terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24044: Notas de leitura (1551): Quem mandou matar Amílcar Cabral? (José Pedro Castanheira, jornalista, "Expresso", 22 de janeiro de 2023) - Parte I - Talvez "o maior mistério da absurda e inútil guerra colonial"... (Luís Graça)

Amílcar Cabral (1924-1973) > c. 1970 >  Foto  do líder histórico do PAIGC, incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... A primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB. (Pormenor curioso: Amilcar Cabral fazia questão de se deixar  fotografar pelos fotógrafos estrangeiros com o barrete ou gorro "sumbia", usado por fulas e oincas... Foi-lhe oferecedo numa Tabanca do Oio ainda antes do início da luta armada,  escreveu o irmão no seu livro de memórias ... Dava-lhe um toque mais africano ou mais guineense. E na verdade tornou-se uma peça emblemática do seu vestuário ou "farda", e que ele usava sempre que visitava, de vez em quando, as "barracas" no mato...)

1. Na Revista do Expresso, edição de 22 de janeiro passado, José Pedro Castanheira (JPC)  (n. Lisboa, 1952), jornalista e escritor, volta a fazer a pergunta sacramental, que todo o mundo já fez e que se vem repetindo ao longo dos anos, "ad nauseam": "Quem mandou mandar Amílcar Cabral?"... São seis páginas de texto e fotografia (Revista, pp. E|32 - E|37), que merecem que façamos aqui uma condensação e uma breve análise.

Já em 1993, o jornalista havia publicado no semanário "Expresso" uma extensa reportagem, com o mesmo título interrogativo, e que depois iria desenvolver em livro, de 326 pp., com igual título, publicado em finais de 1995 sob a chancela da Relógio de Água. (Traduzido em italiano e em francês, teve na sua apresentação o gen Spínola e o Luís Cabral, ambos sentados lado a lado: os inimigos do passado não se conheciam até então pessoalmente.)

Essa reportagem de 1993, um verdadeiro trabalho de jornalismo de investigação, cada vez mais raro na nossa imprensa escrita, e justamente premiado,  levou-o, além da visita ao local, em Conacri, onde Amílcar Cabral foi morto a tiro por Inocêncio Cani, a outros sítios e a entrevistar cerca de meia centena de pessoas, oriundas de Portugal, Guiné-Bissau e Cabo Verde. 

Para a elaboração do livro fez uma nova ronda de entrevistas e teve acesso, em primeiríssima mão, a dois importantíssimos arquivos portugueses: (i) o Arquivo da PIDE/DGS, à guarda da Torre do Tombo; e (ii) o Arquivo Histórico-Diplomático, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, para além das Actas do Conselho Superior de Defesa Nacional

"O livro provocou uma enorme polémica. Principalmente porque questionava a versão oficial do crime, em que coincidiam, quer o Presidente Sékou Touré, quer o PAIGC, e que a generalidade das organizações anticolonialistas aceitou pacífica e acríticamente" (pág. E|34):  o autor moral do crime eram os colonialistas portugueses, dividindo-se as culpas pelo  gen Spínola e a PIDE/DGS.  

Ainda hoje há muita gente, a começar naturalmente por antigos altos dirigentes do PAIGC (como o 'comandante' Pedro Pires, cabo-verdiano, ex-presidente da República de Cabo Verde, entre 2001 e 2011) que continua a defender essa tese, a que não é alheio o trabalho de dois jornalistas que não podem ser considerados, segundo JPC, "independentes". Cita os casos do moçambicano, de origem goesa, Aquino Bragança e do russo Oleg Ignatiev.

Ainda hoje Pedro Pires, sem qualquer suporte documental, nem evidência factual, continua a incriminar Spínola e a PIDE/DGS, como de resto o fez no discurso de abertura do Fórum Amílcar Cabral, 18 de janeiro de 2013 (e que foi transcrito na íntegra por "A Semana 'On line'", Praia, Ilha de Santiago, Cabo Verde, 20 de janeiro de 2013, uma publicação mutimédia próxima, política e ideologicamente, do PAICV, o Partido Africano para a Independência de Cabo Verde). Vale a pensa transcrever um excerto:

(...) "Do lado das autoridades coloniais, estava em curso uma campanha militar desesperada, lançada pelo seu Comando político-militar, na tentativa de reverter a seu favor o estado de equilíbrio militar, portador de muitos riscos, que vinha prevalecendo, apostando na recuperação das regiões libertadas, o que estava a ser muito difícil, conjugada com uma intensa e diversificada campanha sociopolítica demagógica, em torno da chamada Guiné Melhor. 

