaradas que estivessem na Guiné entre 1964 e 1968 e que tivessem conhecido o então TCoronel Acácio Dias da Silva Alves Tavares, oficial de Administração Militar, seu tio e padrinho:

Caros Compatriotas e, com muito orgulho, Antigos Combatentes,

O meu Tio esteve na Guiné, entre 1964 e 1968, no CTI da Guiné, como oficial da ADM.
Morreu há uns anos e além de ser meu Tio foi também meu Padrinho.

Talvez alguém por aqui tenha ouvido falar ou o tenha conhecido ou tenha alguma fotografia onde ele apareça e que possa partilhar.

Trata-se do Coronel (penso que então Ten-Coronel) Acácio Dias da Silva Alves Tavares.
Muito gostaria se alguém me pudesse transmitir impressões ou algum testemunho sobre ele.

Bem-hajam todos!!

Paulo Dias da Silva
Lisboa-Portugal
pdiasdasilva@hotmail.com

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24354: Em busca de... (321): Rui António Gomes Figueiredo, ex-Fur Mil Sapador de Infantaria do BCAÇ 2929 (Guiné, 1970/72)

Guiné 61/74 - P24906: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXIX: alferes graduado na CCAÇ 21, combatendo no Leste (pp. 261-263)


Imagem da parada de Bajocunda, cedida por Amílcar Ventura, ex-fur mil mec auto, 1ª CCAV / BCAV 8323 (Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74). Os dois barrotes sinalizam a entrada na zona aquartelada. O primeiro edifício do lado direito é a cantina. A construção seguinte albergava a secretaria, e a janela mais distante era do gabinete do comando. Nota de José Manuel Matos Dinis (1948-2021), (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), (Imagem publicada na pág. 262 do livro do Amadu Djaló.)


Guiné > Região de Gabu > Carta de Canquelifá (1957) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Copá e  Canquelifá.   A distância entre os dois pontos é de cerca d 11km.  Copá distava da fronteira com o Senegal, pouco mais de 2,5 km. E Canquelifá 10 km.

Infografia publicada na pág. 263 do livro do Amadu Djaló.


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais de nove dezenas de referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não  lhe permitaram ultimar.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné-Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);

(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos  (8 morts e 15 feridos graves);

(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;

(xix) o jogo do rato e do gato: de Caboiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972;

(xx)  tem um estranho sonho em Gandembel, onde está emboscado très dias: mais do que um sonho, um pesadelo: é "apanhado por balantas do PAIGC";

(xxi) saída para o subsetor de Mansoa, onde o alf cmd graduado Bubacar Jaló, da 2ª CCmds Africanos, é mortalmente ferido em 16/2/1973 (Op Esmeralda Negra)M

(xxii) assalto ao Irã de Caboiana, com a 1ª CCmds Africanos, e o cap cav 'cmd' Carlos Matos Gomes como supervisor;

(xxiii) vamos vê-lo a dar instrução a futuros 'comandos' no CIM de Mansabá, na região do Oio, no primeiros meses do ano de 1973, e a fazer algumas "saídas" extras (e bem pagas) com o grupo do Marcelino, ao serviço do COE (Comando de Operações Especiais), que era então comandado pelo major Bruno de Almeida; mas não nos diz uma única sobre essas secretas missões; ao fim de 12 anos de tropa, é 2º sargento e confessa que está cansado;

(xxiv) antes de ir para CCAÇ 21, como sede em Bambadinca, como alferes 'graduado" (e sob o comando do tenente graduado Abdulai Jamanca, ainda irá participar na dramática Op Ametista Real, contra a base do PAIGC, Cumbamori, no Senegal, em 19 de maio de 1973;  esta parte do seu  livro de memórias  (pp. 248-260) já aqui foi transcrita no poste P23625 (**);

(xxv) no leste, começa por atuar no subsetor do Xime, em meados de 1973.


 Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXIX:

Alferes graduado na CCAÇ 21, 
combatendo no Leste (pp. 261-263)


CCAÇ 21, Bambabinca [1]   As saídas eram constantes, quase dia sim, dia não. E os feridos aconteciam quase sempre que havia contacto com a guerrilha. Um 1º cabo que estava à espera de ser, dentro de dias, graduado em furriel, na 2ª ou na 3ª saída perdeu uma das pernas. Foi em Agosto de 1973, numa saída na Ponta do Inglês [2] .

