sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9166: Memória dos lugares (166): a paliçada de troncos de palmeira do Cachil (José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)



Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > Março de 1964 > CCAÇ 557 (1963/65) Construção do aquartelamento de Cachil na sequência Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) > À boa maneira do faroeste americano... Em Polibaque, na região do Oio, o Joaquim Mexia Alves também viu, em 1973, um aquartelamento assim, formado por uma paliçada (*) 


Foto: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves:

Obrigado,  caro José Colaço. Pelos vistos o destacamento do Polibaque não era o único forte na Guiné!

Reencaminho para a Tabanca Grande para lhes dar conhecimento da existência de mais fortes na Guiné.

Um abraço amigo e grato do
Joaquim Mexia Alves

2. Mensagem do José Colaço (ex-Soldado Trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65):

Camarigo Mexia Alves:

Em relação ao poste P 9150 (*): Junto em anexo uma foto com muito pouca qualidade, mas era o que havia na altura (e para agravar foi reproduzida de um slide de um DVD).

Em Março de 1964 alguns dos militares da CCaç 557 [ empenham-se] na construção da paliçada do quartel no Cachil. Era assim toda a paliçada e tudo o que servia de paredes, casernas e arrecadações. Os telhados era só chapa de bidões.

Um abraço.

Colaço

PS: O Camarigo Mário Dias ao quartel do Cachil chama-lhe a Fortaleza de troncos de palmeiras !

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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)

Guiné 63/74 - P9165: O nosso fad...ário (6): Fado Canção da Fome: Livrou o autor de levar uma porrada do célebre Pimbas (Manuel Moreira, CART 1746, Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (1968/69) >  Destacamento da Ponta do Inglês > Em primeiro plano, do lado direito, o ex-1º Cabo Mec Auto Manuel Vieira Moreira... Foi aqui, neste destacamento, de má memória para muitos de nós, que o Manuel Moreira escreveu o seu fado, Canção da Fome...

Por detrás dos militares da CART 1746 (unidade de quadrícula do Xime), à mesa, partilhando uma refeição, vê-se uma parede revestida a chapas de bidão... que lá ficaram, quando as NT retiraram do destacamento, por ordem do Com-Chefe, em Novembro de 1968, desguarnecendo a posição estratégica que era a foz do Rio Corubal... (LG)

Foto: © Manuel Moreira (2009). Todos os direitos reservados






Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > Margem direita do Rio Corubal > Foz do Corubal, tendo à direita a Ponta do Inglês, de triste memória para muitos de nós... Mais acima, na margem esquerda, Ganjauará, perto de Gampará, de triste memória para o Vitor Tavares e os seus  camaradas da CCP 121/BCP 12 (Mapa de Fulacunda, Escala 1/50000 (detalhes).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011).

 
1. Texto do Manuel Moreira, um dos fadistas da nossa Tabanca Grande, natural de Águeda, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69), com data de hoje, com mais um magnífico contributo para a série O Nosso Fad...ário (*)

Camarada e Amigo Luís

O porquê da Canção da Fome já foi dito, agora vai a história :

O meu fado, Canção da Fome,é baseado na música do fado gingão Tempos que já lá vão,  de Manuel de Almeida. Mas eu canto-o de forma diferente de modo a dar-lhe o sentido próprio da situação vivida. Foi gravado em bobines de fita, porque na altura não havia cassetes, e acompanhado por duas violas tocadas pelo Alf Mil [Gilberto]Madail e pelo [Soldado] Corneteiro Agostinho Pacheco Moreira.

Fez sucesso por todos os Destacamentos onde esteve colocada a CART 1746, como sendo: Ponta do Inglês, Taibata, Demba Taco, Amedalai e Galomaro.

Foi de Galomaro que apanhei o maior susto quando o Comandante do Batalhão de Bambadinca [, Ten Cor Pimentel Bastos, do BCAÇ 2852, 1968/70] fez visita a Galomaro em Março de 1968. O gravador do Fur Melo estava a passar a Canção da Fome e quando se apercebeu da sua presença correu a desligar o aparelho. De seguida, foi admoestado pelo Comandante por ter feito o que fez e pediu para ligar o aparelho onde ficou a ouvir com atenção e repetiu...

Quando se ouvia o meu nome no final, o então guarda costas do Comandante, já falecido, que era de Águeda,  de seu nome Emanuel Carvalho, disse que me conhecia e ficou incumbido de me convidar a fazer uma visita ao Gabinete do Comandante.

Quando a comitiva se retirou, logo o Fur Melo enviou uma mensagem via rádio para o Xime a contar o sucedido para que eu fosse avisado. E então o Cabo de Transmissões Laurentino Ribeiro, que é de Barcelos, veio ter comigo à Oficina e começa por me dizer, bem à moda do Minho:
- Ó Moreira, estás fodido, pá !

Ao que eu respondi:
- Pois estou,  e já há muito tempo e só acaba quando for embora daqui ... - Mas ele muito sério repete e diz :
- O Comandante  do Batalhão ouviu a tua Canção da Fome e quer que vás ao Gabinete dele responder. - Por isso, aí eu pensei e disse:
- Estou fodido mesmo !

Demorei bastante tempo a ir a Bambadinca a ver se o tipo se esquecia mas não, estava sempre a perguntar ao Emanuel Carvalho por mim.

Depois de vários comentários deste,  com os meus camaradas mecânicos do Xime, lá me convenceram a ir a Bambadinca e qual o meu espanto, quando o Comandante [, o Ten Cor Pimentel Basto,]queria só e apenas que eu cantasse para ele gravar e levar para casa e mostrar aos netos...

Aí eu acreditei. Eu só tinha medo da PIDE.

E tive sorte porque, precisamente em Galomaro,  no dia 5 de Março de 1968,  aquando da rendição de Secção por Secção, o condutor João Medeiros ausentou-se com o Unimog sem autorização e conhecimento,  levando a minha G3 junta com a do Alf Madaíl no banco direito, mecânico e oficial de coluna, que eram as únicas que iam e vinham. Fui beber umas aguardentes de cana e na vinda, depois de vários saltos nos buracos da estrada, a minha G3 caiu e passou-lhe por cima ficando em três pedaços. Ora, auto às costas... Auto que estava nas mãos do Comandante do Batalhão que o arquivou,  graças à Canção da Fome.

O Madaíl não cantava o Fado mas dava uns toques na viola. Eu sempre cantei e canto, de tudo. Cantar faz bem e espanta as tristezas !

Um Abraço Amigo

Manel Moreira
CART 1746

2. Letra do fado Canção da Fome (**)

[Adpat. de Tempos que já lá vão,  de Manuel de Almeida, n. 1922; música do Fado Corrido]

CANÇÃO DA FOME

Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês.
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da Guiné.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao Rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino:
Manuel Vieira Moreira.