"O recurso ao assassinato do Líder do PAIGC insere-se na busca de saída para o grave dilema em que vivia o poder colonial, precisamente, quando sentia que estava em vias de perder a guerra, com consequências desastrosas para o futuro do império colonial. Nada melhor do que decapitar o PAIGC, solução experimentada em outras guerras coloniais. Reside aí a razão principal da decisão última de avançar com a operação do assassinato de Amílcar Cabral pelos serviços secretos portugueses e por seus homens-de-mão."(...)

Mas voltando  ao Aquino de Bragança (1924-1986): era então um importante quadro e intelectual da FRELIMO, sendo  "o único jornalista estrangeiro autorizado a fazer uma investigação in loco", ou seja, em Conacri (estamos a citar o JPC.).

As suas fontes maioritárias terão sido as "confissões dos conspiradores arrancadas através de tortura", o que é ética  e deontologicamente inadmissível para jornalista profissional. Um mês depois, escreveu um artigo na "Jeune Afrique" e a sua versão "passou a ser uma espécie de verdade oficial"... E incontestada, durante anos.

Oleg Ignatieev foi outro jornalista a escrever sobre a trágica morte de Amílcar Cabral ("Três tiros da PIDE - Quem, porquê e como mataram Amílcar Cabral" (Lisboa, Prelo, 1975, 185 pp.). Para JPC, o Ignatiev não tinha a "indispensável credibilidade", tudo indicando que ele, na época, devesse  pertencer ao KGB, os serviços secretos da antiga União Soviética. 

É desta fonte a hipótese do envolvimento, na conspiração, de altos  quadros dirigentes do PAIGC, guineenses, como o Osvaldo Vieira, primo-irmão do 'Nino' Vieira...

A reportagem do JPC sobre "o maior mistério da Guerra Colonial" (que ele adjetiva como "absurda e inútil") partia de "quatro hipóteses plausíveis, muito provavelmente interligadas":

(i) uma ação do gen Spínola e dos seus homens, na iminência de "perder a guerra":

(ii) uma operação especial da PIDE/DGS, além fronteiras;

(iii) uma jogada maquiavélica e antecipada de Sékou Touré, um ditador que sonhava com a "Grande Guiné", e via no Amílcar Cabral um rival de estatura pan-africana;

(iv) o desfecho inevitável da crescente conflitualidade existente no interior do PAIGC, entre os combatentes (guineenses) e a "nomenclatura", dirigente (cabo-verdiana). 

A reportagem de 1993 não era conclusiva nem o livro de 1995 (tal como não o é nenhuma outra investigação, independente, feita até agora, em qualquer outra parte do mundo).     


O livro do  JPC foi mal recebido, nomeadamente em Cabo Verde, sendo o autor acusado de "branquear" o papel dos militares portugueses e da PIDE/DGS. 

Da Guiné-Bissau, o JPC não teve reações. O livro nem sequer lá foi apresentado. E o próprio Amílcar Cabral é, diz ele no fim deste artigo que estamos agora a recensear,  uma figura histórica, cada vez mais esquecida e ignorada, como se ele nem sequer fosse guineense de nascimento... (Em contrapartida, o aeroporto internacional de Bissau continua a ostentar, "suprema ironia", o nome do suspeito ou controverso Osvaldo Vieira.)

Mas,  nos anos seguintes, o JPC continuou a aprofundar a sua investigação, explorando nomeadamente o inesgotável poço de informação que é o arquivo da polícia política do Estado Novo e as entrevistas dadas por alguns dos seus antigos operacionais, com destaque para o ex-inspetor Fragoso Allas, homem da confiança de Spínola, e que chefiava a delegação de Bissau (foi entrevistado em 2017 pela historiadora Maria José Tíscar, vivia ele então na África do Sul).

