sábado, 28 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14308: Manuscrito(s) (Luís Graça) (47): Quem em caça, política, guerra e amores se meter, não sairá quando quiser...


Quem em caça, política, guerra e amores se meter, não sairá quando quiser

por Luís Graça (*)




Quem terá sido o 'grafiteiro'
que escreveu:
"Em Mueda, os cordeiros que chegam,
são lobos que saem" ? (**)

É um pensamento que é válido
para todas as situações de guerra.
E em todas guerras houve ‘grafiteiros’.
Os jovens, quase imberbes,
os meninos de sua mãe
(como escreveu o nosso Fernando Pessoa),
que chegam à frente de batalha,
ainda são cordeiros,
inocentes,
virgens,
imaculados...
O horror e a violência da guerra
irão transformá-los em lobos,
puros e duros,
violentos,
conspurcados...
Não necessariamente predadores,
assassinos,
criminosos...
(que é o estereótipo
que o ser humano ainda guarda
do ‘lobo mau’)...


Foto de Tino Neves (2007)
Mas há, seguramente, uma perda de inocência:
não foste foi para a guerra
e vieste de lá impunemente,
igual...
Os teus amigos e familiares deram conta disso:
já não eras o mesmo,
nunca mais foste o mesmo...

É isto
que o inspirado (ou provocador) autor do mural de Mueda  (*)
te quis dizer.
É claro que há também aqui
a dose habitual de bravata e de fanfarronice:
a frase feita para intimidar
os 'checas', os 'piras', os 'maçaricos', os novatos...

Também os militares, profissão de risco,
têm a sua ideologia defensiva,
as suas crenças,
os seus talismãs,
os seus mesinhos
(usavam-nos, de resto,  os guerrilheiros
na Guiné,
em Angola,
em Moçambique,
não obstante a  'formação' racionalista, 
dos seus comandantes,
que estudaram na cartilha marxista-leninista,
dita revolucionária)...

A bravata e a fanfarronice,
além das praxes e do álcool,
ajudaram-te
a lidar com o medo,
as situações-limite,
a morte,
o sofrimento, físico e moral,
a impotência,
o desespero…
Mas também ajudaram a criar
laços de abnegação, coragem e camaradagem...

Não há, nunca houve,
super-homens,
super-heróis:
há apenas deuses,
que inventaste, à tua imagem e semelhança,
e para quem transferiste 
qualidades e defeitos humanos...
Aliás, deuses que inventamos todos os dias…
Precisamos, de resto, dos mitos,
das lendas,
da efabulação,
do pensamento mágico,
mesmo sob a roupagem (enganadora) da ciência e da tecnologia.

Há quem diga
que há três espécies de homens:
os vivos, os mortos e os homens que andam no mar...
Devias acrescentar uma quarta categoria;
o soldado para quem a guerra nunca acaba...
Patriota, revolucionário ou mercenário,
não importa.

Há homens que são incapazes de deixar de combater...
(Como há homens que são incapazes de viver fora do mar)...
Mesmo, no limiar da decadência física,
a adrenalina da guerra será mais forte que a razão...
É um pulsão muito forte.
o que os leva a matar e a morrer
por pátrias, causas, bandeiras ou ideologias
que muitas vezes não são verdadeiramente as suas...

O ser humano é motivacionalmente muito complexo
e manipulável
e moldável
ou formatável…
A guerra também pode ser viciante,
havendo homens que nela entram
e dela nunca mais saem...
A guerra pode inclusive  
ser uma forma (heróica ?) de suicídio.
Como, de resto, diz o provérbio popular,
"Quem em caça, política, guerra e amores se meter, 
não sairá quando quiser"...

Lourinhã, 28/2/2015
___________________

Notas do editor:

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14307: (Ex)citações (263): Eu respondi à sondagem "4. Não, não mudei muito"... Mas acho que mudei, não sei se para melhor, se para pior (Hélder Sousa, ex-fur mil, trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)

1. Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa, ao poste P14296 (*): 

 Caro Luís Graça e restantes camaradas

É claro que a passagem do tempo deixa as suas marcas. Todos nós mudámos fisionomicamente. Uns de forma mais acentuada, outros menos.

Para além dessa coisa irrefutável, acresce ainda que, de nós para os outros (e vice versa), se não houver contacto de proximidade que permita acompanhar a evolução haverá sempre mais dificuldade em reconhecimentos mútuos.

Isto, pelos aspectos físicos. Há também os aspectos psicológicos. Quanto a isso será mais prudente ser os outros a julgar. Costuma-se dizer que ninguém é bom juiz em causa própria. No entanto, também se disse e por aqui também dissemos, e eu concordo, que mudámos muito.

Chegava-se a África como meninos, mais ou menos crescidos, e rapidamente se transformavam em homens. Ora essa alegadas transformações, assim reconhecidas na generalidade, traduziram-se por reconhecidas mudanças 'de estado'. Psicológico? "De alma"? Comportamental?

Já não falo dos que foram directamente afectados pelos acontecimentos vividos, seja por ferimentos no corpo, seja pelo que se passou "ao lado", e temos muitos casos desses, alguns deles até já referidos aqui no blogue, que esses encontram-se muito mais enquadrados na tipificação dos casos enquadráveis no "stress pós-traumático", mesmo que não 'sejam praticantes'... Refiro-me à generalidade dos 'outros'.

Portanto, este aspecto, o da mudança psicológica, é de mais difícil resposta.


Guiné > Bissau > c. 1970/72 > O Hélder de Sousa, na avenida marginal,  junto ao cais. Foto do álbum de Hélder de Sousa, ex-fur mil de trms  TSF (Piche e Bissau, 1970/72), ribatejano, engenheiro técnico, residente em Setúbal, membro da Tabanca Grande desde abril de 2007 e nosso colaborador permanente.

Foto: © Hélder de Sousa (2007). Todos os direitos reservados

Cartaz do filme O Caçador (1978), do realizador
norte-americano Micael Cimino, com Robert
de Niro no principal papel.  Fonte: Wikipédia
 (com a devida vénia...) (***)
Eu acho que mudei. Mudei sim. Não sei se para melhor, se para pior. 

Quando regressei vinha ainda mais determinado a contribuir para a mudança da situação do poder vigente à data. Mas também havia uma grande contradição entre o que sentia e o ambiente geral, à grande bebedeira colectiva que me parecia haver.

Uma das formas mais notórias foi o silêncio quase total sobre o que se vivia, em meu entendimento, no pedaço de terra em guerra donde tinha vindo.

Alguns, mais empenhados, ainda procuravam saber para supostamente avaliar e 'teorizar' mas muitos
ficavam-se pela superficialidade, de meter nojo, de saber se 'tinha matado muitos pretos', 'se tinha feito muitos filhos'. Na realidade não queriam saber nada: tinham os seus preconceitos, metidos na cabeça pela propaganda governamental, um pouco à semelhança do que se passa agora com 'inevitabilidades', com aquela de 'os gregos (que gregos?) opuseram-se antes e agora também é bem feito que 'a gente' (cá está a colagem) lhes faça o mesmo', e no fundo só buscavam 'confirmações' para que a sua arquitectura mental não sofresse abalos...