 Eu, comandante do grupo, era o segundo homem, à minha frente ia o soldado com a bazuca. Tínhamos andado durante horas a corta-mato, até encontrarmos um carreiro. O 1º cabo, que era o comandante da 1ª secção e vinha lá para trás, chamou-me e pediu para parar. Veio até ao pé de mim e, muito baixo, disse-me que estávamos perto do carreiro, que era logo ali em baixo, junto ao mangueiro, e que se via do local onde estávamos. Que a partir daqui era muito perigoso, que tinha sido debaixo daquela árvore, que um cabo africano tinha morrido, quando regressavam da Ponta do Inglês. Quando acabou de me fazer estes avisos foi para a frente, a caminho do carreiro. 

 − Meu alferes, é ali o carreiro, está a ver? 

Deslocámo-nos até ao caminho e vimos que estava a ser muito utilizado. Continuámos muito devagar, com ele à frente distanciado uns passos. Fez sinal para aumentarmos mais a distância entre nós e fomos passando a informação para trás. De um momento para o outro, fomos sacudidos por um enorme rebentamento, logo ali à nossa frente. O 1º cabo  [3] tinha acabado de pisar uma mina anti-pessoal. 

Depois, participámos em numerosas acções na zona da fronteira, em Paunca, Pirada, Bajocunda, Piche, Canquelifá. 

Não conseguíamos passar uma semana seguida em nossas casas, nem participávamos nas nossas festas sagradas, junto das nossas famílias. Porque era nessas alturas que o PAIGC aproveitava e tentava surpreender os aquartelamentos. 

Passámos mais tempo em Canquelifá, porque o PAIGC queria mesmo acabar com o quartel e com a tabanca. Os morteiros de 120 eram em número de cinco e, como tínhamos atacado a base de Cumbamori, no Senegal, perto da estrada Koldá-Zinguinchor, o PAIGC transferiu parte do material do norte para o leste  [4]. 

Copá [5]   e Canquelifá  [6]  passaram a ser considerados os primeiros objectivos do PAIGC. Copá veio a ser abandonada [7]   e o pessoal que lá estava foi recolhido em Amedalai, perto de Bajocunda, com o nosso apoio e dos páras. Depois de Copá,  faltava-lhes conquistar Canquelifá.  

(Continua)
_________

Notas do autor e/ou do editor VB:

 [1] Nota do editor: esteve no  sector de Bambadinca, de 23ju173 a 11ago73 e de 21nov73 a 16dez73, para actuação nas regiões de Mina, Ponta Varela, Ponta do Inglês e Malafo,  e do BCaç 3883;  e no sector de Piche, de 03set73 a 12nov73 e de 07 a 10jan74. 

 [2] Ponta, o mesmo que quinta, propriedade. 

[3]  Esse 1º cabo, de nome Galé, vive em Portugal sem nunca lhe ter sido reconhecido o posto a que os seus camaradas vieram a ascender dias depois. 

[4]  Nota do editor: do sul do Casamance para o leste.

[5]  Nota do editor: a cerca de 4km da fronteira.

[6]  Nota do editor: a cerca de 12km de Copá. 

[7]  Nota do editor: o destacamento de Copá (da companhia de Pirada / BCav8323), depois de três dias de intensas flagelações, foi temporariamente abandonado durante a tarde de 13fev74 pela maioria dos militares da guarnição, que, em fuga se dirigiram para Canquelifá deixando no aquartelamento um furriel e dois ou três camaradas. Na manhã de 14fev74, os militares foragidos regressaram ao seu destacamento que, depois de armadilhado e minado, foi oficialmente extinto em 05abr74 .

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

2. Ficha de unidade: CCAÇ 21

Companhia de Caçadores nº 21
Identificação CCaç 21
Cmdt: Ten grad cmd Abdulai Queta Jamanca
Início: 05jun73 | Extinção: 18ago74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada, de 05 a 09jun73, no CIM, em Bolama e foi constituída por pessoal natural da Guiné, da etnia Fula, na sua grande maioria já integrante de companhias de milícias, tendo realizado a sua instrução de 11jun73 a 07ju173.

Em 11Ju173, foi colocada em Bambadinca, como subunidade de intervenção e reserva do CAOP 2, tendo colmatado a saída da CCaç 12 nessa função.

