quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14301: Pensamento do dia (20): "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus, checas". (Grafito, c. 1968/70)


Moçambique > Mueda > CART 2369 (1968/70) > O 2º sargento miliciano Sérgio Neves (que também passou pela Guiné), irmão do nosso camarada Tino Neves, junto a um mural onde se lê: "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus,  checas". Recorde-se que o checa, em Moçambique, era o nosso pira ou periquito, na Guiné (ou maçarico, em Angola). (**)

Foto: © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados.[Editada por L.G.]


1. Comentário do editor:

Pode ser uma boa frase ou um pretexto para uma reflexão à volta do tema da sondagem desta semana (*). Em que   medida a guerra muda os combatentes, física e psicologicamente ? E como é que os antigos combatentes, nomeadamente os que passaram pelo TO da Guiné,  se veem hoje, 40 ou 50 anos depois ?... Obviamente, o grafito (a frase inscrita na parede, algures num quartel em Mueda, no norte de Moçambique,. por volta de 1968/70) não tem que ser tomado à letra... Tem um sentido figurado. (**)

_____________


(**) Último poste da série > 25 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14297: Pensamento do dia (19): A sociedade de Brunhoso (Francisco Baptista)

3 comentários:

Luís Graça disse...

O lobo e o cordeiro fazem parte das nossas histórias de infância... Quem não se lembra da fábula do Lobo e do Cordeiro, cuja autoria mais antiga é atribuída ao grego, escravo, Esopo Esopo (620—560 a.C.)...

O francês Jean La Fontaine (1625-1695) popularizou e imortalizou este género literário em que se se atribuem aos animais qualidades antropomórficas (por exemplo, a fala) para melhor escalpelizar e criticar os defeitos dos homenms, da vaidade à prepotência...

A propósito do pensamento do dia, aqui vai esta, do Jean de La Fontaine: Fábula: "O Lobo e o Cordeiro"


Fábula: O Lobo e o Cordeiro

Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo, também bebendo da água.

- Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo - disse o lobo, que estava alguns dias sem comer e procurava algum animal apetitoso para matar a fome.

- Senhor - respondeu o cordeiro - não precisa ficar com raiva porque eu não estou sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível acontecer o que o senhor está falando.

- Você agita a água - continuou o lobo ameaçador - e sei que você andou falando mal de mim no ano passado.

- Não pode - respondeu o cordeiro - no ano passado eu ainda não tinha nascido.O lobo pensou um pouco e disse:

- se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo.

- Eu não tenho irmão - disse o cordeiro - sou filho único.

- Alguém que você conhece, algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue. Então ali, dentro do riacho, no fundo da floresta, o lobo saltou sobre o cordeiro,agarrou-o com os dentes e o levou para comer num lugar mais sossegado.

MORAL: A razão do mais forte é sempre a melhor

Jean de La Fontaine

http://pensador.uol.com.br/frase/ODEwMzk1/

Luís Graça disse...

(...) "

Provérbio: Curia Romana non querit ovem sine lana. (manuscrito
Ba 45). Tradução: A Cúria Romana não quer ovelhas sem lã.

(...) Como um dos animais de maior valia e serventia para o homem,
a ovelha sempre contribuiu significativamente para a economia
medieval. Os primeiros dados concernentes à sua criação vêm-nos
dos francos e aproximadamente na metade do século VIII ou IX, sua
carne e lã já eram bem aproveitadas

(...) Como alimento, a carne de ovelha disseminou-se no norte da
Europa e na Itália entre os séculos V e VII. Provavelmente em virtude
de sua docilidade e passividade diante do ser humano como também
de seus predadores naturais, principalmente do lobo, as ovelhas
sempre requereram proteção especial por parte dos criadores. Dentro
da imaginação popular medieval, eram consideradas, não obstante,
animais estúpidos e covardes, que sofriam inapelavelmente as injustiças
cometidas por animais mais fortes. " (...)

Fonte:

Os animais na boca do povo – estudo
dos provérbios na Idade Média
Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

http://www.rotadoromanico.com/SiteCollectionDocuments/PerfilHistoriador/Os_Animais_na_Boca_do_Povo_Estudo_dos_Proverbios_na_Idade_Media.pdf

antonio disse...

Quando em Novembro de 1973 cheguei a Copá Leste da Guiné, também encontrei escrita na fachada do barraco que nos servia de cozinha (já toda rebentada pelas bombas que por lá era hábito caírem)a seguinte frase que nos era destinada:

"PIRA NÃO CHORES QUE EM 1976 VAIS PARA CASA"

No livro "FOTOBIOGRAFIA DA GUERRA COLONIAL" existe uma foto desta inscrição.

António Rodrigues