quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12135: Acção Garlopa, no setor L1, subsetor do Xime, com a CART 3494, a CCAÇ 12 e a CCP 121, que levou à captura de 10 elementos da população, em 19/7/1972 (Sousa de Castro)






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > População sob controlo do PAIGC, no subsetor do Xime, capturada no decurso da Acção Garlopa, em 19 de julho de 1972, num total de 10 elementos.

Fotos (e texto):  © Sousa de Castro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem do Sousa de Castro, o nosso tertuliano nº 2 (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) [, foto à esquerda, no Xime, 1972] , com data de 8 do corrente;

Caros camaradas depois de ler o poste P12128, leva-me a concluir que tem a ver com a actividade da CART 3494 em Julho de 1972 conforme página 75 da História do BART 3873 que anexo, bem como as fotos de elementos da população capturados nessa operação (Acção Garlopa). Junto igualmente um síntese da actividade operacional, no subsector do Xime, editada por mim.

Com os melhores cumprimentos, A. Castro.
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2. Comentário de L.G.:

Meu caro António:  Obrigado pela tua rápida resposta. Conheci, bem demais, como tu sabes, o subsetor do Xime, aquando da minha comissão na CCAÇ 12 (169/71). Era raro não haver contactos com o IN na região de Poidon/Ponta do Inglês, sempre que a gente lá ía, em força (cinco  a oito grupos de combate, 2 destacamentos).

Em 21 de janeiro de 1970,   a CCAÇ 12, a 3 Gr Comb reforçados (destacamento A) e a CART 2520 (unidade de quadrícula do Xime, a 2 Gr Comb) (Dest B), no decurso da Op Safira Única, foram à região da Ponta do Inglês e, sem dar um tiro, recuperaram 15 elementos da população, destruiram dois acampamentos e aprisionaram um guerrilheiro "em férias", armado de pistola Tokarev (*)...

Recordo-me que os prisioneiros ficaram às ordens do comando e CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Lembro-me particularmente do ar aterrorizado das crianças, nuas, ao ouvir o ronco de uma GMC... Eram miúdos nascidos no mato (a partir de 1963). Já não recordo de qual terá sido o seu destino: como era usual, eram entregues à autoridade administrativa local e acabavam por ser integrados nalguma tabanca mais próxima, com gente da sua etnia (balantas ou beafadas). 

Todos os anos era o mesmo drama, com esta pobre gente que trazíamos do mato, em geral na altura da época seca ou no princípio da época das chuvas, e para qual não havia, no quartel de Bambadinca, as condições mínimas de acolhimento e muito menos uma política de integração... Esse drama será presenciado, no ano seguinte, pelo alf mil capelão Arsénio Puim, que pertenceu ao batalhão seguinte, o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Vd., a este propósito, , as suas memórias de Bambadinca.

Quanto à população a que te referes, capturada pelas NT (onde lá estão novamente os desgraçados da CCAÇ 12, já com com 3 anos de guerra!), na sequência da Acção Garlopa... Pelas minhas contas, é capaz de ser a mesma. Tu referes-te a 10 elementos capturados em 19 de julho de 1972 (E as fotos documentam-no). O jornalista do Diário de Lisboa, Avelino Rodrigues (que esteve 2 semanas na Guiné, não sei exatamente quando) acompanhou Spínola numa operação, já  também na pensínsula da Ponta do Inglês, em que foram capturados 10 elementos da população, balantas (7 mulheres, um velho e duas crianças). Spínola (,a companhado pelo jornalista) foi ao mato (possivelmente já perto do Xime, em Madina Colhido) recebê-los e tranquizá-los (**). Serão depois recebidos no palácio do Governador, com novas fatiotas, rádios a pilhas e dinheiro! Podes ler a segunda crónica, do jornalista, com data de 29/8/1972, aqui, no magnífico arquivo da Fundação Mário Soares. Podes ampliar a imagem (p. 12). Devo, de resto, dizer que é uma excelente reportagem, feita com rigor, isenão e objetividade, que honrou o grande jornalismo português que se fazia na época. Não sei o que é a censura ("exame prévio") cortou, se é que cortou (como vai cortar ao Expresso, em 1973 e 1974)!... 


(**) 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12128: Notas de leitura (524): (Mário Beja Santos): Reportagem do enviado especial do Diário de Lisboa, Avelino Rodrigues, CTIG, agosto de 1972

Guiné 63/74 - P12134: Parabéns a você (636):Manuel Resende (ex-Alf Mil At, CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)


O nosso camarada  Manuel Resende, ex-Alf Mil At CCaç 2585 / BCaç 2884 (Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71), vive em Cascais e está connosco, na Tabanca Grande, desde 26 de março de 2009. É habitual frequentador da Magnífica Tabanca da Linha e dos nossos encontros anuais, em Monte Real.

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12129: Parabéns a você (635): José Carmino Azevedo, ex-sold cond auto, CCAV 2487 / BCAV 2868 (Bula, 1969/71)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12133: Facebook...ando (28): O Augusto Baptista em Lisboa: temos homem, temos camarada, temos capelão, temos um novo membro da Tabanca Grande (Armando Pires)




O Armando Pires e o Augusto Batista no Chiado, em Lisboa!... Estes nossos camaradas posaram justamente à frente do poeta e dramaturgo António Ribeiro, de alcunha Chiado, ex-frade franciscano, boémio e crítico mordaz dos (maus) costumes do seu tempo, discípulo de Gil Vicente: nascido em Évora, c. 1520, morreu em Lisboa, em 1591.

(...) "Os autos de Chiado, embora não tendo o valor etnográfico da obra do seu mestre Gil Vicente, mostram um estudo e conhecimento das instituições sociais e dos costumes do século XVI, sendo nítida a crítica e desmistificação da corrupção vigente. Assim, encontramos recorrentemente nas suas obras as seguintes temáticas: (i) venalidade dos tribunais e corrupção dos oficiais de justiça; (ii) os abusos da maledicência da época; (iii) desmistificação das misérias e injustiças sociais do século; (iv) eferências negativas à vida palaciana e enredos e intrigas da corte; (v) crítica ao clero; (vi) presença do escravo(a) negro(a) tão do gosto da corte." (...)

Fonte: António Ribeiro Chiado. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-10-09].Disponível na www: .

Vd. também; Obras do poeta Chiado ; colligidas, annotadas e prefaciadas por Alberto Pimentel. - Lisboa : Off. Typ. da Empreza Litteraria de Lisboa, 1889. - LXXIII, [3], 248 p. ; 19 cm. - Obra digitalizada a partir do original. Disponível, em acesso livre, aqui.

Foto © Armando Pires (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

1. Mensagem colocada, hoje, na nossa página do Facebook, Tabanca Grande Luís Graça:

Alô,  camaradas!

Eu e o Baptista almoçámos hoje em Lisboa.

O Baptista é o tenente-coronel capelão, reformado, de que vos falei no meu P12108 (*). O pároco de Perosinho, Vila Nova de Gaia, que foi assaltado e cobardemente espancando na sua residência paroquial, na madrugada do passado dia 28 de Setembro.

O Baptista veio a Lisboa a convite dos seus antigos camaradas da Força Aérea, onde ele também foi capelão. E, como disse, hoje almoçou comigo. Ele está francamente melhor dos maus tratos físicos de que foi vítima, embora as duas costelas que lhe partiram ainda aguardem melhor consolidação. 