Xime, Ponta do Inglês, 28/01/1968

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Vd. poste de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

Guiné 63/74 - P9164: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (17): Kennedy, Salazar e as "nossas colónias"


1. Mensagem do nosso Camarada António Rosinha, com data de 2 de Dezembro p.p.: 


Era melhor outros fazerem a guerra por nós?



Ouvi,  na SIC, novamente uma solução pacífica e fácil para uma descolonização sem fazermos guerra.

Não prescindo de ouvir a opinião de ninguém, no que toca à guerra que nos calhou.

E a opinião que com mais frequência se ouve, era a solução americana que foi oferecida ao Salazar pelo Kennedy. E hoje, dia 21 de Novembro, ouvi novamente na SIC, essa ideia como a melhor maneira de Salazar não precisar de mandar a juventude impreparada, fazer a guerra.

Essa solução era e é defendida pela maioria daqueles que foram para a Europa, não os que foram para o «bidonville» assentar tijolo, mas os que foram com mesada dos paizinhos ou com alguns estudos, foram para as universidades europeias, quando chegavam à idade militar.

Regressaram com essa ideia encasquetada, aquando o 25 de Abril.

Foi hoje na SIC que o escritor João do Céu Silva, na apresentação de um livro seu, disse que Salazar podia ter seguido o que Kennedy dizia, e de quem todos gostávamos tanto.

Claro que nós (ele) gostava muito, foi pena que quem lhe deu o tiro em 1963 não era da mesma opinião.

Parece que o seu vizinho Fidel, também não simpatizava muito.

E aquele soviético que queria instalar os mísseis em Cuba também não alinhava com ele.

Mas que o jovem presidente era simpático lá isso era, mas não deixava de ser americano como aqueles americanos que fizeram duas Coreias, que fizeram dois Vietnames, mais tarde apoiaram a ocupação de Timor pela Indonésia, sem falar que foi no reinado e nas barbas de Kennedy que se construiu o Muro de Berlim, que no reinado de Kennedy não souberam os americanos o que fazer com Cuba.

Quando Kennedy foi assassinado, todos se lembraram que apoiou a UPA, em Angola, com fins bem definidos.

E quem conhecia as circunstâncias internacionais e africanas, estava no mínimo  preparada uma Angola do Norte e outra Angola do Sul como as Coreias e os Vietnames, se os americanos liderassem os destinos de Angola... Jamais os Angolanos aceitavam a figura que chefiava a UPA.

Nessa altura já tinha sido liquidado Lumumba e o secretário-geral da ONU, derrubado de avião quando se ia avistar com Tchombé. Tudo com a extrema sensibilidade "política"  de Kennedy.

Salazar não deixou os americanos fazerem a guerra por nós, só após a morte de Salazar é que os americanos ao lado de Sul-africanos se digladiaram em Angola contra Cubanos e soviéticos.

Enfim, penso que nessa altura, com muito sacrifício nosso, garantimos a futura integridade de quase todas as fronteiras coloniais, o que jamais era garantido se tivéssemos tido o critério de outras potências coloniais que optaram por entregar independências a tiranos protegidos por "legiões" e "mercenários internacionais".

Disso nunca ninguém nos poderá acusar, proteger tiranos, embora após o 25 de Abril alguns militares da nossa revolução e alguns civis, tenham tomado partido naquela guerra fratricida angolana.

Faz anos dia 22 de Novembro que em Dallas assassinaram o "desejado" de alguns portugueses. Embora haja dúvidas quanto ao assassinato de Kennedy… Salazar nunca foi suspeito.

Eu também não acreditava em Salazar, quando com aquela voz fininha, a tremer, dizia "as nossas colónias são muito invejadas".

Se fosse hoje, não lhe chamava os nomes que lhe chamávamos. A única mentira que o ditador dizia, era o Portugal de "Minho a Timor".

Afinal era só até ao Funchal.

Os meus cumprimentos
Antº Rosinha
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Notas de MR:

Retrato oficial de John F. Kennedy, pintado a óleo por Aaron Shikler (1970). Imagem do domínio público. Fonte: Wikipedia.

Foto de Salazar, em 1940. Autor desconhecido. Imagem do domínio público. Fonte: Wikipedia.

Vd. o último post desta série em:

9 DE MARÇO DE 2011 > Guiné 63/74 - P7917: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (13): Emigração para as Colónias, só comCarta de Chamada

Guiné 63/74 - P9163: Patronos e Padroeiros (José Martins) (25): Anjo Custódio de Portugal

 


1. Em mensagem do dia 7 de Dezembro de 2011, o nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um Patrono.





PATRONOS E PADROEIROS XXV

Anjo Custódio de Portugal

Anjo Custódio do Reino
Escultura de Diogo Pires, o Moço (séc. XVI) 1518-1520, calcário
Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra, Portugal.
© Foto: O Portal da História, com a devida vénia.


Santo Anjo da Guarda de Portugal

O Anjo de Portugal é, até hoje, o único Anjo da Guarda, de um país e com culto público oficializado e foi o único Anjo Guarda de uma nação que apareceu aos homens.

Foi em 1504 que, a pedido do monarca português D. Manuel I, e bispos portugueses, o Papa Leão X (n. 11 de Dezembro de 1478, eleito a 19 de Março de 1513, † 1 de Dezembro de 1521), com base de que já era um culto antigo em Portugal, instituiu a festa oficialmente.

Com esta oficialização, D. Manuel manda expedir instruções para todas as Câmaras Municipais, indicando que as festas, ao Anjo Custódio, devem ter a participação de todos, desde as autoridades e instituições, das cidades e vilas, assim como todo o povo, assim como devem ser celebradas com toda a solenidade.
Esta festividade tinha lugar no terceiro Domingo do mês de Julho, só equiparada a Festa do Corpo de Deus, a maior festa em que a nação afirmava a sua Fé na presença de Cristo na Eucaristia, manteve-se desde o Século XVI até ao Século XIX, altura que o país conhecem mais um dos seus piores períodos.

Vários acontecimentos se sucedem neste país desde a Guerra das Laranjas, com a perda de Olivença; Invasões Francesas: Lutas Liberais, escaramuças breves mas frequentes em África, não só com os autóctones, mas também com forças externas; Conferência de Berlim e consequente corrida a África, Campanha de Pacificação, entre outras.

A festividade e o culto ao Anjo Custódio alcançaram grande brilho, especialmente nas cidades de Braga, Coimbra e Évora, celebrada no dia 9 de Julho. Porém, durante o pontificado de Pio XII (n. em 2 de Março de 1876, entronizado em 12 de Março de 1939, † 9 de Outubro de 1958), a festa do Anjo de Portugal foi restaurada, passando a celebrar-se no Dia de Portugal.