Quantas e quantas vezes lhes respondi como o 'marine' do filme "O Caçador" na cena do bar na festa de despedida dos que iam para o Vietname....

Portanto, respondendo ao inquérito (já o fiz nos quadradinhos) (**),  acho que a resposta correcta e óbvia é, porque global,  "4.Não, não mudei muito", embora isso seja tudo relativo. (****)

Hélder Sousa
________________

Notas do editor:



(***) Um dos filmes de culto da guerra do Vietname. O filme ganhou 5 óscares em 1978: (i) Melhor Filme, (ii) Melhor Realizador, (iii) Melhor Actor Secundário (Christopher Walken), (iv) Melhor Montagem e (v) Melhor Som. Foi estreado em Potugal em outubro de 1979.

(...) "The Deer Hunter é um filme que nos fala de valores em desuso - a coragem, o companheirismo, o esforço, a amizade, a abnegação, a integridade - em tom de envolvente cumplicidade, sem sequer um fio de retórica, enquanto nos apresenta uma comunidade operária de origem eslava na vila de Clairton, Pensilvânia. É uma viagem à América profunda - à que produz riqueza e se integra num vasto esforço colectivo a partir de uma pequena comunidade. Não a América protestante de raiz anglo-saxónica, mas os verdadeiros Estados Unidos da América, nação enriquecida pela presença de imigrantes com o seu mosaico de crenças e culturas.

Poucos filmes como este, brindado com o rótulo de "reaccionário", nos mostraram de forma tão impressiva e convincente o quotidiano da classe trabalhadora. O Caçadorfoi também o filme que melhor soube mostrar - apenas três anos após a partida dos marines da Indochina - o absurdo da guerra do Vietname, bem ilustrado na metáfora da roleta russa, como corpo estranho e adverso ao incomparável sonho americano. Mike, Nick e Steven, os três amigos de infância que para lá partiram aureolados de heróis, regressam de modo muito diferente: a guerra marcou cada um deles de forma irremediável." (...)


Excerto reproduzido, com a devida vénia, do blogue Delito de Opinião >  Os filmes da minha vida (16)
por Pedro Correia, em 22.09.10.

Guiné 63/74 - P14306: Notas de leitura (685): “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, por Gomes Eanes da Zurara, adaptação de Frederico Alves, edição da Agência Geral das Colónias (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2014:

Queridos amigos,
Esta adaptação da “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, publicada em 1944, oferece ao leitor uma visão acalorada de um poderoso panegírico onde se exalta o projeto henriquino, etapa por etapa.
Descobriu-se posteriormente que a cronologia das expedições não foi o ponto forte de Zurara, de tal sorte que ainda hoje não é precisa a data da chegada à Guiné como a conhecemos.
Seja como for é um documento vivacíssimo, exaltado, cedendo a fábulas como a chegada dos navegadores ao rio Nilo, cantada com a maior das exaltações. Zurara escreveu um dos bilhetes de identidade da Guiné, a sua crónica é um desses documentos imorredoiros para a história de Portugal e da Guiné-Bissau, vale a pena, ao menos, conhecer-lhes alguns aspetos capitais.

Um abraço do
Mário


O romance da conquista da Guiné contado a rapazes (2)

Beja Santos

Aqui se continua e finda a recensão quanto ao “Romance da Conquista da Guiné”, uma adaptação da “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, por Gomes Eanes de Azurara, feira por Frederico Alves, publicação da Agência Geral das Colónias em 1944.

Os descobrimentos henriquinos tomam um rumo imparável, toda a costa está mapeada até ao Cabo Branco, é preciso ir mais longe, o Infante confia a Gonçalo de Sintra uma caravela, diz-lhe para ir direito à Guiné, a bordo vem um gentio que a seu tempo se escapulirá. A caravela vai até à ilha de Naar, mal fundeados, mandou o capitão arrear o batel, rumou-se para a praia, esperou-se pelos mouros. Vieram como inimigos, lutou-se rijamente. Nesse dia, ali ficou morto Gonçalo de Sintra e mais sete. E regressou-se a Portugal. O Infante não desiste, nomeia Nuno Tristão que vai até às ilhas por onde Lançarote, almoxarife de Lagos, andara. Segue-se Dinis Dias em demanda da terra dos negros conhecidos por guinéus, e Zurara escreve:  
“E falando em guinéus, convém não perder de memória que se chamou Guiné a todas as terras primeiramente descobertas na linha da costa Ocidental de África. Não porque todas sejam, na verdade, uma só terra; pelo contrário, fazem diferenças umas das outras”.

Dinis Dias velejou até à vista de um grande cabo a que puseram o nome de Cabo Verde (não confundir com o nome do arquipélago só muito mais tarde deixado).

Talvez em 1445, aparelharam-se duas caravelas por mandado de D. Afonso, Regente do Reino, confiadas a Antão Gonçalves e Diogo Afonso, e largaram para o Rio do Ouro, à busca de indígenas que pudessem converter ou mercadejar, a expedição não teve sucesso, João Fernandes ficara no Rio do Ouro, foi viajar com os nómadas, procurava novidades de alguns reinos de África.

Antão Gonçalves pediu ao Infante para ir até ao Rio do Ouro buscar João Fernandes, prometendo trazer carregamento que pagasse todo o gasto da viagem, e assim foi, Antão Gonçalves, Garcia Homem e Diogo Afonso partiram para a Madeira, o mau tempo separou as caravelas, só se juntaram no Cabo Branco e depois reencontraram João Fernandes, regressaram carregados de homens e desembarcaram os cativos em Lisboa.

O relato de Zurara possui enorme vivacidade, colorido e até moralístico, como se pode ver na expressão “a vida humana é como uma roda que ora gira na direção da fortuna ora na desgraça”. Encerra o essencial de todo o projeto henriquino, quando necessário mostra o heroísmo dos homens da casa do Infante, com uma descrição de Gil Eanes, Cavaleiro de Lagos, a lançar-se contra os mouros, quando se lançaram na terra de Zaara.

É por demais sabido que estes descobridores viajavam verdadeiramente em terra incógnita. E tal como no passado recente Dinis Dias assinalara que ali começava a terra dos negros, esta expedição que passou a terra de Zaara julgou ter chegado a um braço do Nilo. Tinham descoberto água doce e alguém observou que estariam perto do Nilo e dá-se uma cena de combate entre um guinéu e um português, episódio rocambolesco, assim contado:  
“À vista do guinéu, troncudo, membrudo, de estatura grada, o português, miúdo e delgado, foi para ele, de um salto, e pendurou-se-lhe nos cabelos. O negro era teimoso e valente, e, embora, achasse, espantado, que escarneciam da sua corpulência, por mais voltas que desse não conseguiu libertar-se, que o marinheiro parecia um galgo dependurado na orelha de um touro possante”.