Nesta situação, tomou parte em diversas acções, patrulhamentos e escoltas, tendo sido atribuída em reforço de diversos sectores por períodos variáveis e nomeadamente do BArt 3873, no sector de Bambadinca, de 23ju173 a 11ago73 e de 21nov73 a 16dez73, para actuação nas regiões de Mina, Ponta Varela, Ponta do Inglês e Malafo,  e do BCaç 3883, no sector de Piche, de 03set73 a 12nov73 e de 07 a 10jan74, para actuação nas regiões de Cassum, Piai, mata Niji Camassuli, entre outras.

Em 18ago74, foi desactivada e extinta.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 642.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24905: Notas de leitura (1640): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Graças à disponibilidade do nosso confrade José Matos, que me facilitou uma cópia do segundo volume de o Santuário Perdido, inicia-se hoje, e com adaptação ou tradução livre o segundo volume, recentemente dado à estampa. Estamos em 1966, dá-se conta das tremendas dificuldades na operacionalidade da Força Aérea, o PAIGC alargou a sua área de atuação, crescem os efetivos das nossas Forças Armadas, numa tentativa de contrariar as hostilidades, as flagelações, a decomposição económica, a concentração das populações em destacamentos ou aldeamentos em autodefesa. Os autores, na introdução, contextualizam a situação militar e dão um quadro nada risonho do dispositivo da FAP. Como fizemos com o primeiro volume, vamos publicando em pequenas doses, até porque o livro de Hurley e Matos vem profusa e adequadamente ilustrado.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (1)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Contracapa do segundo volume
Texto da contracapa:

De 1963 a 1974, Portugal e os seus inimigos nacionalistas travaram uma guerra cada vez mais intensa pela independência da Guiné “portuguesa”, então uma colónia, hoje a República da Guiné-Bissau. Durante a maior parte do conflito, Portugal desfrutou de uma supremacia aérea praticamente incontestada e baseou cada vez mais a sua estratégia militar e o seu programa de pacificação política na singularidade desta vantagem. A Força Aérea Portuguesa (abreviadamente FAP) desempenhou de forma consequente um papel nevrálgico na guerra da Guiné. Com efeito, durante todo o conflito, a FAP – apesar dos muitos desafios que teve de enfrentar – provou ser o operacional militar mais eficaz e rápido contra o PAIGC, a força de guerrilha que lutava pela independência.

A guerra aérea pela Guiné representa um episódio notável na história do poder aéreo e por várias razões. Por exemplo, foi o primeiro conflito em que uma força de guerrilha utilizou misseis terra-ar. Além disso, o nível em que Portugal dependia do seu poder aéreo era tal que a sua neutralização contundente condenou a estratégia militar na região.

Em última análise, as perdas inesperadas da FAP em combate deram origem a uma cascata de efeitos que acabaram por mitigar a sua própria iniciativa operacional; a eficácia no campo de batalha das forças terrestres estava, até então, bastante dependente do apoio aéreo, era em si um apoio moral e psicológico e assegurava resiliência aos militares portugueses.

A guerra aérea na Guiné portuguesa representa assim uma ilustração convincente do valor – e das vulnerabilidades do poder aéreo, num contexto de guerra de guerrilhas, bem como dos impactos negativos que havia numa confiança excessiva na supremacia aérea.

Este é o segundo de três volumes da minissérie Santuário Perdido, examina a evolução do poder aéreo português e dos sistemas que a guerrilha instalou durante os anos mais ativos do conflito, isto à medida que ambos os lados procuravam meios e métodos para contrariar os esforços do outro. A obra está profusamente ilustrada com fotografias originais e inclui obras de arte a cores, especialmente encomendadas.
Índice
Abreviaturas
Hierarquia militar de oficiais e sargentos


Capítulo 1: Um Comando “Desconfortável”

“O comando que me foi confiado não era ‘confortável’. Era necessário começar por reformar atitudes de espírito, lutar contra rotinas viciosas e criar uma máquina de guerra tão eficiente quanto possível, com os meios disponíveis.” (Coronel José Krus Abecasis, comandante da Zona Aérea da Guiné, 1965-67).