Com a viragem do século e a entrada do novo, o 20.º do calendário romano, volta a falar-se no Anjo da Guarda de Portugal: o Anjo aparece a três crianças, na Loca do Cabeço, perto de Fátima. Essas três crianças, dois irmãos e uma prima, que naquele ano 1916 pastoreavam o gado pertença da família, como era uso e costume das populações rurais.
Eram Francisco de Jesus Marto (n. Fátima, Ourém, 11 de Junho de 1908 † Fátima, Ourém, 4 de Abril de 1919), Jacinta de Jesus Marto (n. Fátima, Ourém, 11 de Março de 1910 † Lisboa, 20 de Fevereiro de 1920), beatificados em 13 de Maio de 2000, pelo Papa João Paulo II e Lúcia de Jesus dos Santos (n. Aljustrel, Fátima, Ourém, 28 de Março de 1907 † Coimbra, 13 de Fevereiro de 2005), que, de acordo com o seu testemunho, um Anjo apareceu-lhes e identificou-se como: "Eu sou o Anjo da Guarda, o Anjo de Portugal".

Em muitos monumentos que imortalizam os nossos heróis, aparece uma figura alada, que protege o Soldado Português, e em muitos deles colocando-lhe, sobre a cabeça, uma “coroa de louros”, enaltecendo o seu espírito de sacrifício e patriotismo.

Miniatura do Anjo de Portugal, inserido no Grupo escultórico inaugurado na Loca do Cabeço, Fátima, em 12 de Agosto de 1958, da autoria da escultora Maria Amélia Carvalheira da Silva
Colecção de Maria Manuela Martins
© - Foto José Martins
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9156: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (2) (José Martins)

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9023: Patronos e Padroeiros (José Martins) (24): São Martinho de Tours, militar que se tornou santo

Guiné 63/74 - P9162: Notas de leitura (310): De Campo em Campo, de Norberto Tavares de Carvalho (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Novembro de 2011:

Queridos Amigos,
Conclui-se assim a recensão sobre as memórias do comandante Bobo Keita. Importa reconhecer o seu olhar peculiar sobre a vida da guerrilha em que esteve envolvido tantos anos. Envolveu-se em controvérsias, desamores e não esconde ressentimentos. É claramente desprimoroso com as tropas portuguesas no Leste, após o reconhecimento da independência, carece de contraditório. E se a caso se vier a demonstrar que Osvaldo Vieira abençoou a conspiração de Janeiro de 1973, em Conacri, é escusado continuar a bater no ceguinho de que a PIDE foi o braço-longo e o cérebro da operação.
Seria bom que pessoas responsáveis e que ainda estão vivas, caso de António Fragoso Allas, o dirigente da DGS em Bissau, viessem depor com documentos na mão. Compete a portugueses e a guineenses apresentarem provas, ambos estão comprometidos com a verdade histórica.

Um abraço do
Mário


Bobo Keita: do assassinato de Cabral à entrada em Bissau, em 1974

Beja Santos

O que o comandante das FARP Bobo Keita nos conta em “ De Campo em Campo, Dos Estádios de futebol à luta de libertação nacional dos povos da Guiné e de Cabo Verde” (edição do autor, 2011) quanto ao período próximo do assassinato de Cabral poderá ter a maior importância caso venha a ser confirmado por outros testemunhos. Mas há uma relativa nebulosa ou vontade de não comentar em profundidade tudo quanto estava a ver quando chegou a Conacri, vindo da União Soviética. Diz que a situação estava caótica mas não explica porquê. As coisas não estavam bem em Conacri e aponta imediatamente para os nomes de Momo Turé e Aristides Pereira, dá-os como recrutados por Spínola e mobilizadores de todos aqueles que tinham sido castigados. Em Conacri recebe uma informação de que fora designado como novo comandante dos tanques anfíbios, sucedendo a Inocêncio Cani, comprovadamente o conspirador que primeiro atirou sobre Amílcar Cabral, na noite de 20 de Janeiro. Recebido na véspera do assassinato pelo próprio Cabral, este revela-lhe que tinham acabado de sair do seu gabinete os embaixadores da Tanzânia e da Argélia que lhe deram a informação que as autoridades de Bissau tinham fechado a zona de Cacine e preparavam um novo golpe contra a República da Guiné, era um plano que incluía a eliminação da sua própria pessoa.

Em 20 de Janeiro, Bobo deixa Conacri na companhia de José Pereira, representante do PAIGC em Boké, é para ali que ambos se dirigem. De madrugada, foram convocados pelo governador de Boké, são informados do assassinato do líder e que entretanto um barco saíra de Conacri levando a bordo Aristides Pereira, feito prisioneiro. Deu-lhes a entender que esse barco se dirigia para Cacine e deveria passar por Boké. O que nos relata sobre o assassinato de Cabral é o que já consta de outros testemunhos, Norberto Tavares de Carvalho cita abundantemente Oleg Ignatiev que, como veremos oportunamente, é parcialmente contraditado por outros testemunhos como o de Oscar Oramas, o embaixador cubano em Conacri.

O relato imprevistamente descamba nas negociações entre autoridades portuguesas e o PAIGC e depois Bobo dá a sua opinião, muito crítica, sobre a alegada clivagem entre guineenses e cabo-verdianos, desmente-a categoricamente, não deixando porém de referir que os cabo-verdianos têm, todos eles, missões de desempenho muito elevado, desde artilharia passando por mísseis terra-ar, direcção política e outras actividades que requeriam elevada formação ideológica ou militar. Estiveram nas frentes de combate mas em lugares seleccionados, di-lo explicitamente: “Lembro-me de uma vez, quando atacámos Gadamael em força, estavam ali eles, ao nosso lado, a manejar com perícia os morteiros 120. Quem esteve presente e não se lembra de João José (o Jota Jota) no assalto a Guileje? Este cabo-verdiano, hoje radicado nos EUA, deu mostras e provas de um espírito de combatividade e de técnica no manejo das peças de artilharia que contribuiu para que Guileje não resistisse às nossas forças. O Julinho de Carvalho esteve sempre ao pé das Katyuissas e dos morteiros. O Tchifon tratava por tu tudo o que era artilharia. O Manecas era também especialista no manejo das Katyuissas e dos morteiros”. Depois o relato volta aos acontecimentos do assassinato, Cani chega a Boké, afinal não foram os barcos soviéticos que o detiveram no alto-mar, como por vezes se vê escrito, foi detido ali. Cani, segundo Bobo Keitá, iria a Boké ajustar contas com José Pereira, fora este que investigara os actos ilícitos que teriam levado à sua expulsão do Comité Executivo da luta do PAIGC, tempos atrás. O livro é outra vez reconduzido a Oleg Ignatiev e a um conjunto de fantasias como a não comprovada implicação da PIDE em Lisboa na chamada operação “Rafael Barbosa”, de que não existe qualquer indício ou prova documental.