Pediu-me que vos agradecesse as muitas mensagens de solidariedade que recebeu no seu mail. E as que deixaram no nosso blogue. E pediu-me que dissesse ao Luís Graça que sim, que aceita o seu convite para ser um dos nossos camaradas tabanqueiros, que quando chegar a casa vai procurar as fotos necessárias à “inscrição”, e que alguma coisa vos dirá do que lhe vai na alma.

Pela minha parte, depois de obtida a autorização que hoje não lhe pedi, hei-de contar-vos algumas das histórias que, durante o almoço, ele me revelou “em confissão”, do tempo em que foi capelão do meu BCAÇ 2861, o qual, de 1969 a 1970, esteve nos sectores de Bula e Bissorã. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12108: Ser solidário (149): Antigo capelão da CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70), ex-alf mil Augusto Baptista, 75 anos, pároco de Perosinho e Seixezelo, V. N. Gaia, assaltado, violentamente agredido e hospitalizado, precisa de um ombro amigo, precisa de nós, camaradas! (Armando Pires)

(**) Último poste da série > 25 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12087: Facebook...ando (27): 42 anos depois do regresso a casa... Convívio anual da CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)... Fotos do Américo Vicente

Guiné 63/74 - P12132: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (22): Referência a jornais e jornalistas no CTIG

1. No seu Diário da Guiné, o António Graça de Abreu (AGA) faz referência a jornais e jornalistas, de diversos quadrantes político-ideológicos e nacionalidades, que vinhyam à Guiné, em trabalho... António de Spínola e Bettencourt Rodrigues perceberam a importância que a comunicação social tinha a nível da opinião pública nacional e internacional. Eram generais do seu tempo. Alguns desses jornalistas, passaram pelo CAOP 1, caso do Avelino Rodrigues. Escreveu o António, em comentário ao poste P12128: " O Avelino Rodrigues foi recebido no nosso CAOP 1, em Teixeira Pinto pelo coronel Rafael Durão e desculpem a imodéstia, também por mim, alferes pequenino no CAOP 1. Falámos muito sobre o chão manjaco e as nossas vidas..Os seus textos no Diário de Lisboa têm muita qualidade".

2. Fomos procurar referências a jornais e jornalistas, ao seu Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007). Aqui vão os excertos, com a devida vénia, e um abraço para ele (que já deve ter regressado de um longo périplo pelo China profunda):


Teixeira Pinto ou Canchungo, 26 de Julho de 1972


Abro muito os olhos e os ouvidos, meto tudo dentro de mim, falo pouquíssimo, quase não reajo, não demonstro nada. Mas sinto que em Portugal é que o PAIGC vai ganhar a guerra, aqui não a perde e no terreno não a consegue ganhar.

No labor quotidiano no Comando de Operações, passam pelas minhas mãos documentos fundamentais para se entender a guerra na Guiné. Chegam de Bissau e são as informações diárias e semanais, os relatórios mensais de operações com todos os dados, bombardeamentos, flagelações, ataques, emboscadas, os números dos milhares de quilos de bombas lançadas pelos nossos aviões, o número de mortos e feridos, NT e IN, dias, horas, particularidades dos ataques, etc. Esta documentação tem a classificação de confidencial e secreta. Vêm também as informações da PIDE/DGS com dados sobre a movimentação dos guerrilheiros, natureza dos acampamentos IN e outros elementos. Um exemplo, pela PIDE de Canchungo soubemos que neste momento estão dentro da Guiné sete jornalistas de nacionalidade checa, búlgara e russa. Entraram, vindos do Senegal, pela fronteira junto a S. Domingos, uns oitenta quilómetros a norte daqui. O meu major P. não gosta muito do Sr. Costa, o agente da PIDE/DGS em Canchungo, que tem uma vivenda aqui na avenida. O major diz que o Costa, para mostrar serviço, de vez em quando inventa factos e notícias. Parece-me bem possível. Estive em casa dele a semana passada e, no desempenho de funções, tive de lhe apertar a mão. Coisas impensáveis em Lisboa.

Voltemos à guerra. (…)


Canchungo, 27 de Outubro de 1972


Há dois dias fui à pista, na chegada do avião de Bissau como de costume e os oficiais superiores também foram todos. Vinha um jornalista, aí de três em três semanas cai cá um bicho destes para fazer propaganda do regime. Vi-o sair e disse para comigo “este tipo tem um aspecto decente”. Depois soube quem ele era, Vítor Direito, do jornal “República”. O coronel açambarcou-o, levou-o ao Pelundo e a passear pela sala de visitas do chão manjaco. O que vai ele escrever? Terá de meter a pena no saco, a censura corta se redigir textos que não sejam marmeladas. Usando pinças, não é fácil escrever sobre a Guiné.

O meu coronel partiu um dedo a fazer desporto, karaté, ouvi-o eu contar sorrindo ao Vítor Direito. Foi mesmo. Mandou um murro num soldado pára-quedista e quando ia a mandar o segundo, o rapaz desviou-se e o murro acertou numa parede. Resultado, um dedo partido. Desporto, karaté! (...)

Canchungo, 17 de Janeiro de 1973


Os meus alunos. Vou-os conhecendo, têm uma visão restrita e parcelar do mundo, o que se compreende, fechados na Guiné. Talvez por isso, o seu raciocínio seja tão lógico.

Em Português, mandei-lhes fazer uma redacção e dei quatro temas. Eles escolhiam só um e deviam desenvolvê-lo. Os temas eram: o que é ser velho, a morte, a minha viagem à Lua e uma história de animais. A maioria dos rapazes foi para os animais. Um deles disse que “os quadrúpedes têm duas patas nos pés” e sobre os outros temas escreveram coisas de pasmar, ou talvez não, como: “uma pessoa quando morre fica sem alma, com os olhos fechados e o corpo morto.”, ou “eu não gosto de morrer, mas se o meu dia chegar, morro, porque cada um de nós tem um dia para morrer.”, ou “ser velho é perder de vista a juventude” ou ainda “ser velho é estar frio e mais perto do sol”.

A propósito de mestres e alunos, estiveram cá o general Spínola e o Dr. Azeredo Perdigão, com uma grande comitiva. Vieram inaugurar a escola do Ciclo que já funciona há dois anos e meio, e foi construída com a ajuda da Fundação Calouste Gulbenkian. Muita festa, muita gente, houve manifestações “espontâneas” de alegria. Até a Caió, que dista vinte e seis quilómetros daqui, as Berliets foram buscar umas dezenas de pessoas.

Contaram-me (mas é invenção!) que em idioma fula, umas das etnias da Guiné, António de Spínola se diz Caco Baldé. Pois o general Caco, desde que regressei das férias em de Portugal há menos de um mês, já veio a esta vila por três vezes e por três vezes lhe fiz continência, e apertámos as mãos.

Ainda a propósito da última visita do Spínola, nesse dia meti uma vez mais o pé na argola.

Não foi propriamente devido ao general, mas por causa dos fotógrafos e do jornalista de um pasquim de Bissau, dois mais um, que o acompanhavam.

Eu conto.

