(iii) uma jogada maquiavélica e antecipada de Sékou Touré, um ditador que sonhava com a "Grande Guiné", e via no Amílcar Cabral um rival de estatura pan-africana;
(iv) o desfecho inevitável da crescente conflitualidade existente no interior do PAIGC, entre os combatentes (guineenses) e a "nomenclatura", dirigente (cabo-verdiana).
Na nota de leitura anterior (**) fizemos, resumidamente, o ponto da situação sobre o que se sabia sobre uma eventual participação da parte portuguesa: não há indícios, nem factuais nem documentais, que permitam incriminar quer o gen Spínola (na altura, governador-geral e comandante-chefe da Guiné) quer a polícia política do regime.
Na segunda parte do seu artigo, o JPC explora a informação que ele tem continuado a recolher sobre o eventual envolvimento de Sékou Touré bem como dos grupos que, dentro do PAIGC, podiam ter razões para assassinar o seu líder.
Sékou Touré tem, contra si, o facto de ter "[recebido] no palácio os assassinos de Cabral ainda o cadáver estava quente, após o que os enviou para a tenebrosa cadeia de Camp Boiro, onde foram interrogados e torturados por forma a alterarem o sentido do seu depoimento — como o testemunhou o cabo-verdiano Alcides Évora (Batcha), convocado para servir de intérprete da polícia de Conacri" (JPC, Revista, E|36).
Dos arquivos de Conacri, o silêncio é total. O que não admira, quando se sabe que Sékou Touré, heroi da luta anticolonialista, governou com mão de ferro o seu país, de 1958 até ao ano da sua morte, em 1984.
JPC também não conseguiu entrevistar Leopoldo Senghor (que suspeitava do envolvimento de Sékou Touré na morte do AC), mesmo munido de uma carta pessoal do então presidente da República Portuguesa, Mário Soares,
Dos franceses (que tudo fizeram, ao que parece, para derrubar Sékou Touré, inimigo fidalgal da França, antiga potência colonizadora) também não houve luz verde para consultar, como era previsível, os arquivos secretos das "secretas", o "Service de documentation extérieure et de contre-espionnage" (SDECE). Idem, por parte da Itália, do Vaticano, etc., com os seus arquivos fechados a sete chaves.
Dois diplomatas da antiga Jugoslávia estiveram nas exéquias do AC, em Conacri, tendo constatado (e relatado) "um largo descontentamento dos ativistas e combatentes do PAIGC" em relação ao seu secretário-geral e líder histórico.
Agostinho Neto, membro da Comissão Internacional de Inquérito, revelou, por sua vez, que foram ouvidos cerca de 500 membros do PAIGC, presentes em Conacri, e desses "só 20 se exprimiram abertamente por Cabral". De resto, parece que toda a gente sabia da "morte anunciada" do AC, em Conacri, exceto os cabo-verdianos...
Deve-se realçar que tanto as informações dos diplomatas jugoslavos como de Agostinho Neto são de fontes secundárias. JPC cita-os em segunda mão.
Infelizmente, por outro lado, diz JPC, "dos interrogatórios efetuados pelas três comissões de inquérito nada se sabe. Muitas das confissões foram arrancadas sob tortura. As cassetes áudio e/ou as respetivas transcrições desapareceram". Estamos a falar de um total de 465 pessoas!...
E o que é que resultou do apuramento da verdade dos factos e dos implicados na conspiração que levou à morte de AC ?... Houve "43 acusões de participação no golpe, 9 de cumplicidade e 42 de suspeitos. Todos guineenses"...
Como Pilatos, Sékou Touré lavou as mãos e entregou-os ao PAIGC para fazer um simulacro de julgamento revolucionário e passá-los a seguir pelas armas, "nas regiões libertadas", para lá da fronteira.
Não se sabe ao certo quantos fuzilamentos é que houve. JPC aponta para um número que parece ser mais consensual entre as diversas fontes: uma centena, não havendo na lista nenhum cabo-verdiano.