O relato volta a dar uma guinada, vai para aviões de caça, mísseis o relato da independência unilateral, a operação “Amílcar Cabral” que envolveu Copá, Guidaje e Guileje e, por arrastamento, Gadamael Porto. E dá nova guinada para críticas a Nino Vieira com quem se incompatibilizou à volta do golpe de Estado de 1980. Estranhamente, parece ignorar o que se passou de facto na morte dos três majores no Jolmete, em 20 de Abril de 1970 e estamos chegados aos acontecimentos posteriores ao 25 de Abril.

Em Agosto de 1974 é assinado o acordo de Argel. Bobo regressa à Frente Leste e afirma desabridamente: “Eu resolvi fazer uma astúcia. Escolhi o quartel de Buruntuma. Preparámos a operação e organizámos um assalto em simulacro. Fizemos tudo para que a tropa portuguesa tivesse conhecimento da operação. Mandámos avisar a população e os elementos do Partido para que abandonassem Buruntuma pois íamos atacar aquela população”. O comando de Buruntuma não percebe o que se está a passar, contacta o PAIGC, dentro do bluff Bobo comunica que as tropas portuguesas têm duas horas para sair. No dia seguinte, as tropas portuguesas saem para Piche, só lá fica a milícia. Bobo Keita, recorrendo a este estratagema, diz ter conseguido libertar seis pequenos quartéis e que entretanto começaram as dissensões entre oficiais superiores e Carlos Fabião. Adoptou, diz ele, uma postura agressiva, estende a Bafatá e a Bambadinca o controlo de carros. Em Pirada, tendo sido informado da sublevação das milícias, procede a execuções. Afirma ter dado ordens ao oficial de Pirada. E não esconde que há populações e tropas africanas que se põem em fuga para o Senegal. Em Setembro, entra em Bissau, foi nomeado Comissário Político da região e afirma: “Eu é que organizei a retirada definitiva de Bissau dos últimos elementos do exército português”.

Assim termina o relato na primeira pessoa do singular. Segue-se uma listagem de guerrilheiros que caíram em combate, o posfácio do nosso camarada António Marques Lopes, que teve a gentileza de me enviar esta obra para recensão. Em anexo, consta o texto dos acordos de Argel e uma cronologia de factos e feitos da história da Guiné.

Estamos perante um testemunho que nalguns pontos-chave carece de contraditório: se é facto que Osvaldo Vieira passou uma boa parte do dia 20 de Janeiro de 1973 na companhia de Inocêncio Cani, e que razões determinaram a saída daquele guerrilheiro histórico da direcção do PAIGC; o guerrilheiro, à semelhança de outros depoimentos, refere que Conacri, ao tempo da conspiração que levou ao assassinato de Amílcar Cabral, era um local irrespirável quanto a intrigas e a rumores de conspirações, mas não se dá substância à natureza do que se fala, os nomes que se põem na mesa são os de Momo Turé e de Aristides Barbosa, ninguém acredita que estes dois quadros em estado de “regeneração” prepararam e executaram uma conspiração que envolveu largas dezenas de quadros guineenses; e porque continua ausente uma resenha histórica de tudo quanto se passou na Guiné entre 25 de Abril e a saída das tropas portuguesas, ao menos que os protagonistas que viveram os tais episódios que Bobo Keita refere em Buruntuma e outros locais nos transmitam a versão dos acontecimentos, parece essencial começar a clarificar o que foi de facto o entendimento sobre os acordos de Argel no território guineense, como se viveu esse período tão conturbado.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9137: Notas de leitura (308): De Campo em Campo, de Norberto Tavares de Carvalho (1) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9153: Notas de leitura (309): Guillaume Apollinaire, de George Vergnes (Manuel Joaquim)

Guiné 63/74 - P9161: Parabéns a você (349): Amaro Samúdio, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 3477 (Guiné, 1971/73) e Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 1589 (Guiné, 1966/68)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9154: Parabéns a você (348): Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil Art do Pel Canhão S/R 2054 (Guiné, 1968/70)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9160: (Ex)citações (162): Confesso que estou profundamente chocado com a posição de alguns camaradas acerca da política seguida pelo nosso blogue (José Teixeira)

1. Em mensagem do dia 7 de Dezembro de 2011, o nosso camarada José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), membro da Direcção da Tabanca Pequena, Grupo de Amigos da Guiné-Bissau (ONGD), enviou-nos este...


REFLECTINDO…

Confesso que estou profundamente chocado com a posição de alguns camaradas acerca da "política" seguida pelo nosso blogue.
Desde a primeira hora e eu sou dessa hora, afirma que pretende criar condições para que a história da guerra colonial seja contada pelos autores e em simultâneo atores dessa guerra ou seja nós e... os nossos adversários à data dos acontecimentos. Caso contrário a história ficará mal contada.

Há uma frase slogan que espelha este espírito "Não deixes que outros contem a tua história"...

- Houve uma guerra que alguns querem que seja a guerra do ultramar e outros a guerra das colónias. Estes ficam até ofendidos. Afirmam que Portugal não tinha colónias, mas províncias ultramarinas. Pois... mas quando fui para escola as tais províncias eram colónias e Portugal tinha um império colonial de que o Estado Novo se orgulhava. Mas... mudam-se os tempos… e os nomes por conveniência política. A carne vira peixe, para se poder comer na Quaresma sem se cair em pecado. Será?

Ainda há dias ao procurar numa livraria do Porto tabuadas para enviar para a Guiné, a pedido de guineenses vi um mapa do glorioso império português do Minho a Timor datado de 1946, o ano em que vi a luz deste mundo.


- Fomos chamados a combater. Diziam que era pela Pátria. Fomos arrebanhados à força ou será que todos fomos voluntários para "carne para canhão"?

Eu confesso que não fui, mas parti convencido que a minha Pátria tinha a Razão do seu lado. Porém, rapidamente verifiquei o quanto estava errado ao ser acolhido pela forma como fui. Afinal não eram selvagens e comunistas que viviam na Guiné, mas… pessoas com valores e contra-valores como todos os povos do mundo. Com uma cultura muito própria que merecia ser respeitada pelo poder instituído e tal não acontecia. Felizmente nós, os militares e guerrilheiros à força demos lições de civismo a par das lições de guerra que éramos forçados a dar, talvez para sobreviver (não éramos nenhuns santos tal como os “turras”) e hoje somos recebidos em festa.