O que o JPC constatou, "com surpresa" (sic), foi que a PIDE/DGS estava infiltrada ao mais alto nível, na direção do PAIGC, "com acesso direto a Cabral"!...

E quanto ao Spínola e o seu estado-maior? Contra ele, Spínola tem a Op Mar Verde, a invasão de Conacri em 22 de novembro de 1970, em que deliberadamente que se quis mudar o regime em Conacri e decapitar o PAIGC: a liquidação de Sékou Touré e de Amílcar Cabral. (Aqui o JPC parece ter esquecido que as instruções que o comandante Alpoim Calvão tinha era para apanhar o Amilcar Cabral, "vivo ou morto": mas ele valia muito mais vivo e trazido para Bissau).

 Fracassada a operaçáo ou gorados os objetivos político-militares mais importantes, Spínola passou a empenhar-se cada vez mais noutras soluções para o conflito.

"Todos (ou quase todos) os oficiais com responsabilidades em Bissau já abriram os seus baús de memórias. Memórias muito variadas, por vezes contraditórias, onde se denotam velhos ódios e ajustes de contas, mas que não incluem a eliminação do comandante inimigo, pelo menos em 1973. Com efeito, desde 1971 que Spínola se virara afanosamente para a busca de uma solução política, mulltiplicando-se em iniciativas para chegar à fala com Amílcar Cabral " (pág. E|36).

Por outro lado, das atas do Conselho Superior de Defesa Nacional, órgão que acompanhava toda a evolução dos acontecimentos nos três teatros de operações, não há sequer  qualquer alusão à morte do líder histórico do PAIGC. 

Em conclusão, pode dizer-se, segundo JPC, "que dos arquivos portugueses e das memórias dos seus principais intervenientes, já tudo ou quase tudo se conhece". O mesmo não se passa "do outro lado"...

Veremos, noutro poste,  a segunda parte do bem pensado e estruturado artigo do JPC.

(Continua)
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16 comentários:

JC Abreu dos Santos disse...

... mais arroz com feijão?!
Por mim, estou fartinho do Zé Castanheira e teorias conspirativas!
Abusador.

antonio graça de abreu disse...

Leia-se o post Guiné 63/74 - P11001: Notas de leitura (452): Fernando Baginha e o assassinato de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos).

Oh, Luís Graça, é mais do que altura de não embarcarmos mais em mistérios. Amílcar Cabral foi morto pelos seus correligionários guineenses, com Osvaldo Vieira e Nino por perto. Claro que a PIDE podia ter tido um dedo nisso, mas não existem provas do seu directo envolvimento. Pedro Pires e companhia sabem muito bem o que passou, mas não convém dizer a verdade, por razões evidentemente políticas.


"O grupo que abatera Cabral apresentou-se no Palácio de Sékou Touré, informando que acabara de matar o secretário-geral do PAIGC. Sékou Touré dá-lhes ordem de prisão. Para Baginha, o envolvimento da Guiné-Conacri na tentativa de afastamento da direção cabo-verdiana era por de mais evidente: toda a conspiração ocorreu em Conacri e foi detetada pela segurança checa que obviamente terá avisado Sékou Touré; os executores de Cabral, cumprida a sua nefanda missão, dirigiram-se ao palácio da Presidência para que houvesse reconhecimento do golpe; os revoltosos atravessaram toda a Conacri e saíram do porto, apesar das rigorosas medidas de segurança que existiam. Numa reunião que teve lugar no palácio da Presidência, Sékou Touré informou todos os quadros do PAIGC dos resultados provisórios do inquérito à morte de Cabral: no momento da morte de Cabral encontravam-se em Conacri 429 elementos do PAIGC e 336 estavam a par da conspiração.

