quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12131: Blogpoesia (356): Foi no tempo... (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)


Abreu, António Graça de - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007, pp. 104-105. (Reproduzido com a devida vénia).

Mansoa, 24 de Maio de 1973


Foi no tempo
em que o riso das crianças
era azul como o mar
que inventei no fundo dos teus olhos.

Foi no tempo
em que eras a princesa
habitando o meu castelo,
de pedra, vento e sol poente.

Foi no tempo
em que amanhecias luz dentro dos meus braços

 e a tua boca desenhava espirais de fogo 
nos meus lábios abertos à loucura.

Foi no tempo
em que eu colhia rosas na covas do teu rosto,
esvoaçávamos por pinhais, montes e rios,
e o teu corpo
povoava as searas onde o trigo cresce.

Foi no tempo
em que o teu ventre soluçava
em ondas rubras de alegria
e viajavas na fúria doce do meu sangue.

Hoje, a guerra,
uma lágrima quente enevoando os dias.



[ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74; poeta, escritor, tradutor]

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Nota do editor: 

1 comentário:

Juvenal Amado disse...

Este aroma de pétalas
entorpecente e mágico
ao anichar-me a teu lado.
Este gosto a música
crescendo em minhas mãos,
ao dedilhar o teu corpo.
Esta sede de ter,
esta fome de ti
à solta no meu sangue.

China Jade poema de AGA
Um abraço