O governador e comandante militar, com o Azeredo Perdigão e comitiva, chegaram às nove horas da manhã em avião especial, um DC 3. Entretanto, às oito já haviam aterrado duas DOs, uma com a equipa militar de Bissau que vinha montar a instalação sonora para os discursos, e outra com os fotógrafos e o jornalista. Fui à pista no jipe duas vezes, trouxe os pilotos e o pessoal militar. Deixei lá ficar os jornalistas, é tão perto, só quatrocentos metros até ao quartel, eles são civis, podiam muito bem vir a pé. E vieram, não pensei mais no assunto.

Ontem ao regressar da pista com o meu coronel, diz-me ele: “Um destes dias você procedeu muito mal.” E ficou calado um bom pedaço. Eu, mesmo sem querer, como militar procedo mal tantas vezes que não sabia a que é que o meu chefe se estava a referir. Perguntei-lhe: “Mas quando, meu coronel?” Resposta: “Então, você deixou os fotógrafos e o jornalista na pista e eles tiveram de vir a pé!...” Desculpei-me, eu conduzia o velho jipe de serviço que nem sequer bancos atrás tinha e fiquei com a ideia de que eles queriam mesmo vir a pé, já estavam na placa à saída da pista e não me pediram transporte nenhum. Se tivessem falado comigo, mudava de jipe e não me custava nada ir buscá-los. Desta vez o coronel aceitou a justificação, mas porque raio é que os estupores dos homens foram fazer queixa de mim?!...

As coisas com os meus superiores vão um pouco melhor. Tento desempenhar as minhas funções com “zelo, proficiência e dedicação”. No fim da comissão ainda sou premiado com um louvor. (...)

Mansoa, 28 de Fevereiro de 1973

Domingo passado, cometi mais uma “gaffe”.
Fomos visitados por uma equipa da TV alemã, quatro moços desembaraçados e tagarelas. Eu cometi o grave erro de falar alemão com as criaturas. Os muitos meses de imersão na sociedade germânica, o estudo, os anos de liceu e faculdade, os três anos de namorada alemã fazem com que me movimente razoavelmente bem no idioma de Goethe e Marx. Gott sei danke! Ich spreche ein bisschen Deutsch… ( Graças a Deus, falo um pouco de Alemão!) Isto causou engulhos nos meus superiores, não entendiam do que falávamos, comiam-me com os olhos, talvez eu estivesse a contar coisas pavorosas aos jornalistas alemães, segredos de Estado ou algo semelhante. Os rapazes eram de Hamburgo, a cidade onde vivi, falei-lhes da minha experiência por lá e pouquíssimo da guerra na Guiné.

Hoje, o major Malaquias chamou-me a atenção, muito delicadamente. Em frente dos oficiais superiores eu não devia ter falado alemão, eles não entendiam, era falta de respeito.


Mansoa, 23 de Maio de 1973


O jornal Primeiro de Janeiro traz uma notícia sobre o 1º. Congresso de Combatentes do Ultramar, a acontecer no Porto entre 1 e 3 de Junho. No texto dos promotores do Congresso, lêem-se as seguintes palavras:

Patrioticamente, com total independência e acima de qualquer ideologia ou facções políticas, um grupo de Combatentes do Ultramar decidiu organizar o 1º. Congresso de Combatentes do Ultramar que se realizará no Porto de 1 a 3 de Junho de 1973, com um sentimento, uma mística, uma determinação.

Um sentimento: Reencontro e confraternização de camaradas.

Uma mística: O orgulho da honrosa missão cumprida e a consciência do seu valor na história nacional.

Uma determinação: Unidos na retaguarda contra tudo o que ameaça a integridade de Portugal.

Estiveste no Ultramar em missão de Soberania? Simples soldado ou oficial, missão cumprida? VEM. (…)



Cufar, 24 de Julho de 1973


Ontem tivemos cá o general Spínola e o Silva Cunha, ministro do Ultramar. Aterraram na pista de Cufar no Nordatlas e depois apanharam os helicópteros e deram uma volta por alguns aquartelamentos da zona. Tudo em paz, tudo controlado. Vieram também jornalistas, homens da TV, o José Mensurado, por exemplo. À partida do Nordatlas para Bissau, encontrando-me por motivos de serviço ao lado do meu coronel, bati uma bruta continência e cumprimentei as duas personalidades, um governador, um ministro. Os tipos da televisão estavam a filmar, o que quer dizer que talvez este brioso alferes venha a aparecer por estes dias nas casas de milhões de portugueses. (...)

Cufar, 6 de Dezembro de 1973

O governador, general Bettencourt Rodrigues foi mesmo de helicóptero a Madina do Boé, ao lugar onde o PAIGC diz ter declarado a independência. A ideia que tenho da região é de que se trata de zonas desabitadas, abandonadas há anos pelas NT devido à ausência de interesse estratégico da região, no extremo sudeste da Guiné. O governador esteve lá durante uma dezena de minutos, numa espécie de comprovação da impossibilidade de o PAIGC haver usado aquela “zona libertada” para declarar a independência. Houve um jornalista alemão que acompanhou a comitiva do Bettencourt Rodrigues e redigiu uma crónica datada de Madina do Boé. A propaganda é necessária. Também é verdade que não encontraram viva alma na antiga povoação do Boé, destruída pela guerra em anos passados. Onde estavam os heróis do PAIGC que declararam a independência da Guiné em Madina do Boé? Talvez não estivessem longe, mas ninguém os viu. (...)

Guiné 63/74 - P12131: Blogpoesia (356): Foi no tempo... (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)


Abreu, António Graça de - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007, pp. 104-105. (Reproduzido com a devida vénia).

Mansoa, 24 de Maio de 1973


Foi no tempo
em que o riso das crianças
era azul como o mar
que inventei no fundo dos teus olhos.

Foi no tempo
em que eras a princesa
habitando o meu castelo,
de pedra, vento e sol poente.

Foi no tempo
em que amanhecias luz dentro dos meus braços

 e a tua boca desenhava espirais de fogo 
nos meus lábios abertos à loucura.

Foi no tempo
em que eu colhia rosas na covas do teu rosto,
esvoaçávamos por pinhais, montes e rios,
e o teu corpo
povoava as searas onde o trigo cresce.

Foi no tempo
em que o teu ventre soluçava
em ondas rubras de alegria
e viajavas na fúria doce do meu sangue.

Hoje, a guerra,
uma lágrima quente enevoando os dias.



[ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74; poeta, escritor, tradutor]

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Nota do editor: 

Guiné 63/74 - P12130: Agenda cultural (286): Novidade: Livro "Alcora: o acordo secreto do colonialismo", de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Lisboa, Divina Comédia, 2013, 400 pp.


1. Mensagem do Carlos Matos Gomes, com data de 30 de setembro último:

Assunto - Alcora - a aliança secreta do colonialismo, no programa Agora, RTP2


Meus caros amigos, junto envio o link para uma entrevista feita para o programa Agora, da RTP2, transmitido ontem e que tem por tema o meu livro e do Aniceto Afonso , "Alcora, a aliança secreta do colonialismo" e o livro "Salazar, Caetano e o Reduto Branco", de Luís Barroso.

Os dois livros tratam da aliança política e militar entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia. Revela a importância decisiva e determinante da Africa do Sul na condução da política ultramarina do governo português nos anos 60 e 70 e de como esta aliança podia (ou não) ter sido uma solução tentada por Marcelo Caetano...

