sábado, 11 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24057: Blogues da nossa blogosfera (177): Os helicópteros Kamov Ka-32 do nosso descontentamento... (Luís Graça, A Nossa Quinta de Candoz, 29 de agosto de 2009)





Vídeo 1: 0' 50''



Vídeo 2: 1' 23"


Vídeo 3. 0' 20"

Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > 29 de Agosto de 2009 > O Kamov Ka-32 em acção na nossa terra, o heli pesado de combate a incêndios florestais, de fabrico russo... Foi um fim de semana de incêndios... Neste caso, o fogo era no Juncal, freguesia de Paredes de Viadores, ali bem perto... Um heli pesado, ao serviço da ANPC, andava, à nossa frente, num rodopio constante, abastecendo-se de água na barragem do Carrapatelo (que fica à nossa direita)... Fotos e vídeos feitos a partir nossa varanda, na  Quinta de Candoz. 

A experiência dos Kamov Ka-32 no combate contra incêndios em Portugal parece não ter sido feliz... Não sei qual o balanço feito  pela Autoridade Nacional de Proteção Civil.  Os seis Kamov Ka-32  acabaram por ir parar à FAP, e precisavam de peças para a sua manutenção. Estiveram inoperacionais durante vários anos... Mais recentemente foram oferecidos pelo Governo Português ao Governo da Ucrânia...  (O Kamov Ka-32 custa, por unidade,  cerca 6,5 milhões de dólares.)  


Fotos e vídeos (e legendas):  © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  No CTIG, o heli era uma "máquina de terror" para os homens que combatíamos na Guiné (e as populações sobre o seu controlo), sobretudo o helicanhão (ou "lobo mau", na gíria da malta da FAP). 

Para nós, o heli estava associado a cobertura aérea das NT, helioperações (com os páras e comandos),  mortos e feridos, evacuações Y (ipsilon) ou, na melhor das hipóteses, uma visita do Caco Baldé, o Homem Grande Bissaau, o Com-Chefe, o gen Spínola... 

Ainda hoje, para mim, o som do heli é como o tinonim da ambulância do 112: ambos pressagia(va)m desgraça, aflição, aperto, catástrofes, acidentes, guerra, morte... (Mas sabia, bem, no mato, em operações, na Guiné, sentir o helicanhão ou o T-6 por ali perto de nós,  temos que o reconhecer...).

Claro, eu hoje sei que o heli têm múltiplas aplicações, não só militarrs, como civis (desde
passear turistas, transportar doentes, combater incêndios, resgatar náugrafos, etc.). 
 
Em boa verdade, quem andava de heli, no meu/nosso  tempo, no CTIG, quem se podia dar o luxo de andar de heli (e fazia gala disso) era o gen Spínola, governador-geral e comandante-chefe... E aparecia a "desoras", quando menos se esperava... O nosso heli, o Al-III,  de fabrico francês, era também por isso o terror dos comandantes de batalhão... 

O seu custo de operação era de 15 contos por hora  (lia-se nos relatórios)... Quinze contos por hora, em 1969, equivalia, a preços de hoje, a cinco mil euros... Era  "manga de patacão":  dava para comprar cerca de 300 garrafas de uísque novo... ou para ir ao restaurante cerca de 750 vezes... ou para ir ao Pilão ou ao Bataclã todas semanas durante uma comissão...

2. Já aqui falámos, em tempos desses  sons de helicóptero que ainda hoje mexem connosco" (*)... De facto, depois da "peluda", nunca os senti tão perto como na nossa Quinta de Candoz, num mês de agosto lá longínquo,  em que lá estava a passar férias... Já aqui contei a história no blogue A Nossa Quinta de Candoz (**).

(...) Estava na hora do almoço quando ao fim de uma manhã soalheirenta, ouvi, lá fora, um som que me era familiar, o som caraterístico e inconfundível de um helicóptero... Saí logo de casa, a correr, levando a máquina fotográfica, e vou ao nosso miradouro da quinta, contíguo à casa, para ver o que se passava...

A noroeste, a escassos dois quilómetros,  em linha reta, havia um incêncio nos "montes", em pleno coração do território  da nossa freguesia, para os lados da ermida de Nossa Senhora do Socorro, diziam unsm  ou talvez para os lados do Juncal, diziam outros.  Era  o primeiro incêndio, felizmente, que o povo sinalizava naquele ano por aquelas  bandas... (Os nossos "montes", esses, já tinham ardido várias vezes, nos últimos vinte ou trinta anos.)

