Foto nº 27 > Quinta de Candoz > Vindimas > 11 de setembro de 2025 > Os jovens tiram férias para vir às nossas vindimas...Claro, eles são o futuro. E estão-nos a dar cartas, aos mais velhos... Sempre foi assim em Candoz: as gerações, e já são oito, desde 1820, cada geração traz o seu "valor acrescentado", a sua marca de inovação, o seu paradigma de mudança...
Foto nº 28 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Está na hora do almoço...
Foto nº 29 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Apesar do trator, há muito trabalho braçal... E sobretudo muito boa interajuda, cumplicidade, boa disposição... É isso que é a magia das vindimas nas terras do Zé do Telhado... (O fantasma dele ainda vagueia por aqui à noite,)
Foto nº 30 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Uma pausa para retemperar forças e beber a "bejeca"... (Super Bock, no Norte, passe a publicidade; cada "tribo" tem direito à sua idiossincrasia; só eu é que sou plural: tanto bebo do branco como do tinto, da Sagres ou da Superbock...

Foto nº 31 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > Já têm sido, nas vindimas, muito mais à mesa... Desta vez só foram 18, pelos pratos que eu contei... A uma sexta feira, dia útil da semana, nem todos os "citadinos" podem comparecer à chamada...ou simplesmente fazer o gosto ao dedo... Eu, por exemplo, não cortei um cacho de uvas (minto, cortei alguns)... O meu papel foi o do fotógrafo, que é mais confortável. Mas alguém tem de se "sacrificar" e deixar registos para a posteridade, escrever as histórias, as memórias, os afetos...
Foto nº 32 > Quinta de Candoz > Vindimas 11 e 19 de setembro de 2025 > O tacho desta vez foram... "tripas à moda do Porto"...A "chef" Alice esteve á frente do departamento dos "Comes & Bebes" durante as vindimas....Comida apropriada para os trabalhadores da vinha... Um prato tripeiro (e patriótico) por excelências... Oxalá, Enxalé, Inshallah, a gente apanhasse disto no "rancho" na Guiné... Tínhamos ganho a guerra, naqueles anos, só a comer esparguete com cavala, ou bianda com bianda... e a beber "água de Lisboa" (quer dizer, do Beato)...

Foto nº 33 > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2025 > No fim do dia está toda a gente cansada que nem dá tempo para dar um mergulho na piscina...
Fotos (e legendas): © Luís Graça 2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Muitos de nós aprendemos a apreciar o vinho verde (branco) só na Guiné...Muitas das marcas de referência, que ainda hoje existem e têm sucesso no mercado (interno e externa), dos vinhos verdes, foi lá que as conhecemos: Aveleda, Casal Garcia, Gatão, Gazela, Lagosta, Três Marias, Campelo, Casal Mendes, incluindo o "príncipe dos alvarinhos", que era então o "Palácio da Brejoeira". Poucos bebiam "Mateus Rosé"... (Passe a publicidade!...). Também se bebia Dão. A TAP fazia uma boa promoção do Mateus e do Dão. Não me lembro de ver Verde a bordo avião da TAP, quando fui e vim de férias (ainda não tinha o prestígio que tem hoje à mesa dos apreciadores)...
Eu sempre desconfiei que a Região Demarcada dos Vinhos Verdes (numa época em que ainda se produzia 90% de tinto e 10% de branco) tinha que ir à minha terra, ao Oeste (Lourinhã, Torres Vedras, Bombarral, Cadaval...) buscar um "reforço" de vinho leve (ainda não se falava em vinho leve): eram brancos com baixo teor alcoólico que, levados em camiões-cisterna, abasteciam os armazéns do Norte...
A Lourinhã, por exemplo, sempre produziu ao longo dos últimos dois séculos bons vinhos para "queimar" (produzir aguardente vínica para o vinho do Porto...). E não é por acaso que, com toda a justiça, é Região Demarcada da Aguardente Vínica da Lourinhã.
Lê-se no sítio da
Aguardente DOC Lourinhá: (...) "As vinhas cultivadas nesta região têm a predominância de castas brancas. Pela sua exposição e solos permitem que as suas uvas deem uma vinificação de baixo teor alcoólico e elevada acidez, obtendo-se a partir desse vinho destilado uma aguardente de grande qualidade. Devido a esta qualidade excecional, esta aguardente foi utilizada pelos produtores do vinho do porto há cerca de duzentos e dez anos" (...)
Ora quem fazia "vinho do Porto", também fazia "vinho verde"... Era só preciso haver "mercado", dizem os economistas... (Aliás, ainda hoje é assim: quem náo tem uvas, compra aos espanhóis...).
Ainda me lembro de ter feito uma reportagem, para o jornal "Alvorada", sobre a Adega Cooperativa da Lourinhã, em 1966, em plena azáfama das vindimas... Cito de cor, mas naquele tempo, eles deviam receber umas 7 mil toneladas de uvas... O vinho aqui era abundante e barato. De tal modo que arrancaram as vinhas todas, com o fim do mercado de África. (Todas, é um exagero: ainda há as suficientes, de castas rigorosamente definidas, que dão excecionais aguardentes, produzidas e envelhecidas na Adega Cooperativa da Lourinhã e na Quinta do Rol, os únicos dois produtores do mundo desta Aguardente DOC Lourinhá, que estão fartos de ganhar prémios.).