Para os interessdos, a entrevista passa entre os minutos 30 e os 40. Desculpem o incómodo.

http://www.rtp.pt/play/p1235/e129809/agora


2. Sobre o livro:

Ficha Técnica

Título: Alcora - O acordo secreto do colonialismo
Autores: Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes
Prefácio: Fernando Rosas
Selo (editora): Divina Comédia
1ª edição: maio de 2013
ISBN: 978-989-8633-01-9
Nº de páginas: 400
PVP: 19.90€

Sinopse (Fonte: Divina Comédia)

Um documento histórico fundamental que desvenda a existência de um acordo estratégico entre Portugal, África do Sul e Rodésia realizado no final da Guerra colonial.

“O livro que agora se dá à estampa – Alcora, O Acordo Secreto do Colonialismo – vem revelar a existência de um acordo estratégico formalizado em Outubro de 1970 ao mais alto nível entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia, envolvendo os domínios político, económico e militar, com o fito de preservar o poder nas mãos do regime colonial português e dos regimes racistas dos outros dois países, desde logo assegurando a derrota militar das guerrilhas de libertação nacional.

"O que o livro agora presente revela, precisamente, é como as chefias militares sul-africanas, paralelamente ao crescimento da sua ajuda financeira, operacional e logística à guerra, vão ganhando um concomitante poder de opinião e interferência na condução das operações em Angola e Moçambique, que hoje surge, apesar de tudo, como surpreendente, pelo seu carácter inusitado e intrusivo. Não só levando as chefias portuguesas a deslocarem o centro das operações de contra insurgência, em Angola e em Moçambique, mas até opinando quanto aos aspectos mais imediatos da condução da guerra no terreno e quanto ao mérito dos oficiais ou funcionários responsáveis.” Fernando Rosas (in Prefácio)



3. Autores:


Aniceto Afonso > Coronel de Artilharia na situação de reforma, membro da Comissão Portuguesa de História Militar e investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

Antigo director do Arquivo Histórico Militar e do Arquivo da Defesa Nacional; antigo professor de História da Academia Militar. Mestre em História Contemporânea Portuguesa pela Faculdade de Letras de Lisboa, 1990. Comissões militares em Angola (1969-1971) e Moçambique (1973-1975). Participante no Movimento dos Capitães e membro da Comissão Coordenadora do MFA em Moçambique (1974-1975).

Autor de: A Hora da Liberdade, 2012 (com Joana Pontes e Rodrigo de Sousa e Castro); Portugal e a Grande Guerra, 2010 (1.ª ed., 2003); Anos da Guerra Colonial, 2009; e Guerra Colonial – Angola, Guiné, Moçambique, 1997-1998 (todos com Carlos de Matos Gomes); O Meu Avô Africano, 2009; As Transmissões Militares – da Guerra Peninsular ao 25 de Abril, 2008 (Coordenador); Portugal e a Grande Guerra, 1914-1918, 2006; História de Uma Conspiração. Sinel de Cordes e o 28 de Maio, 2001; e Diário da Liberdade, 1995. Colaborou na História de Portugal, 1993; e na História Contemporânea de Portugal, 1986 (ambas dirigidas por João Medina).


Carlos de Matos Gomes > Nascido  em 24/07/1946, em V. N. da Barquinha. Coronel do Exército (reformado). Cumpriu três comissões na guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné, nas tropas especiais «comandos».

Co-autor com Aniceto Afonso de obras sobre a guerra colonial: Guerra Colonial e Os Anos da Guerra Colonial, de textos para publicações especializadas; co-autor com Fernando Farinha de Guerra Colonial – Um Repórter em Angola, coordenador, com Aniceto Afonso, da obra Portugal e a Grande Guerra; autor de textos para a História de Portugal, coordenada por João Medina, e Nova História Militar de Portugal, coordenada por Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira; autor de Moçambique 1970 – Operação Nó Górdio.

Fonte: Divina Comédia Editores

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12110: Agenda cultural (285): Guiné-Bissau: as memórias de Gabu, 1973/74 (José Saúde)

Guiné 63/74 - P12129: Parabéns a você (635): José Carmino Azevedo, ex-sold cond auto, CCAV 2487 / BCAV 2868 (Bula, 1969/71)


O nosso camarada J. Carmino Azevedo, transmontano,  está na Tabanca Grande desde 17 de fevereiro de 2009.

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12123: Parabéns a você (634): Bom dia,comandante Jorge Rosales!... Um feliz e magnífico dia de aniversário! (José Manuel Matos Dinis, Armando Pires, Beja Santos, Hélder Sousa, Luís Graça)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12128: Notas de leitura (524): Reportagem do enviado especial do Diário de Lisboa, Avelino Rodrigues, CTIG, agosto de 1972 (Mário Beja Santos)



Reprodução da capa do Diário de Lisboa, edição de segunda-feira, 28/8/1972, e da primeira de quatro crónicas do enviado especial Avelino Rodrigues.

Imagens: Cortesia da Fundação Mário Soares.

Nesse espaço de tempo, entre a primeira (28/8/1972) e a  última crónica (31/8/1972), dois militares (metropolitanos), do Exército,  morreram noTO da Guiné: Francisco José Pacheco Marques, soldado, a 29, por acidente; e António João Carreiras das Neves,  alferes, a 30, em combate. O primeiro era do Alandroal, e pertencia à CCAV 3366 / BCAV 3846. O segundo, alf mil art,  era natural de Aviz e pertencia à 2ª CART  / BART 6520/72.

(Preciosas e detalhadas informações retiradas, com a devida vénia, do portal Ultramar Terraweb [Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, Angola, Guiné, Moçambique,  1959-1975], a quem saudamos fraternalmente, na pessoa do seu fundador e principal editor António Pires, e demais colaboradores,  pelo seu gigantesco e exaustivo trabalho de pesquisa, registo e divulgação,  nomeadamente sobre os mortos da guerra do ultramar).



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de hoje (há outras notas de leitura, anteriores,  que aguardam entretanto publicação; a decisão é sempre do editor de serviço, em função de critérios de interesse e oportunidade editoriais):

Assunto -  Envio de texto sobre a reportagem de Avelino Rodrigues na Guiné publicada em 4 edições do Diário de Lisboa

Queridos amigos, 

Há pontos surpreendentes nesta reportagem: guerra assumida, sem ambiguidades; a ênfase no desenvolvimento e no reordenamento; a imagem de Spínola como um pacificador, veja-se a captura de Balantas na região de Ponta Varela que serão devolvidos à precedência depois de visitarem o Xime, receberem rádios, roupas e dinheiro; a noção de que a africanização da guerra é uma realidade; o chão Manjaco mostrado como a região modelo de acordo com o projeto de Spínola. 

A despedida da reportagem é cabalística, como consta: o pior será quando a guerra acabar. Para juntar a todas as peças que devem fazer parte da História da Guiné. Um abraço do Mário


2. Reportagem do jornalista Avelino Rodrigues na Guiné, Agosto de 1972

por Beja Santos [, foto à esquerda, 2006]


A reportagem publicada por Avelino Rodrigues nos dias 28, 29, 30 e 31 de Agosto de 1972, no vespertino Diário de Lisboa, está disponível no site da Fundação Mário Soares [, cicar aqui.]

Spínola, em meados de 1972, “namora” a imprensa de oposição, estabelece relações formais com Ruella Ramos e Raul Rego, responsáveis respetivamente pelos jornais Diário de Lisboa e República.

