segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5866: Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (5): uma versão historiográfica (?) (Luis Graça)





Guiné > Zona Leste > Rio Corubal > Cheche > 6 de Fevereiro de 1969 > Op Mabecos Bravios > Entrada e saída de viaturas, da CCAÇ 1790, a unidade de quadrícula de Madina do Boé,  na famigerada jangada que fazia a travessia do rio entre as margens sul  e norte... A última viagem seria fatal para 46 militares portugueses (das CCAÇ 1790 e 2405) e 1 civil... Foi o maior desastre do género, no TO da Guiné.

Imagens do Arquivo Histórico-Ultramarino. Fonte: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso – Os Anos da Guerra Colonial – Vol 10: 1969 – Acreditar na vitória. Matosinhos: QuidNovi. 2009. pag, 23 ( Com a devida vénia...).



1. Mandei ao José Martins, Armandino Alves, Rui Felício e Paulo Raposo, autores de postes sobre o desastre do Cheche (**), a seguinte mensagem:

Esta é a versão historiográfica... No livro, vol 10, de Os Anos da Guerra, de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso,  há 3 fotos, do Arquivo Histórico-Militar, que vou ver se reproduzo, com imagens de viaturas a entrarem e a sairem da jangada...

Querem fazer algum comentário adicional a este excerto que vai ser reproduzido no blogue ?

Agradeço o vosso interesse e empenho em esclarecer os pontos mais obscuros ou controversos desta operação que acabou tragicamente.

Lembro que no blogue também já publicámos o Relatório da Op Mabecos Bravios, bem como o depoimento de Hélio Felgas, além dos testemunhos (presenciais) do Paulo e do Rui (***)... LG

2. Excerto da brochura Os Anos da Guerra, vol 10, pp. 23-24:

1969 – Os Acontecimentos

(…) Fevereiro, 6

Desastre do Cheche na travessia do rio Corubal, durante a retirada das forças portuguesas do quartel de Madina do Boé, na Guiné

Esta operação [, Op Mabecos Bravios,] tinha em vista retirar as forças portuguesas da posição insustentável de Madina do Boé, cercada pelo PAIGC e depois ocupada logo a seguir, no mesmo dia.

A companhia que estava em Madina do Boé havia 13 meses era a Companhia de Caçadores 1790, comandada pelo capitão José Aparício.

Depois de saírem de Madina, pelas nove da manhã do dia 6 de Fevereiro de 1969, as forças portuguesas perderam meia centena de homens e grande quantidade de material, quando a jangada que fazia a travessia do rio Corubal, se virou. Aparentemente por excesso de peso, ou pela sua má distribuição, agravado por uma detonação que provocou o pânico.

Na sequência da retirada e do desastre, o PAIGC ocupou Madina do Boé, Mejo e Cheche, tendo sido o facto alvo de exploração junto da opinião pública mundial por parte dos serviços de informação e propaganda do PAIGC.

O Exército justificou a retirada daquela região em consequência do reordenamento populacional, que exigia que aquelas populações fossem transferidas para aldeias de maior progresso económico e social.

De facto, o abandono do quartel de Madina do Boé fazia parte da reorganização do dispositivo militar que Spínola estava a levar a cabo desde que tomara posse[, do cargo de Comandante-Chefe e Governador, em 20 de Maio de 1968].

Madina era, juntamente com o Destacamento de Beli (já desactivado em Junho de 1968) e com Cheche, uma posição muito difícil de defender, por estar na fronteira da Guiné-Conacri, numa zona semidesértica e a uma cota inferior à dos morros do Futa Djalon, separada dos outros postes portugueses pelo rio Corubal, o que tornava esta localidade muito difícil de reabastacer ou mesmo de socorrer.

In: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso – Os Anos da Guerra Colonial – Vol 10: 1969 – Acreditar na vitória. Matosinhos: QuidNovi. 2009. pp. 23-24.

