Assunto - Operação Garlopa 2
Olá Camaradas
Reporto-me ao Poste P12135.
É pena que se tenham "perdido" a História e restante documentação das unidades.
No caso da CArt 3494 posso garantir que participei em duas acções de nome Garlopa enquanto estive no Xime e sempre com CCaç 12 a proteger o flanco esquerdo da CArt que progredia em direcção ao Poindom, deixando o Geba no seu flanco direito.
Em nenhuma das duas [acções] foram capturados elementos da população, mas apenas destruídos dois acampamentos e restantes meios de vida.
Na primeira, não houve contacto e o mato era muito denso, de tal modo que o DO-27 teve dificuldade em nos localizar e só quanto o acampamento começou a arder é que nos viu.
Na segunda, continuámos a destruição, mas com dificuldade. Tinha chovido e não nos forneceram granadas de mão incendiárias. Destruímos a pontapé alguns Irãs que existiam a descoberto.
Demorámo-nos e, no momento em que as duas companhias, se reuniam, sofremos uma curta emboscada, sem consequências.
Em nenhuma das acções pedi fogo de artilharia e não fomos à Ponta do Inglês [, na foz do Rio Corubal].
A CArt 3494, no meu tempo, recolheu um Companhia de Paraquedistas que fora colocada (?) na Ponta do Inglês, mas não actuámos juntos.
Os dez elementos da população [, referidos no poste,] foram recolhidos no Geba, depois da LDG lhes ter afundado a canoa.
A História da Unidade contem inúmeras inexactidões, a começar na minha apresentação, que foi a 22 de junho de 1972, e não em Agosto de 1972.
Um Ab.
António J. P. Costa
2. Comentário de L.G. [, foto à esquerda, em Bambadinca, 1969]
Tó Zé, tome-se boa nota das tuas observações e apontamentos... Infelizmente, eu só tenho a história dos dois batalhões anteriores, o BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72), além da história da CCAÇ 12 (de maio de 1969 a março de 1971), que eu próprio escrevi. Pode ser que apareça mais algum camarada com elementos novos, de memória ou documentais. Pelos vistos, o Sousa de Castro possui uma cópia da história do BART 3873.
A esta distância, de mais de quatro décadas, a memória atraiçoa-nos. Valha-nos ao menos a existência dos preciosos mapas que o Humberto Reis em boa hora comprou, digitalizou e ofereceu à Tabanca Grande! (Ainda tenho alguns mais, "guardados", que só disponibilizo a pedido, nomeadamente os dos arquipélagos dos Bijagós)...
Já agora, fiquei a saber o que era uma... garlopa: substantivo feminino. Instrumento de carpinteiro, semelhante à plaina, mas maior do que esta. "garlopa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/garlopa [consultado em 11-10-2013].
No caso da CArt 3494 posso garantir que participei em duas acções de nome Garlopa enquanto estive no Xime e sempre com CCaç 12 a proteger o flanco esquerdo da CArt que progredia em direcção ao Poindom, deixando o Geba no seu flanco direito.
Em nenhuma das duas [acções] foram capturados elementos da população, mas apenas destruídos dois acampamentos e restantes meios de vida.
Na primeira, não houve contacto e o mato era muito denso, de tal modo que o DO-27 teve dificuldade em nos localizar e só quanto o acampamento começou a arder é que nos viu.
Na segunda, continuámos a destruição, mas com dificuldade. Tinha chovido e não nos forneceram granadas de mão incendiárias. Destruímos a pontapé alguns Irãs que existiam a descoberto.
Demorámo-nos e, no momento em que as duas companhias, se reuniam, sofremos uma curta emboscada, sem consequências.
Em nenhuma das acções pedi fogo de artilharia e não fomos à Ponta do Inglês [, na foz do Rio Corubal].
A CArt 3494, no meu tempo, recolheu um Companhia de Paraquedistas que fora colocada (?) na Ponta do Inglês, mas não actuámos juntos.
Os dez elementos da população [, referidos no poste,] foram recolhidos no Geba, depois da LDG lhes ter afundado a canoa.
A História da Unidade contem inúmeras inexactidões, a começar na minha apresentação, que foi a 22 de junho de 1972, e não em Agosto de 1972.
