Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quinta-feira, 28 de outubro de 2021
Guiné 61/74 - P22665: Parabéns a você (1997): Coronel Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250/72 (Mampatá e Colibuia, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 11 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22618: Parabéns a você (1996): Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola, 1969/72) - Residente na Guiné-Bissau
quarta-feira, 27 de outubro de 2021
Guiné 61/74 - P22664: Historiografia da presença portuguesa em África (287): A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (2): "A questão do Casamansa e a delimitação das fronteiras da Guiné", por Maria Luísa Esteves; edição conjunta do Instituto de Investigação Científica Tropical e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Lisboa, 1988 (Mário Beja Santos)

Queridos amigos,
Este livro de Maria Luísa Esteves devia ser cuidadosamente lido por quem procura esclarecimento sobre as permanentes rebeliões no Casamansa, onde há um movimento independentista que recusa viver dependente do Senegal, é uma história que envolve a definição de uma fronteira que separou etnias, maltratou uma coesão territorial que perdurava há séculos. A autora disseca com imenso cuidado toda a questão do comércio do Casamansa e a nossa presença em Ziguinchor, relativa indiferença com que o governo de Cabo Verde e sobretudo em Lisboa apreciavam a crescente influência francesa no rio, passou a ser determinante na estratégia da presença francesa na África Ocidental. Seguiu-se um quebra-cabeças da delimitação das fronteiras e é bom que o leitor olhe para as duas cartas que acompanham este texto e atenda ao pormenores com que a autora vai tratando as sucessivas missões, as trocas de terreno e as sucessivas pressões da França para ganhar mais espaço. Os historiadores da Guiné-Bissau também devem estar atentos ao zelo e à dignidade que diferentes delegados portugueses manifestaram em manter fronteiras que separassem ao mínimo populações que viviam em comunidade há séculos. Mas a saga continua, aguardem novas surpresas.
Um abraço do
Mário
A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (2)
Mário Beja Santos
A definição de fronteiras da colónia da Guiné, as sucessivas operações de delimitação ocupam um relevo muito significativo no importante trabalho de Maria Luísa Esteves intitulado A Questão do Casamansa e a Delimitação das Fronteiras da Guiné, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1988.
A investigadora releva exaustivamente o acervo das negociações, e assim chegamos ao texto da Convenção e ao importantíssimo Artigo 1.º:
Na Guiné, a fronteira que há de separar as possessões portuguesas das possessões francesas seguirá conforme o traçado indicado na carta que se mostra neste artigo: ao Norte, uma linha que, partindo do Cabo Roxo, se conservará, tanto quanto possível, seguindo as indicações do terreno, a igual distância dos rios de Casamansa e de S. Domingos de Cacheu até à interceção do meridiano de 17º e 30’ de longitude Este com o paralelo de 12º40’ de latitude Norte. Entre este ponto e o meridiano de 16º de longitude Oeste de Paris a fronteira confundir-se-á com o paralelo de 12º40’ de latitude Norte. A Leste, a fronteira seguirá o meridiano de 16º de longitude Oeste de Paris, desde o paralelo de 12º40’ de latitude Norte até ao paralelo de 11º40’ de latitude Norte. Ao Sul, a fronteira seguirá uma linha que partirá da foz do rio Cajet, situado entre a ilha Catack (que ficará para Portugal) e a ilha Tristão (que ficará para a França) e, conservando-se tanto quanto possível, segundo as indicações do terreno, a igual distância do rio Componi e do rio Cassini, depois do braço setentrional do rio Componi e do braço meridional do rio Cassini a princípio, e do rio Grande por fim, virá terminar no ponto de interseção do meridiano de 16º de longitude Oeste de Paris ou paralelo de 11º40’ de latitude Norte. Ficarão pertencendo a Portugal todas as ilhas compreendidas entre o meridiano do Cabo Roxo, a costa, e um limite meridional formado por uma linha que seguirá o talvegue do rio Cajet e se dirigirá depois para Sudoeste, seguindo o canal dos pilotos até atingir o paralelo de 10º40’ de latitude Norte com o qual se confundirá até ao meridiano do Cabo Roxo”. Outros dados relevantes do texto da Convenção era o reconhecimento que Portugal fazia do protetorado da França sobre os territórios do Futa-Djalon.