A África Portuguesa (Angola, Moçambique, Guiné), com centenas de milhares de consumidores, entre civis e militares, eram um grande mercado cativo para os nossos vinhos.
O vinho era um bem de consumo identitário para os portugueses, nascidos num país em que o vinho marcava presença à mesa e no altar (!), uma fonte, além disso, de sociabilidade e de ligação à terra de origem. Claro que as empresas exportadoras tinham aqui uma oportunidade de ouro.
Misturados, loteados, gaseificados, e com rótulo de verde, geladinhos, estes vinhos de lote passavam muito bem por "vinho verde", a 4 mil, 8 mil, 12 mil quilómetros de distância...
Os oficiais e sargentos do quadro permanente, e os milicianos tinham patacão, os colonos de África ainda mais, e a sede era terrível naquele clima medonho...
Por falta de literacia (como diríamos hoje) nesta matéria, o consumidor de vinhos em África (militar ou colono) não questionava a origem do produto nem a qualidade: o paladar fresco e gaseificado convencia qualquer um, num clima como aquele, tropical... E, depois, o frio e o gás escondem os defeitos de qualquer vinho. Em qualquer parte dou mundo.
Estas práticas, ilegais, que o laxismo e a incompetência dos organismos públicos de regulação e fiscalização do sector deixavam passar, cá e lá, na metrópole e no ultramar, acabaram por trazer muito má fama ao vinho verde branco: durante anos, será associado a vinho “fraco” ou “de segunda”... Para não dizer a martelo".
"Bons tempos", o do vinho branco verde de 2ª, para o branco de 2ª!... A guerra sempre trouxe, em toda a parte, a corrupção económica... O Estado Novo não foi exceção..., embora o cinismo dos seus saudosistas insista na narrativa do regime impoluto e austero como o do seu chefe, sempre trancado no Palácio de Belém, longe das tentações e frivolidades do mundo.
Só muito mais tarde comecei a perceber a diferença entre um "vinho branco leve" da Estremadura, de 8/9 graus, gaseificado, e um nobre "vinho branco verde", DOC...
Eu sabia lá, camaradas e amigos, com que castas se fazia este vinho único no mundo!... Os segredos do cultivo da vinha, do enxerto e da poda à "poda verde", sem esquecer a prevenção e o tratamento do míldio, do oídio, do "black rot" (ou "podridão negra"), até à apanha das uvas e da sua vinificação...
Ainda hoje não sei, confesso... Vou aprendendo alguma coisa com os "trabalhadores da vinha", na Quinta de Candoz... Para vergonha minha, nem podar sei... Preguiça mental: em 50 anos tinha obrigação de saber...
De facto, poucos de nós, os lisboetas, os do Sul, conheciam a Região Demarcada dos Vinhos Verdes (que já existia desde finais da monarquia, em 1908, de resto uma das mais antigas da Europa).
Mas foi preciso esperar por uma nova geração de produtores que profissionalizou o "negócio", por uma autêntica revolução de tecnologias mas também de mentalidades, sem esquecer o aparecimento de uma competente e talentosa geração de jovens enólogos, mas também o papel fundamental da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), na regulação e fiscalização do setor, etc ....
Hoje fazer vinho é uma arte e uma ciência.. E, claro, um negócio. No nosso caso, também é paixão, utopia, devoção, amor, resiliência, experimentação, gozo...
_____________
Nota do editor LG:
Último poste da série > 29 de setembro de 2025>
Guiné 61/74 - P27266: Manuscrito(s) (Luís Graça) (273): Vindimas, ainda são o que eram ? - Em Candoz, sim, no essencial - Parte I
5 comentários:
Excelente Luís,dá para perceber que conheces bem a matéria dos vinhos. Abraço.
O único vinho verde possível de encontrar nas colónias antes do "grito" para Angola e em força, anos 50, era apenas o Casal Garcia, caríssimo e só em alguns restaurantes mais para o fino.
Com ida dos militares para a guerra, começou a aparecer o Gatão e outras marcas engarrafadas, porque até ali foi sempre vinho "embarrilado", barris de 100 litros, nunca azedava, milhões de quilolitros, desparecia todo.
Ninguém distinguia se era martelado ou não, ninguém se queixava à asae.
Embora, no caso de Angola a bebida nacional era a cerveja.
A CUCA promovia frequentes mini Oktoberfest memoráveis para quem tomava parte.
Excelente obra do nosso latifundiário de Candoz, que percebe mais de vinhos do que eu, que pensava saber tudo, mas não é verdade.
Parabens Luis por esta nova obra Vinícola. Passei a perceber mais das origens, pois só percebia na garrafa e copo!
Passando por cima deste excelente trabalho, para quem não sabe podar, isto fez-me lembrar o que já andava na minha mente, já que se fala de tudo.