E no meio da fantasia de que se tinha chegado ao Nilo, Zurara é luxuriante na descrição, que ultrapassa todos os níveis da fantasia:  
“O Nilo é o rio das maravilhas, o rio mais nobre do mundo, e a sua grandeza foi cantada pelos sábios da Antiguidade.
Dizem alguns que ele nasce ao pé do Mar Vermelho e dali corre, para o Ocidente, através de muitas terras, e formando, no meio, a Ilha de Meroe. Nesta ilha, do senhorio da Etiópia, há uma cidade outrora chamada Sabá, ao tempo em que o faraó do Egipto lá enviou Moisés. Foi Cambises, rei da Pérsia, quem lhe pôs este nome.
Chegando o Nilo a Meroe, dali se encaminha para o Norte e, do setentrião, volta ao meio-dia; e em certas estações do ano transborda do leito e inunda os campos do Egipto”.

Prosseguem as refregas, reencontram-se as caravelas, regressam os navios a Lagos, mas a impaciência para regressar à costa da Guiné é enorme. E Zurara descreve a valentia de Nuno Tristão que partiu para a terra dos negros e que sessenta léguas além do Cabo Verde ordenou que se entrasse num rio, saíram em batéis e enfrentaram doze embarcações com oitenta guinéus, armados de frechas. E Zurara escreve lamentoso:  
“No fim de contas – Deus louvado – dos vinte e dois homens dos batéis, apenas dois ficaram sãos. E dos sete da caravela que primeiro escaparam, dois caíram trespassados ao levantar dos ferros e jazeram vinte dias às portas da eternidade (…) Assim acabou, o nobre, valente cavaleiro Nuno Tristão, que muito amava a vida; e também João Correia, Duarte de Holanda, Estevão de Almeida e Diogo Machado, fidalgos que o Infante criara na sua Câmara; e outros escudeiros e peões e mareantes e demais gente da companha.
Então, os corpos foram atirados ao fundo dos mares, sepultas suas carnes já frias nos ventres dos peixes vorazes! Mas que importa o túmulo? É igual que sejamos lançados à terra, como às águas, que nos devorem os peixes ou as aves! Felizes dos que morrem com Deus! E se os leitores desta história orarem por Nuno Tristão e pelos outros portugueses, tais mortes tornaram bem-aventuradas!”.

E diz Zurara que o Infante chorou tamanha perda, pois a quase todos criara, em sua casa, desde meninos.

Aqui e acolá, Zurara deriva para outros episódios, como é o caso das Ilhas Canárias, fala da Madeira e do Porto Santo e de novo regressamos à terra dos negros, como Gil Eanes como capitão. No Cabo do Resgate tomaram 46 mouros e houve escaramuças. Para trás ficara o episódio de na região da Guiné, num imenso paul, Diogo Afonso e mais quinze, passaram à frente dos outros e penetraram num arvoredo muito denso e foram surpreendidos, de través, por uns guinéus armados de azagaias, e Zurara escreve:
“Então, correu sangue da nossa gente das terras de África, pois quis a má fortuna que, de sete feridos, morressem logo cinco – dois portugueses e três estrangeiros, dos que acorriam de longe, tentados pela fama de aventuras, e pela largueza de alma do senhor Infante”.

O relato encaminha-se para o seu termo, sempre ziguezagueando na cronologia. Em 1447, o Infante envia caravelas a um lugar chamado Meça, lá voltaram João Fernandes, que vivera sete meses entre os naturais da terra de Zaara, e Diogo Gil, e Rodrigueanes, entre outros, houve tempestade e tiveram que regressar ao reino. E assim escreve Zurara:
“Foram correndo os anos; e, à medida que passavam, tanto se acostumaram os moradores de Lagos, por aquelas terras de mouros, e tamanha confiança ganharam, por sobre as ondas do oceano, que já os homens não se contentavam em viajar até África para guerrear os infiéis e dilatar a lei de cristo. Mas até houve alguns pescadores que abandonaram os lugares conhecidos de seus pais e avós e foram deitar as redes no mar africano. Muitos dos que na conquista de Guiné se esforçaram, puderam ver, por lá, as águas coalhadas de peixe; e, ao tornarem, rogaram a D. Henrique permissão de longínqua pescaria”.

Zurara findou a sua crónica em 18 de fevereiro de 1453. O documento que escreveu é peça fundamental para a história dos descobrimentos henriquinos. Continua a ser polémico, nesta extensa e nebulosa costa da Guiné, saber quem chegou e quando à terra dos negros, os historiadores debatem e não se entendem quanto à data rigorosa da chegada ao que foi a Guiné onde tivemos praças e presídios até que no século XIX se deu a ocupação e nasceu aquela Guiné que é hoje a Guiné-Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14286: Notas de leitura (684): “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, por Gomes Eanes da Zurara, adaptação de Frederico Alves, edição da Agência Geral das Colónias (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14305: Inquérito online: só um em cada quatro de nós admite que não mudou muito, física e/ou psicologicamente. Resultados preliminares: 65 respostas


Guiné > Região de Tombali > Nhala (a nordeste de Buba) > 1974 > Agosto de 1974 > Os "Unidos de Mampatá", em final de comissão, foram despedir-se dos "periquitos" de Nhala (2ª CCAÇ/BCAÇ 4513)... À esquerda, assinalado por um quadrado amarelo, o nosso António Carvallho, o Toni, mais conhecido por Carvalho de Mampatá. Esta foto foi o pretexto para a nossa sondagem desta semana.

Foto: © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


A. Resultados preliminares da nossa sondagem (n=65)

"AO FIM DESTES 40/50 ANOS, MUDEI MUITO, FÍSICA E PSICOLOGICAMENTE" (RESPOSTA MÚLTIPLA)





1. Sim, mudei muito  > 17 (26%)

2. Mudei muito fisicamemnte  > 29 (44%)

3. Mudei muito psicologicamente  > 24 (36%)

4. Não, não mudei muito  > 18 (27%)

5. Não mudei muito fisicamente  > 13 (20%)

6. Não mudei muito psicologicamente  > 15 (23%)

7. Não sei > 2 (3%)


Votos apurados: 65

Dias que restam para votar: 4 (até ao dia 3 de março)

B. Comentário do Carvalho de Mampatá (*)


Caro Luís: Eu e o meu irmão (posso falar por ele) não nos zangamos por coisa pouca ou por nenhuma coisa. Sobre nós podes publicar tudo porque sabemos que és um rapaz muito ajuizado e jamais publicarias o impublicável. Devo acrescentar que ambos ficámos muito contentes, para não dizer envaidecidos, por sermos alvo da tua atenção, mesmo sabendo que isso se deve à circunstância pouco comum de ambos termos estado no mesmo conflito.

Já agora quero-te informar que o meu irmão é que me deu conta deste post, em comunicação por telemóvel. Na verdade ele dedica-se mais ao computador do que eu e, por isso, costuma alertar-me sempre que aparece algo de novo por estas bandas. Eu, normalmente, só pela calada da noite é que abro esta caixa. 

Sobre o inquérito, já respondi dizendo que estou diferente, física e psicologicamente, porque as marcas da idade e dos escolhos da vida são inelutáveis.