E começou assim a saga da determinação das fronteiras da Guiné. Primeiro, a missão de 1888. Na fronteira Sul não se levantaram problemas de maior na execução do acordo. Houve resistência em abandonar a praça de Ziguinchor, os residentes retardaram até 22 de abril de 1988. E surgiram divergências no traçado da fronteira Norte, a delegação francesa insistia que, sendo o Casamansa agora um rio francês, deveriam pertencer à França todos os territórios por ele banhados e propunha-se a substituição do Cabo Roxo por Ponta Varela como ponto de partida da linha de fronteira. A delegação portuguesa recusou, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Português, Hintze Ribeiro, não cedeu, entretanto os conflitos nas zonas fronteiriças faziam sentir que era indispensável encontrar uma solução.
E assim se chegou à missão de 1900. Os obstáculos estavam detetados, fundamentalmente a Norte. Mas sabia-se também que os franceses pretendiam estabelecer um posto militar no Componi. Aceitava-se a pretensão francesa de mudar a fronteira do Cabo Roxo para o Cabo Varela. Informava-se França de que estavam a ser colocados marcos na fronteira Sul. Como aumentavam as dificuldades por parte dos franceses e a missão portuguesa não tinha diretrizes nem poderes para tomar decisões, suspenderam-se as operações de delimitação. O governo francês apresenta uma proposta surpreendente: dar autorização aos delegados para fazerem cedências recíprocas do território que seriam depois sancionadas ou não pelos governos respetivos.
Vamos ver seguidamente a missão de 1904 a 1905.
(continua)
Nota do editor
Último poste da série de 20 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22647: Historiografia da presença portuguesa em África (286): A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (1): "A questão do Casamansa e a delimitação das fronteiras da Guiné", por Maria Luísa Esteves; edição conjunta do Instituto de Investigação Científica Tropical e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Lisboa, 1988 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P22663: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - XI (e última) Parte: Leiria, 27/1/1970: "Faz hoje exactamente três anos que cheguei da guerra e o relógio psíquico interior acusou a efeméride e quis condignamente celebrá-la".
LIsboa > Benfica > Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Grandella > 27 de novembro de 2008 > O Cristóvão de Aguiar, à esquerda, na na apresentação da nova edição do seu livro Braço Tatuado (2008). Foto: cortesia de Alberto Branquinho (2008)
Capa do romance "Braço Tatuado - Retalhos da Guerra Colonial, 2ª ed Editora: Dom Quixote, Lisboa Colecção: Autores de Língua Portuguesa Ano de edição: 2008- Preço com IVA: 12,00 €
1. Continuação da (re)publicação do "Diário de Guerra", do nosso camarada açoriano e escritor Cristóvão de Aguiar (1940-2021), que faleceu na passada dia 5, aos 81 anos (*).
Organização: José Martins; revisão e fixação de texto (para efeitos de publicação no nosso blogue): Virgínio Briote (,a partir da parte VI, Carlos Vinhal).
Estes excertos, que o autor selecionou e cedeu amavalmente ao José Martins, para divulgação no blogue, fazem parte do seu livro "Relação de Bordo (1964-1988)" (Porto, Campo das Letras, 1999, 425 pp). (**). São onze ao todo os postes publicados no blogue, este será o último.
Não merecia tanto. Há mais de um ano que regressei da guerra e não há maneira de me sentir inteiro. Ando por aí, caindo aos bocados, vomitando pelas ruas, agarrado às grades de ferro de certos muros, cheio de pânico no futuro, que o presente, estou-o desperdiçando, por isso me agarro doentiamente ao passado, que bem sei que nunca foi um paraíso e a prova visível sou eu próprio.
Tomar, 17 de Dezembro de 1968
Vim esperar meu irmão Artur. Chegou hoje de Moçambique. Quando me abraçou, disse-me à queima-roupa que eu parecia um esqueleto ambulante. Respondi-lhe que era do estudo intenso a que me tinha submetido, já que me estava preparando para concluir o curso dentro de pouco tempo. Menti-lhe. Nunca o meu estudo teve uma intensidade por aí além. E nunca a teve, não porque não desejasse, mas porque nunca tive tempo. O que me sobra, depois das preocupações que tenho comigo, pouco ou nada representa.