3. Comentário de L.G.:

Como repetidamente temos aqui escrito, o nosso blogue não é (nem nunca será, se isso depender só de mim) nenhuma espécie de tribunal da história da guerra colonial. Não julgamos, não condenamos, até por que, mal ou bem, todos fomos actores no TO da Guiné, plurais, contraditórios, dilacerados. O que nos move é apenas a vontade de lutar contra o esquecimento, o branqueamento, a indiferença, a manipulação, a falsificação, a ignorância, o cinismo, o conformismo... Privilegiamos as histórias de vida, as narrativas, os testemunhos presenciais, a pequena história, a fotografia, o documento... De um lado e do outro. Não estamos do lado do politicamente correcto.  Nem do pensamento único. Não queremos nem defendemos o unanimismo.  Procuramos a triangulação de fontes, muito embora tenhamos muitas limitações no acesso a documentos de arquivo, oficiais ou oficiosos.  Não somos historiadores.  Não fazemos investigação científica. Procuramos separar factos e opiniões, sentimentos, emoções, etc., muito embora saibamos que não há texto sem contexto. Nem há conto sem contador, mesmo quando quem conta um conto, acrescenta um ponto...

Madina do Boé, a sua retirada, o desastre do Cheche... nada disto tem uma leitura única. Mesmo aqueles que estiveram no cerne dos acontecimentos, têm (ou podem ter) diferentes versões, parcelares, dos acontecimentos. O comandante da operação, Cor Hélio Felgas, não estava na jangada, mas uns meses antes de morrer insistia na teoria do bode expiatório, neste caso, o elo mais fraco da cadeia hierárquica, que era o Alf Mil Dinis (camarada do cadete Torcato Mendonça, no COM, em Mafra, em 1967)... O Rui Felício, que estava na jangada e foi ao fundo com os seus homens, não tem dúvidas quanto ao diálogo entre o Alf Mil Dinis, responsável pela segurança da jangada, e o comandante da CCAÇ 1790... Cada um de nós tem o díreito a ter opinião,  mas não pode emitir juízos de valor, não fundamentados, em público, e nomeadamente no nosso blogue. Não incentivamos, nem apoiamos, não desejamos esse tipo de comportamento.

Há membros do nosso blogue que acham que há assuntos-tabu... O desastre do Cheche seria um deles. Alegam que nunca iremos saber a verdade... Ou que a verdade é dura demais para se dizer e ouvir... Quanto a nós, não há razão para fechar o dossiê, prematuramente... Os membros do nosso blogue são livres de abriir e reabrir este tipo de dossiês temáticos (que são as nossas séries), desde que possam haver factos novos ou índícios que sugiram factos novos...

E também há membros, mais recentes, do nosso blogue que pura e simplesmente nunca tinham ouvido falar do desastre do Cheche nem da sua gravidade. Eis mais uma razão para o lançamento desta nova série, Ainda o desastre do Cheche... LG

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série:

21 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5861: Ainda o desastre do Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (4): Cem anos que viva nunca esquecerei as imagens da catástrofe e o diálogo entre o Alf Diniz e o Cap Aparício (Rui Felício)

(**) Notas sobre a CCAÇ 1790 – Mobilizada pelo RI 15, partiu para a Guiné em 27/9/1967. Regressou em 20/8/1969. Esteve em Fá Mandinga, Madina do Boé, Nova Lamego e São Domingos. Comandante: Cap Inf José Ponces de Carvalho Aparício. Pertencia ao BCAÇ 1933 (Nova Lamego, Bissau, S. Domingos, 1967/69).

(***) Vd., entre outros, os seguintes postes:

7 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5778: Efemérides (45): O desastre do Cheche, visto por quem esteve lá e perdeu 11 homens do seu grupo de combate (Rui Felício, Alf Mil, CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)

25 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )

(...) (viii) O desastre da jangada

Cerca das 9 ou 10 horas da manhã apareceu um helicanhão que sobrevoou demoradamente toda a zona. Depois pousou e eu fui ter com ele procurando informar-me do que a tripulação tinha visto. Mas tinha chegado, apareceu um soldado correndo para mim a gritar que a jangada se estava afundando, logo após ter partido da margem sul. Pedi imediatamente ao piloto para... [ linha inteira cortada na fotocópia] depois para a margem do Cheche onde eu estava. Parecia vir normalmente carregada com homens e material.

(ix) Um comandante também chora

Quando chegou é que eu soube que diversos homens tinham caído ao rio, não aparecendo mais. Verifiquei tratar-se do pessoal que realizava a última travessia.

Quando se fez a chamada, viu-se que faltavam quarenta e tal homens, seis dos quais nativos.

Não consegui controlar-me e desatei a chorar, tal como aliás vi muitos valorosos militares a fazerem. Foi assim que me encontrou o General Spínola que nesse dia também quisera ir ter comigo.

