Igreja da Santíssima Trindade - Long Melford
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 25 de Outubro de 2016:
Queridos amigos,
Deambular por Londres traz surpresas. Como se vivia um programa low-cost, escolheu-se um museu gratuito, uma casa portentosa, The Wallace Collection, antes visitou-se o Exército de Salvação, gente amável que ofereceu café e biscoitos, o feitiço dos livros superou a disciplina da carga, saiu-se dali com mais três quilos a abraçar até regressar a casa. Tinha visto o visitante no Museu Berardo obras de Bruce Nauman, foi curioso vê-lo do outro lado da montra, em fato de macaco a montar uma instalação, acenou-se-lhe, o artista veio à porta, confessou-se admiração e teve-se direito a visita guiada a uma imensa traquitana em fase de montagem, o que se reteve foram luzes feéricas sob um teto azul, um género de paraíso da sociedade de consumo. Seguiu-se para Suffolk, o pretexto é visitar uma vila medieval. E viagem prosseguirá, com grande expetativa, até Cambridge, em circunstância alguma o viandante esqueceu essa suprema maravilha da arquitetura que é King's College Chapel.
Um abraço do
Mário
Central London, em viagem low-cost (4)
Beja Santos
O turista vai passar a manhã em Londres, tem agenda completa, à tarde ruma-se para a região de Suffolk, a primeira etapa é pernoitar em Long Melford e daqui para Lavenham, uma cidade medieval que enriqueceu nos tempos prósperos nos negócios da lã. Primeiro, assiste-se a um concerto pela banda do Exército de Salvação, música religiosa. Sempre afáveis, convidaram a assistência a ir tomar café e ir comer uns biscoitos nas suas instalações. O turista cometeu a asneira de andar a ver livros vendidos ao preço da chuva, doravante andará com uns quilos de cultura às costas.
Há edifícios em Londres que têm esculturas preciosas, no caminhar desatento nem damos por elas. Foi exatamente a esperar o sinal verde que o viandante se apercebeu que aquela escultura não era o melhor conjunto de ferros, disse mesmo para si: "Não me digas que é uma escultura da Barbara Hepworth, a minha deusa da escultura contemporânea". E era mesmo.
Ferro forjado em Londres há às toneladas. Na II Guerra Mundial muito deste ferro foi requisitado para fazer navios e aviões, talvez canhões e outras coisas. Houve que refazer, e no refazer encontraram-se soluções engenhosas, com aditamentos requintados. O turista especou-se a ver, custou muito, não se importaria de viver assim.
The Wallace Collection é uma belíssima coleção que se pode visitar gratuitamente, resulta de doações em cinco gerações sucessivas dos marqueses de Hertford e Sir Richard Wallace. Há para aqui muita armaria, mobiliário francês e holandês, até ali se encontrou um baú Namban que meteu negócios portugueses. Na pintura, prima o classicismo, o turista pode deambular a ver relógios, porcelanas, bustos, majólicas, não falta Rubens e Boucher, este está aqui representado a pintar Madame de Pompadour. O viandante deu-se sempre muito bem com a pintura de Frans Hals, estava um pouco cansado e compartilhou dos luxuriantes detalhes da indumentária e da figura. O quadro chama-se “O cavaleiro a rir”, mas é pura ilusão de ótica dada pelo olhar amarotado e pelos bigodes retorcidos. Seja o que for, ninguém nega a obra-prima.
É dia de sol, os londrinos, o viandante já parou, reverenciado, a ver a esplêndida sala de espetáculos que é Wigmore Hall, teve até a esperança que houvesse um concerto com a Maria João Pires, agora vai-se até ao parque através de Wigmore Street, ali bem perto, e come-se o almoço, os londrinos estão felizes também tiveram sorte com as amenidades do Outono. Curioso este parque em Cavendish Square, com imenso bulício à volta, estamos praticamente no coração de Londres. Prossegue agora o passeio para ir buscar a bagagem e partir para Suffolk, no caminho a bela surpresa de ver a montagem de uma instalação de Bruce Nauman, artista contemporâneo que o viandante aprecia, foi convidado a vir à tarde, infelizmente não pode ser.
The Black Bull é uma reconstrução de albergaria que vem dos tempos dos Tudor, o viandante abre uma exceção low-cost, desta feita tive direito a pequeno-almoço com ovos e bacon e algo mais. Chegou-se a Long Melford, vila que tem a caraterística, bem rara em terras inglesas, de se estender pelas bermas da estrada. Foi o que de mais perto se encontrou para chegar ao objetivo, Lavenham uma cidade medieval construída entre 1450 e 1500 e escrupulosamente tratada. Ali se passará o dia, não haverá meios para se satisfazer um dos sonhos do viandante, ir a casa de Gainsborough, um dos mais importantes pintores do romantismo, não é fácil superar o problema dos transportes.
Long Melford estava radiosa para receber o turista, um céu claríssimo, aves a esvoaçar, o turista consulta o mapa, sabe que há duas casas senhoriais visitáveis, daquelas que custam 16 libras cada, e uma portentosa igreja, a da Santíssima Trindade. Uma das descobertas do viajante é que anda perplexo com a fronteira ténue entre o catolicismo e a igreja anglicana, vê santos nas igrejas, rituais semelhantes, alguém lhe explica que a Alta Igreja está cada vez mais próxima do catolicismo, não será por acaso que Roma e Cantuária se reúnem tão amiudadas vezes. Mais uma questão de estudo. O mais importante é registar a beleza do templo, mais por fora do que por dentro, pena que a câmara do viandante não consinta em dar um plano integral de tão bela construção. Fim do passeio, toma-se autocarro para Lavenham, tudo o resto do dia será para passar aqui, mas tarde novo transporte para a penúltima etapa, Cambridge.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17101: Os nossos seres, saberes e lazeres (201): Central London, em viagem low-cost (3) (Mário Beja Santos)
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