Data: sexta, 20/09/2019 à(s) 19:40
Assunto: o incidente em Farim, em 1/11/1965
Boa tarde Luís Graça,
Não me esqueci do que falámos no almoço da Magnífica Tabanca da Linha [, no passado dia 19,] e fui procurar saber se, além do que publicaste no P20130 do passado dia 7 (*), tinha mais elementos sobre o incidente em Farim em Novembro 1965.
Assim, para o caso de ter interesse, transcrevo uma ordem de serviço do comando do BART 733 (Farim, 1964/66) (**):
Após o incidente ocorrido na Vila de Farim em que perderam a vida alguns nativos (mulheres e crianças) e outros ficaram feridos, é dever deste Comando pôr em destaque o trabalho do pessoal militar em serviço nesta Sede que desde o momento do acontecimento até ao dia seguinte trabalhou afanosamente durante toda a noite socorrendo os feridos, transportando-os aos postos de socorros e enfermarias, iluminando o campo de aviação para que o avião de socorro pudesse vir em auxílio dos feridos, o que se realizou de maneira impecável na opinião dos pilotos, acorrendo ainda a diversos pontos da Vila onde a sua presença se tornava necessária, recolhendo alguns cadáveres, ajudando o pessoal especializado em número muito reduzido, nos tratamentos, ministrando até injecções, colocando pensos e realizando outros trabalhos para os quais não estavam preparados, tudo executado com o máximo de desembaraço, rapidez e sobretudo boa vontade inexcedível, compenetração e espírito de abnegação e de bem servir, contribuindo assim com a sua acção para socorros mais rápidos e evitando perda de maior número de vidas, factos que foram reconhecidos pela população que de certo modo nos manifestou o seu agradecimento e nos retribuiu a solidariedade demonstrada.
Por todos estes motivos, a acção das NT aquarteladas na Sede deste Batalhão, merece ser posta em realce, pelos altos serviços prestados nesta situação de emergência, tudo decorrendo com tal método, ordem, disciplina e sem pânico que mais parecia um serviço previamente planeado e determinado.
Um abraço. João Parreira
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Notas do editor:(*) Vd. 7 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20130: Controvérsias (133): Os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, de 1 de novembro de 1965, um brutal ato de terrorismo, cuja responsabilidade material e moral nunca foi apurada por eunda ou Morocunda, Farim: "pessoal bandido não gostava de fulas e mandingas", era o que se ouvia dizer na época... Vi a "cara amassada" do Júlio Pereira... Infelizmente queimaram-me, em Bissau, o rolo de fotografias que tirei, onde estavam os suspeitos, detidos num campo vedado a arame farpado (António Bastos, testemunha dos acontecimentos)ntidade independente: causou sobretudo vítímas civis, que estavam num batuque: 27 mortos e 70 feridos graves
(**) Último poste da série > 15 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20149: Controvérsias (138): Ainda o atentado terrorista de 1 de Novembro 1965, em Morc
3 comentários:
Interessante, esta O.S. do BART é muito mais 'suave' que o Relatório da História da Unidade.
O redactor desta O.S. faz uma constatação curiosa: '....mais parecia um serviço previamente planeado e determinado'.
Valdemar Queiroz
João, obrigado, tu estavas na CART 731, em Bissorã, ou já tinhas ido para os comandos do CTIG, pelos que estes acontecimentos, em Farim, em 1/11/1965, só os poderás ter acompanhado à distância...
A ordem de serviço do comando do BART 733 não refere a grande a rusga e as prisões em massa que se fizeram logo nessa noite e dias seguintes... Ora isso não foi obra de uma homem só, o agente local da PIDE... Gostava de saber mais sobre o que se passou...
Da atuação das NT fica, para a História, a aterragem do Dakota, à noite, o trabalho excecional de primeiros socorros e emergência médica... Abraço, LG
Meus Caros Amigos
Eu estava lá presente, aquando do acontecido.
Fazia parte da CART 731.
A verdade, que ainda hoje arrepia as paredes do estômago, só o agente da PIDE, Perdízio, a conhecerá, se estiver vivo.
Quanto às consequências, todos os que por ali estivemos, só nós, as poderemos relatar.
Mas, o relato oficioso ou oficial, não condiz com a realidade.
E por aqui me fico.
José Esperança
Furriel miliciano, ao tempo, na Cart 731
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