"Na minha investigação, investiguei 23 nomes, entre os quais o matador, Inocêncio Cani, e os alegados cabecilhas, Momu Touré e Aristides Barbosa", anteriormente libertados por Spínola do Tarrafal.
'Nino' Vieira, entrevistado por JPC em Bissau, falou da "matança de muita gente". Mas ele sempre desmentiu as insinuações ou suspeitas do seu envolvimento, de que se começou a falar mais abertamente depois do seu golpe militar de 14 de novembro de 1980. De qualquer modo, na Guiné-Bissau, ainda hoje, há um silêncio sepulcral sobre o caso da morte do AC, enquanto em Cabo Verde o assunto continua a suscitar viva discussão.
JPC tentou, também em vão, recolher depoimentos de membros da Comissão Internacional de Inquérito. Abordou o embaixador de Cuba, em Conacri, Óscar Oramas, um dos primeiros a chegar ao local do crime: não só confirmou as más, mesmo péssimas, relações entre Osvaldo Vieira e Amílcar Cabral, como apontou a sua presença na cena do crime, "escondido atrás daquelas árvores" (sic)...
Mesmo munido de uma carta de Manuel Alegre, amigo do embaixador da Argélia, dos tempos da rádio de ARoel, Messaudi Zitouni, JPC nunca conseguiu o depoimento deste...
Também esteve duas vezes com Joaquim Chissano..."Disse-me que reservava o relato para as suas próprias memórias. Até agora só saiu o primeiro volume (...) que termina em 1963".
Da extensa bibliografia que já se publicou sobre AC (muito mais do que sobre qualquer outro dos líderes nacionalistas de países como Angola ou Moçambique), o JPC destaca o livro de Julião Soares Sousa ("Amílcar Cabral. Vida e Morte de um Revolucionário Africano", Veja, 2012). Na sua opinião ( e na opinião de outros especialistas), é "a melhor e mais completa biografia" do AC. (Resultou de um trabalho académico do autor, o seu doutoramento em história pela Universidade de Coimbra.)
No capítulo sobre o assassínio do AC, Julião Soares Sousa, que é guineense, diz não haver "margem para dúvidas": (...) "foi obra de dissidentes do PAIGC, com uma grande probabilidade de ter sido também um grande complô em grande escala, que ultrapassa as fronteiras da Guiné-Conacri" (citado por JPC, Revista, E|37).
JPC cita ainda duas fontes, a seu ver, importantes: o livro-testamento de Aristides Pereira e a série da RTP, "A Guerra", realizada por Joaquim Furtado: o episódio nº 25. emitido em 2012, é inteiramente consagrado à morte de AC. Pedro Pires é um dos muitos entrevistados, e o seu depoimento deve ser tido em conta (mesmo que ele continue, ainda hoje, a manter a sua tese do complô português).
Aristides Pereira, sucessor de AC à frente do PAIGC, entrevistado por José Vicente Lopes ("Minha Vida, Nossa História", Spleen, 2012), "fala sem filtros, com uma clareza e limpidez totais, acentuando de forma porventura definitiva a responsabilidade de um importantíssimo sector da ala guineense na elimição de Cabral" (JPC). Cite-se as suas palavras:
"Para todos os efeitos, goste-se ou não, o Amílcar foi morto como cabo-verdiano" (e de facto, o não o era: nasceu em Bafatá, viveu apenas 10 anos em Cabo Verde onde fez o liceu, o que é pouco mesmo numa vida curta de 49 anos...).
Chegados ao fim da leitura do artigo, alguns leitores dirão que a montanha pariu um rato... No meu caso (não li o livro de JPC, publicado em 1995), fico com as ideias mais arrumadas. O autor fez um trabalho de investigação jornalística, sério, intelectualmente honesto, com rigor e método. Não é um trabalho académico. Mas tem 4 hipóteses de investigação, todas elas verosímeis.