Confesso que deixei fugir lágrimas de emoção e raiva quando vi um chefe de posto amarrar um homem a um poste e ordenar que lhe fossem dadas 50 chicotadas, só porque outro o acusou de algo, sem ouvir o presumível réu. Só que o queixoso era “português” fiel e o outro era um simples homem do mato.


- Lutar por quem, contra quem e porquê!

Esquecemo-nos dos anos que antecederam o ano de 1640 na luta dos portugueses pela independência contra Castela. Pois é. Já lá vão muitos anos.

Será que aqueles povos não tinham o direito de lutar para o bem ou para o mal por um direito que todo o mundo lhes dava, excepto o regime que vigorava em Portugal?


- Creio que toda agente sabe como eram arrebanhados e instrumentalizados os guerrilheiros do PAIGC. Tal como nós ou pior ainda. Entravam pelas tabancas dentro e levavam todos quantos tivessem idade para irem para a luta.

Em 2008 conversei com uma guerrilheira que com doze anos era a rádio telegrafista do PAIGC dos grupos de combate que cercaram Guiledje. Apenas 14 aninhos! Será que estaria lá de boa vontade, voluntária?

Hoje, é uma mulher grande algures numa tabanca na mata do Cantanhez. Será que não deve merecer o nosso respeito?

Um outro guerrilheiro, ao saber as terras por onde andei procurou-me para localizar possíveis encontros. Efectivamente tivemos vários. Foi muito gira a nossa conversa, a qual começou por um humilde pedido de desculpas por parte dele, logo que descobrimos e contabilizamos as vezes que nos encontramos frente a frente: “Discurpa. Guerra é guerra, mas caba há manga di tempo, dá um abraço”. Chamou amigos e família para me conhecerem e fez comigo um pacto: “Quero ser teu ermon” - e não me largou mais nos dias que estive em Bissau.

Este homem que seguia o Nino para todo o lado. Tinha sido “mobilizado” pelo PAIGC com 16 anos numa visita relâmpago à sua tabanca . Era o especialista de minas e armadilhas do terrível trilho “carreiro da morte” no Cantanhez. De uma vez só levantamos 87 minas em Tchangue Laia, montadas por ele.

Hoje, melhor, acabada a guerra, regressou à sua tabanca e é um humilde trabalhador do campo.

Será que não deve merecer o nosso respeito, tanto quanto nós merecemos o respeito dele, daqueles povos que hoje nos recebem em festa? Ou será que nós fomos uns santinhos que por lá apareceram?!

Os nossos aviões, por exemplo, despejavam toneladas de trotil sobre Tabancas em poder do IN, possivelmente pessoas apanhadas entre dois fogos, sem possibilidades de defesa. Ou será mentira?

E quando as nossas tropas, sobretudo as de elite avançavam sobre as tabancas consideradas inimigas?…

Note-se que não pretendo fazer juízos. Guerra é guerra, como disse o Baldé e eu também lá estava.

Antero, o guineense que gosta de ouvir o Hino Nacional

- Acabada a guerra, da qual saímos de uma forma inglória, como era de esperar, pois nenhuma guerra pela independência em qualquer parte do mundo foi favorável ao opressor, há que fazer passar à História os acontecimentos que marcaram aquela época de luta, sangue suor e lágrimas por parte das duas frentes em contenda. Para tal é no mínimo necessário tentar ouvir intervenientes de ambas as partes e reconhecer os soldados que se evidenciaram, que os houve naturalmente, e nós temos felizmente muitos. O PAIGC também os terá e há que reconhecê-lo, tanto quanto eles admiram por exemplo o Spínola, o Carlos Fabião e possivelmente outros que lhes merecem no mínimo o respeito pela forma como lhes fizeram frente.

Para finalizar recordo o Ernesto. O motorista que me acompanhou no ano passado durante alguns dias pelo interior da Guiné. O toque do seu telemóvel era… o Hino de Portugal.

- Eu gosto muito de ouvir o Hino Nacional - justificou-se...

Deixemos o blogue cumprir a sua missão. Fazer História, mesmo que nos doa. Deixemos que os intervenientes contem a sua história. Apenas peço o cuidado de tentarem respeitar as susceptibilidades dos outros camaradas ou ex-inimigos.

Não nos esqueçamos que “guerra caba manga di tempo” e o tempo deve cumprir a sua missão de curar as feridas.

Abraço fraterno
Zé Teixeira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9009: Ser solidário (115): Poço em Farim do Cantanhez (José Teixeira)

Vd. último poste da série de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9149: (Ex)citações (161): Fomos capazes de manter respeito e amizade uns pelos outros e mesmo de deixar saudades (José Brás)

Guiné 63/74 - P9159: Recortes de imprensa (53): Em, A Semana - Opinião, África no tempo das belas Signares, de Arsénio Fermino Pina (Nelson Herbert)



1. O nosso tertuliano Nelson Herbert*, jornalista na Voz da América, em mensagem do dia 7 de Dezembro de 2011, deu-nos conta do artigo "África no tempo das belas Signares" de autoria de Arsénio Fermino de Pina e publicado no diário online "A Semana" deste mesmo dia, que transcrevemos com a devida vénia ao referido diário e ao seu autor.










OPINIÃO
ÁFRICA NO TEMPO DAS BELAS SIGNARES
Por Arsénio Fermino de Pina

Remexendo nos meus papéis, encontrei um artigo bastante interessante do historiador congolês Likia M’Bokolo, com ilustração de Hoa-Qui, sobre as “
signares” do Senegal, e, por associação de ideias, veio-me à mente um trabalho recheado de humor saudável apresentado ao 2.º Congresso dos Quadros e Dirigentes Associativos Cabo-Verdianos da Diáspora, pelo amigo e colega Dr. Daniel Neves sobre os cha¬mados lançados ou tangomaos no Senegal. Escreveu o colega, a certo passo, que “os lançados, por razões diversas e em particular pela concorrência dos franceses cada vez mais numerosos em África, desapareceram no século XVII, mas ficou o termo lançado no nosso crioulo que, na sua acepção de homem temerário teria, aí, talvez, a sua origem semântica”, acrescentando, com sorriso matreiro num cantinho da boca, que, rezam crónicas apócrifas que teve a sorte de encontrar nas suas laboriosas pesquisas históricas, que alguns desses lançados teriam frequentado o Liceu Gil Eanes, em S. Vicente de Cabo Verde: Nhunha de Bia Gaxa, Tchenta (Gomes), Coxim, Nhelas de Ti Pede, Torres e Bitim Leite.

