Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados.[Edição: LG]
Olá, Hélder,
Votei “1 – Sim, mudei muito"!
(*) Vd. poste de 27 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14307: (Ex)citações (263): Eu respondi à sondagem "4. Não, não mudei muito"... Mas acho que mudei, não sei se para melhor, se para pior (Hélder Sousa, ex-fur mil, trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)
1. Comentário de Torcato Mendonca ao poste P14307 (*)
Olá, Hélder,
Ainda pensei, depois de votar, em escrever algo. Quase uma justificação do voto feito. Deixei passar o tempo para ver os resultados.
Votei “1 – Sim, mudei muito"!
Digo-te porquê. Antes de ser militar, fui estudante e nalguns intervalos fiz “diversos”. Caçado, sem esperar, pela tropa, aí talvez na especialidade comecei a sofrer uma metamorfose. Aos poucos, e já mais na Guiné, o rapaz alegre e “bon vivant” foi-se ou, porque não, apagou-se mesmo.
Quando vim, nada ou muito pouco restava do outro. Deram-me várias opções de escolha de vida. Faria amanhã [100 anos], 28 de Fevereiro, esse meu melhor Amigo, esse Homem que me deu o ser e muito saber.
Optei, já o tinha feito em parte, e deixei a adaptação correr. O meu mentor, o meu companheiro- amigo um dia morreu-me. Chorei nesse dia e compreendi que ainda sabia chorar. Mas tinha mudado muito.
Fui sentindo os anos passarem por mim, os meus filhos crescendo. A guerra estava guardada e, de quando em vez, saltitava para o presente e depois de amansada ia-se. Tratava-a com cuidado e sentia que nunca mais voltara de todo, em grande parte talvez. Nem isso. Fisicamente fui envelhecendo, como é natural. Apressado por “aquilo” e pelas cicatrizes físicas.
Mais forte, a parte psicológica foi de certeza a de estabilização mais difícil. Nunca estabilizará. Por isso hoje, velho aos 70 anos, com a saúde (ou falta dela) a mostrar os rombos na carcaça nada tem a ver com a hipotética entrar normal na velhice.
Seria assim? Talvez. Se fosse seria melhor ou pior?
Em nota de rodapé:
(i) O meu Velho serviu, como eu, no RAL 3 (ele, RAL 1) em Évora, tenho aí fotos dele que já apareceram no Blog.
(ii) Um ponto importante, a minha entrada no Blog, o reviver, o desabafar, analisar, criar amigos etc. Este Blog é demasiado importante para os ex-combatentes. Longa conversa…para um dia… (**)
Abraço, T
Vieste mexer na minha memória, os sentimentos que vivi após o regresso. Frases como: "este vem apanhado e nós agora é que o temos de aturar"...
Um forte abraço,amigo, Helder.
Jorge Rosales
Abraço, T
2. Comentário do Jorge Rosales (*) [, membro da nossa Tabanca Grande, desde junho de 2009, foi alf mil da 1ª CCaç Indígena, Porto Gole, 1964/66]
Caro Hélder
Vieste mexer na minha memória, os sentimentos que vivi após o regresso. Frases como: "este vem apanhado e nós agora é que o temos de aturar"...
Não matam mas moem. O apoio só senti o da familia. É por isso que me sinto tão bem, perto do pessoal da Guiné.
Um forte abraço,amigo, Helder.
Jorge Rosales
[, Foto à esquerda, 2011, Tabanca da Linha. Foto de Manuel Resende]
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Notas do editor:
(**) Ultimo poste da série > 26 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14301: Pensamento do dia (20): "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus, checas". (Grafito, c. 1968/70)
3 comentários:
Olá Luís Graça,
Vim á Net e, como sabes,recebo os comenyários post´s etc no gmail. Vi que tinhas postado lá o meu comentário ao texto do Hélder. Não foi revisto o que escrevi ao correr da tecla. Está confuso o que escrevi. Em parte tenho desculpa. Falava do meu Pai que faria HOJE, 28 DE FEVEREIRO 100 (CEM) ANOS. Já sairam aqui no blog fotos dele que foram analisadas pelo Coronel Rubim - uma Bataria de Artilharia, nos anos 40, em formação na Parada do RAL 1 de então e outras com uma viatura Matador e uma anti aérea, se cem me lembro. Eu e o Coronel trocamos mail´s pois ele é,tu sabes, um estudioso da "Arte Militar". Um abraço e gostava de ter hoje abraçado o meu Pai.Foi e é muito importante para mim.
Ab,T.
Luís Graça
1 mar 2015 16:48
Torcato: O teu comentário, acheio-o bonito... Podias ter acrescentado que o teu pai faria 100 anos, ontem, se fosse vivo... Já acrescentei...
Mas vou fazer um poste com algumas das fotos que mandaste, em tempos, do RAL 1... Manda-me uma foto do teu pai quando jovem artilheiro...
Temos a obrigação de relembrar essa geração dos nossos pais... e para mais nossos camaradas, preparados para o que desse e viesse em caso de guerra... O teu ficou por cá, o meu foi parar a Cabo Verde em 1941...
Um abraço. Luis
Olá Luís Graça,
Tens razão. Acontece que estou com "a proa a meter água, de quando em vez" é a idade e os eteceteras, em parte, da terra que aqui falamos.
Assim: - No Blog já se publicaram 2 Post com o assunto; P 2769 - O Matador e P - 2773 - Artilharia . São, para tatamento do assunto uma boa abordagem. O Cor Nuno Rubim e um outro Coronel identificaram a peça Anti Aérea (AA 9,94) pertencente ao Quartel de Cascais. Além disso há outras informações sobre este assunto Artilharis nos anos 40.
Tenho que encontrar mais mas não sei se, além do já publicado, valerá a pena. Tu dirás e eu tentarei encontrar, não é fácil mas...o Poidom era pior e marchava...
Falar de meu Pai é, neste dia, uma saudade que deixa um nó na garganta.
Abraço do Torcato
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