As duas primeiras, envolvendo a parte portuguesa, perdem hoje força, por falta de provas. Não se trata de "limpar a honra" dos portugueses (os militares e a polícia política), mesmo que entre os cabecilhas do matador, Inocêncio Cani, estejam dois ex-tarrafalistas, Momu Touré e Aristides Brabosa. As hipóteses iii) e iv) ganham força, nesta e noutras investigações mais recentes como a do cabo-verdiano Daniel dos Santos ("Amílcar Cabral: um outro olhar", Lisboa, Chiado Editora, 2014).
[ Condensação / negritos: LG]_________
Notas do editor:
11 comentários:
Pois é Camaradas
A montanha pariu um rato.
Sendo assim proponho que não percamos tempo com o assunto que não nos diz respeito e não traz nada de novo.
Um Ab.
António J. P. Costa
Oxalá os nossos grã-tabanqueiros queiram continuar a alimentar o blogue com as "memórias" do seu baú..., ou seja, de "primeira mão"... Precisamos de caras novas e ainda com vontade de escrever e partilhar... Saudações. LG
A montanha pariu um rato (Morto)Tal como nunca se saberá quem mandou matar em Jolmete á traição os majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório e o alferes Mosca.
Se Amilcar Cabral não tivesse metido no mesmo saco a Guiné e Caboverde, talvez tivesse sobrevivido à independência inevitável da Guiné.
E mesmo o irmão Luís Cabral, se não insistisse na Unidade Guiné/Caboverde, talvez não fosse deposto da presidência, nas vésperas do congresso que consagraria essa União.
É que se durante a luta havia a predominância caboverdeana na direção do partido, depois da independência, a Guiné continuou a ser dirigida (descaradamente)por maioria de caboverdeanos.
Foi afrontosamente exagerada a supremacia caboverdeana, nem era de esperar final muito diferente.
Agora essa dos mandantes do assassinato, convem que seja a PIDE e Spínola, para uns tantos caboverdeanos, (não muitos)e uns tantos históricos e crónicos anti-colonialistas e anti-salazaristas portugueses.
Mas que Spínola deu um tiro bem certeiro, mas o alvo era tão grande que difícil era falhar, aquele tiro da "Guiné é dos Guineus", tiro fatal.
Uma coisa é certa, a luta anticolonial começou mal e acabou mal.
Mas podia ter acabado muito pior.
Caro A. Rosinha,
No geral concordo contigo, mas a realidade socio-politica ou socio-demografica da Guiné era tao complexa que com Caboverdianos ou sem eles haveria fricçoes, conflitos, traiçoes e rupturas que, geralmente, caracterizam os paises africanos, criados a partir de acordos e desenhos de forças externas (as potencias coloniais). Calhou a existencia dos Caboverdianos no meio dos guineenses o que, de certo modo, disfarçou as divisoes internas pré-existentes entre guineenses e mostrar uma pseudo-unidade nacional que, na realidade, nunca existiu e era mais um mito do PAIGC na sua dinamica de usurpaçao e conquista do poder a todo o custo. Se nao fossem os Caboverdianos, seriam os fulas ou mandingas ou ainda os muçulmanos em conjunto contra os grumetes e vice-versa ou entao um outro grupo qualquer desde que pudesse ameaçar a ambiçao dos chefes da guerra avidos de poder.
De lembrar que esta engrenagem infernal de guerras politicas e de eliminaçao fisica nunca deixou de perseguir o partido libertador, e o numero das vitimas e carrascos tem aumentado em crescendo desde o golpe de 1980. Para citar alguns exemplos: Nino Vieira, Ansumane Mané, Verissimo Seabra, Batista Tagme Na Waie entre outros, e quase todos eram guineenses. Como costumo dizer, na Guiné, desde sempre, todas as vitimas de hoje foram criminosos num passado recente e todos os criminosos de hoje foram vitimas num passado nao muito longinquo. E esta a nossa realidadde e sao estes os factos que a nossa historia nos apresenta de forma clara e crua.