Baginha refere os desentendimentos profundos entre Cabral e Osvaldo Vieira, prendiam-se sobretudo com a condução militar das operações. Cabral permitia-se, por vezes depois de longas ausências no estrangeiro alterar completamente planos já estabelecidos. Para mais, Cabral já não entrava nas zonas libertadas da Guiné havia cerca de 3 anos. No dia do assassinato, Osvaldo Vieira estava em Conacri, a tudo assistiu, todos o viram, ele viu tudo e não teve um gesto para evitar o que se passou (recorde-se o que Bobo Keitá escreve no seu livro, já aqui referenciado: foi visto Osvaldo Vieira durante todo o dia na companhia de Inocêncio Kani). Continua Baginha a referir que tendo ficado preso na companhia de guineenses, estes não disfarçavam a sua preocupação e falavam abertamente: Osvaldo era o nome mais citado. Nos interrogatórios perguntaram a todos os inquiridos se teriam ouvido algo sobre o envolvimento de Osvaldo Vieira e em consequência dos inquéritos ele foi suspenso de todas as funções diretivas no partido. Osvaldo Vieira foi conduzido para a zona de Madina de Boé sob prisão. Depois disse-se que teria morrido de doença do estômago. Mas Baginha não tem dúvidas, ele foi executado. No primeiro dia de execuções, foram executados nas três frentes de guerra 69 homens. Sékou Turé não autorizou fuzilamentos em território da República da Guiné. E Baginha diz sem rebuço que o golpe de 14 de Novembro de 1980 não é mais do que a continuação do golpe de 20 de Janeiro de 1973. Com este golpe não restava qualquer dúvida: pretendia-se levar Nino Vieira ao poder. "

Eduardo Estrela disse...

" A absurda e inútil guerra colonial "

Eduardo Estrela

Antº Rosinha disse...

Foi a pensar na saúde e bem estar de Amílcar Cabral, de Holden Roberto, de Agostinho Neto, de Jonas Savimbi que Salazar em 1961 não entregou a um deles as independências respectivas.

Era o maior risco para a vida daquele que o Antoninho selecionasse.

E mais, seria o maior risco no caso da Guiné a sua sobrevivência como um PALOP.

O que para muita gente nem se perdia nada.

E para muita gente, talvez "antes pelo contrário".

Valdemar Silva disse...

Existe um Oficio, datado de 28 de Dezembro de 1970, do Chefe do Posto da DGS, no Mindelo, para o Chefe da Delegação da DGS em Cabo Verde, com o assunto: COLABORADOR.
E informa sobre a chegada de um tripulante de um navio chegado ao Mindelo, e o mesmo teria informado o Posto ter aliciado um grupo de seis indivíduos prontos a dinamitar o depósito de munições do PAIGC, em Conakry, e liquidarem Amílcar Cabral.
A cada um dos indivíduos seria pago pela DGS dez mil escudos caso esta operação depois de concluída tivesse êxito.

Mais uma achega da pide estar metida no assassinato de Amílcar Cabral, na "absurda e inútil guerra colonial".

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

A quem interessava a morte de Amilcar Cabral ?
Porque é que Pedro Pires fugiu para Boké,onde foi preso.
Amilcar Cabral era uma mais valia para Portugal,porque era a melhor figura para eventuais conversações.
Foi-me transmitido de fonte segura que os autores morais do assassinato eram dois elementos da cúpula do PAIGC,um presidente de um País vizinho, e uma organização estrangeira de serviços secretos.
Adivinhem quem eram.

C.Martins

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu bom amigo e caramada C. Martins... Agora que estás "reformado", quando é que "abres o livro" ?

Sabes "segredos de Estado" que já podem ser partilhados no blogue dos amigos e camaradas da Guiné... Ja passaram os 50 anos da praxe... E qualquer dia estamos no outro mundo, salvos mas incomunicáveis...

Seguramente que os teus segredos não foram obtidos no "confessionário", nem "sobre tortura" nem no "exercício da tua nobre profissão"...

Um alfabravo. Saúde. Luis

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Há mais alguém que tenha uns argumentozitos para a telenovela?
O que é que nós temos a ver com os assuntos internos do inimigo?
Está mais que dito e provado quem matou Amílcar Cabral. Porquê? Podemos especular, mas não é assunto importante.
Quanto aos livros e opiniões cada uma vale o que vale ou seja nada.

Continuamos a gastar cerca com ruins defuntos.
Ele era "um tipo bestial".Até lhe deram uma condecoração. Nós é que éramos uns artolas que andávamos para ali. Agora surgiu o "problema" dos Guineenses que combateram do lado das NT e eu não vejo como nem porquê, depois de o terem condecorado.
Isto parece o show dos marretas!

