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domingo, 27 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27057: E os nossos assobios vão para...(4 ): o programa "Linha da Frente", reportagem "Marcados pela Guerra", que passou na RTP1, no passado dia 24, às 21h00: a montanha pariu um rato (Ramiro Jesus, ex-fur mil cmd, 35ª CCmds, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)


Ramiro Jesus: membro da Tabanca Grande
 desde 9/9/2012; mora em Aveiro



1. Mensagem de Ramiro Jesus  (ex-fur mil cmd, 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

Data - s
ábado, 26/07/2025, 22:34 
Assunto - TV

Boa-noite, Luís e restantes camaradas ex-combatentes.

Deixei passar dois dias para ver se via no nosso blogue alguma reação ao programa que a RTP transmitiu na passada quinta-feira, acerca das nossas saudosas guerras. (*)

Como ninguém se manifestou, vinha eu, deste modo, perguntar ao grupo se terei sido o único que achou aquilo uma verdadeira pobreza franciscana.(**)

E aproveitar para perguntar aos responsáveis do canal que pagamos diariamente, se não encontram alguém que saiba história e seja capaz de enquadrar, com respeito por essa história, as entrevistas que tenham feito, com gente também capaz de exprimir as verdades e realidades da mesma, bem enquadradas com as tais imagens reais das lutas no mato, picadas ou bolanhas e não com os "filmes" que nos pediam para fazer (no meu caso, sempre negados) na época do Natal, normalmente desenroladas ao lado das pistas dos aviões ou pertinho do arame farpado dos quartéis. 


Parece-me que, isso sim, seria uma boa homenagem aos ainda sobreviventes que por cá andamos e um bom contributo para o ensino - aos nossos filhos e netos - da verdadeira Históra da guerra colonial/ guerra do ultramar.

Propunha ainda que, se porventura fosse viável fazer o que sugiro, por uma equipa com verdadeiros conhecimentos, os trabalhos fossem separados por episódios, por cada uma das antigas colónias/províncias, pois creio estar certo de que as realidades em cada terreno eram bem diferentes entre a Guiné, Angola ou Moçambique.

E pronto. Agora que desabafei e fiz a minha sugestão, agradeço que analises se vale a pena publicá-la. Ficas à vontade.Entretanto, agradeço a dedicação dispensada ao blogue por todos os editores e despeço-me com um forte abraço. Ramiro Jesus.

(Revisão / fixação de texto, título: LG)


2. RTP > Linha da Frente > Marcados pela Guerra :

Episódio 19 de 48 | Duração: 30 min

Sinopse: Entre 1961 e 1974 cerca de 800 mil jovens portugueses partiram para combater nas colónias africanas. Hoje, 60 anos depois, a guerra mantém-se viva na memória dos que estiveram nas três frentes de batalha: Angola, Guiné e Moçambique.

"Marcados Pela Guerra" mostra a profundidade e persistência do impacto psicológico da Guerra Colonial nos ex-combatentes.

O stress pós-traumático, frequentemente não diagnosticado e silenciado ao longo de décadas moldou vidas e deixou marcas invisíveis na saúde mental de milhares de homens.

"Marcados Pela Guerra" é uma reportagem da jornalista Sandra Claudino, com imagem de Emanuel Prezado, e edição de Nuno Castro.


Próximas emissões deste episódio:

27 Jul 2025 | 10:30

27 Jul 2025 | 11:20 | RTP3

28 Jul 2025 | 02:45 | RTP3

29 Jul 2025 | 13:30 | RTP3

30 Jul 2025 | 05:20 RTP Internacional

Fonte: RTP > Programa > TV
_________________

Notas do editor:

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ramiro: obrigado pelo teu comentário. E a frontalidade a que já nos habituaste. Não vejo televisão. Ou vejo cada vez menos. Sou seletivo. E depois, ouço mal, não posso ter o televisor em altos berros. E depois também não tenho, do passado, a melhor memória das minhas experiências de colaboração com este meio de comunicação social. Talvez reveja este episódio 19 da temporada 17 do programa "Linha da Frente", quando passar a estar disponível na RTP Play.