O Amilcar Cabral, num dos seus escritos, dizia que tinha dificuldades em compreender que na historia da Guiné, aqueles que tinham sido vitimas no passado e que, por isso mesmo tinham-se revoltado para acabar com a injustiça social, se transformavam, por sua vez, em piores ditadores e opressores dos seus concidadaos. Provavelmente estaria a referir-se ao régulo fula (preto) de Fuladu, Alfa Molo e do seu filho Mussa Molo que lideraram a revolta contra a dominaçao mandinga no Gabu na segunda metade do século XIX séc. e que resultou na libertaçao temporararia dos fulas de Gabu do dominio Soninqué, cujo o pai tinha sido escravizado.
Em conclusao, a minha opiniao é que o Amilcar Cabral foi vitima da sua aventura corajosa, liderando um processo complexo de que mal conhecia e dominava, com dimensoes socio-culturais e politicas que o ultrapassavam de longe. A sua coragem utopica, aliada a uma faculdade intelectual invulgar, na época, permitiram alcançar muitos dos seus objectivos de luta pessoal e colectiva, acabando por ser vitima do seu proprio sucesso, engajamento e estilo de liderança por dois paises e povos em relaçao aos quais sentia que estava ligado e pelos quais nutria um profundo sentimento de dever e obrigaçao como homem e ser humano e pelos quais estaria disposto a dar a sua propria vida, se fosse necessario. Todavia, é preciso dizer, na minha perspectiva, que tudo isso nao estaria alheio a sua passagem e o escasso mas intenso tempo vivido em Portugal no contexto do estado novo e suas taras socialmente negativas, racistas e discriminatorias cujas raizes do mal o Portugal de hoje ainda tem dificuldades em se desembaraçar na totalidade e, talvez nao consiga la chegar neste e no proximo século.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Rosinha, tu és uma testemunha privilegiada desses tempos, em que o Luís Cabral "reinou"... Mas é ele que conta, nas suas memórias ("Crónica da Libertação", Lisboa, O Jornal, 1984, pág. 95) que foi o próprio Viriato Cruz,então secretário-geral do MPLA, quem tentou dissuadir o Amílcar Cabral a deixar, do programa do PAI, essa ideia (mal aceite) da unidade Guiné / Cabo Verde... (Na altura, o PAIGC ainda era PAI, uma sigla infeliz porque no Senegal havia um partido, da oposição a Senghor, mal visto, e com o seu líder na prisão, que também se chamava PAI...).
O Amílcar Cabral e o seu pequeno partido nacionalista tiveram que enfrentar muita hostilidade e incompreensão, no início, por parte dos círculos de imigrantes guineenses em Dacar e Conacri.
Viriato Cruz, conta o Luís Cabral, aconselhou o Amílcar Cabral a desistir do Partido para a Unidade da Guiné e Cabo Verde, tendo em conta aquilo a que ele chamava a "vontade popular" (sic) (referência, segundo o Luís, à "agitação desenfreada dos nossos compatriotas de Conacri" (sic).
O Viriato defendia a criação, sim, de um Partido da Guiné, mesmo que os cabo-verdianos pudessem vir a ser admitidos como simples militantes... O Amílcar, indignado, opôs-se a "qualquer arranjo motivado pelo oportunismo dos nossos opositores", já que o Partido (sic) tinha sido "criado em Bissau por guineenses e cabo-verdianos" (Parece que guineense era só o Amílcar: o Elysée Turpin era da Guiné-Conacri, e os restantes, cabo-verdianos: Fernando Fortes, Aristides Pereira e Júlio Almeida...).
Np meio destas controvérsias, e ainda com nenhuns ou escassos apoios do exterior, o que salvou Amílcar e o seu Partido foi um convite em agosto de 1960, da Embaixada da China para visitar o país... O Amílcar apanhou, com unhas e dentes, esse "bilhete da lotaria"... O resto da história já é mais ou mais conhecida de todos nós, ou de alguns, que ainda tem curiosidade em saber estas coisas...como tu e eu. Mantenhas.LG
Caros amigos
Não posso deixar de concordar na quase totalidade com o que o Cherno aqui comenta com grande lucidez.