Um Ab.
António J. P. Costa
2. Comentário de L.G. [, foto à esquerda, em Bambadinca, 1969]
Tó Zé, tome-se boa nota das tuas observações e apontamentos... Infelizmente, eu só tenho a história dos dois batalhões anteriores, o BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72), além da história da CCAÇ 12 (de maio de 1969 a março de 1971), que eu próprio escrevi. Pode ser que apareça mais algum camarada com elementos novos, de memória ou documentais. Pelos vistos, o Sousa de Castro possui uma cópia da história do BART 3873.
A esta distância, de mais de quatro décadas, a memória atraiçoa-nos. Valha-nos ao menos a existência dos preciosos mapas que o Humberto Reis em boa hora comprou, digitalizou e ofereceu à Tabanca Grande! (Ainda tenho alguns mais, "guardados", que só disponibilizo a pedido, nomeadamente os dos arquipélagos dos Bijagós)...
Já agora, fiquei a saber o que era uma... garlopa: substantivo feminino. Instrumento de carpinteiro, semelhante à plaina, mas maior do que esta. "garlopa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/garlopa [consultado em 11-10-2013].
Mas vamos ao que interessa, e corroborando o que tu escreves: se consultares as cartas do Xime e de Fulacunda, e refrescares a memória, vais ver que era difícil chegar à Ponta do Inglês, a penantes... Concordo contigo. Por isso é que se usava a "helicolocação"... Sei não estiveste lá muito tempo, por aquelas bandas: de qualquer modo foram quase seis meses, o tempo de um gajo deixar de ser periquito...
Aliás, nem a nossa artilharia (o obus 10.5) lá chegava... Eu, que levei bastante porrada, ao longo da antiga estrada (ou picada) Xime-Ponta do Inglês, nunca tive o privilégio de lá chegar, mesmo à ponta... da Ponta do Inglês. Nunca vi o famoso Corubal, nem os seus hipopótamos nem os seus crocodilos... Hoje, julgo que desapareceram, pelo menos os hipopótamos... Devem-nos ter caçado e comido durante a "guerra de libertação". O mesmo aconteceu ao pobre do macaco-cão, que era abundante nas florestas do Corubal...
De resto, era quase impossível chegar, por terra, à Ponta do Inglês sem ser detectado pelos gajos de Baio ou da Ponta Varela e, depois, mais à frente, do Poindom... Aquilo era um ratoeira... Entrava-se naquela pensínsula, para levar porrada, se levássemos intenções (agressivas) de chegar ao Poindom... onde havia núcleos populacionais que o PAIGC procurava defender com unhas e dentes...
A última vez que as NT chegaram mesmo à Ponta do Inglês deve ter sido na Op Lança Afiada (março de 1969), a tal megaoperação que envolveu 1300 militares e carregadores civis...e em que 15% do pessoal foi helievacuada (por insolação, esgotamento, ataque de abelhas, etc.).
Quanto às "inexactidões" das histórias das nossas unidades... bom, temos que saber viver com elas, despistá-las, remediá-las, remendá-las... Sempre é melhor do que não ter documentação nenhuma, por escrito... Temos que ver também o que os outros, do outro lado, diziam de (ou escreviam sobre) nós... O que infelizmente também foi pouco.
Em todo o caso, há alguns documentos interessantes no Arquivo Amílcar Cabral (disponível na Casa Comum, a tal comunidade de arquivos de língua portuguesa que a Fundação Mário Soares tem vindo a desenvolver, com diversas parcerias). Há documentos dos "outros" que vale a pena cotejar com os "nossos"... Só com o contraditório e a triangulação das fontes podemos avançar no conhecimento histórico. Vou fazer isso, um dia destes, a propósito das duas minas A/C que accionámos em Nhabijões, em 13/1/1971... Numa nova série que terá como título qualquer coisa como "Taco a taco... A guerra vista do outro lado"... Para já tenho curiosidade em saber quem foram os filhos da mãe que puseram as duas minas, uma das quais matou o nosso (da CCAÇ 12) Manuel da Costa Soares, aos 20 meses de comissão (. Infelizmente não chegou a conhecer a filha que nasceu e cresceu na metrópole. Era natural de Oliveira de Azeméis).