Pelo que vi (de esguelha) e ouvi (mal), há sempre dois ou três handicaps, na TV, quando se revisita a guerra colonial / guerra do ultramar e os seus fantasmas: a começar pelas imagens, os filmes de arquivo, que são, como bem dizes, de uma "verdadeira pobreza franciscana".. Em 13 ou 14 anos de guerra, a televisão pública só dispõe de "enlatados" de 1961, Angola, capacete de aço, espingarda mauser, catana, viaturas blindadas da II guerra mundial...

Pelo que eu percebi, o foco da reportagem era o "stresse pós-traumático de guerra"...Para além dos profissionais da ADFA que lidam com este problema (nomeadamente, psicólogos), foram ouvidos camaradas nossos (e seus familiares) que estão a ser apoiados...

Tenho pudor em falar sobre o vi (de esguelha) e ouvi (mal)... Mas também não sei quais foram os critérios jornalísticos usados para selecionar os entrevistados (neste caso as "vítimas de stress pós-traumático")... Em televisão, usa-se muito o critério da conveniência... A televisão custa uam pipa de massa por minuto...

Enfim, deram-nos 30 minutos, a nós, coitadinhos dos antigos combatentes... Concordo contigo: não temos que lhes ficar agradecidos...

Carlos Vinhal disse...

Quando aquilo acabou, pensei: foi mais do mesmo.
Os entrevistados como são seleccionados? A maioria de nós (ou todos) não conseguimos o distanciamento suficiente para falarmos do nosso passado sem nos comovermos, logo a voz sai embargada e o discurso pouco claro.

Os entrevistadores fazem o trabalho de casa? Acho que não, porque não conseguem abordar os velhos combatentes de modo a "tirar" deles as melhores memórias.
Na edição das peças, o que cortam? Aqui ou ali não tiram sentido ao que foi dito?

Depois, nós continuamos com o discurso do desgraçadinho, como se a condição de antigo combatente, fosse, à partida, uma condição que nos menospreza. Devíamos, sim, era exigir que tratassem condignamente os nossos camaradas doentes, fisícos e psicológicos, deficientes comprovados da guerra. Tudo o mais é conversa barata, e posso afirmá-lo pela minha experiência ao longo de anos, nas minhas modestas acções reinvidicativas a favor dos antigos combatentes.

Para comer, ainda vão aparecendo mais de cem, mas nas cerimónias públicas em que lembramos os nossos camaradas caídos em campanha, aparecem sempre os mesmos, dúzia e meia, poucos mais.

Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Anónimo disse...

Eu, para esse peditório já dei.
Também não vejo televisão quanto muito alguns filmes e não gosto de filmes velhos
Um abraço
Juvenal Amado

José Botelho Colaço disse...

Caríssimo Ramiro de Jesus também fiquei decepcionado e triste, quanto a Homens que estiveram no terreno para contar a história o leque vai-se fechando "abruptamente" cito por exemplo o Sr. Coronel Matos Gomes, embora este tenha deixado em livros grande parte da história da guerra do Ultramar.
Colaço.

Anónimo disse...

António Ramalho (by email)
27 jul 2025 |12:43
Opinião do Camarada e Tabanqueiro Ramiro de Jesus


Caro Luis, bom dia.
Espero que estejas bem assim como toda a tua família.
Não posso estar mais de acordo com a análise escrita pelo nosso camarada Ramiro de Jesus, apesar de já me ter distanciado dos referidos programas, não contribuem para nada, senão confundir as actuais gerações com algumas inverdades e, outros despropósitos, com imagens que em nada contribuem para o bem estar de quem as viveu e sofreu na pele, já chega!
Em minha opinião, não é assim que se enriquece a História, já estamos cansados de ouvir sempre o mesmo, coisas que já todos sabemos, sentimo-las, cuidar do bem estar dos antigos combatentes seria uma tarefa muito mais importante e justa a desempenhar pelos governos e pelos nossos representantes na AR, assim imperaria o mais elevado espírito de solidariedade, tratando com dignidade todos aqueles por lá passaram a combater, privados dos seus estudos, empregos e convívio familiar!

Não entendo porque se retraem em levar este assunto para cima da mesa, tenham coragem, sabedoria e dever solidário, para com os que combateram para defender aqueles territórios e populações, que naquele tempo ainda nos pertenciam, foram conquistados ou descobertos por nós, assim reza a História!

Não nos refugiámos na deserção por razões políticas, pura mentira e argumento falso de alguns, aí prevaleceu o medo em vez da valentia e do dever patriótico!