O que discordo é apenas quando escreve "na sua dinâmica de usurpação e conquista do poder a todo o custo" pois que me parece natural e apropriado que o PAIGC quisesse ter uma "dinâmica de conquista do poder" pois certamente seria o seu desígnio, a sua razão de ser, agora atribuir a essa dinâmica natural a qualidade de "usurpação" (pergunta-se usurpar o quê e a quem) denota uma "tendência" e depois o "a todo o custo" também me parece descabido.
Quanto ao resto, subscrevo.
Hélder Sousa
Cherno, trazes para aqui dois assuntos muito importantes em que o primeiro é a realidade socio-politica ou socio-demografica da Guiné, que de facto era tremendamente complexa como dizes.
Era com Amilcar e com Luis Cabral e sem eles, a intriga entre os chefes dentro do partido, mesmo para estranhos como eu e outros como eu, no tempo de Luis Cabral e do Nino, a intriga notava-se que era permanente.
Hoje como há outros partidos, a complexidade será noutros moldes, mas se o povo etnicamente se respeitar no dia a dia, do mal o menos, caso de alguns paises que foi e é terrível, tribos contra tribos.
Outro assunto que trazes à baila, que seria o caso de Amílcar vir da metrópoleº marcado pelo racismo e pela descriminação.
Cherno, ele não veio maracado, ele foi para a metrópole marcado pela descriminação e pelo racismo.
Cherno, quando a geração de Amílcar Cabral, foi estudar ou jogar futebol para a metrópole, se em Lisboa se via um preto, era caso tão raro que o transito parava, aliás o transito era tão pouco e tão lento que ainda circulavam carroças para abastecer a praça da Figueira.
Cabral era contemporâneo de Mario Wilson, doutor e jogador e treinador, Matateu, talvez analfabeto, mas era o "maior", já havia um "Deus" benfiquista São Tomense, Espírito Santo, um angolano Peyroteu.
Mas eram tão poucos africanos da geração de Amílcar Cabral na metrópole, que se houvesse descriminação seria pela estranheza e descriminação pela positiva.
Ainda não havia a Cova da Moura nem a democracia como temos hoje amigo Cherno, com direito a tudo, ao bom e ao mau.
Havia o Estado Novo e Salazar que criou a Casa do Estudante do Império.
Em África, nas colónias sim, Amílcar, Marcelino dos Santos, Lúcio Lara, Mário Cabral, Agostinho Neto, etc. foram para a metrópole sentindo-se principalmente descriminados, e como tal, vítimas de racismo, no acesso a lugares nas empresas, na função pública, na administração etc. preteridos em relação a quem vinha da metrópole, muitas vezes menos preparados do que os que lá estavam.
Conheci pessoalmente e trabalhei com muitos angolanos e caboverdeanos, e algumas vezes debaixo de alguns hierarquicamente.
Cumprimentos
Claro que havia os "indígenas" e esses gostavam muito de mim, e isso às vezes provocava ciúmes a quem lá estava e tinha estudado e sabia mais que eu.
Mas isso só fui compreender melhor, mais tarde quando fui para a Guiné "cooperar".
Até ao 25 de Abril, eu era muito alheio à política, e ainda me custa a entender tanta coisa.
Simples....
Simplifiquemos,Amilcar Cabral era uma pedra na engrenagem da luta pelo poder de várias entidades a saber; U.Soviética,Sekou Touré,e alguns elementos da cúpula do PAIGC.
Acontece que houve um aproveitamento pela casualidade de alguns elementos do PAIGC terem sido
libertados a mando do General Spinola e navamente aceites por A.C.estando assim reunidas as condições para culpar a Pide e Spinola.
Este raciocínio foi de alguém muito próximo de A.C. tendo que fugir para o interior da Guiné, porque a sua própria vida estava em risco.