Boa noite, Tó Zé, um abraço. E que os fantasmas da antiga picada do Xime-Ponta do Inglês não te assombrem. LG
PS - Junto se anexa a pag 75 da Hustória do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), onde se faz referência à Acção Garlopa, de 19/7/1972, e na qual participaram, além da CART 3494 e da CCAÇ 12, dois gr comb da CCP 121/BCP 12, que foram largados de helicóptero no objetivo.
Cópia da pág. 75 da História da Unidade, BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), gentilmente cedida pelo Sousa de Castro.
______________Nota do editor:
Último poste da série > 4 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12116: (Ex)citações (226): Não me lembro do Oh! Alexandre... mas é muito natural que ele se lembre de mim: afinal, em dois terços do tempo de comissão, fui eu que comandei a CCAÇ 798... Também se deve lembrar do alf mil Pinheiro, que comandava o destacamento de Ganturé e que foi evacuado com 14 perfurações no corpo, na sequência de uma emboscada na estrada para Gandembel (Manuel Vaz, Gadamael, 1965/67)
10 comentários:
Que posso eu garantir!... O meu comentário baseia-se em comentários entre os soldados, as fotos foram tiradas aquando de uma OP com a participação dos Paraquedistas, naturalmente que CMDT Tozé saberá melhor, é verdade que a história da Unidade contém inexatidões, porque também cheguei à Guiné em 27JAN72 e não em Abril de 72, como diz o Luís poderá aparecer alguém com dados escritos mais concretos.
Por outro lado devo dizer que não sei onde é que o camarada da CART 3494, Augusto Vieira Fidalgo, responsável pela edição da História do BART 3873 conseguiu os elementos/documentos. Penso que o Ex. capelão do BART 3873 Manuel Martins da Costa Pereira possui documentos sobre esta matéria.
A. Castro
Caros camaradas,
Na sequência da mensagem do n/ camarada CMDT António José Pereira da Costa, confirmo o que nela é referido, acrescentando, contudo, algo mais, como complemento narrativo.
Estive também nas duas acções, mas quanto à segunda deslocação ao Poindon, durante a permanência no interior do 1.º acampamento, onde estivemos largos minutos cumprindo os objectivos de partida, eu e o ex-furriel Mário Neves fomos flagelados da orla dos arbustos que ficavam à nossa frente com um tiro de pistola, cuja bala ficou cravada no tronco da árvore que estava junto a nós, ao nível das nossas cabeças.
Na sequência do tiro, o camarada Mário Neves lançou-se para dentro de um buraco no chão e que, sem ele saber, estava transformado em local de depósito de dejectos.
Após a saída deste contexto, e quando nos agrupávamos, fomos recebidos com uma salva de costureirinhas, sem consequências maiores, por via da nossa pronta resposta.
Caros camaradas,
Na sequência da mensagem do n/ camarada CMDT António José Pereira da Costa, confirmo o que nela é referido, acrescentando, contudo, algo mais, como complemento narrativo.
Estive também nas duas acções, mas quanto à segunda deslocação ao Poindon, durante a permanência no interior do 1.º acampamento, onde estivemos largos minutos cumprindo os objectivos de partida, eu e o ex-furriel Mário Neves fomos flagelados da orla dos arbustos que ficavam à nossa frente com um tiro de pistola, cuja bala ficou cravada no tronco da árvore que estava junto a nós, ao nível das nossas cabeças.
Na sequência do tiro, o camarada Mário Neves lançou-se para dentro de um buraco no chão e que, sem ele saber, estava transformado em local de depósito de dejectos.
Após a saída deste contexto, e quando nos agrupávamos, fomos recebidos com uma salva de costureirinhas, sem consequências maiores, por via da nossa pronta resposta.
Jorge Araújo
CART 3494
Quero acrescentar que os "acampamentos" estavam abandonado, mas não desorganizados. As "casas" estavam bem arrumadas os trapos roupas bem dobrados e os ovos... bem colocados dentro do arroz para se não partirem. A população vivia ali e saía, talvez ao amanhecer, servindo de escudo humano. Propus ao comandante entre a primeira e a segunda acções que bombardeássemos a área, uma vez que não tínhamos destruído tudo. O Cmdt não aprovou e, hoje, acho que fez bem. Se o tivesse feito tinha bombardeado população e não guerrilheiros.