Aguardámos horas, com o helicóptero sobrevoando o local na esperança de localizar alguns dos desaparecidos. Dois ou três bons nadadores também mergulharam na zona onde acorrera o acidente. Nada foi encontrado.

Interroguei diversos militares mas alguns nem podiam falar. Outros disseram-me que a jangada, logo após ter partido da margem sul, tinha-se afundado um bocado, ficando o estrado rés-vés com a água. Este afundamento era aliás natural desde que não fosse excessivo. O estrado, como dissemos atrás, ficava a cerca de um metro da água quando a jangada estava vazia. Esta distância diminuía conforme o peso do carregamento mas o estrado normalmente nunca chegava a ser coberto pela água.

Segundo parece, alguns dos homens que seguiam junto às vedações laterais assustaram-se quando alguma água começou a cobrir o estrado. Teriam então descido para o rio procurando segurar-se às travessas laterais do estrado e continuar assim a travessia. Desta forma o peso da carga diminuiria e a jangada subiria. Só que não se lembraram de que com o equipamento e as munições cada um pesava mais de cem quilos.

Foi desta forma que uma operação que decorrera sem qualquer baixa (ao contrário do que inicialmente se esperava), viu o seu final tragicamente enlutado. Durante toda a noite, desde as seis da tarde da véspera até às 10 ou 11 da manhã seguinte, as jangadas tinham trabalhado sem qualquer anomalia. Fizeram dezenas de travessias. E o azar logo havia de aparecer na última e de forma tão dolorosa.

Nem o facto de na altura terem ocorrido acidentes semelhantes (ou talvez ainda mais graves), com jangadas em Moçambique, podia servir de lenitivo para o que nos sucedera na Guiné. Dezenas de homens que tinham vivido longos meses sob bombardeamentos quase diários, acabaram por morrer afogados. (...)


12 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

(...) A CCAÇ 2405, comandada pelo Cap Mil Inf Novais Jerónimo, integrava a coluna militar que tinha partido na manhã do dia anterior de Madina do Boé, rumo ao Cheche, e tinha como missão escoltar a Companhia de Caçadores [1790] evacuada daquele aquartelamento e que era comandada pelo Cap Inf Aparício (que, após o 25 de Abril, veio a assumir a função de Comandante Geral da PSP de Lisboa).(...)

(...) O Capitão Jerónimo, comandante da CCAÇ 2405, e eu próprio, estávamos na jangada no momento do acidente, onde se encontrava também o Alferes Miliciano Jorge Rijo, oficial da CCAÇ 2405, com o seu pelotão.

O Alferes Miliciano Paulo Raposo, também oficial da CCAÇ 2405, já tinha feito a travessia do rio na viagem anterior, e encontrava-se na margem norte do Corubal com o seu pelotão, observando a tragédia. (...)

(...) Não me recordo de ter ouvido qualquer disparo de morteiro, antes do desastre... E não me lembro de ter detectado antes qualquer sinal de pânico entre os soldados... Aliás, a sua experiência operacional no teatro de guerra era já apreciável e não entrariam em pânico por um simples disparo de morteiro que estou seguro que não existiu.

Houve alguns disparos de morteiro, é verdade, mas após o desastre e feitos pelas NT, no intuito de prevenir qualquer aproveitamento do IN que eventualmente estivesse emboscado nas imediações.

Exceptuando os militares que infelizmente pereceram afogados no Corubal, passados poucos minutos, todos restantes retornavam à jangada que, pouco depois, se reequilibrou e retomou a sua viagem para a margem norte do rio. E eu fui um deles... Depois de me ter libertado da espingarda, das cartucheiras, das botas e das granadas, cujo peso me puxava inexoravelmente para o fundo...
 
Em nenhum momento descortinei qualquer tipo de pânico quando regressei à jangada e, talvez nervosos ainda do desastre, todos sorriamos e aceitávamos o banho forçado como uma dádiva divina depois de vários dias de sede e calor. (...)
 
(...) Em resumo e concluindo:

(i) O desastre do Cheche ficou a dever-se, em minha opinião, ao excesso de peso entrado na jangada.

(ii) E ela é corroborada por todos aqueles que, como eu, viajavam na jangada e que em conversas a seguir ao desastre manifestaram a mesma opinião.

(iii) Note-se que a mesma jangada tinha já feito dezenas de travessias sob as ordens directas do Alf Diniz sem nunca se ter detectado qualquer problema.