As actuais gerações, incluindo a política, está muito distante, contudo há uma coisa que os políticos não podem esquecer, muito menos desprezar: Tratar e cuidar com a máxima dignidade todos aqueles que por lá passaram, que não foram assim tão poucos, cujos efeitos negativos ainda hoje carregam nas suas vidas e das suas famílias, apesar do seu regresso ser aparentemente saudável.

Nos dias de hoje, estamos noutros TO, pela força de tratados ou acordos com melhores condições sociais, salariais e de armamento, que mal há nisso, contudo não vejo ninguém manifestar-se!

Todavia, há um facto positivo no meio disto tudo, opinião proferida por um Senhor Contra-Almirante, da qual estou totalmente de acordo: O êxito da Revolução de 25 de Abril, deveu-se à preparação, ao conhecimento e à estratégia que a Guerra do Ultramar nos conferiu, também não tenho a menor dúvida.

Todos os Capitães de Abril, foram nossos contemporâneos, Salgueiro Maia foi meu instrutor em Santarém e, foi a sua Companhia que foi substituir a minha à Guiné em 1971, ironias do destino!

Espero que os antigos combatentes, um dia mereçam mais respeito e dignidade, só assim nos consideraremos reconhecidos e retribuídos do nosso esforço e empenho para o resto das nossas vidas!

Um forte abraço para todos.

ManuelLluís Lomba disse...

Também deixei de dar para tal peditório.

A linha editorial das televisões - com realce para a que se alimenta principescamente dos nossos impostos - está complexada do politicamente correto e pauta-se pela parcialidade
.
Os 100 mil portugueses europeus combatentes da Guiné fizeram muito mais que cercos, assaltos, emboscadas, assaltos, bombardeamentos e filhos que abandonaram (muito poucos, as FA são instituições éticas!): defendemos as populações do terrorismo e prestamos-lhes todos os cuidados sociais e económicos e graciosamente: alimentação, ensino, medicina e fármacos, construção de habitações, de estradas, sua manutenção e mobilidade gratuita, por, terra, mar e ar...

Na sua "paz", os bissauguineenses jamais beneficiaram de "cooperação" da qualidade e da qualidade prestada por esses combatentes.

Os bissauguineenses e nós, os combatentes, fomos umas das grandes vítimas da Guerra Fria.

Alberto Branquinho disse...

Muito bem, Ramiro, por esta chamada de atenção.

No final de tudo, o que estas histórias televisivas deixam no grande público (o mais jovem ou que tenha estado fora dessas andanças e que tenha pachorra para as ver e ouvir) é que "aquilo", em África, foram assim a modos de umas "amostras" de guerra onde, também houve alguns feridos, mortos ou mutilados, misturadas com umas quantas "histórias da carochinha" e "faits-divers".
Misturar imagens do tempo da Mauser e capacete com imagens do novo armamento e equipamento mais aligeirado, como convém à contra-guerrilha, é como correr o equívoco de misturar o conceito de guerra clássica (como se fez no princípio da guerrilha em Angola com o conceito que, depois, dela se fez.
Nunca é dito (como o Ramiro refere) que a maior parte das imagens é tomada junto ao arame farpado, protagonizadas por "padeiros" para "inglês ver" com camuflados lavadinhos e bem engomados.
Por esta amostra podemos imaginar o que mais aí vem, aliás, como vem sendo habitual ao longo de todos estes anos.
Que seja pelas almas do purgatório!
Abraços
Alberto Branquinho
(P.S. - Como nem todos me conhecem, espero que nada disto seja entendido como uma apologia dessa nossa guerra, mas como uma chamada de atenção para o sofrimento de uma geração que tende a ser entendido como um passeio até àquelas terras de África e uma simples ausência de dois anos de junto dos "entes queridos").

José Botelho Colaço disse...

Eu fui dos 1º de g3 a ir para o mato operação tridente ilha do Como na Guiné Janeiro de 1964 mas os das mausers também sofreram e muito, por esse motivo deve haver muito respeito por todos os camaradas independente do tempo de guerra e principalmente os que fizeram a guerra no mato em condições muito precárias.
Colaço.

Anónimo disse...


