terça-feira, 12 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1841: Estive no 10 de Junho... e que bem que me soube olhar aquela multidão de boinas e de cabelos brancos... (A. Mendes, 38ª CCmds)


1. Texto do nosso camarada Amílcar Mendes, da 38ª CCmds:


Luís Graça, no dia 10 de Junho, dia que alguém um dia se lembrou de apelidar o dia do ex-combatente, eu fui lá a Belém (1).

Eu fui lá, mas antes de te contar as emoções que senti deixa-me desabafar!

Dia do COMBATENTE! Essa é boa. Digamos que é o dia em que ex-combatentes se encontram para prestar homenagem aos nossos mortos e em que temos de ouvir um discurso apalavrado a bajular-nos para nos manter quietos. Estive lá e ouvi um senhor a botar discurso que não fez o mínimo sentido. Chamam os jornalistas àquele tipo de discurso Encher Chouriços. E ele nem sequer foi combatente e nem lá estava para fazer merda nenhuma por eles. Estava a cumprir calendário.

Porra, façam alguma coisa por aqueles que ainda estão doentes da alma, por aqueles que ainda hoje não se conseguiram encontrar, por aqueles que esperam ansiosamente um dia do ano para poderem estar junto daqueles que falam a mesma linguagem e para quem aquela conversa chata sobre guerra faz todo o sentido e não é de forma nenhuma uma seca!

Estive lá, Luís, e que bem que me soube olhar aquela multidão de boinas... verdes, amarelas, vermelhas, pretas, castanhas ou só aqueles cabelos brancos ao vento. Estive lá, Luis, e sabes que mais? Já ninguem está triste por sucessivos Governos não terem feito nada pelos ex-combatentes porque todos temos consciência que o fardo dos ex-combatentes está a pouco tempo de acabar. Assim sem mais nem menos. Sabes Luís, que ao falar com muitos deles já ninguém espera nada de nada do governo, estão resignados.

Fiquei surpreso com a quantidade de associações que representam os ex-combatentes. Assim, tão dispersos por várias, não temos força em nenhuma, mas não será isso que alguém quer?
Mas foi um dia lindo. Apenas faço uma pergunta a uma das muitas associações que esteve presente:
-Será possível termos o dia do ex-combatente só com ex-combatentes, sem discurssos de ocasião, e aproveitar a ocasião para tratarmos de coisas úteis aos ex-combatentes? Digamos, um dia mais [para os] ex-combatentes.

Gostaria de ouvir a opinião dos camaradas do blogue. Um abraço a todos.

A. Mendes,
ex-1ºcabo da 38ª Companhia de COMANDOS
Guiné, 1972/74

PS - Amigo Luis Graça, assim que eu puder vou-te fazer chegar as mãos o CD dos COMANDOS, que é um documento fantástico (2). Um abraço. A. Mendes.

__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. programa do 14º Encontro Nacionald e Combatentes > Vd. sítio da Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes. O discurso este ano foi feito pelo Professor Doutor Hernâni Lopes, antigo ministro das finanças, e que foi Oficial da Reserva Naval, pertencendo nessa condição à Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN).

(2) Há dias eu tinha-lhe escrito: "A propósito, vi ontem na televisão um reportagem sobre o lançamento de um DVD com a história dos comandos em Portugal (3). Entre outros, vi o Folques, já aqui falado diversas vezes. Quando tiveres um tempinho livre, peço-te para nos falares desse DVD cujo conteúdo eu ainda não conheço".

Vd. post de 9 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1827: Convívios (14): 38ª Companhia de Comandos, Pínzio, Vilar Formoso, 9 de Junho de 2007 (A. Mendes)

(3) Comandos - Um Contributo para a História - 1962/2006. [DVD]

É um documentário de cerca de 100 minutos, da autoria do jornalista Carlos Santos, com imagens dos arquivos do Exército, RTP e SIC e com depoimentos de diversos Comandos. Acabou de ser lançado em Lisboa, no passado dia 8 do corrente, no auditório do Instituto de Defesa Nacional.

A história dos Comandos remonta a 1962, ano em que nasceram em Angola (Zemba e Quibala). Estiveram depois sediados em diversos locais: Luanda, Namaacha, Montepuez, Brá (Bissau), Lamego, Amadora, Carregueira e, mais recentemente, Mafra.

Segundo Carlos Santos, trata-se de "um documento que, pelas imagens e pelos depoimentos recolhidos, fala dos Comandos e da sua História: de como se formam e como agem; do caminho percorrido desde a sua fundação até aos dias de hoje - de África ao 25 de Novembro, de Timor-Leste ao Afeganistão. E dos seus Heróis".

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