(iv) Esse problema surgiu de forma trágica na última travessia, ou seja, naquela em que o responsável Alf Diniz não pôde efectivamente proceder segundo o que estava estabelecido, deixando entrar na jangada o dobro da sua capacidade, por ordem do 2º Comandante da Operação a que, pela natureza da hierarquia militar, não poderia opor-se.

(v) Mas fê-lo, e disso dei testemunho no âmbito do inquérito que se seguiu, advertindo previamente o seu superior hierárquico para o facto de estar a infringir as determinações que tinha sobre a forma de fazer a travessia do rio e da lotação definida para a embarcação.

(vi) E estou convencido que a rapidez do desaparecimento das vítimas nas águas calmas, escuras e profundas do Corubal, se ficou a dever ao facto de todos transportarem consigo pesado equipamento de guerra que lhes tolheu os movimentos e os conduziu para o fundo do rio, de forma tão rápida, com a agravante de que a maior parte deles não sabia nadar.

(vii) Finalmente, não posso deixar de fazer referência ao que o José Martins diz ter ouvido de "alguém que esteve no centro do acontecimento" de que as águas tomaram um tom avermelhado.

(viii) Sei da existência de crocodilos naquele troço do rio Corubal.

(ix) Sei que alguns dos corpos de soldados encontrados dias mais tarde, apresentavam sinais de terem sido dilacerados por crocodilos.

(x) Mas sei também que as águas, naquele dia, e após o acidente, apenas apresentavam o tom natural verde escuro de um rio calmo e profundo e tenho dúvidas que os crocodilos tivessem estado presentes naqueles momentos, com o ruído de helicópteros sobrevoando as águas a baixa altitude, na tentativa de encontrar e socorrer algum soldado em dificuldades. (...)

Vd. o diossiê do José Martins:

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

Vd. ainda:

24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2980: In Memoriam (5): Morreu ontem o Major General Hélio Felgas, antigo comandante do Agrupamento nº 2957, Bafatá (1968/69)

(...) Estava há vários anos doente e acamado. Ainda há uns meses atrás, telefonei-lhe para casa, aqui em Lisboa, para lhe pedir autorização para publicar no nosso blogue um escrito dele, com a sua versão do desastre do Cheche. Atendeu-me, muito gentilmente, a esposa. Expliquei-me a razão de ser do telefonema. Ouvi a conversa da senhora com o marido, que devia estar perto... Ainda me recordo das suas palavras, em que se percebia a voz do velho comandante:

- Diz-lhe que a culpa foi do alferes, a culpa foi do alferes... [Julgo que se queria referir ao Alf Mil Diniz, responsável pela segurança da travessia do Corubal...  (...)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé

13 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIX: A verdade sobre o desastre de Cheche (Paulo Raposo)

2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)

(...) Este documento, que me chegou às mãos através do Humberto Reis, relata a dramática operação em que participou a CCAÇ 2405, sedeada em Galomaro, e pertencente ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), operação essa que tinha em vista retirar as NT da posição insustentável de Madina do Boé, cercada pelo PAIGC (e depois ocupada logo a seguir, no mesmo dia, a 6 de Fevereiro de 1969, após a retirada das NT).

Recorde-se que a companhia que estava em Madina do Boé, há 13 meses, era a CCAÇ 1790, a mesma a que pertencia Gustavo Pimenta, o alferes miliciano que perdeu metade do seu pelotão nessa trágica retirada (ele é o autor do livro sairómeM - Guerra Colonial. Porto: Palimage Editores, 1999) [vd. post de 17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790) ]

Em Cheche, já no regresso de Madina, pelas 9 da manhã do dia 6 de Fevereiro de 1969, as NT sofrem a perda de meia centenas de homens e grandes quantidades de material, quando a jangada que fazia a travessia do Rio Corubal se virou. Aparentemente, sem explicação (Já ouvi várias teorias sobre isso, mas essas especulações ficam para mais tarde...).

O desastre terá sido devido a excesso e desiquíbrio de peso. Iam na jangada mais de cem homens (4 grupos de combate mais a tripulação da embarcação), além de viaturas e outro equipamento. Dos que desapareceram, 17 pertenciam à companhia de Galomaro.