Abreu dos Santos (by email)
28 julho 2025 18:48


... a propósito de recente «reportagem "Marcados pela Guerra"», difundida no weblog de Luís Graça e fabricada para RTP1 pela esquerdina "Linha da Frente"...

- «Não se ocupam os novos "jornalistas" e "editores" em proceder a triagem da veracidade dos factos, relatados por "entrevistados" ou "contadores de estórias". No caso vertente, e que diz respeito - repete-se, respeito - a milhares de homens que cumpriram serviço militar no Ultramar, continuam a ser oferecidas em dose cadenciada umas estorietas particulares e o mor das vezes em tom de «muro das lamentações», nas quais se retrata as Forças Armadas Portuguesas (tanto milicianos como do quadro permanente) como um ror de incompetentes e sempre perdedores, e o(s) ex-terrorista(s) ex-inimigo(s) como pleno de razão, de força e de vitórias. Ou seja, persiste a inconfessada (e inconfessável) manobra de instilar a lassidão na retaguarda, ora sob pretexto de reconciliação com a(s) memória(s) e com os "povos libertados". No entanto, a manobra de agit-prop, aparentemente salvífica, radica sobretudo numa Síndrome de Estocolmo resultante de não haver sido cumprido o objectivo da tal «libertação dos povos», antes terá ficado grande parte dos veteranos cativa das «razões» do Outro, qual seja o vencedor-que-dita-a-história. E no meio de tudo isso, perde-se o sentido primeiro da continuada actividade de milhares de homens, enquadrados numa missão patriótica e cujo interesse primeiro era a defesa da população civil, esta completamente esquecida nos tais relatos agora (re)postos a correr na imprensa, nas televisões e nas páginas da internet. Fala-se e escreve-se sobretudo olhando o umbigo, a estorieta privada enquadrada no pequeno universo onde o "protagonista" foi "obrigado" a "fazer a tropa", tudo com uma falta de senso e uma mariquice pegada: em quase todas as «actividades» relatadas, é só mortos militares, feridos militares, estropiados militares, terríveis bombardeamentos inimigos, mortíferas emboscadas inimigas, etc, etc. Resumindo: se a "tropa" não morreu toda, isso deve-se aos "salvadores", de lá e de cá; e o que dela restou na torna-viagem, é-nos cadenciamente apresentada, desde a «madrugada libertadora», completamente estropiada física e/ou mentalmente. Mais grave: é apresentada, aos descendentes daqueles mesmos veteranos de guerra, como uma cambada de patetas, nharros, bestas, trucidadores, massacradores de "populações" indefesas ou assassinos-a-soldo-do-regime-fascista, ou ainda como apoiantes dos "colonialistas" exploradores-dos-pretos. Não compete a quem lê, velho ou novo, indagar se tais estórias têm fundamento, ou apenas inseridas em estratégia genérica e não assumida de ganhar audiências: a qualquer custo. Certo é que, re-descoberto o "filão" das ditas «guerras coloniais», todos à uma e cada vez mais se ocupam em promover e difundir «estórias da guerra». Pena é que em grande parte desses relatos esteja absolutamente ausente qualquer sentido pedagógico, quando não mesmo a honradez pessoal e o sentido geracional.»¹
(¹) João Carlos Abreu dos Santos > m/texto 'ipsis verbis' publicado em 06Fev2008 no Portal UTW.

Antº Rosinha disse...

Aquelas imagens de capacete de aço são passadas na região do café no norte de Angola no ano de 1961 e como já aparece alguem com o quico na cabeça, também já poderá ser parte de 1962.
Era a luta contra o movimento, o verdadeiro e genuino movimento e exclusivamente do povo africano e de uma única tribo variada "bacongos", sem intervenção dos Estudantes do Império, nem de anti-salazaristas nem antifascistas

O programa não mostra as reportagens de fotos da carnificina feita por esse movimento, a UPA, contra brancos e bailundos, que antecedeu a ida desses capacetes para aquelas
matas.

Eu foi portador desses capacetes de aço, mas não me mandaram para essas matas, porque não havia arma pesada (minha especialidade) para me distribuírem.

Nos fins de 1961 fui dois meses (voluntário) substituir um furriel que adoeceu, mas num lugar em que eu e os turras nos desencontrámos.

Mas em 1963 já estive nessa região a trabalhar como civil.

Sem proteção militar.

Era o tal terrorismo que levou à ordem "para Angola e em força".