Aproveito para, reiteradamente, manifestar-te a minha gratidão por tudo o que tens feito em prol da manutenção deste nosso blog, intervindo algumas vezes com sabedoria e paciência para curar uma ou outra ferida que, às vezes, emerge.

Um abração
Carvalho de Mampatá.

C. Comentário do Vasco Pires (Brasil) (*):




(i) (...) Boa pergunta, diria eu, andei até a pensar em fazer um "post "
intitulado "Retrato de um jovem soldado, (re)visto por um sexagenário ".

Me pergunto se aquilo que escrevemos são memórias ou construções mentais.  Memória voluntária?  Memória involuntária?  Escrevo sobre mim, ou o "Alfero di canhão" é um outro?

Forte abraço.
VP

(ii) ... Ao que o nosso editor respondeu nestes termos: "Vasco, fico a aguardar o teu poste... Se a nossa pergunta é boa, a tua questão ainda é melhor: (...) "Me pergunto se aquilo que escrevemos são memórias ou construções mentais. Memória voluntária? Memória involuntária? Escrevo sobre mim, ou o 'Alfero di canhão' é um outro?" (...)

(iii) Resposta imediata do Vasco Pires, o brasileiro mais "bairradino" do Brasil:

(...) "Luis, a tua pergunta, me fez lembrar adaptação de uma frase de um notável escritor,afixada numa República de Coimbra que no original diz: 'eu não sou eu nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio: pilar da ponte de tédio, que vai de mim para o outro' - Mário de Sá-Carneiro" (...).
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14304: Agenda cultural (380): V. N. Famalicão, Museu Bernardino Machado: ciclo de conferências 2015: Portugal na 1ª Guerra Mundial, pelo Cor Aniceto Afonso, hoje, às 21h30




1. Mensagem encaminhada

De: Museu Bernardino Machado

Data: 25 de fevereiro de 2015 às 16:44

Assunto: Convite - Ciclo de Conferências 2015 - Coronel Aniceto Afonso - 27/02

Sinta-se convidado!

O Ciclo de Conferências 2015 é acreditado pelo CFAE de V. N. de Famalicão para os professores dos grupos 200, 300, 400, 410, 420 e 430. 

Inscreva-se já, em http://www.bernardinomachado.org/





Museu Bernardino Machado

Rua Adriano Pinto Basto, n.º 79

4760-114 Vila Nova de Famalicão

Telef. 252 377 733

Site: www.bernardinomachado.org

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14293: Agenda cultural (383): Lançamento do livro "Dez Décadas de Força Aérea", dia 4 de Março de 2015, às 17h30, no Auditório do Estado Maior da Força Aérea, Av. Leite de Vasconcelos, 4 - Lisboa

Guiné 63/74 - P14303: Parabéns a você (869): Luís Moreira, ex-Alf Mil Sapador do BART 2917 e BENG 447 (Guiné, 1970/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14299: Parabéns a você (868): João Carlos Silva, Amigo Grã-Tabanqueiro, ex-1.º Cabo Esp MMA (Força Aérea Portuguesa, 1979/82)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14302: Recordando a Operação Revistar (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 11 de Fevereiro de 2015:

Caros Camaradas:

Envio-lhes a “Operação Revistar”, quando da sua preparação, mereceu decerto a atenção devida, até pela ambição do projecto. Destruição de acampamentos; capturar o chefe Nino Vieira e apanhar armamento e documentação do PAIGC. Era obra…

Enquanto a NT, principalmente os nossos Comandantes Militares, planeavam a Acção mortífera, o “nosso deles” Serviço de Informação, funcionou ao contrário. O informador “jogava com um pau de dois bicos”, toda a Guiné sabia, e mais que eu… talvez até o nome da Operação.

Grande fracasso! E como existe medo de se contar a verdade, surge a mentira. Vivi tudo isto.
Estive dias beliscando papéis no Arquivo Histórico-Militar. Encontrava um, faltava-me outro, mas reuni estes elementos. Tenho fotocópias de tudo, poderia ter escrito mais. Gostava de saber por que razão camaradas da CCAÇ 1620 não respondem aos meus mails, e um até foi mal educado, porque nem sequer lhe tinha dito quem era já me tinha respondido que “não queria comprar nada”.

Por que razão na História da Unidade da CCAÇ 1620 não falam desta Operação?

Um abraço
Mário Vitorino Gaspar




OPERAÇÃO REVISTAR

Acabado de gozar Licença na Metrópole, em Bissau só se falava de uma Operação a efectuar no Sector 2, onde a CART 1659 estava agregado em termos operacionais por ser no caso uma Companhia Independente.

Escrevi uma carta à minha mulher que “estava já farto de Bissau, porque aqui só se fala em guerra”. Sou chamado ao Quartel-General, encontrava-me hospedado no Hotel Portugal, e lá me foi dito que tinha de partir com urgência para Gadamael. Respondi que não tinha transporte nos barcos tão depressa, e disseram para ir ao aeroporto que partiria de avioneta para Gadamael Porto. 

Pouco descansei, seguimos com um Grupo para Mejo a 30 de Novembro. A CCAÇ 1591 partiu para a Operação. O ambiente, passado pouco tempo era escaldante, tínhamos conhecimento do que se ia passando. Surgiam muitos evacuados por insolações. Analisei militarmente a situação e concluí que iríamos todos os que fazíamos a segurança a Mejo, chamados a intervir na Operação. 

Comecei por escrever cartas de despedida para os familiares, namoradas e amigos. Entreguei-as em mão a um camarada Furriel Miliciano de Mejo, pedindo-lhe que as guardasse, e no caso de não regressar que as colocasse no Correio. Conhecia bem Mejo, Quartel onde estava destacada a CCAÇ 1591, comandada pelo Capitão de Infantaria Luís Carlos Loureiro Cadete. O então Capitão Cadete já era meu conhecido do CISMI, em Tavira. Tinha sido o meu Comandante do Pelotão da Especialidade de Armas Pesadas, Especialidade que iniciara a Agosto de 1965. Ele na altura era Alferes, a famosíssimo Alferes Cadete, tão conhecido por todos os Sargentos Milicianos.

Mas a “Operação Revistar”, e segundo o que se pode ler na História da Unidade da CART 1613, destacada em Guileje, não se desenrolou de 1 a 3 e de 6 a 7 de Dezembro de 1967, já teriam sido efectuadas outras Operações Secundárias da “Operação “Revistar”, por parte da CART 1612, com Montagem de uma base de fogos em Nhacobá (com Pelotão de Morteiros 1086, Pelotão de Milícias 137 e CCAÇ Nativos). Causaram ao IN 5 feridos confirmados. As NT sofreram 1 morto, 3 feridos graves e 6 ligeiros. 

Também existem sinais da intervenção da CCAÇ 1622, Patrulhamento e Emboscada no “Corredor de Guileje” onde as NT foram flageladas à distância. Isto no dia 27 de Novembro de 1967.

A CCAÇ 1622 viria a ser a maior vítima da “Operação Revistar”, que tinha por objectivo a Acção ofensiva em diversos acampamentos do PAIGC e o aprisionamento do chefe Nino Vieira. Participaram na “Operação Revistar”, a CCAÇ 1622; CCAÇ 1591; CCAÇ 1624 e CART 1613.