Enfim, é a velha questão do "porquê" e "para quê".
Um Ab.
António J. P. Costa
O meu contributo é pequeno pois só em janeiro de 1973 cheguei à Ccaç 12 ainda estacionada em Bambandica. Depois de algumas peripécias que provavelmente deve estar registadas, gostava de ler alguma coisa sobre isso, envolveu a presença do General Spínola, lá fomos para o Xime. Quando estávamos em Bambandica, talvez em fevereiro de 1973, fomos fazer uma operação, não sei se tinha nome, lá para os lados de Ponta Varela. Ao fim de umas duas horas de caminhada sofremos uma emboscada. Pedimos apoio aéreo e a zona foi batida pelos obuses do Xime.
Como sempre aconteceu também nesse dia saímos a nível de companhia e verdade seja dita o capitão seguia na frente. O meu grupo de combate, o 4º, na retaguarda. Após o contacto recuamos, em passo acelerado nas clareiras, até ao Xime. O furriel Duarte acompanhou-me nessa operação. Mais tarde, no Xime, ficamos no mesmo quarto onde tinha-mos como companhia o furriel enfermeiro Osório. Não sofremos baixas. O IN não sei. Sei que sempre que fui flagelado, tanto em Cabuca, como no Xime e até em Bolama quando ouviam-mos a "Maria Turra" as consequências físicas para homens e material quase nada continha de verdade. Pecavam sempre por excesso. Durante a minha curta passagem pela 12, penso que uns 6 meses no total, sofri duas emboscadas na mata. Na última sofremos vários feridos todos naturais da província. Flagelações no quartel não sei precisar, foram várias, mas todas sem causar danos graves nos militares ou nas instalações. Talvez o Duarte se lembre do nome do capitão que comandou a 12 em Bambandica e depois no Xime. Sei que era miliciano. Mais tarde em 1974 e já ambos na "peluda" encontramo-nos, por mero acaso me Canal-Caveira.
Um abraço especial para o António Duarte se por aqui aparecer.
João Silva ex-Furriel Mi At. Infantaria, Ccaç 12, Ccav 3404 e CIM
Caro João Silva,
Para que conste, a transferência da CCAÇ 12 de Bambadinca para o Xime, por troca com a CART 3494, verificou-se no início de Março de 1973 que, por sua vez, seria deslocada para Mansambo, substituindo a CART 3493.
Quanto às acções e operações realizadas em Fevereiro de 1973, pelas n/ duas companhias, foram:
- Acção «Guarida 18», em 03.02.1973;
- Operação «Bate Duro», de 25 a 27.02.1973.
Espero, assim, ter ajudado a esclarecer este tema.
Um abraço,
Jorge Araújo.
CART 3494
Caro Jorge Araújo!
Obrigado pela informação. Eu não sou bom em datas e como deves saber o tempo na Guiné não tinha o mesmo ritmo de agora, os dias, as semanas e os meses não tinham fim.
O que sei é que cheguei à 12 em meados de janeiro de 1973.
Sei que fiz várias operações a partir do Xime, onde chegávamos ao amanhecer e perto do arame farpado juntávamo-nos com a companhia que estava no Xime e lá íamos sempre em direção a foz do Geba. Quando a operação terminava enfiávamo-nos nas Berliet e regressávamos a Bambandica. Praticamente pouco convivíamos com o pessoal do Xime. Recordo que a primeira emboscada em que caí foi ao fim de pouco tempo de lá estar, dai a datar em fevereiro, a segunda, não muito tempo depois em que tivemos vários feridos, que, felizmente, naquela altura ainda eram evacuados por heli, já estava aquartelado no Xime numa casa enorme de matriz colonial, num quarto cheio de pinturas psicadélicas, de que desconheço o autor. Numa foto que tenho é possível ver uma parte dessa pintura. Naquela época os quadros da 12 não tinham um passado em comum. Vinham de várias unidades e todos tinham no mínimo uns 6 meses de comissão. A informação sobre o nome das operações ou não nos diziam ou então eu não ligava pois não me recordo. O que me recordo é que na primeira emboscada em que caímos a missão era minar Ponte Varela, o que não conseguimos. A segunda ir até à ponta do inglês o que também não aconteceu. Como foram as duas únicas em que entramos em contacto com o IN são as que melhor recordo.