Em meados de 1966, a guerra na Guiné já estava no seu quarto ano e não alcançara os resultados previstos por Lisboa. Apesar do constante aumento de efetivos militares, após a eclosão da luta armada em janeiro de 1963, a guerrilha do PAIGC representava um desafio cada vez mais ousado ao domínio colonial português.

O PAIGC estava altamente motivado, habilmente liderado e cada vez mais bem armado. No verão de 1966 o PAIGC tinha recuperado das perdas sofridas durante as primeiras contraofensivas portuguesas e desencadeou uma contraofensiva de assédio militar a quartéis, destacamentos e aldeamentos em autovigilância, impôs perturbação económica em todo o território, contou com uma mobilização popular que se acolhia em áreas fronteiriças ou em determinados pontos dentro da colónia. Num relatório datado de julho desse ano, Arnaldo Schulz, governador e comandante-chefe das forças armadas na Guiné, escrevia num relatório que o inimigo persistia em ampliar as suas áreas de ação: “Não parece que lhe faltem recursos em termos de armas e munições e não há sinais de que a sua mão de obra se tenha reduzido.”

Nos dois anos anteriores, a atividade do PAIGC conhecera uma constante intensificação, especialmente no Sul, aí estava mais fortemente instalado e propagandeava o controlo de 50% de toda a Guiné. A pequena, inóspita e pobre de recursos Província Ultramarina era tida como o remanescente menos valioso do legado colonial de 500 anos de Portugal. Com efeito, desde a abolição do comércio atlântico de escravos, a Guiné tornara-se um défice permanente para o tesouro português, tinha apenas valor para um punhado de empresas que obtinham lucros com o cultivo do amendoim e do coconote. Apesar deste potencial económico anémico, e de haver um número insignificante de europeus ali a viver, o agravamento da situação representava a mais ameaça militar à continuação do domínio português no seu império, Arnaldo Schulz informou um oficial superior, em agosto de 1966, “se é verdade que a guerra do Ultramar não pode ser ganha na Guiné pode, por outro lado, ser completamente perdida lá.”

Para reprimir a luta armada em expansão, o efetivo das tropas mais que duplicou entre 1963 e 1966, passando de 9650 militares para 20.801, incluindo contingentes de forças especiais, como Comandos, Paraquedistas e Fuzileiros. As forças terrestres na Guiné, no entanto, sofriam de deficiências cronicas em preparação, equipamento e moral, comparativamente aos elementos da guerrilha, perfeitamente adaptados ao terreno e à vida no mato, bem adestrados para este tipo de guerra e dispondo de uma competente direção operacional, isto de acordo com uma avaliação feita em agosto de 1966 pelo general Venâncio Deslandes. Numa tentativa de corrigir este desequilíbrio, Deslandes considerava necessário criarem-se unidades especializadas de artilharia e impulsionar o rearmamento da Marinha, as embarcações navais deviam de expor de fogo intimidador e de apoio às forças terrestres; mas concluía a sua análise dizendo que “a forma mais simples e possivelmente mais rápida de atingir esse objetivo será o reforço do poder aéreo.”

O reforço aéreo iniciara-se em 1963, e daí a 1966 o número de aeronaves atribuídas à Guiné aumentou de 32 para 50. Número enganador, desmentido pelas deficiências sistemáticas que paralisavam a Força Aérea Portuguesa: escassez crónica de pilotos e pessoal de manutenção, insuficientes instalações de base e uma permanente falta de peças sobressalente e munições, isto de acordo com o coronel José Duarte Krus Abecasis, comandante da zona aérea de Cabo Verde e Guiné até janeiro de 1967. Havia escassez de motores para três aeronaves de transporte, os C-47 Dakota, apenas um estava operacional de forma confiável para operações em todo o país. Nesse ano de 1966 teve dificuldades de manutenção, com falhas mecânicas e escassez de peças que se refletiu na capacidade de a Força Aérea abastecer as forças terrestres. Depois de muitos protestos por parte dos oficiais da Força Aérea, a situação tendeu a melhorar no outono de 1967, mas sempre com incumprimentos. De acordo com o secretário-de-Estado para a Aeronáutica, Fernando Alberto de Oliveira, em 1968, “A Força Aérea não estava em condições de realizar regularmente todas as atividades de apoio que por leis lhes competia em exclusividade".