No dia 3 (de dezembro de 1967), teve a Companhia, 3 feridos (um Oficial, um Sargento e um Soldado; 18 evacuados por esgotamento físico e dois por doença).

No dia 6, repete-se a Operação, e para além das Companhias que tinham estado na 1.ª Acção no terreno, foram reforçados com a minha CART 1659 e CCAÇ 1620.

Na História da Unidade da CCAÇ 1620, nem uma linha sobre a “Operação Revistar”, entretanto esteve lá.

Na História da Unidade da CART 1659 consta:

“De 1 a 3 e de 6 e 7 de Dezembro de 1967, feita a Operação Revistar, uma Acção ofensiva na Península de Salancaur, tendo as forças da CART 1659 colaborado numa primeira fase, montando segurança ao aquartelamento de Mejo. Numa segunda fase, participaram da operação juntamente com as forças da CART 1613 e CCAÇ 1591, 1622 e 1624. Os objectivos previstos não foram atingidos devido ao esgotamento físico das nossas tropas”.

Na História da Unidade da CCAÇ 1591, repetem-se as dificuldades que a NT teve ao percorrer matas fechadas, calor intenso o que provocou o agravamento do estado físico das NT. Termina dizendo que a Companhia acusou, notoriamente, as 5 noites ao relento, dormindo no chão e a falta de alimentação capaz, antes de iniciar a Operação.

Na História da Unidade da CCAÇ 1624, repete-se o mesmo, só com mais 15 evacuações (1 Oficial e 1 Sargento), não existindo condições para se concluir a Operação.

No dia 7 de Dezembro encontrei-me com o Comandante da “Operação Revistar”, o Capitão Luís Carlos Loureiro Cadete. Estranho,  por nunca nos termos encontrado, quando ia tantas vezes a Mejo e a sua CCAÇ 1591 as visitas que fazia a Gadamael Porto. Olhou-me, e reconheceu-me. Mesmo junto da bolanha, com a zona a atingir escondida, faziam-se evacuações. O helicóptero ali perto, e foi ele que iniciou a conversa. Perguntou-me o que pensava da Operação.

- Quem está a sobrevoar sobre nós a todo o momento, e que ao mesmo tempo nos localiza? -  perguntei eu.

Respondeu que era o Comandante da Operação. Falei-lhe que toda a Guiné, de certeza sabia daquela Operação, e qual a razão do Comandante da Operação não pisar terra e ver o estado de espírito das NT.. Com certeza que o PAIGC se juntara todo na Península de Salancaur. Respondeu-me que, segundo informações recolhidas,  o PAIGC tinha 20 Canhões S/R, apontados para a bolanha, bolanha essa por onde entraríamos.

Segundo o que se dizia, Paraquedistas, Fuzileiros e Comandos actuariam do lado oposto da bolanha, depois de nós iniciarmos o avanço. Logo após os primeiros passos cairiam sobre nós e poucas possibilidades de sobreviver. O Capitão chamou o Comandante a terra, saiu de um helicóptero com um camuflado acabado de sair do Casão, muito gordo.

Passado pouco tempo dão-nos ordens para irmos para Mejo. Caminhada rápida. Lembro-me que nem um gole de água bebera do cantil. Perguntei a todos se tinham sede. Ninguém quis. A dentadinha na palha verde do capim era eficaz, molhava os lábios. Rindo, depois de ouvir de todos que não queriam água, despejei o cantil sobre a cabeça. Chegado a Mejo, pedi as cartas ao Furriel Miliciano, meu camarada e rasguei- as. Bebi a minha dose de cerveja. Seguimos de imediato para Gadamael.

Não se entende a razão de logo no dia seguinte o Capitão de Infantaria Luís Carlos Loureiro Cadete foi em coluna auto para Cacine, e no dia 10 embarcou com destino a Buba, via Bolama. Buba (curiosamente era a Sede do Sector 2 em termos operacionais). Foi afastado devido ao fracasso da Operação Revistar? Não sou capaz de encontrar uma outra resposta. Não conheço nenhuma rendição nestes termos.

Sobre a actividade da Força Aérea nada é focado, mas que a aviação esteve lá não me podem negar. Dias antes já actuava, e em força, bombardeando constantemente a Península de Salancaur.

Em relação aos motivos que levaram que a Operação não fosse concluída, todos falam em desgastes nas NT.

Estavam Paraquedistas, Fuzileiros e Comandos do lado contrário da Bolanha? E a aviação?

Uma Grande Operação falhada. Quem foram os culpados?

Estes também foram para mim dias horríveis, 7 dias consecutivos que não esqueço.

Nota: - Pena que o Blogue não tenha camaradas destas Companhias. Ou tem? Colaborem para tentarmos encontrar uma resposta. Assim se pode colocar a verdade na história da Guerra Colonial.

Mário Vitorino Gaspar

Guiné 63/74 - P14301: Pensamento do dia (20): "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus, checas". (Grafito, c. 1968/70)


Moçambique > Mueda > CART 2369 (1968/70) > O 2º sargento miliciano Sérgio Neves (que também passou pela Guiné), irmão do nosso camarada Tino Neves, junto a um mural onde se lê: "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus,  checas". Recorde-se que o checa, em Moçambique, era o nosso pira ou periquito, na Guiné (ou maçarico, em Angola). (**)

Foto: © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados.[Editada por L.G.]


1. Comentário do editor:

Pode ser uma boa frase ou um pretexto para uma reflexão à volta do tema da sondagem desta semana (*). Em que   medida a guerra muda os combatentes, física e psicologicamente ? E como é que os antigos combatentes, nomeadamente os que passaram pelo TO da Guiné,  se veem hoje, 40 ou 50 anos depois ?... Obviamente, o grafito (a frase inscrita na parede, algures num quartel em Mueda, no norte de Moçambique,. por volta de 1968/70) não tem que ser tomado à letra... Tem um sentido figurado. (**)

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(**) Último poste da série > 25 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14297: Pensamento do dia (19): A sociedade de Brunhoso (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P14300: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXII: novembro de 1973: crescente africanização da guerra de contraguerrilha no setor L1: são a CCAÇ 12 e a CCAÇ 21, constituídas por militares do recrutamento local, quem se arrisca a ir à sempre temida região do Poindom / Ponta do Inglês


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > c. 1970/72 > Paisagem típica da bacia hidrográfica do rios Geba e Corubal.

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente indicamos); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; foto atual à esquerda].