Avelino Rodrigues é convidado a deslocar-se à Guiné, são lhe dadas garantias de ver o que é preciso ver da região em guerra. O jornalista enceta as suas crónicas dizendo:

 “Chega-se a Bissau e logo os canhões do aeroporto, o arame farpado e os postos de sentinela nos dizem que a guerra é a sério”. 

Será uma digressão de nove dias por terras da Guiné. Ouvirá o comandante-chefe dizer: “Infelizmente, ainda tenho que dar tiros”, ao jornalista é dado ver que a ênfase é posta nos reordenamentos e no progresso, a contraguerrilha parece ser um epifenómeno. Nunca se fala em policiamento, é sempre em guerra. Desembarca e sobre Bissau comenta:

 “Tem-se a impressão que a cidade se transformou num grande campo militar e, todavia, os quarteis não se impõem à vista e é preciso procurá-los para os encontrar”. 

É alojado no Grande Hotel, sairá de lá com poucas saudades e nenhumas recomendações.

Se o primeiro texto foi intitulado “Paradoxos da guerra camuflada” [28/8/1972], o segundo, para leitor desacautelado, é enigmático: “A simpatia como arma de guerra” [29/8/1972]. Assim, de chofre, ouvem-se rebentar granadas em Ponta Varela, do outro lado do rio Corubal, quando o comandante-chefe está a impor os galões de capitão nos ombros de um alferes em Gampará. O moço é oficial miliciano e comanda um pelotão da companhia instalada na Península, depois que em Novembro passado numa operação de fuzileiros apoiados pela Força Aérea foi possível abrir a primeira cunha apontada ao território Beafada. 

Gampará, na descrição do jornalista, intimida:

 “À sombra das metralhadoras vivem em Gampará cerca de 900 Beafadas atraídos pelas melhores condições de habitação, de fomento agrícola e de assistência sanitária".

Como se os tempos estivessem sincronizados, os helicópteros põem-se em movimento e atravessam o Corubal, vem em direção a Ponta Varela, está-se no rescaldo de uma operação, destruíram-se cerca de uma dezena de celeiros. E anota: 

“Despojos não houve nenhuns, além de uma carta de Havana estampilhada com selos de Fidel e contendo retratos de família de um possível instrutor cubano”.

 Apareceram entretanto Balantas capturados, Spínola tranquiliza-os, não lhes irá acontecer mal algum, serão levados ao Xime, para verem as obras do Governo e depois serão conduzidos de helicóptero ao mesmo lugar onde tinham sido encontrados. Não será exatamente assim que as coisas irão acontecer, os Balantas capturados serão recebidos dois dias depois no gabinete do Governador antes de serem devolvidos ao mato. Levarão rádios, apresentaram-se de indumentária afiambrada e levaram dinheiro não se sabe bem para que compras. De Ponta Varela partiram para Ingoré, onde Spínola visitou população vinda do Senegal, na região de Tandé, 400 pessoas voltaram para as suas antigas tabancas, eram Balantas Bravos, que meses antes estavam ainda na órbita da guerrilha.

Passamos agora para o terceiro texto de “Guiné, crónica imperfeita” [30/8/1972], a cargo do enviado especial do Diário de Lisboa. Alguém informou  mal o jornalista  [, foto à direita, disponível aqui] e este vazou dados imprecisos, assim:  

“A guerra eclodiu em 1963, logo depois de Amílcar Cabral, então funcionário dos Serviços de Agricultura de Bissau, ter acabado o trabalho de recenseamento agrícola”. 

A realidade Balanta interessou o jornalista, que escreve: 

“A etnia Balanta continua a fornecer ao PAIGC a maioria dos seus combatentes”. 

No Congresso do Povo, em finais de Julho de 1972, Spínola dirigiu-se a esta etnia dizendo-lhes: “Vocês já tiveram oportunidade de verificar de que lado está a justiça, a felicidade da raça Balanta”. E, coisa curiosa como é que a censura deixou passar na íntegra a observação do jornalista:

 “O fruto do trabalho dos Balantas era absorvido pelas duas grandes casas comerciais de Bissau, cujos entrepostos recebiam o arroz e a mancarra por preços irrisórios, para venderem depois a preços especulativos”.

Segue-se um curto historial da guerra, o jornalista observa:

 “Ao contrário do que aconteceu noutros territórios ultramarinos, o movimento separatista da Guiné surgiu desde logo organizado politicamente e provido de estrutura militar eficaz. A ocupação portuguesa limitava-se a pouco mais de três mil brancos, quase todos funcionários administrativos ou comerciantes. Os chefes militares de Bissau reconhecem hoje que o avanço do PAIGC parecia imbatível nos primeiros anos, atingindo o ponto forte em 1968” (Spínola e o seu círculo sempre insistiram em comunicar com o exterior que o ponto de inversão era 1968, por acaso o ano em que chegou à Guiné”.

Avelino Rodrigues teve acesso aos elementos fornecidos pelo comando-chefe, escreve que 2000 combatentes do PAIGC manobram a partir das zonas de “duplo controlo” e a reportagem mostra o mapa da Guiné polvilhado na fronteira de 31 bases onde estariam sete mil combatentes, dos quais cerca de dois mil se internariam no território para espalhar o terror. Outros dados, a força africana era composta por cerca de cinco sodados regulares, cerca de seis mil milícias, mais de seis mil autodefesas, doze companhias de caçadores são comandadas por graduados nativos e diz-se algo de surpreendente: 

“Os milícias são militares em part-time só em circunstâncias especiais participam em operações”.

A última reportagem [31/8/1972] passa-se em chão Manjaco, é aí, essencialmente, que se está a desarmar a subversão. O repórter escreve: 

“Não vi guerrilheiros nas estradas que percorri de jipe sem a proteção de qualquer arma desde Teixeira Pinto ao Pelundo e a Churobrique, onde fui encontrar no reordenamento de Zinco lado Demba que há três anos se apresentou com um grupo de 30 homens”.

 Informa o jornalista que ali está assegurado do domínio militar, aqui é o campo de ensaio da política de Spínola, um exemplo de que foi possível fazer em menos de quatro anos o trabalho de quatro séculos.

Noutra incursão, conversa com Augusto, chefe de tabanca de Bissássema, antigo carregador do PAIGC. O repórter interroga-se sobre os nervos de aço e a temperança indispensáveis para aguentar uma comissão militar tão violenta. Um comandante de um quartel, a tal propósito, fez-lhe o seguinte comentário: 

“Mentalizei os rapazes para aguentaram os dois anos de guerra como pagamento do direito de continuarem a viver em paz na Metrópole. O que é preciso é não morrer, safarmo-nos como podermos”. 

As últimas deambulações decorrem à volta dos reordenamentos. É aqui que Spínola lhe diz que a guerra não se pode ganhar aos tiros, é por isso que os militares trabalham pelo progresso da província. E a reportagem termina de um modo cismático: 

“Mas quando acabar a guerra, quem poderá mobilizar os técnicos para o serviço civil na paz? Parece paradoxal mas é verdade: o pior será quando a guerra acabar”.

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12092: Notas de leitura (523): "Missão na Guiné", publicação do Estado-Maior do Exército e "Histórias de Guerra, Índia, Angola e Guiné, Anos 60", por José Pais (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12127: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23): A placa toponímica "Parada Alf Tavares Machado" estava afixada na parede da messe de sargentos (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá, ex-fur mil, CART 2410, 1968/70)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > s/d [ c. 1968] > Foto de Luís Guerreiro.