Um heli dirigiu-se ao Rio Douro,  à albufeira do Carrapatelo, que fica a escassos cinco quilómetreos em linha reta, para se abastecer de água... Foi e veio três vezes. Daqui via-se (e continua a ver-se)  uma parte da albufeira, de Candoz vê-se Porto Antigo, já no conselho de Cinfães, distrito de Viseu, Estamos  a 250/300 metros do nivel do mar... e rodeados de floresta e montanha.

Desta vez, o  incêndio foi rapidamenmte extinto. Mas o raio do som do heli ficou a mexer comigo... Velhas recordações da Guiné, dos anos de 1969/71... (***)  


3. Sobre esta aeronave, ao serviço da ANPC (Autoridade Nacional de Proteção Civil), pudemos na altura ler o seguinte no sítio Área Militar (o link foi, infelizmente, descontinuado, o blogue já não deve existir, mas a página foi capturada pelo Arquivo,pt):

(...) "Portugal adquiriu seis destas aeronaves, na sua versão para combate a incêndios. Os Ka-32 portugueses estarão equipados com um depósito suspenso do tipo «balde» com capacidade para até 5000 litros de Água.

"O Kamov Ka-32 consegue transportar quase tanta água como a aeronave de combate aos fogos Canadair, podendo reabastecer-se tanto em rios como em simples lagos, onde a aeronave do Canadá não pode operar. Além de operações de combate a incêncios os Kamov KA-32A portugueses ao serviço da 'Protecção Civil' também colaboraram em operações de busca e salvamento" (...)

...) "Família de helicópteros Ka-25, foi concebida originalmente por Nikolai Kamov ainda nos anos 50 e o primeiro Ka-25 voou em 1961. Em 1967, um substituto para o Ka-25 começou a ser estudado. Desse estudo resultaria o helicóptero Ka-27 cujo primeiro voo ocorreu em 1974.

"A mais distintiva característica dos helicópteros Kamov, é a não existência de um rotor de cauda, que nos helicópteros convencionais é utilizada para compensar a rotação do rotor principal e manter a aeronave estável.  Ao contrário, os helicópteros da família Kamov, têm um sistema de dois conjuntos de três pás, montados num mesmo eixo, rodando cada um deles em posições opostas. A navegação é auxiliada pelos dois grandes lemes traseiros. Este tipo de configuração foi considerado adequado para operação a partir de navios, pois a não existência de cauda, torna a aeronave mais compacta" (...)

Características técnicas (para os amantes destes máquinas, agora ao serviço da paz):

(i) Dimensões: Comprimento: 11.3m; Envergadura: 15.9 m; Altura: 5.4 m.

(ii) Motores/ Potência: 2 x motores Klimov TV3-117V; Potência total: 4380 HP/CV

(iii) Peso / Capacidade de carga: Peso vazio: 6500 Kg; Peso máximo/descolagem: 11000 Kg; Numero de suportes p/ armas: 0; Capacidade de carga/armamento: 5000 Kg; Tripulação / passageiros: 2.

(iv) Velocidade/Autonomia: Velocidade Máxima: 270 Km/h; Máxima (nível do mar): Não disponível; De cruzeiro: 240 Km/h; Autonomia standard /carregado : 600 Km; Autonomia máxima / leve 800 Km; Altitude máxima: 6345 m

Fonte: Área Militar / Arquivo.pt (com a devida vénia) 

____________

Notas do editor

(*) Vd. 30 de 30 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13546: Blogoterapia (261): Esses sons de heli que ainda mexem connosco... (Luís Graça, en férias na Tabanca de Candoz)

2 comentários:

Eduardo Estrela disse...

Olá Luís boa tarde!!!
Espero que continues a recuperar dos teus achaques.
E a Sra tua familiar está melhor?.
Os Kamov que o governo português ofereceu ao governo ucraniano parece que continuam por cá.
Também se estão inoperacionais servem de muito pouco ou nada.
15 contos por utilização/hora do Allouete dava não para 30 mas sim para 300 maganas de scotch novo.
Abraço fraterno.
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Eduardo... Sim, vai recuperando e melhorando a minha querida cunhada, irmã da Alice... Na 3ª feira estava a preparar-me para vir a um enterro...Hoje volto a Lisboa, mais animado e esperançado... A capacidade do ser humano de reagir à doença (mesmo quando muito grave) é excecional. A vida luta contra a morte. E aqui no Porto, no SNS, no Hospital de São João, nos serviços de neurologia (Neurocríticos) e Hematologia, há profissonais dos melhores...São serviços de ponta, de cinco estrelas... Amigos e camaradas, em matéria de cuidados de saúde, nunca troquem a competência técnica e humana pelo conforto hoteleiro...