O destaque do mês de novembro de 1973 (pp. 74/77) vai para:

(i) fraca atividade do IN no setor L1 (Bambadinca), com flagelações ao Enxalé e ao Xime; intensificação da atividade no sul da província, no subsetor de Cobumba (onde o BART 3873 tinha uma companhia destacada, a CART 3493, que antes guarnecia  Mansambo);

(ii) crescente pressão do PAIGC sobre as populações sob o seu controlo na zona de Madina/Enxalé;

(iii) crescente "africanização da guerra de contraguerrilha" no setor L1: são a CCAÇ 12 (agora unidade de quadrícula do Xime) e a CCAÇ 21 (unidade de intervenção ao serviço do comando do BART 3893), ambaS "constituídas por militares do recrutamento provincial", quem se arrisca a ir à sempre temida região do Poindom / Ponta do Inglês; percebe-se: os "tugas" do BART 3893 estão em fim de comissão;

 (iv) a CCAÇ 21, comandada pelo ten comando graduado Jamanca,  tinha regressado ao setor L1 (Bambadinca), vinda do setor L6 (Pirada); a ela pertencia o nosso saudoso Amadu Bailo Jaló (1940-2015), com o posto de alferes comando graduado;

(v) visita,  a Bambadinca, de jornalistas brasileiros e dinamarqueses.

(vi) reafirmação do "perfeito entendimento" entre civis e militares e entre militares europeus e guineenses;

(vii) atribuição do "13º mês", beneficiando os militares do recrutamento provincial;

(viii) Sexa Governador e Com-chefe, gen Bettencourt Rodrigues visita, pela 1ª vez, Bambadinca, no exercício das suas funções; guarda de honra constituída por uma companhia a três pelotões; 

(ix) preocupações, do comando do BART 3873,  com o crescente entendimento do Senegal com o PAIGC.










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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14189: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXI: outubro de 1973: Flagelação, pela primeira vez, do reordenamento de Nhabijões, de maioria balanta, com parentes no mato...

Guiné 63/74 - P14299: Parabéns a você (868): João Carlos Silva, Amigo Grã-Tabanqueiro, ex-1.º Cabo Esp MMA (Força Aérea Portuguesa, 1979/82)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14295: Parabéns a você (867): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14298: (Ex)citações (262): A questão do afecto entre o povo de Portugal e o povo da Guiné-Bissau (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 7 de Fevereiro de 2015:


A questão de afecto entre nós e o povo da Guiné-Bissau

Hoje as nossas relações com o povo da Guiné, leio-as à luz da saudade daquela terra e da juventude que tinha quando por lá passei.

Éramos homens simples que foram conviver com gente simples e, ao contrário de outras potências coloniais, nós não tínhamos conceitos racistas, nem estávamos espartilhados por proibições de relacionamento com autóctones, antes pelo contrário era promovida num são relacionamento ditado pela “psicola” base da política de Spínola por uma "Guiné Melhor" com que ele contava ganhar a guerra. Essa política oficial tinha outras intenções que visavam atingir outros ganhos é verdade, mas na nossa educação nunca constou a palavra apartheid desde Afondo de Albuquerque, que promoveu a cruzamento dos portugueses das caravelas com as indígenas, dando origem ao termo que Deus criou o Homem e os portugueses criaram a mestiçagem da Índia, Ceilão, Brasil e África, bem sabemos que nem sempre pacifica.

Amizade ou necessidade.

Os guineenses guardam também muitas recordações e afectos agravados pelo falhanço das transformações políticas em que a independência se atolou na luta política, na corrupção e prepotência dos novos dirigentes, que rapidamente se esqueceram por que tinham feito a guerra e do bem-estar do seu povo e ao contrário disso, foram as vinganças sórdidas que tanto sangue fez correr. Mistura-se assim a necessidade com a amizade.

A esperança deu lugar à descrença. As infraestruturas que nós construímos bem como as que os países doadores puseram ao dispor dos novos governos, para a melhoria do nível de bem-estar das populações, deram lugar a elites e à sua destruição nos conflitos que após a independência eclodiram entre facções e etnias.

Depois do descalabro das instituições e a falência do estado pós-independência, os guineenses rapidamente se aperceberam do duríssimo caminho que tinham para percorrer sem a nossa economia de guerra, com milhares de soldados e milícias a receberem ordenado, a nossa assistência médica, e do comércio que era exercido juntos aos quartéis, bem como o apoio logístico que era dado às populações. Os últimos dez anos da nossa soberania sobre os territórios tinham resultado num salto em frente, em praticamente todos os sectores, o que se acabou por perder.

Não era nem devia ter sido assim e era espectável ser diferente. Devia esse povo ter seguido em frente e alcançar o que não tinha conseguido, até ali governado por outros interesses que não os seus. Não sabiam que tudo isso estava a custar demasiado a Portugal e que a nossa economia não podia suportar por muito mais tempo aquele estado de coisas, talvez devido à estreiteza da visão política e económica com que Lisboa olhou para os territórios ultramarinos durante décadas, onde praticamente se impediu o crescimento e a autossustentabilidade.

Apesar de tudo, as nossas relações hoje são pautadas pela a ajuda solidária a nível de organizações que vivem das contribuições de ex-militares e pouco ou nada a nível institucional. Ainda há dias li o que escreveu uma cooperante quanto às dificuldades em desbloquear equipamentos, bem como medicamentos, pelos serviços aduaneiros excessivamente “zelosos e burocráticos” da Guiné-Bissau.

Mas quando falamos da Guiné, o coração amolece logo pois é um país muito pobre. Rapidamente são esquecidos os maus bocados que lá passámos, bem como os desmandos e razões que levaram parte dos guineenses, na esteira de outros povos africanos e asiáticos, a exigirem as suas autodeterminações antes mesmo de pegarem em armas.

Em abono da verdade essas exigências foram mal recebidas praticamente por todas as potências administrantes, que como se sabe os obrigou a lançarem-se em guerras contra a ocupação, e não poucas as vezes fratricidas, que levaram a utilização de uma violência entre eles muitas vezes superior à que foi utilizada contra os ocupantes.
Talvez muitos se tenham arrependido, mas quem sabe quantas pedras e curvas tem o caminho, antes de lá passar?

Mas tudo passou e nós nunca fomos maus rapazes e como tal, numa relação de irmãos ricos e pobres, hoje só não damos mais porque não podemos. E essa é a grande verdade.

Paz para eles e para nós que bem precisamos.

JA
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Nota do editor

Vd. último poste da série de > 20 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14275: (Ex)citações (261): Uma coisa posso dizer com clareza: o povo guineense é um povo digno de admiração (Manuel Joaquim, membro da ONGD Ajuda Amiga)

Guiné 63/74 - P14297: Pensamento do dia (19): A sociedade de Brunhoso (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 21 de Fevereiro de 2015:


A Sociedade de Brunhoso

Volto a Brunhoso como quem volta ao principio do mundo, foi lá que começou para mim o despertar das sensações e dos sentidos. Recordo ainda a primeira vez em que me reconheci ao espelho, provavelmente será a recordação mais antiga que tenho. Sei que foi na varanda da casa dos meus avós maternos. Não sei porque estava esse espelho que até era bastante grande na varanda. Nunca mais esqueci a surpresa e o espanto ao descobrir que o miúdo, de olhos azuis e cabelo arrepiado e loiro, que do outro lado do espelho olhava para mim, não era ninguém, mas a minha imagem refletida.
Olhando para dentro de mim, fazendo a tal introspeção de que falam os psicólogos, vejo-me num espelho já baço, que me devolve uma imagem que não me entusiasma tanto como o espelho da varanda.