Os aeródromos e instalações conexas revelaram-se inadequados durante a primeira fase da guerra. A instalação principal da FAP e a sede da Zona Aérea em Bissalanca nem sequer fora designada como base aérea permanente, só o foi depois de maio de 1965, dois anos e meio após o início da luta; até então serviu como uma base de aeródromo de segundo nível. Mesmo quando mudou de nome para Base Aérea 12, necessitava de pessoal adequado, alojamento e abrigos para acomodar as novas aeronaves que chegavam ao longo de 1966. As defesas aéreas da base foram consideradas “irrelevantes” apesar do punhado de canhões obsoletos de 40 mm e 12,7 mm atribuídos ao único pelotão aéreo da BA12.
Instalações da Força Aérea Portuguesa na Guiné e Cabo Verde, 1961-1975 (Matthew M. Hurley)
Uma unidade do PAIGC no Sul da Guiné (Arquivo da Família Cristiana)
Arnaldo Schulz, governador e comandante-chefe das Forças Armadas, 1964 a 1968 (Coleção de José Matos)
Aquartelamento do Exército português (Coleção de José Matos)
Imagem com alguns meios navais utilizados na Guiné (Coleção Virgílio Teixeira)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24893: Notas de leitura (1639): Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (1931-1939) - Parte I: a voz dos colonialistas republicanos nostálgicos e exilados

Guiné 61/74 - P24904: S(C)em Comentários (20): Já devo alguns 10 anos à terra, graças ao SNS (António Rosinha)


Lisboa > República Portuguesa > SNS (Serviço Nacional de Saúde) > IPO (Instituto Português de Oncologia) de Lisboa > 28 de Novembro de 2023 > Fotograma de vídeo, sobre obra inédita do artista português Bordalo II oferecida ao IPO, e inaugurada no passado dia 28 de novembro.

"O artista plástico é conhecido pela utilização do espaço público como palco para as suas intervenções de cor e de escala e, no IPO Lisboa, o pintainho foi o animal escolhido como símbolo de renovação e futuro."



1. Comentários ao poste P24893 (*):

(i) Antº Rosinha:

Estes rapazes [reunidos à volta do gen Norton de Matos e da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro] deram o fora para se verem livres do Salazar.

Se o Botas fosse na cantiga desta gente, tínhamos sido 10 milhões de retornados naquela data que nos trouxe a melhor coisa do mundo, o SNS.

28 de novembro de 2023 às 20:32 


(ii) Tabanca Grande Luís Graça:

Rosinha, para fazeres o elogio do SNS - Serviço Nacional de Saúde, é porque precisaste dele, mais recentemente... como eu já precisei (e continuo a precisar)...

Está tudo bem contigo? Que os bons irãs te protejam e que o SNS continue a cuidar bem de ti e de mim e de todos nós...

28 de novembro de 2023 às 23:26 

(iii) Antº Rosinha:

Luís,

Por mim tudo normal com a saúde, as enxaquecas normais (várias) para a idade.

Mas, como conheci a mortalidade infantil na metrópole, e a assistência médica familiar era zero, nesta metrópole, e cheguei a África e vi uma assistência veterinária no sul de Angola, na Namíbia dos boeres, tal, que fiquei com inveja dos bois dos cuanhamas.

A mim com 19 anos, novo com toda a irresponsabilidade do mundo, mandaram-me trabalhar para aquela fronteira, um cu-de-judas, e como primeiros socorros, levava apenas uma injeção anti-ofídica, caducada há 4 anos, com a recomendação de a devolver da mesma maneira no fim do serviço.

Ora quando um dia cavei para o Brasil e vim passados 5 anos, fiquei sem inveja das vacas dos cuanhamas.

Para mim era o que o país precisava, saúde... mais nada, já devo alguns 10 anos à terra, graças ao SNS. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24893: Notas de leitura (1638): Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (1931-1939) - Parte I: a voz dos colonialistas republicanos nostálgicos e exilados

(**) Último poste da série > 26 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24889: S(C)em comentários (19): O silêncio da CECA (Comissão de Estudo para as Campanhas de África) sobre a trágica Op Abencerragem Candente: Xime, 26 de novembro de 1970, 6 mortos e 9 feridos graves

Guiné 61/74 - P24903: Parabéns a você (2228): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá, 1970/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24887: Parabéns a você (2227): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Bigene, Guidage e Barro, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Canjambari e Dugal, 1971/73)