Recordo que os velhinhos cantavam: Lá em cima anda o Heli canhão, cá em baixo anda a 12, anda o Xime...
Recordações que se mantem outras que se esfumaram.
Temos em comum que ambos vimos o macaréu.
Um abraço
João Silva
Caro João Silva,
As tuas notas históricas fizeram-me recuar quarenta anos atrás, à operação que realizámos em conjunto no dia 03.Fev.1973.
Esta OP ficará gravada para sempre na minha memória de longo prazo por duas razões particulares:
1.ª - Por ter sido a última que realizei no Xime, uma vez que nela tive de participar por imperativos da falta de recursos humanos da companhia, à data com poucos quadros de comando, pois tinha a minha viagem para Lisboa, em gozo de férias, aprazada para o dia 5.
É que, chegado ao aquartelamento onde tudo já estava preparado e combinado, rumei a Bafatá, seguindo depois, por via aérea para Bissau, de modo a garantir o voo na TAP para a metrópole.
Após o meu regresso ao Xime, pós-férias, rumei a Mansambo, para onde a minha companhia tinha sido transferida nos primeiros dias de Março.
2.ª - Por ter estado cara-a-cara com o IN, episódio histórico que recordarei logo que a agenda o permita.
Quanto ao edifício onde ficaste instalado no Xime, julgo tratar-se daquele que ficava a paredes meias com a enfermaria, em frente à messe de oficiais.
Quanto ao macaréu, de triste memória, lê os meus escritos neste blogue ou no da CART 3494.
Um abraço, e até breve, com muita saúde.
Jorge Araújo.
Caro Jorge
Ao ler o teu comentário não pude deixar de me interrogar como seria a tua reacção ao chegar a Lisboa, assim, cerca de 48 horas de uma experiência tão 'estranha' para a esmagadora maioria das pessoas com quem te estavas a (re)encontrar.
Eu, que não estive envolvido em nenhuma situação parecida com as que aqui são descritas, quando vim de férias senti-me perfeitamente desfasado de todo o ambiente em que 'mergulhava'. Falava pouco, por prudência, por 'defesa' e ia sentindo uma grande angústia por perceber o que tinha lido num poema qualquer onde um militar algures em Angola constatava que "em Lisboa, na mesma, isto é, a vida corre...".
Agora, para um fulano acabado de 'chegar do mato', duma operação com 'contacto', sair à pressa, apanhar transporte e passadas umas horas eis que desembarca em Lisboa que 'rolava' ao seu ritmo próprio, calculo que tenha sido 'marcante'.
Recordo também o que já li por aqui num texto/livro do José Brás que estando por cá de férias recebe um telegrama do seu CMDT de Companhia a dar conta de 'problemas' lá por Mejo, ou melhor em Chin-chin Dari, com a morte de um dos seus homens e do 'sentimento de culpa' que lhe gerou por naqueles momentos terríveis não estar junto dos 'seus'.
São situações que nos marcam e que quem tomar conhecimento de 'alma limpa' certamente não deixa de se solidarizar.
Abraço
Hélder S.
Caro camarada Hélder,
As tuas dúvidas e questões, que eu defino como naturais e pertinentes, não serão esclarecidas neste contexto.
Tenho intensão de voltar a este tema, com mais paz e tranquilidade, na medida em que, uma vez mais, estive entre o "cá e o lá" (entendes a expressão!).
Era mais desagradável, por exemplo, ter dito aos meus pais e familiares que estaria com eles no dia 5 de Fevereiro de 1972 (nesse ano coincidente com os festejos de carnaval), e tal não se ter concretizado porque dois dias antes, ter estado no "fio da navalha", +/- a 10 metros do IN, em que, naquela ocasião, termos trocado olhares.
A vida na guerra tem destas coisas; não há empates.
Costumo dizer, na brincadeira, que nasci para sofrer, mas não sou "masoquista" (C.Silva).
O sucesso passa por estarmos atentos a tudo (o possível) o que nos rodeia.
Um abraço,
Jorge Araújo.
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