Um Ab.
António J. P. Costa

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Um leitor deste 'post' decidiu agregar mais um 'hoax', insinuador e infundamentado (quanto à origem fáctica de indeterminado "ofício"), no qual um incógnito fulano «teria» não-sei-quê e em consequência «seria» dessarcido coiso-&-tal, posto o que (cfr o dito cujo) se trata 'ips facto' de "mais uma achega" «da pide estar metida no assassinato» do heróico AC.
Não haverá por aí mais ninguém ajudar ao festival de atoardas contra a pide/dgs?!

antonio graça de abreu disse...

Pois é, claro como água, criminosos de alto gabarito, matando-se uns aos outros, mas continuam a vender-nos a tese do vinho a martelo, proveniente da taberna da PIDE/ DGS. E a candura com que neste blogue se continua a falar em "mistérios" e na “absurda e inútil guerra colonial."

Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

Um pertinaz a auto candidato a blogueprovedor, quis saber por que o Augusto não é capaz de dizer com os dentes cerrados 'não gosto de carne assada com esparguete'.
E o Augusto achou estranha a pergunta, por não haver ninguém que não goste de carne assada com esparguete.

Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Já aprendi qualquer coisa: 'hoax' quer dizer farsa!
Agora poderíamos propor a um/a realizador/a famoso/a de TV da Guiné que realizasse uma telenovela. Até podia ser que ganhasse um Óscar ou Grammy ou qualquer coisa melhor, versando o tema: "O Guerrilheiro a quem não deram tempo para ser presidente".
Um Ab.
António J. P. Costa
PS: Se não houver nenhum prémio inventa-se. Sugiro "Delírios e Barretes"

Manuel Luís Lomba disse...

Luís Cabral e Pedro Pires eram os falcões do Conselho Superior de Luta, este será o único sobrevivo que sabe a verdade e que a encobre, escudando-se na PIDE e em Spínola.

O não acesso aos relatórios das três comissões de inquérito, da investigação e das sentenças de morte de cerca de 100 fuzilados é um nada que diz tudo sobre o tema, parafraseando o Pessoa.

Pedro Pires passou a controleiro do Nino Vieira, então Chefe de Operações e Luís Cabral a controleiro de Osvaldo Vieira, então Inspector das FARP.

Constava que este tinha tivera uma morte lenta, por envenenado, ao modo do KGB... Era o delfim de Amílcar, era o seu herdeiro, por testamento oral.

O acesso da PIDE a Cabral será natural: a mãe dele vivia em Bissau, era uma spinolista ferrenha, dizia-se que as viagens e as suas férias fora da Guiné eram pagas por essa polícia...

"absurda e inúti guerra colonial". Sem dúvida, mas existiu. Fomos seus autores e somos livres de falar dela.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Lamento que, mais uma vez nos tivéssemos embrulhado em discussões sobre um assunto que não nos diz respeito. Se aqueles a quem o problema toca se metem em confusões sem tom nem som porque havemos nós de ir atrás deles?
Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eu já não estava lá, nessa altura, em 20 de janeiro de 1973... Mas será que me permitem tentar perceber como tudo acabou, de um lado e do outro ?

Quer se queira quer não, as nossas memórias cruzam-se... Quando o meu pai foi expedicionário em Cabo Verde, no Mindelo, em 1941/43, o jovem Amílcar Cabral ter-se-á cruzado com ele, era então, o Amílcar Cabral, estudante no Liceu Gil Eanes, o único que existia no arquipélago...

Eu, na Guiné, nunca me cruzei com ele, suponho (duvido que ele alguma vez tenha ido lá para os meus lados, o triângulo Xime-Xitole-Bambadinca), mas apanhei com as minas e emboscadas da sua rapaziada... Tenho curiosidade (que não é mórbida...) em conhecer o resto da história... Será que posso ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Luís: a expressão "absurda e inútil", para qualificar aquela guerra (que nos coube em sorte), é do José Pedro Castanheira, não é minha... Mas a já temos usada aqui...

E não é difícil chegarmos hoje a um consenso sobre o absurdo e a inutilidade da guerra, de todas as guerras... Glorificar a guerra, é também por tabela o glorificar o Amílcar Cabral e o Spínola... Mas, é verdade, tens razão,ela existiu e nós estivemos lá... Infelizmente (falo por mim).LG