Esta operação foi uma das mais dramáticas que se desenrolaram no TO da Guiné, devido não só à pressão do IN (invisível mas sempre ubíquo como Deus) como a outros factores desfavoráveis para as NT (o calor, a falta de água, as condições do terreno, as terríveis abelhas da Guiné que estavam objectivamente ao serviço do PAIGC, as insónias, o stresse, a exaustão física e emocional (...).

(...) O texto que se segue tem uma ou outra palavra ilegível. Foi feita a sua recuperação. Impresso a stencil há 35 anos, do documento foi feita uma fotocópia, fornecida ao Humberto Reis por um camarada da CCS do BCAÇ 2852.

Curiosamente, o autor do relatório da Op Mabeco[s Bracvios], o comandante da CCAÇ 2405, não apresenta quais quer razões, técnicas, militares ou outras, para o afundamento da jangada, limitando-se a descrever, de maneira sucinta e factual, o desastre, como mandava o livro de estilo dos operacionais, nunca deixando que os seus sentimentos ou emoções interferissem com a capacidade de identificar e descrever os acontecimentos mais relevantes ocorridos durante uma operação. (...)

6 comentários:

Anónimo disse...

Segundo o site "ciência hoje"

(http://209.85.229.132/search?q=cache:DxDpvcHtztkJ:www.cienciahoje.pt/index.php%3Foid%3D39816%26op%3Dall+%22cheche%22&cd=3&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt)

uma equipa de investigadores liderada pela antropóloga forense Eugénia Cunha, da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, seguirá para Cheche, a 26 do corrente, a fim de procurar identificar entre 16 e 17 corpos sepultados numa vala comum, na sequência do terrível desastre de Cheche:
"Como explicou a antropóloga forense ao «Ciência Hoje»: O facto de se encontrarem numa vala comum e não em sepulturas individualizadas dificulta a diferenciação dos corpos entre os vários indivíduos” – o que requer maior complexidade a nível de trabalho científico".

"Eugénia Cunha sublinhou ainda que amálgama de corpos tornará o processo muito mais lento e delicado. E acrescentou: “Não temos a certeza do número exacto de soldados ali sepultados. Segundo o testemunho de sobreviventes, poderão estar na vala comum entre 15 a 17 militares”.
Outra grande dificuldade com que os investigadores irão confrontar-se será "o estado de conservação dos esqueletos, muito debilitado, devido às características do local, por estar a 300 metros do rio, com elevado índice de humidade”, salientou.

Um abraço,
Carlos Cordeiro

Torcato Mendonca disse...

Se me permitem e esperando encerrar, para mim, o dossier Cheche.

1- Deve ser visto o Mapa da Guiné e, após a desactivação destes quartéis onde "está ou ficou" a fronteira da Guiné entre o Marco 15- Aldeia Formosa ou 20 Contabane- e o Marco 49 - Cabuca.??

#Não comento.

2- Correcção irrelevante:o Alferes Dinis ou o Cadete Dinis tirou a especialidade comigo. O Comandante da instrução era o então Capitão Comando Júlio Oliveira, hoje General e ex- Presidente da Liga de Combatentes. Fomos juntos para a Guiné,ele na 2338 e eu na 2339.

Nada mais. AB TM

José Marcelino Martins disse...

Mais um apontamento:

Não tenho a certeza absoluta mas, de relatórios a que tive acesso, o destacamento do Che-che não foi ocupado pelo PAIGC. Vou dar volta ao meu arquivo e enviarei o relatório da "primeira entrada no destacamento, após a retirada do pelotão da CART 2338".

Mais uma nota. O Alferes Diniz costuma estar presente nos encontros da CART 2338, que este ano realiza o seu encontra em Braga, no primeiro sábado de Junho.

Esta informação foi obtida antes de iniciar este comentário.

José Martins

Luís Graça disse...

Ficamos felizes por saber que o ex-Alf Mil Diniz costuma aparecer nos convívios do pessoal da CART 2338 (Nova Lamego, 1968/69). Isso que dizer que ele está contactável.

Muito gostaríamos que o ter aqui, ao nosso lado, apresentando a sua versão do que aconteceu naquela trágica manhã de 6 de Fevereiro de 1969, na travessia do Rio Corubal, em Cheche. Como oficial responsável da segurança da jangada, o depoimento do Diniz seria precioso para a investigação historiográfica.

O nosso blogue não tem, felizmente, nenhuma vocação justicialista. Não julgamos, nem muito menos condenamos, camaradas envolvidos em operações no TO da Guiné. Queremos, no entanto, compreender o que se passou nesse dia...