Assim hoje passei em revista uma garrafeira, de um grande Hiper, já a tinha visto e agora fui lá fotografar.
Vou fazer um poste com fotos e legendas e falar de alguma coisa que ainda me lembro do passado, no tempo pré militar e durante as férias na Guiné.
Hoje já não posso beber o que bebia, mas não dispenso um copo, pelo menos, a cada refeição, mesmo contra as instruções (não ordens, pois isso só existiu na tropa) dos nossos médicos, que nos proíbem de tudo, quando afinal vamos morrer na mesma, desconsolados.
Ab, vt
Luís,
Boa reportagem sobre as tuas vindimas.
Eu também sou um pequeno produtor de uma centena de garrafas do meu quintal.
Podo as videiras, aplico o sulfato quando estou, venho fazer as vindimas.
Ainda colaboro também na vindima familiar e amigos, que no final no juntam todos ao almoço é uma festa.
Ainda utilizamos as técnicas ancestrais da minha infância, de quando passava diversos dias a esmagar as uva com os pés dentro do lagar.
Agora, depois de colher os frutos de Setembro, vou voltar aos médicos para a inspeção anual, para ver se estou apto.
Para mais uma comissão, esta provavelmente em Nova Lamego (Gabú), onde a carne de cabra, grelhada a beira da estrada, com pão fresco de fornos de lenha e uma cerveja bem fresca é um bom almoço.
Patrício Ribeiro
Virgílio Teixeira (by email)
4/10/2025, 19:01
Comentário ao Poste P27280
As Vinhas da Ira. Romance de John Steinbeck, Escrito em 1939. A sua obra-prima. Adaptado ao cinema, surge o filme em 1940, dirigido por John Ford, com Henry Fonda como principal protagonista. Vi este filme ainda com 10 a 12 anos. Nunca o esqueci.
Dei este titulo ao Poste, por me fazer lembrar as vinhas, os vinhos e as bebedeiras....
O Luis fala e elenca uma série de vinhos que se bebiam no CTIG, conhecia todos, exceto o "Casal Mendes",: que não me lembro de ver no meu tempo.
E naturalmente os Alvarinhos que já eram e são artigos de luxo, bebo quando oferecem, mas
não compro, até porque não sou apreciador de vinhos verdes, parece que me fazem azia, não os troco por maduros brancos de qualidade, com graduação acentuada, e tintos obviamente.
O mais consumido por mim era o "Casal Garcia", que, ainda pós-desmobilização, bebia nos
dias muito quentes, mas tudo passa.
Na sequência no excelente trabalho inserto no Poste 27280, resolvi intervir com algo para mais conversa, senão a IA escreve tudo por nós e eu não sei defender-me!
Desde ainda criança começou a minha iniciação dos vinhos como tantos outros conhecem.
Estamos ainda em plena 2ª guerra mundial, os bens escacionavam, o pequeno almoço eram as celebres "sopas de cavalo cansado": malga com broa desfeita ou casqueiro militar aos bocados; rega-se com vinho tinto, verde de pipa ou garrafão, adicionamos muito açúcar amarelo e depois é só comer.
Não sei se fez bem ou mal, era o que havia!
E sempre bebia vinho às refeições, era de garrafão de vidro encestado.
Lembro me por exemplo, uma despedida de ano, talvez 59 ou 60, e num autocarro dos STCP, em plena Baixa Portuense, foi festejada a efeméride com garrafas de champanhe da conceituada marca "Magos", uma garrafinha de 0,25
Sem direito a copo, que se abria com as cápsulas tipo cerveja e de águas do "Sameiro". Por isso nós, quando se falava dessa cápsula chamávamos de "Sameira".
Nas brincadeiras de jogar com elas, com enchimento de casca de laranja, e com os dedos fazer as corridas nas bermas dos passeios, sem sair das linhas até chegar o primeiro.
Que raio de brincadeiras que nem os Fulas ou Felupes as adoptaram. Não havia passeios, nem saneiras nem cascas de laranja, talvez.
O vinho que aqui se fala, o "Campelo", verde tinto e verde branco, faziam parte das bebidas de café. Encontrei 2 garrafas com rótulo original numa prateleira. A versão tinto e a versão branco que também a bebi na Guiné.
O "Casal Mendes" não conheci, temos uma garrafa actual em foto, na prateleira de garrafeira. Nunca provei.
O vinho verde branco, bebe se fresco ou geladinho e não se nota defeitos. Nada como alguns vinhos Alvarinho, que são uma selecção à parte. "Palácio da Brejoeiro" e outros.
Afinal não sou cliente de verdes!
Nunca vi uma vindima [excepto as que fazia por conta própria nos meus 10 anos nas videiras dos vizinhos]. Depois uma grande dor de barriga!
Abraços fraternos.
Virgílio Teixeira
Em 2025 10 04
PS - Neste hora, no ano 67, já tinha feito o trajecto nos "barcos-turra", e por estada em coluna a caminho de Nova Lamego. Já passaram 58 anos...
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