Embora me tenha procurado estudar ao longo de todos estes anos de vida, do que consegui entender pouco encontrei que não fosse comum aos meus semelhantes. Não vou falar de mim, não vou falar das minhas qualidades, se é que as tenho, nem nos meus defeitos. Já aprendi com a vida que nunca devemos ter uma opinião demasiado optimista de nós próprios, pois nesse caso daremos aos outros a imagem ridícula de pavões de plástico insuflados de vento. Também nunca devemos ter uma opinião demasiado pessimista pois isso pode ser a via para uma vida de queixumes e auto-comiseração que nos pode levar a um mau fim. O melhor é pensarmos que somos como a maioria, um entre tantos, perdidos ou despercebidos na multidão.

Ao olharmos com muita insistência para o nosso umbigo, podemos ter o desgosto de pouco ou nada conseguirmos ver para além dele..
O melhor é estarmos atentos às realidades exteriores, estarmos atentos aos outros pois vêm-se melhor e ao conhecê-los aprendemos a conhecer-nos a nós próprios pois não somos muito diferentes. Somos todos macacos que evoluíram e até aprendemos a escrever.

Hoje neste regresso às minhas origens procuro entender e perceber os meus conterrâneos de menino e jovem e os que os antecederam. Sobretudo procuro entendê-los na sua verticalidade, na sua honra, na sua lealdade de uns para com os outros, na sua fidelidade à palavra dada, na sua hospitalidade. Não fantasio, na minha infância e juventude tudo isto era autêntico, tudo isto era real.
Pela história que tenho lido de várias fontes, livros, jornais, revistas, testemunhos dos mais velhos procuro conhecer e interpretar esse povo de Brunhoso a que pertenço e compreender as suas vidas e comportamentos.

Pastor de Brunhoso
Foto retirada do Blogue Brunhoso, com a devida vénia ao seu autor

Brunhoso no passado foi uma sociedade de subsistência e como tal pobre, onde as pessoas viviam com muito trabalho e com pouca fartura. Nesse tipo de sociedade não há lugar ao desperdício nem ao supérfluo. Nesses tempos antigos as pessoas à noite, antes de se deitarem, acubilhavam o lume, para guardar brasas para o acender na manhã seguinte e dessa forma pouparem um fósforo. Comia-se o que dava a terra e a carne dos animais que cada um criava, as aves e o porco, do qual se aproveitava tudo, até as tripas para fazer o fumeiro. Na casa dos meus pais, lavradores remediados, recordo-me dos dias de segada, no pino do verão, em que eram chamados muitos homens à jeira. Nesses dias, os trabalhadores tinham que ser bem alimentados, pois estavam sujeitos a um esforço enorme, e a nossa alimentação em casa também melhorava. Eu que lhes ia levar muitas vezes as refeições às searas, gostava sobretudo de comer com eles, pelas nove horas da manhã, as sopas de centeio com azeite rijado, alho e colorau, cada um com uma colher cerca de oito por cada tacho.

Uma sociedade de subsistência é uma sociedade que vive do essencial e que tem um grande respeito por tudo o que é essencial, a vida, a morte, os alimentos como o pão, o azeite e o vinho, são produtos quase sagrados, necessários à vida e às cerimónias religiosas.

A grande alteração dos costumes dos valores e mentalidades fazem já parte da história da minha vida, pois terá acontecido nos anos 60, quando se dá a grande emigração para a França e outros destinos europeus.
A "fuga" para o estrangeiro estendeu-se a todas as famílias de trabalhadores da terra e sobretudo aos mais válidos. Brunhoso sofreu uma devastação enorme, uma sangria terrível. A partir daí as relações económicas e de trabalho ficaram alteradas.e tudo se vai modificar, os costumes, os valores, as mentalidades. Os terrenos eram pobres e só eram rentáveis porque a mão de obra era barata. Com a debandada dos trabalhadores a mão de obra escasseia e fica mais cara, a mecanização da lavoura é dispendiosa e o retorno que dá em rendimento é fraco ou nulo. Quando escrevi no P12388(*) sobre o dia das sortes, disse que quatro dos meus "praças" já tinham partido para Angola ou Brasil mas esqueci-me de referir que os outros três, que fizeram a inspeção comigo, vieram propositadamente de França, para "dar a tropa" segundo a expressão deles. Não sei se vieram por medo ou por amor à Pátria, pois a Pátria poucos benefícios lhe tinha dado além duma professora que os enchia de bofetadas e reguadas se não soubessem as lições de história e geografia.

A revolução de Abril de 1974 irá dar outra compreensão aos habitantes das aldeias e campos de Trás-Os-Montes e outras terras do interior, mas eles já tinham feito a sua revolução.

As revoluções anteriores, a Liberal e a Republicana, nada tinham alterado nas suas vidas, os seus parcos recursos e as condições de trabalho nos anos cinquenta do século passado, reportavam à Idade Média. Quando as condições são difíceis e não conseguimos melhorá-las a atitude mais inteligente obriga-nos a conformar-nos com elas e a procurar sermos felizes dessa forma. Nessa sociedade escalonada, entre trabalhadores sem terra, muito poucos, pois uma hortinha quase todos tinham, pequenos lavradores que embora tendo já alguns bens, eram obrigados a trabalhar para os outros, os dez ou quinze lavradores "remediados" pois sem ter que trabalhar para os outros e tendo que chamar outros nas colheitas, trabalhavam as suas terras. Restam os ricos, no topo da pirâmide, quatro famílias poderosas, cujos proprietários não trabalhavam e tinham muitos a trabalhar para eles. Mesmo estes ricos não viviam duma forma muito faustosa pois para pôr os filhos a estudar por vezes viam-se com dificuldades. Estas relações entre uns e outros com as suas diferenças e desníveis perdiam-se na bruma dos tempos pelo que cada qual as aceitava sem pensar em culpas ou injustiças, enfim era o destino de Deus.

Pobres ou ricos, todos eram amigos embora houvesse queixas, como há sempre nas relações entre homens. Por exemplo, patrão que dava pouco vinho aos trabalhadores era "falado" e pouco considerado entre eles.

Sem que houvesse qualquer sindicato, os trabalhadores nem conheciam tal palavrão, mesmo nesse tempo de ditadura faziam chegar algumas revindicações aos lavradores. Lembro-me de ouvir o meu pai, fixei-lhe as palavras, sem lhe conhecer todo o significado social, pertencia aos lavradores remediados, dizer para um irmão ou cunhado o seguinte:
- Olha que os homens este ano querem mais um escudo por jeira!

Nunca soube quem era o porta-voz das revindicações. As casas mais ricas, por vezes com bastante regularidade, outras vezes atendendo à miséria de alguns anos, eram bastante permissivas com os mais pobres e deixavam que eles fossem "roubar" lenha, pastar os animais para os seus lameiros e davam também bens de primeira necessidade como pão, batatas, azeite e até forragem para os animais. Precisavam todos uns dos outros, daí também esta "caridade", não de todo desinteressada. Esta era a sociedade ideal que o ditador sempre quis para Portugal, humildes, trabalhadores, tementes a Deus e respeitadores da ordem estabelecida. .
Porém esta sociedade não foi obra dele, pois esta é uma sociedade que vem de séculos antigos que os reis, os senhores feudais e a Igreja criaram. Afinal ele terá nascido e sido criado numa sociedade semelhante e quis reproduzi-la num país inteiro.
Como disse atrás, as revoluções liberal e republicana, mais viradas para as grandes cidades e o litoral, passaram muito longe do Portugal interior.