Seguiram-se fuzilamentos indescriminados.
É nomeado Luís Cabral para presidente para não dar demasiado nas "vistas" .
Em 1980 surge a verdadeira opurtunidade.
O resto é história.
AB
C.Martins
Caro amigo Helder Valério,
Eu estou convencido que, apesar de tudo o que conseguiu na frente da luta militar e na arena internacional, apesar dos sucessos que pode ter acumulado, o PAIGC usurpou o poder na Guiné porque foi sempre um partido exclusivista. Não foi o primeiro a surgir na prossecução do objetivo da emancipação do país pois, como sabemos hoje, já existiam outros com o mesmo objetivo e a sua mudança para Conacri foi, precisamente para não ter que aliar-se com outras organizações, partidos ou movimentos como MLG/FLING entre outros.
Com o apoio do Presidente Sekou Touré conseguiu convencer a OUA (actual União Africana) a declará-lo como o único representante legítimo do povo da Guiné-Bissau, excluindo todos os outros desse direito.
Em 1974, com o 25A74 e o previsível fim da guerra, o PAIGC nem sequer admitiu a eventualidade de um Referendum no território como seria legítimo acontecer dando aos outros movimentos e organizações, de um e de outro lado, inclusive de movimentos autonomistas, a oportunidade de apresentar os seus projetos e ideias sobre o futuro do país. Não, para o PAIGC a Guiné-Bissau pertencia, para todos os efeitos, aos membros da equipa guerrilheira do Paigc e mais ninguém.
E ainda, aproveitando-se do cansaço da maior parte dos militares aí colocados na altura assim como uma clara e indisfarçavel simpatia da parte do MFA e cia, o PAIGC condicionou fortemente o acordo com os enviados do governo português a sei favor sem que se dignasse, depois, a respeitar uma única linha desse acordo de Argel de má memória o que, em abono da verdade, também dava tempo e algum jeito ao governo português para não ter que assumir a curto prazo alguns compromissos de dever e consciência para com os ex-combatentes do recrutamento local como estava consignado no acordo.
Na verdade, de 1960 à 1974, o PAIGC tinha sido o partido mais dinámico, melhor estruturado bem como mais esperto e oportunista, conseguindo com isso excluir todas as outras organizações rivais cujos membros e simpatizantes, inclusive, foram perseguidos e aniquilados.
Todavia o PAIGC não é caso único, pois o MPLA e FRELIMO eram da mesma linha ideológica e práticas criminosas.
Facto curioso: A avidez era tanta e tamanha a incapacidade que bastou pouco mais de 10 anos de governo a frente do país (1974-1986) para ficarem completamente desorientados ao ponto de mandar chamar o FMI e o BM que no calor da euforia da independência eram considerados os instrumentos da exploração e dominação do imperialismo em África. Daí a sua grande dificuldade, mesmo hoje, de se assumir como partido na oposição apesar de ter sido colocado em minoria no parlamento do país.
Era somente uma opinião e nada mais que isso e, provávelmente, tendencioso também, claro, como qualquer ponto de vista de natureza política. Não me considero isento, longe disso e, por isso, aceito a tua crítica e assumo.
Um abraço amigo desde Bissau.
Cherno Baldé
Meu estimado amigo Cherno
Agradeço, muito sinceramente, o que me dedicaste.
Aprendemos sempre e eu gosto de aprender. Aprender, pode ser saber, e pode ser compreender.
A tua resposta será para me esclarecer relativamente aos pontos, melhor dizendo, a umas pequenas(?) afirmações ou considerações dum teu escrito anterior, sendo que eu disse que, quanto ao resto, para além dessas minhas observações, estava de acordo, total ou genérico.
Pois também ao que escreveste terei algumas outras observações mas irei fazê-las não aqui neste "post" que já vai "lá para o fundo do feed" mas sim em mensagem dedicada.
Prometo.
Abraço
Hélder Sousa
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