Ficámos a saber que o Diniz foi camarada do Torcato Mendonça, no curso de especialidade de artilharia (julgo que em Vendas Novas).

Hilario disse...

Não conhecia esta descriçao do desastre do Cheche feita pelo Maj General Helio Felgas.Fiquei estupefacto.Eu assisti a tudo excepto o momento fatídico e vou dizer o que vi e ouvi.
Madina tinha uma população civil ainda que pequena;
O acidente deu-se ao fim da tarde e nao de manhã;
Qunando a minha Companhia CCaç 2403(60/70 homens)e parte da CCaç 2405 passaram a jangada levava cerca de 100(nao havia qualquer ordem para só passarem 50 homens de cada vez) . No local de desmbarque estava o então Coronel Felgas que me deu ordem para montar imediatamente a segurança do flanco esquerdo da coluna que ia seguir para Canjadude,15/20 km a norte;
Quando se deu o acidente o Coronel Felgas estava presente e assistiu a tudo porque logo que se espalhou a noticia eu ouvi-o no radio dizer ao Gen Spínola,o "Cardeal" e nao o "Bispo",que havia dezenas de desaparecidos;
O rio nao tinha corrente que se notasse;
Uma viatura GMC carregada de material pesava mais que 120 homens com todo o material que carregavam consigo e passaram várias sem qualquer problema;
Foi feito tiro de granadas a partir do Aquartelamento, nao sei se de morteiro se de outra arma qualquer e disso nao tenho nenhuma duvida,quando a jangada ainda vinha no rio.
Tambem quero esclarecer,como já fiz em mail ao entao Alf Felicio, que quem comandava a operação de carregamento da jangada na margem esquerda era o então Cap Aparício e não o entao Alf Diniz que estava na margem direita junto ao entao Maj Lorena do Bat de Nova Lamego e do entao Coronel Felgas. Portanto o Alf Diniz, contrariamente ao que se pretende fazer crer, nao recebeu ordens de ninguem para carregar a jangada para alem da sua capacidade, simplesmente porque ele nao estava na margem esquerda do rio porque entao teria caido ao rio como todo o pessoal e ele nao caiu.
Na ultima passagem, a fatidica,a jangada nao trazia mais pessoal do que na anterior em que passou a minha companhia.
Cumprimentos e muito obrigado por esta oportunidade de dar o meu contributo para um esclarecimento que provavelmente e infelizmente nunca sera feito.
Hilario Peixeiro
Entao Cap. de Infantaria

Unknown disse...

Olá rapaziada
Eu Ex Alf Mil Paulo Lage Raposo da Ccaç 2405.
Tomei parte nesta operação.
O meu grupo de combate foi o último a deixar Madina e a fechar a longa coluna.
Nas duas últimas passagens da jangada só passou pessoal.
O material que ia nas viaturas já tinha passado.
Eu passei na vez anterior á que teve o desastre.
Na última passagem vinha toda a companhia que estava em Madina do Cap Aparício
2 grupos de combate da minha companhias e um pelotão de milícias.
Com este pessoal todo na jangada, mal se afastou da margem o flutuador a montante do rio encheu-se de água.
A jangada virou e atirou á água bastantes rapazes.
Com a falta de peso deste lado a jangada adornou para o lado oposto e outros tantos foram parar á água.
Eu assisti a tudo e arranjo se for preciso um abaixo assinado do pessoal da minha companhia a confirmar as minhas palavras.
No Chéche estavam poisados ( atenção - POISADOS) 2 helis. Um de transporte de pessoal e outro o heli canhão.
A sobrevoar a coluna esteve sempre um T6.
Quem disser o contrário disto mente.
Facilitou~se, como se facilitava muitas vezes e desta vez deu azar.
NÃO HOUVE NENHUM REBENTAMENTO.
Para quê? um rebentamento com tantos meios aéreos na zona.
Respeitem os bravos que lá ficaram e não atribuam culpas a outros.
Mesmo que tivesse havido lançamento de granadas de morteiro, o pessoal que ia na jangada com tanta experiência de estar debaixo de fogo sabia de onde vinha e para onde ia o fogo.
O som da saída de uma granada de morteiro, é precisamente igual ao som de bater a tampa de uma arca congeladora.
Favor não nos atirem areia para os olhos.
Haja dignidade
Honrem os bravos rapazes que lá ficaram e suas famílias.