O Luís Guerreiro  foi fur mil da CART 2410, Os Dráculas (Guileje, Gadamael e Ganturé), e do Pel Caç Nat 65 (Piche, Buruntuma e Bajocunda), nos anos de  1968/70. Vive  em Monterreal, Canadá.  Outro camarada nosso que pertenceu à CART 2410 é o José Barros Rocha, de Penafiel. 

Foto: © Luís Guerreiro (2013).. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Com data de ontem, e em resposta ao poste P12124, recebemos a seguinte mensagem do nosso camarada Luís Guerreira:


Assunto: Memória de Guileje

Amigo Luis

Em resposta ao P12124 (*) sobre Memória de Guileje, do amigo Pepito,  sobre a placa da Parada Alf. Tavares Machado:

Envio uma foto aonde se vê a dita placa que estava instalada no edifício da messe de sargentos.

Espero que esta informação seja útil.

Um abraço, Luis Guerreiro

2. Comentário de L. G.:

Obrigado, Luís Guerreiro, camarada da diáspora, pela tua rápida e valiosíssima resposta. O Domingos Fonseca,  que dirige os trabalhos de reconstrução de Guileje, e que é um colaborador direto do Pepito, diretor executivo da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento,  vai ficar felicíssimo pela preciosa informação que nos acaba de dar. 

Eu sei que nada disto é relevante para a Grande História... Ou talvez não: a História com H grande é como um rio, que é alimentado por milhares de pequenos rios e ribeiras. 

Neste caso, a pequena história (a "petite histoire", como dizem os franceses) ajudou-nos a recuperar a memória de mais um bravo de Guileje, esquecido há muito, o alf mil Tavares Machado. Honremos a sua memória, para que o seu sacrifício não tenha sido inútil. 

E aos meus amigos (sim, meu amigos da AD - Bissau!!!) Pepito e Domingos Fonseca [, foto à esquerda,]  eu mando um grande abraço com o meu apreço e a minha admiração pelo trabalho que estão a fazer, em Guileje e em Gadamael,  ajudando a reconstituir o "puzzle" da(s) nossa(s) memória(s) comum(uns)... 


Guiné 63/74 - P12126: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (19): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte VI: A morte do comandante dos Lordes, o gr comb especial do alf mil Tavares Machado, em 28/12/1967










Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Fotos do álbum do Zé Neto (1929-2007) Grupo 4 > Fotos diversas de instalações e atividade operacional... Não sei (porque as legendas são insuficientes) se nalgumas destas imagens aparece o malogrado alf mil Tavares Machado ou alguém do seu grupo de combate especial, Os Lordes. O Zé Neto, que exercia entºão as funções de 1º sargento da companhia, não era um operacional, pelo que as fotos que tirou (e que nos disponibilizoui em vida) foram todas tiradas dentro do quartel. Trata-se de um coleção de "slides", que foram posteriormente digitalizados.


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Guiné > Região de Tombali > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Salancaur, a noroeste de Guileje e de Mejo, por onde passava o corredor de Guileje.

 Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), sob comando do cap Eurico Corvacho (também já falecido, em 2011):


Quanto às operações no terreno, as nossas principalmente patrulhas de reconhecimento e nomadizações destinadas a manter o controle possível no itinerário de Gadamael Porto  decorriam sem sobressalto de maior, porque, era mais que evidente, o IN evitava o contacto para não denunciar os trilhos que utilizava nas suas infiltrações para o interior do território.

Mas, como já referi, era a partir de Guileje que se lançavam as operações conjuntas e de maior envergadura sobre o corredor de penetração dos turras. Para executar as ordens do Comando do Batalhão ou até do Sector (sediado em Bolama),  as unidades empenhadas deslocavam-se até Guileje, onde permaneciam o tempo necessário para a planificação, um, dois dias, e na hora H iniciavam a marcha para o alvo previamente referenciado.

Geralmente os resultados destas operações eram nulos ou pouco compensadores. Nós tínhamos um serviço de informações razoável, com a ajuda dos reconhecimentos aéreos, mas não éramos tão ingénuos que não soubéssemos que nesse aspecto o IN nos levava a vantagem da sua maior mobilidade, conhecimento do terreno e algumas cumplicidades de elementos das populações.

Além disso, o planeamento das operações era feito com as regras copiadas à pressa dos manuais clássicos e algumas leituras dos teóricos da guerrilha e, como tal, se não causavam autênticos descalabros nas nossas tropas isso se devia à bravura dos nossos soldados e ao discernimento dos seus comandantes que sabiam avaliar o momento em que deviam mandar às malvas o rigor dos papéis e actuarem em conformidade com o que deparavam no terreno.

Um pequeno exemplo: as cartas topográficas assinalam correctamente todas as características do terreno, ponto final. Ponto final,  no Alentejo ou nas Beiras. Na Guiné nem sequer chega a ser vírgula, porque quando a maré sobe o mar engole uma parte considerável da área total do território.

Por outro lado, as bolanhas são assinaladas como terreno alagado e vistas de avião até têm o aspecto de solo enlameado com farta vegetação, facilmente transponível. A realidade é bem diferente. Extensas zonas que, com os seus socalcos, tinham sido férteis campos de arroz, eram agora, quase abandonadas, autênticas armadilhas onde à mínima distracção um homem se afogava ou ficava atolado até ao pescoço.

Ganhou alguma notoriedade o diálogo entre o Celestino (1) e o Capitão Cadete. Numa operação em que as nossas tropas pretendiam desmantelar a fortificação que os turras tinham implantado em Salancaúr, o Celestino comandava comodamente instalado num avião Dornier. A companhia do Capitão Cadete estava, a pouco mais de duzentos metros do objectivo, a ser fustigada por fogo de canhão sem recuo do IN e o Celestino berrava pela rádio:
─ Avance! Organize o assalto pelo flanco esquerdo!!!

O Capitão, homem experiente, sabia que era de todo impossível dar mais um passo em direcção ao objectivo, estrategicamente defendido pelos lodaçais e, perante a insistência, gritou pelo microfone:
─ Venha cá abaixo e enterre o seu focinho na bolanha, seu…

Isto foi ouvido em todo a rede de transmissões das unidades da zona que, em sintonia, seguiam o desenrolar da operação e… nunca constou que o Capitão Cadete tivesse sido punido.

A zona de Salancaur, que era uma pequena península quando a maré subia, foi durante muito tempo um espinho cravado na nossa garganta. As informações diziam que os turras tinham ali instalado vinte e quatro canhões sem recuo (talvez um exagero), ao mesmo tempo que o reconhecimento aéreo dava conta de actividade rural por parte da população da tabanca nas redondezas,  o que punha fora de hipótese a destruição por bombardeamento da aviação.

Os comandos não desistiam de eliminar aquele importante ponto de apoio do corredor de Guileje e as surtidas das nossas tropas sucediam-se sem resultados palpáveis. Numa dessas operações, poucos dias depois do Natal desse ano de 1967 (sei a data precisa, mas não a quero referir) [28/12/1967, L.G.] , tivemos mais três baixas estúpidas, a juntar à de São João.

As nossas tropas saíram ao alvorecer e, excepcionalmente, os Lordes (2), do Alferes Tavares Machado, ficaram no quartel, constituindo a segurança das instalações. Menos de uma hora depois,  ouvimos um tiroteio aceso. Os turras tinham emboscado a frente da nossa coluna. Pelo rádio o Capitão Corvacho disse que não havia novidade, que estavam a reagir à emboscada e que o IN estava a retirar.