Com a emigração dos anos sessenta e setenta, surgem os trabalhadores, que à custa de muito trabalho, muitas privações e sacrifícios, amealham muitos milhares de francos que numa primeira fase servirão para adquirir algumas terras que nunca tiveram e construir casas com melhores condições na aldeia. A febre dos francos era tal que até um tio meu, um lavrador "remediado", bastante aventureiro, que nunca tinha trabalhado para outros, já com mais de cinquenta anos, resolveu ir "a salto" para a França. Só conseguiu aguentar lá meio ano pois as condições eram mais duras do que ele pensava.

Nessa sociedade medieval desnivelada e pacifica, vivi contente, outras vezes descontente, mas eram tempos de mais alegria e entusiasmo pois foram os anos da infância e da adolescência. Os homens dessas sociedades, condenados a viver num espaço confinado, onde os parentescos se cruzavam entre todos e até por vezes o mais pobre podia ser irmão do mais rico, e a terem que encarar-se quase diariamente eram obrigados a serem leais e solidários. As sociedades mais pobres, talvez por causa da escassez de bens materiais, cultivam bastante e gostam de o demonstrar com algum orgulho certos valores espirituais e sociais como a lealdade, a honra e a hospitalidade. Atente-se aos berberes e a algumas tribos de árabes. Não sei se consigo dar a razão mais correta desse comportamento.

Nesse meio pequeno, a palavra dada e a honra eram como moedas de troca que garantiam a qualquer habitante desse universo limitado que teria sempre um amigo por perto, em quem podia confiar, em caso de necessidade. A hospitalidade que se cultiva faz parte dessa sociedade comunitária que desde tempos antigos teve que se defender do frio, da fome, dos lobos ou outros animais selvagens. Essa hospitalidade estende-se aos forasteiros que são sobretudo habitantes de terras próximas ou até longinquas. Inicialmente terá sido instituída para alimentar os homens em trânsito ou deslocados posteriormente terá ficado como uma prática cavalheiresca.

Brunhoso, esse paraíso para uns e um campo de trabalhos para outros, mas onde afinal se coexistia com uma felicidade relativa, está a acabar, a emigração e os média, acabaram com a sociedade de subsistência e impuseram a sociedade de consumo, onde tudo tem um preço convertível em dinheiro, até a lealdade, a palavra e a honra. Essa sociedade de subsistência com a evolução e a globalização estava condenada a acabar.
Duma sociedade de miséria, desigual mas fraterna, passamos para uma sociedade individualista e miserável, onde temos que estar sempre precavidos dos aldrabões, traficantes e trafulhas. Ficamos abertos aos produtos que a sociedade moderna e tecnológica fabrica, muitos deles necessários porque o markting os impõe como tal. Ficamos expostos aos vendilhões do templo que se insinuam nas televisões no intervalo das telenovelas.

Hoje a minha memória vagueia entre cá e lá, entre essa sociedade antiga e fraterna mas desigual que obrigou muitos dos meus conterrâneos a dar sesse grande salto que lhes deu dinheiro mas também muita humilhação e sacrifícios e, a sociedade de consumo, sociedade de banqueiros e financeiros, homens sem rosto e sem honra que nos governam e nos roubam a dignidade e o dinheiro.
As experiências têm falhado, mas tem que haver uma sociedade alternativa.

Não podemos, não devemos esquecer que os portugueses descobridores, povoadores, viajantes, emigrantes, dispersos por toda a Terra, há quinhentos anos descobrimos os caminhos da Terra inteira.

Talvez possamos fazer mais essa descoberta. .

Um grande abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
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Notas do editor

(*) vd. poste de 4 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12388: Estórias avulsas (73): O Dia das Sortes na aldeia de Brunhoso (Francisco Baptista)

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14289: Pensamento do dia (18): A guerra (colonial) e as nossas mulheres (Tony Borié / António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P14296: Inquérito online: quando um irmão (e camarada) não "reconhece" outro irmão (e camarada)... Será que mudámos assim tanto nestes últimos 40/50 anos, com 3 de tropa e de guerra ?


António Carvalho, o "Carvalho de Mampatá", fur mil enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74


O António Carvalho, hoje 


O Manuel Carvalho,  fur mil armas pesadas inf,  CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70)


O Manuel Carvalho, hoje

Fotos (e legendas): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015). Todos os direitos reservados 


I. Assunto: Quando um irmão (e camarada) não "reconhece" outro irmão (e camarada)... Será que mudámos assim tanto ? 

Camaradas, será que mudámos assim tanto, física e psicologicamente, ao fim destes 40/50 anos ?...  Com um ano de tropa (ou mais) e dois de guerra ? Será que mudámos, até de fisionomia, ao ponto de um irmão mais velho (Manuel Carvalho) não conseguir reconhecer outro irmão, mais novo (o Carvalho de Mampatá, o Toni), numa foto de agosto de 1974, em Nhala ?

Recorde-se que:

(i) o Manuel Carvalho foi fur mil armas pesadas inf,  CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70):
(ii) o António Carvalho, o "Carvalho de Mampatá", foi fur mil enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74;
(iii) quatro anos os separam...

Comentário do Manuel Carvalho ao poste P14291 (*):

"Toni, já agora podias identificar o pessoal porque, apesar de sermos irmãos, nem a ti te reconheço e aos outros muito menos. Ao olhar para aqueles rostos não consigo ver ninguém com cara de querer continuar por ali. E tão pouco saber quem ganhou ou quem perdeu a guerra"... 

Este comentário diz "muito" sobre nós, ex-combatentes que estivemos no TO da Guiné... E é o tema da sondagem desta semana... (A questão é de resposta múltipla, admite mais do que uma resposta; votar, diretamnente, na coluna do lado esquerdo, no canto superior da página de rosto do blogue).

II. SONDAGEM: "AO FIM DESTES 40/50 ANOS, MUDEI MUITO, FÍSICA E PSICOLOGICAMENTE" (RESPOSTA MÚLTIPLA)


1. Sim, mudei muito

2. Mudei muito fisicamemte

3. Mudei muito psicologicamente

4. Não, não mudei muito

5. Não mudei muito fisicamente

6. Não mudei muito psicologicamente

7. Não sei
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 24 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14291: Fotos à procura de... uma legenda (53): Os "Unidos de Mampadá", à despedida, em Nhala, em agosto de 1974... (António Murta / António Carvalho / José Manuel Lopes)

Guiné 63/74 - P14295: Parabéns a você (867): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14290: Parabéns a você (866): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66) e Manuel Henrique Quintas de Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista das LDM 301 e LDM 107 (Guiné, 1971/73)