Mas, deixemos de lado estes e outros lançados da investi¬gação histórica do colega e respiguemos alguns elementos do citado artigo sobre as “signares”, cuja origem e fama deve o Dr. Nhelas conhecer melhor do que eu por viver dias-há no Senegal enroscado a Dakar como moreia anzolada em buraco de rochedo, ingratamente sem dia de regresso ao torrão natal. Escreve M’Bokolo que é aos portugueses que senhoras elegan¬tes dessa época devem o nome de signares: a palavra portuguesa senhoras, rapidamente deformada, deu origem a “signares”. De resto, foram eles quem, dos europeus, primeiro pisou terra afri¬cana, montou negócios entabulando relações com as suas gentes e, obviamente, como costuma dizer o amigo Neco — a carne é fraca —, os primeiros a ter relações amorosas com mulheres africanas.

Não se sabe, ao certo, quando começou esse relacionamento horizontal, isto é, ao nível da cama, entre europeu e mulher africa¬na. Na crónica da Guiné de Gomes de Zurara (meados do século XV), quase que não se encontra referência a essa aventura amo¬rosa. Foi um pouco mais tarde, na última metade do século, que jovens portugueses, de espírito aventureiro e sem preconceitos, se ligaram a mulheres africanas, com grande escândalo da chamada boa sociedade branca. No início do século XVI, o padre Manuel Alvares descreve-os da seguinte guisa: “são tudo que há de mau, idólatras, perjuros, desobedientes do Céu, assassinos, debochados, ladrões ..., gente sem lei, não respeitando nada a não ser os seus apetites libidinosos, sementes do inferno”. O padre devia estar danado, muito provavelmente por não poder fazer outro tanto, embora, posteriormente, fosse tolerado aos padres portugueses tomar, sem escândalo, mulher indígena, jamais europeia, nes¬ses climas miasmáticos.

Daí nasceram muitos descendentes da Eclesia, à cautela e hipocritamente denominados de sobrinhos e afilhados, raríssimos com apelidos dos respectivos pais. Em Cabo Verde, por exemplo, quase que não se encontra família mais ou menos graúda que não tenha um padre e cónegos progenitor no passado, que viveu maritalmente e sem escândalo com a mãe dos filhos, respeitado por todos da comunidade e sem grandes objecções, nessa época, por parte da Igreja Católica.

Todavia, não obstante condenações do tipo das do Padre Álva¬res e atropelos à moral oficial, foi-se tornando hábito entre todos os outros europeus, por imitação dos iniciadores portugueses, viver com mulheres indígenas, ao longo de toda a costa africana onde se fazia comércio de produtos preciosos (ouro, marfim, etc.) e, sobretudo, o rendoso e criminoso tráfico de escravos. Foi sobretudo nas ilhas e portos da chamada Senegâmbia — Gorée, Saint-Louis, Portudal e Joal (terra natal do ex-presidente Leopold Senghor, nome derivado do português Senhor, que cantou em lindos versos a beleza da mulher africana, mas ... se casou com europeia) — que as “signares” mais se notabilizaram.

Apesar da proibição de certos oficiais e empregados franceses de mandarem buscar as respectivas mulheres de França para o Senegal, a Companhia da Senegâmbia e do Senegal decidiram interditar aos seus empregados viver com mulheres africanas. O resultado foi que a relação entre europeus e africanas teve de ser, a princípio, concubinagem, para se transformar, com o decorrer dos anos, numa espécie de política oficiosa, por se ter constatado que os europeus que viviam com mulheres negras resistiam melhor às condições climáticas e sanitárias do meio, isso porque a sua en¬trada na sociedade indígena permitia-lhes beneficiar dos serviços de curandeiros que dominavam melhor o tratamento das doenças tropicais.

Tal facto levou a que entre 1728 e 1730 alguns gover¬nadores do Senegal tivessem pedido a essas Companhias que amenizassem essa proibição. Disso resultou que durante cerca de um século, até meados de 1830, os europeus adoptaram a prática do chamado “casamento à moda do país”.

Um casamento com europeu, geralmente um funcionário da Companhia do Senegal ou do Estado, portanto, com alguém de¬tentor de poder económico e político, constituía a melhor garantia para se ganhar um lugar no mundo novo, euro-africano, que se constituía. “Os casamentos à moda do país” eram, de facto, uniões reconhecidas: os africanos tomavam-no como tal e os europeus também reconheciam aos filhos dessas uniões um certo número de direitos (herança, direito de uso do apelido do pai, etc.). As beneficiárias desses casamentos obtinham, também, a libertação da escravatura.

As “signares” desempenhavam um importante papel económi¬co e social na sociedade local e como conselheiras dos maridos, e algumas até participavam no rendoso negócio de tráfico de escravos, portanto, compravam e vendiam irmãos de raça. Em 1788, assinalam-se três “signares” entre os armadores mais importantes de Saint Louis (primeira capital do Senegal).

A beleza, elegância e “boeza” dessas “signares” fascinavam os europeus. Jean-Baptiste Durant, um dos directores da Companhia do Senegal, escreveu: “elas são belas, dóceis, ternas e fiéis. O seu olhar tem um certo ar de inocência e o falar uma timidez que se alia ao seu encanto. Elas têm um pendor invencível para o amor e a volúpia”. Foi com esses trunfos que as nossas mães ancestrais africanas levaram à certa os europeus. Não admira, pois, que a mestiçagem se intensificasse, cons¬tituindo-se, assim, uma pequena comunidade muito influente de mestiços e de “negros franceses”. Até se ouviu falar deles na Revolução Francesa. Em 1789, na véspera da convocatória dos Estados Gerais, os negros e mestiços de Saint-Louis associaram-se aos brancos para redigir as “muito simples queixas e exortações dos habitantes do Senegal aos cidadãos franceses”. Proclamaram, particularmente: “o sangue francês corre nas nossas veias”, e assinaram, orgulhosos da sua componente sanguínea francesa, “Negros e mulatos, todos franceses”.

É difícil, se não impossível, dizer quando terminou a in¬fluência económica e social das “signares”. Custou-lhes cara a ocupação colonial do século XIX, bem como a chegada regular de mulheres europeias em África. Todavia, ainda em 1902, o Dr. Barbot, num livro de conselhos aos europeus que emigravam para África, recomendava o “casamento à moda do país”. De salientar que até à eleição do primeiro deputado negro do Senegal, Blaise Diagne, em 1914, foram os mestiços, filhos das “signares” que incarnavam, bem ou mal, as confusas aspirações de então das elites africanas.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8811: Recortes de imprensa (49): Expresso das Ilhas - Morreu Aristides Pereira (1923-2011), o primeiro Presidente de Cabo Verde (Nelson Herbert)

Vd. último poste da série de 5 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9140: Recortes de imprensa (52): Revista Expresso , nº 1299 - Memórias de Alexandre Carvalho Neto, secretário de Spínola e de Marcello Caetano (Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P9158: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (29): O acidente aéreo em Chitado, Angola, 10 de Novembro de 1961: 18 mortos, entre os quais 2 oficiais generais (Maria Arminda / Aniceto Carvalho)

1. Texto da Maria Arminda, a partir de comentário ao poste P8998 (*):

Camarada Marques (**):

Efectivamente, fui ao Chitado após o acidente. Tivemos para saltar para procurar esse avião, duas enfermeiras,  a Maria de Lurdes Rodrigues e eu, o médico também paraquedista, Henrique Souto, integrados num pelotão de paraquedistas.