Em resposta o Alferes Tavares Machado disse que sabia por onde os turras iam fugir e que lhes ia dar uma coça. O Capitão mandou-o ficar onde estava pois a situação estava controlada. Qual quê? Reuniu os seus homens rapidamente e, ele de calças de ganga e camisola branca, embrenharam-se na mata em direcção ao sítio onde deflagrara o tiroteio.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Mais um "achado  arqueológico", descoberto recentemente... A placa com o nome do alf Tavares Machado que estava na parada do aquartelamento...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2013) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


 Pouco tempo depois, talvez meia hora, ouvimos novo arraial e não tivemos dúvidas de que agora eram os Lordes que estavam sob o fogo bem conhecido das Kalash. Posto ao corrente do sucedido, o Capitão retrocedeu ainda a tempo de enfrentar os turras e evitar uma chacina completa. Só não conseguiu evitar as mortes dos  (i) Alferes Nuno da Costa Tavares Machado,  (ii) Soldado António Lopes (cuja alcunha era o Sargento, devido aos seus modos bruscos) e (iii) Soldado António de Sousa Oliveira (o Francesinho).

Se houvesse que configurar num homem só, a raça, o patriotismo e o espírito de sacrifício do valoroso soldado português,  eu escolhia o Francesinho, sem hesitação.

José Neto (2006)

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Notas do autor:

(1) Celestino era o nome com que depreciativamente tratávamos o comandante do BART 1896, sediado em Buba, personagem muito sombria da minha memória pois ameaçou-me com cinco punições, nunca concretizadas. Algumas vezes o trato por besta nesta narrativa, com alguma propriedade.

(2) Os Lordes era a designação dum Grupo de Combate formado por voluntários da companhia que recebeu instrução especial em Bissau com o fim de constituir o primeiro escalão de progressão e assalto, dado que a CART 1613 foi, inicialmente, companhia de intervenção à ordem do Comando Chefe e actuou em vários pontos do território.

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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guiné 63/74 – P12125: Estórias avulsas (70): Balas de raiva: o meu amigo Toy Sardinha, da CCAV 1747 (Bissum, 1967/69), gravemente ferido em 24/12/1967, é evacuado para o HMP... Os médicos não lhe encontram a bala... que virá a sair, anos mais tarde, da perna... contrária! (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem.



Relatos, na primeira pessoa, da Operação “Bolo Rei”

Toy Sardinha esteve num desses combates e foi um dos feridos graves

Balas de raiva

Debitei, recentemente, um texto no nosso blogue onde trouxe à luz o nosso camarada, e meu particular amigo, Toy Sardinha, um soldado que fez parte da CCAV 1747, sendo o seu destino o destacamento em Bissum. Tive o cuidado de refazer, superficialmente, o seu trajeto militar pelos trilhos da Guiné até ao momento da trágica emboscada sofrida, resvalando o conteúdo do meu tema para os momentos dolorosos pelos quais passou.

Frisei o contacto com IN num dia em que o entoar dos sinos já tocavam os celestes sons natalícios. Estava-se precisamente do dia 24 de dezembro de 1967. Recordo que o balanço final dessa inesperada emboscada montada pelo IN, resultou num morto e quatro feridos.

Perante a realidade contada pelo antigo combatente, insisto no título balas de raiva uma vez que, em meu entender, o rótulo desmitifica a raiva sentida por cada um de nós quando as balas dispersas pelo infinito horizonte, penetravam em corpos de companheiros inocentes que caminhavam ao nosso lado.

Refleti, confesso, sobre o teor do seu ferimento grave e literalmente tracei o seu longo processo de recuperação. Debrucei-me, também, sobre a sua luta titânica que apontava para uma melhoria substancial no seu quotidiano. Objetivo conseguido, não obstante a sua visível deficiência física. Hoje o Toy é, tal como sempre o foi, um homem feliz. 

Aceitando o repto lançado pelo Luís Graça, caminhei no trilho da esperança que visava esmiuçar uma profícua certeza sobre a razão do “embrulhar” numa altura de festa que se previa solene e próspera: o Natal. Tanto mais que o nosso camarada Luís Martins, ex-alferes miliciano, e que conheceu esses combates, já tinha lançado dicas factuais sobre as operações “Bolo Rei” e “Cavalo Orgulhoso” que tiveram lugar nesse período natalício de 1967 na zona de Bula.

Num encontro, mais um, em Beja, com o nosso antigo combatente da CCAV 1747, propôs-lhe um desafio memorial que visou, logicamente, trazer à tona da reminiscência razões óbvias que resvalasse para os conteúdos da emboscada e as suas consequências.

O Toy, com as suas faculdades mentais em plena perfeição e com o sorriso nos lábios, como é hábito, começou por nos dizer: “Lembro-me que dormimos no mato na noite de 23 para 24 de dezembro. Essa operação envolveu toda a minha companhia e muitas outras. Foi um ronco enorme. Era gente por todo o lado”.

Reata a conversa e afirma: “Tratou-se efetivamente da Operação Bolo Rei, uma vez que estávamos precisamente na época do Natal. Foi um pandemónio. Não sei se se terá efetuado uma outra em simultâneo. Não me recordo. Esta operação, Bolo Rei, começou no dia 22 de dezembro de 1967 e só terminou a 3 de janeiro de 1968. Eu fui ferido a 24 de dezembro às 11 horas da manhã. Foram combates intensos. Soube mais tarde que no fim da operação se registaram 7 mortos e 32 feridos”.

O Toy, com ar brincalhão, recorda esse malfadado dia: “Estávamos emboscados e demos conta de dois homens e uma mulher no trilho. Eram turras. Houve um grande alvoroço, não conseguimos apanhar os homens, fugiram, mas conseguimos apanhar a mulher. Estava grávida. Depois ouviram-se gritos para deixarmos a mulher em paz. Levantou-se um burburinho de tal ordem que tivemos que abandonar o local que, entretanto, se tornara perigoso e passado pouco tempo estávamos a embrulhar na emboscada. Lembro-me que era para atravessarmos uma ponte, o que não aconteceu, resolvemos ir por um outro lado, só que a emboscada já estava montada e nós caímos nela. Se temos atravessado a ponte teria sido uma grande razia. Tivemos um morto e quatro feridos”.

Memórias de um combatente que foi, no fundo, um dos muitos militares que se depararam com as consequências das balas de raiva num conflito armado que marcou, inquestionavelmente, gerações de jovens enviados para as frentes de combate.

Guiné um território onde António Manuel Moisão Sardinha se deparou com o encurtar da sua comissão. Chegou em julho e foi ferido em dezembro.

Registemos pois o seu depoimento. Que surjam outras opiniões de camaradas que estiveram envolvidos nas Operações “Bolo Rei” e “Cavalo Orgulhoso”. 

Proposta deste vosso camarada: Comandante Chefe do nosso blogue, Luís Graça, sugiro que António Manuel Moisão Sardinha, vulgo Toy, se torne membro da nossa Tabanca Grande. Lancei-lhe o desafio, ele aceitou, ficando a minha proposta de uma ida do camarada ao próximo encontro (almoço) dos velhos tabanqueiros. Prontifiquei-me em levá-lo comigo. 

Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P12124: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (22): Onde e como estava afixada, na parada, a placa toponímica com o nome do Alf Tavares Machado [, da CART 1613, morto em combate, em 28/12/1967] ? (Pepito)




Foto: © AD - Acção para ao Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de 25 de setembro último

Amigo Luís

O nosso "arqueólogo" de serviço, Domingos Fonseca, acaba de descobrir em Guiledje, nas suas prospeções, mais um achado.

Trata-se de uma tabuleta que diz "PRACETA ALFERES TAVARES MACHADO".

Para a colocarmos de pé, gostaríamos de saber qual era a sua localização, se estava fixada a alguma parede ou se tinha um pedestal. (*)

Abraço
pepito


2. Comentário de L.G.:

Segundo o poste P3182 (**), assinado pelo nosso colaborador José Martins, e com data de 7/9/2008, trata-se do nosso camarada...

(i) NUNO DA COSTA TAVARES MACHADO, Alf Mil Art, com o Nº Mecanográfico  07349365, pertencente à CART 1613  /BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia. [Guileje, 1967/68];

(ii) O Machado era solteiro, filho de Deolindo de Sousa Machado e Alzira Assis Teixeira da Costa Tavares Machado, sendo natural da freguesia de Sé Nova, concelho de Coimbra;

(iii) Foi vítima de ferimentos em combate,  ocorrido em Guileje na lala do rio Tenheje; faleceu em 28 de Dezembro de 1967; foi inumado no Cemitério de Agramonte,  no Porto.

Se algum camarada tiver mais dados sobre  o malogrado  alf mil Machado e a localização da placa toponímica (, na parada, afixada a alguma parede ou colocada em pedestal), acima publicada, que nos contacte, por favor, por mail ou através da caixa de comentários deste poste.

A CART 1613 era a companhia do Zé Neto (1929-2007) e do Eurico Corvacho (, ex-cap., falecido em 2011).

O Alf Tavares Macahdo é um dos 75 alferes mortos no TO da Guiné (por todas as causas) (***).

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11425: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (21): Vamos reconstruir o edifício mais representativo do antigo aquartelamento de Gadamael Porto (Pepito)

Vd. também: 


(***) Vd. poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)

Nome (de A a Z ) / Data / Causa (C=Combate; D=Doença;  A=Acidente)

1. Abílio Rodrigues Ferreira > 22/11/70 C

2. Adelino Costa Duarte > 23/11/65 C

3. Alberto Araújo Mota > 27/11/72 D

4. Álvaro Ferreira V. Leitão > 5/6/68 C

5. Álvaro Francisco M. Fernandes > 2/9/72 A

6. Américo Luís S. Henriques > 21/2/67 C

7. António Angelino T. Xavier > 30/1/65 C

8. António Aníbal M. C. Maldonado > 4/3/66 C

9. António Emílio P. S. Meneses > 17/6/65 A

10. António Fonseca Ambrósio > 21/12/70 C

11. António João C. Neves > 30/8/72 C

12. António Joaquim Alves Moura > 4/9/66 C

13. António Jorge C. Abrantes > 18/9/72 A

14. António José C. L. Barbosa > 30/1/68 C

15. António L. Freitas Brandão > 18/9/69 A

16. António Sérgio Preto > 29/6/72 C

17. Armandino Silva Ribeiro > 17/4/72 C

18. Armando Bastos Mendes > 4/7/63 C

19. Armindo Pereira Calado > 22/6/69 C

20. Artur José Sousa Branco > 4/6/73 C

21. Augusto Manuel C. Gamboa > 14/12/67 C

22. Bubacar Jaló > 16/2/73 C

23. Carlos Alberto T. Peixoto > 8/9/68 C

24. Carlos Augusto S. Pacheco > 19/2/68 C

25. Carlos M. A. Figueiredo > 10/7/72 A

26. Carlos Manuel S. L. Almeida > 1/4/67 C

27. Carlos Santos Dias > 6/10/66  C

28. Delfim Anjos Borges > 17/7/67 C

29. Domingos Joaquim C. Sá > 20/7/68 C

30. Duarte Francisco S. S. Lacerda > 2/7/73 A

31. Eduardo Guilherme T. Monteiro > 15/5/68 C

32. Feliciano Santos Paiva > 29/4/70 A

33. Fernando Pereira L. Raposo > 10/11/64 A

34. Francisco Lopes G. Barbosa > 25/11/71 C

35. Guido Ponte Brasão D. Silva > 22/10/70 A

36. Henrique Ferreira Almeida > 14/7/68 C

37. João Afonso Abreu (FAP) > 5/3/72 C

38. João Francisco S. S. Soares > 28/5/71 A

39. João Manuel C. Silva > 6/4/73 C

40. João Manuel Mendes Ribeiro > 4/10/71 C

41. Joaquim J. Palmeira Mosca > 20/4/70 C

42. José Alberto C. Pereira > 12/3/66 C

43. José Antunes Carvalho > 4/9/68 A

44. José Armando Santos Couto > 6/1070 C

45. José Carlos E. Rodrigues > 12/12/66 A

46. José Fernando R. Félix > 2/4/72 A

47. José Joaquim Couto Sousa > 14/6/74 A

48. José Juvenal Ávila F. Araújo > 15/7/68 C

49. José Manuel Araújo Gonçalves > 14/2/69 C

50. José Manuel Brandão Queirós > 2/3/70 C

51. José Manuel Godinho Pinto > 16/5/70 C

52. José Maria R. Vasques Flores > 23/5/71 C

53. José Pedro S. M. Sousa > 20/7/70 C

54. José Silva Oliveira > 30/10/68 C

55. Lino Sousa Leite > 7/7/66 C

56. Luís Gabriel Rego Aguiar > 20/5/74 C

57. Luís Mário Silva Sá > 24/9/70 C

58. Mama Samba Baldé > 19/5/73 C

59. Manuel Costa Bandeira > 29/4/70 A

60. Manuel Francisco A. Sampaio > 10/1/66 C

61. Manuel Jesus R. Sobreiro > 24/2/68 A

62. Manuel Maria Pires > 18/4/69 C

63. Manuel Tavares Costa > 27/1/64 C

64. Mário Henriques S. Sasso > 5/12/65 C

65. Mário Juvencio V. Camacho > 25/10/68 C

66. Mário Manuel L. Simões > 17/4/73 A

67. Martinho Gramunha Marques (**) > 30/1/65 C

68. Miguel J. S. Moreno (FAP) > 24/9/72 C

69. Nelson Joaquim A. P. Soares > 26/10/71 C

70. Nuno da Costa Tavares  Machado > 28/12/67 C

71. Nuno Gonçalves Costa > 16/7/73 A

72. Paraíso Manuel Almeida M. Gomes > 2/11/71 A

73. Pedro Melna >19/5/73 C

74. Rogério Nunes Carvalho > 17/4/68 C

75. Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço > 5/3/73 A


Observações: Todos os alferes aqui listados pertenciam ao Exéricto, com excepção de dois (que eram da FAP=Força Aérea). Causas de morte: A=Acidente (incluindo acidentes com viaturas automóveis e armas de fogo, suicídio, homicídio); C=Combate; D=Doença. Do total de 75 alferes mortos, 54 (72%) foram-no combate. Os restantes morreram devido a acidente (n=20) (26,7%). Há apenas 1 morto, entre os alferes, no CTIG, por doença (1,3%).