A bordo do avião que nos transportava, tivemos conhecimento que o avião sinistrado tinha sido encontrado e não havia sobreviventes. Contudo fui integrada num grupo de peritos técnicos da Força Aérea, que levava o médico chefe, Dr João Varela (já falecido) e pilotos entre eles o então Ten Vito Negrão.

Tive ocasião de ir mesmo ao local, mas os corpos já tinham sido retirados para Sá da Bandeira onde fomos na missão de reconhecimenro e infelizmente também reconheci um. O que vi marcou-me para toda a vida e por isso não mais esqueci.

Quanto ao teor da missão desconheço. Apenas ouvi falar de uma reunião, no Sul de Angola. De que se tratava desconheço. Só a Força Aérea  talvez nos seus registos lhe poderá dizer. Vi e sei que o avião,  depois de embater com uma asa numa árvore muito alta,  caiu a pique e estava muito prestes a aterrar. Encontrava-se talvez de meio a um quilómetro na posição transversal à pista. Estava de nariz enfiado no chão, cauda no ar. Tinha as duas asas, mas a parte principal toda ardida.

Acompanhei as exéquias em Luanda e depois a esposa de um dos pilotos, o Srgt Correia (***). As outras viúvas e familiares (filhos) foram acompanhadas, para Lisboa,  pelas enfermeiras Maria de Lurdes e Maria Zulmira.

Os netos do General Francisco Chagas, filhos do outro piloto, [ o Ten Pilav José Manuel Boavida] Chagas, foram acompanhados para Lisboa pela minha colega Maria da Nazaré. Eu, depois de chegar do Chitado,  fiquei sozinha em Luanda a acompanhar as esposas dos pilotos que se recusaram a partir com as outras senhoras, antes dos corpos chegarem a Luanda.

Infelizmente só a viúva,  que depois acompanhei para Lisboa, é que assistiu à cerimónia porque se deu outro infeliz acontecimento que por não ter interesse para o amigo, não o conto neste momento. Todos estes acontecimentos fizeram com que eu dormisse sempre de luz acesa até regressar a Luanda e só a apagasse depois de nos juntarmos as quatro enfermeiras, que fomos as primeiras a prestar serviço em Angola.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 5 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8998: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (28): Comemoração dos 50 anos dos cursos de 1961 das Tropas Pára-quedistas (Rosa Serra / Maria Arminda)

(**) Comentário, de 7/12/2011, ao poste P8998, da autoria de um nosso leitor, de apelido
Marques, neto do Ten Cor Oliveira Marques:

(...) Caros amigos: Deixo aqui este comentário porque acabei de ver a Enfermeira paraquedista Maria Arminda na televisão, dizendo que uma das suas primeiras missões foi socorrer um acidente de aviação no Chitado [, ocorrido em 10 de Novembro de 1961,] onde todas as vitimas se encontravam carbonizadas.
 
Sou familiar do Ten Cor [CMM João Manuel de] Oliveira Marques, e o filho [, civil, João Manuel de Oliveira Marques], falecido no acidente de aviação do Chitado em 1961, que julgo ser o mesmo a que a enfermeira paraquedista  se referia. Muito pouco sei sobre este acidente e muito pouco me foi transmitido. Apenas sei que esse acidente ceifou a vida a mais de 18 pessoas (****),  entre elas o meu avô e o seu filho menor [, João Manuel de Oliveira Marques].  
 
Gostaria de junto da enfermeira  Maria Arminda saber onde e como posso ter mais informações a respeito deste acidente. (...)
 
(***) Lapso (?) da Maria Arminda: Deve tratar-se do Brig Pil Av José da Silva Correia, Segundo Comandante da 2ª. Região Aérea [de Angola].

(****) Segundo Aniceto Carvalho, que assistiu "às cerimónias fúnebres e à partida das dezoito urnas na Base Aérea 9 para a Metrópole", morreram neste acidente, no sul de Angola,  2  oficiais generais.

Guiné 63/74 - P9157: Agenda cultural (176): Apresentação da obra Elementos de Cultura Militar, de João Freire, sociólogo, dia 12 de Dezembro de 2011, pelas 18 horas, na Associação 25 de Abril

1. Por sugestão do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), dá-se notícia do lançamento da obra "Elementos de Cultura Militar",  de autoria de João Freire (*),  a ter lugar no dia 12 de Dezembro pelas 18 horas,  na Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95 - Lisboa. A apresentação estará a cargo do Dr. Manuel Barão da Cunha.




Ver também: http://www.edi-colibri.pt/Noticias.aspx?NoticiaID=201
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Dezembro de 2011 Guiné 63/74 - P9138: Agenda cultural (175): Apresentação do livro As Mais Belas Cidades de Angola, de Sandro Bettencourt, dia 6 de Dezembro, pelas 18h30 na Bertrand do Chiado

(*) Sobre o currículo académico do autor, conhecido sociólogo do trabalho e antigo oficial da marinha, vd mais informação aqui

Guiné 63/74 - P9156: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (2) (José Martins)

1. Segunda parte do trabalho do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sugerindo razões para a construção de um Monumento aos Mortos na Guerra do Ultramar (1961/74) do então Concelho de Loures.

UM NOVO MONUMENTO AOS QUE TOMBARAM PELA PÁTRIA!

Aos que construíram uma terra!

Ligação entre Loures e Odivelas

É certo e a história comprova-o que, antes destas terras serem portuguesas, eram mouras e, muito antes dos mouros, outros povos a habitaram, deixando vestígios da sua passagem e das suas civilizações.
Mas, desde a tomada de Lisboa em 25 de Outubro de 1147, que se tornaram nos arrabaldes da cidade, para onde ela se havia de expandir além dos muros do castelo que, sucessivamente foram sendo alargados e sendo abertas novas portas.
Como atrás dizíamos, os arrabaldes, que tomaram o nome de Termos em 1385 e assim se mantiveram, embora perdendo território aqui ou ali. As suas gentes, composta por cristãos, mouros e judeus, mantinham as suas tradições e rituais, liberdade de culto, assim como as suas festas.

Em 1527, em resultado de um censo populacional aos Termos de Lisboa, constata-se que é formado pelas vilas de: Cascais, Sintra e Torres Vedras, a Poente; Enxara dos Cavaleiros, Sobral de Monte Agraço e Aldeia Galega da Merceana, pelo lado Norte; Alverca, Alhandra, Vila Franca de Xira, Povos e Arruda dos Vinhos, para nascente, onde ainda hoje, na Estrada Nacional 10, existem, entre o Forte da Casa e Alverca, dois padrões que delimitam os Termos de Lisboa.

O Termo tinha como autoridade máxima o Corregedor do Crime, que durou até 20 de Agosto de 1624, data em que um Decreto extinguiu o cargo e nomeia, em sua substituição quarenta e dois Corregedores do Crime que tomariam o seu cargo em cada uma das trinta e três freguesias. Dada a extensão, não só territorialmente mas também pelo número de habitantes, para algumas freguesias foram nomeados mais que um corregedor. Neste documento também se verifica que a área aumentou, em virtude da inclusão de novas freguesias nestes territórios. Na lista que está indicada no documento citado, lá se encontram muitas das freguesias que, hoje, ainda fazem parte dos Concelhos de Loures e Odivelas, figurando estas como freguesias.

Os Termos, pensa-se, vai mantendo a sua estrutura na base de cerca de três dezenas de freguesias porem, se entretanto se verifica a saída de alguma delas, outras são subdivididas, mas, a partir de 1759, começa a perder as freguesias que se encontram mesmo nos limites territoriais, pela inclusão destas nas vilas que, entretanto, tinham passado a concelhos.

Com a Divisão Administrativa de 1836, as freguesias são reduzidas para vinte e duas, até que, em 1852 os Termos de Lisboa são extintos e, em sua substituição, são criados dois concelhos na zona de Lisboa: Belém e Olivais.
É nesta altura que Loures e Odivelas se afastam administrativamente, passando a pertencer a concelhos diferentes: Loures a Olivais, e Odivelas a Belém.
Porém, o curso da história não pára e, por carta de lei do dia 18 de Julho de 1855, é extinto o concelho de Belém, cuja eficácia tem início no primeiro dia do ano seguinte.

Odivelas junta-se, de novo, a Loures, ficando as duas freguesias a pertencer ao concelho dos Olivais, até que nova reforma administrativa, de 22 de Julho de 1866, é extinto o concelho dos Olivais e em 25 de Julho de 1866, por Decreto Real, é criado o concelho de Loures, onde as freguesias de Loures e Odivelas são incluídas.
Loures é elevada à categoria de vila em 26 de Outubro de 1926 e a cidade em 9 de Agosto de 1990.

Odivelas, que sofre o fenómeno de sobre urbanização, entre 1950 e 1970, tendo aumentado a sua população em quase nove vezes, passando de cerca de 6700 habitantes, para mais de cinquenta mil. Este facto vem originar a elevação da localidade a vila, em 3 de Abril de 1964 e a cidade em 10 de Agosto de 1990. Em 19 de Novembro de 1998 é criado o concelho de Odivelas, mas só assume esse estatuto, com a Lei 84/98, em 14 de Dezembro de 1998.


O Novo Monumento

A construção de um novo monumento que perpetue a memória dos que partiram, rumo além-mar e por lá combateram, desde 22 de Agosto 1415 (Conquista de Ceuta) até 11 de Novembro de 1975 (Independência de Moçambique), não é só um acto de justiça mas, porque não, o pagamento duma dívida de gratidão a quem, honrando o Juramento feito a Portugal e à sua Bandeira, tombou pela Pátria, deixando um vazio, primeiro nos camaradas que o acompanhavam, e depois nos familiares e amigos, vazio esse mais difícil de preencher, quando os corpos não retornavam a casa, ou pela prática da época ou por outra razão, como a não recuperação do corpo.

Loures - Parque da Cidade
Foto © José Martins

A forma de erigir “um marco histórico” numa das localidades que temos vindo a referir - Loures ou Odivelas - já que estão unidas por laços de centenas de anos, pode revestir-se de diversas formas.
Os locais que adiantamos, quer um quer outro, são frequentados por imensas pessoas, dado tratar-se de um local público e aprazível, convidativo ao lazer e à meditação: o Parque da Cidade, em Loures, e o Parque da Memória, em Odivelas.

Odivelas – Parque da Memória
Foto © José Martins

Poderá ter a forma de uma ponte, como a ponte de Sacavém, aliás onde começou a construção do que haveria de ser, além de território português, o espaço onde começaram os Termos de Lisboa. Uma ponte que ligasse o “passado ao futuro”; ou um aqueduto que transporta a “água que é símbolo de vida”, como os aquedutos de Caneças ou de Santo Antão do Tojal; um pórtico, qual “entrada dos heróis” para a eternidade.

Projecto monumento “Pórtico”
Desenho José Martins

Poderá ter a forma de um triângulo, a figura geométrica mais simples, mas de um equilíbrio estável, tão só, um triângulo equilátero que pode significar:
• Para os Cristãos, a Santíssima Trindade;
• Os três ramos das Forças Armadas: Exército, Marinha e Força Aérea;
• As religiões monoteístas: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo
• As classes de militares: Oficiais, Sargentos e Praças;
• Os territórios onde, as Forças Armadas Portuguesas, desenvolveram maiores esforços: Angola, Guiné e Moçambique.

Projecto / plano de Monumento “Prisma Triangular”
Desenho José Martins

Se vários triângulos se “sedimentarem ao longo dos anos”, elevar-se-ão do solo e formarão um sólido, mantendo a forma indeformável, como o espírito que formou e uniu os combatentes em campanha.

Projecto de Monumento “Mural” (2 faces)
Maqueta de José Martins

Poderá ter a forma de muro, em pedra resistente, num único bloco, simbolizando a unidade ou, em partículas ou tijolos, como que a vontade de todos e cada um de nós que, juntando forças, transformamos a aparente fragilidade numa unidade, que permite enfrentar todas as adversidades.
Mas, tenha a forma que tiver, receberá as placas que identificarão, não só a memória a que se destina, os últimos Soldados de Portugal que tombaram a defender a Bandeira das Quinas em África, mas também recordará, ”Os Combatentes Desconhecidos” de todas as épocas, porque a história se esqueceu de registar os seus nomes.

Terá necessariamente um mastro, em forma de Cruz, que servirá para hastear as bandeiras que, por direito - além da Bandeira Nacional - estarão a flutuar ao vento.


(Continua)
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9143: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (1) (José Martins)