Gerês, 21 de Julho de 1969
Vim para as termas em cata de alívio. Perguntei ao Louzã Henriques se fazia bem em vir. Disse-me que sim, que mal não me faria. Vai sempre ao meu jeito e não sei se isso me faz bem. Estou aqui há mais de uma semana. Saiu o Doutor Quintela e vim eu para o seu lugar. Ficou combinado em Coimbra. Ele costuma dizer que vem limpar a isca. Não me queixo do fígado, mas a função que exerce está alterada. Deve ser dos nervos.
Leiria, 27 de Janeiro de 1970
Fui hoje a mais um consultório médico. Já tenho percorrido vários. O costume. Sou um doente crónico. Tenho bem a quem sair, isto é, a mim mesmo ou ao outro que coabita em mim. Mas, hoje, sentia-me terrivelmente angustiado. Tinha comprado ontem um livro intitulado Viva sem Medo. Li-o de uma assentada, mas fiquei na mesma ou com mais medo ainda.
Último poste da série > 24 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22655: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte X: "apanhado do clima", o fim da comissão e o difícil regresso à vida civil, em Coimbra (Jan - jun 1967)
20 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22646: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte VIII: Contuboel , Fajonquito e Sonaco. Gravidez da Otília (Jan - ago 1966)
16 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22634: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte VII: Contuboel e Dunane (entre Piche e Canquelifá) (Out - dez 1965)
10 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22617: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte IV: Mafra e Tomar (Julho 1964/Abril 1965)
9 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22612: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte III: Mafra, maio-junho de 1964
8 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22611: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte II: Mafra, fevereiro-março de 1964
8 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22609: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte I: Mafra, janeiro de 1964
terça-feira, 26 de outubro de 2021
Guiné 61/74 - P22662: Fichas de unidades (21): CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 (Bolama, Contuboel, Cuntima, Farim, Binta, Jumbembem, Canjambari, Saliquinhedim / K3, 1969/71)
Companhia de Caçadores nº 2592
Identificação: CCaç 2592
Unidade Mob: RI 16 - Évora
Crndt: Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira
Divisa: -
Partida: Embarque em 24Mai69; desembarque em 30Mai69 | Extinção em 18Jan70
Síntese da Actividade Operacional
A subunidade foi constituída com quadros e especialistas metropolitanos e enquadrou pessoal natural das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe, tendo efectuado a 2ª fase da instrução de formação no CIM, em Bolama [e em Contuboel, o pelotão de mandingas] e sido seguidamente utilizada em patrulhamentos, reconhecimentos e contactos com as populações da região.
Em 6Nov69, foi colocada em Cuntima [região do Oio, sector de Farim], a fim de substituir a CCaç 2529 como força de intervenção e reserva do BCaç 2879, tendo sido empregada em várias acções, patrulhamentos e emboscadas na linha de infiltração de Sitató.
Em 18Jan70, a subunidade passou a designar-se CCaç 14, sendo considerada subunidade da guarnição normal a partir daquela data.
Observações - Não tem História da Unidade.
Companhia de Caçadores nº 14
Identificação: CCaç 14
Cmdts:
Início: 18Jan70 (por alteração da anterior designação de CCaç 2592) | Extinção: 2Set74
Em 18Jan70, foi criada por alteração da sua designação anterior, integrando quadros e especialistas metropolitanos, e pessoal da Guiné, das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe, que constituíam anteriormente a CCaç 2592.
Continuou instalada em Cuntima, nas funções de subunidade de intervenção e reserva do sector de Farim, com vista à actuação prioritária sobre a linha de infiltração de Sitató.
Após ter deslocado um pelotão para Farim, a partir de finais de Dez70, foi transferida para Farim em 20Fev71, depois de ter sido substituída, por troca, pela CArt 3331.
A partir de 10Fev73, mantendo no entanto a sede em Farim e continuando orientada para a sua anterior missão assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, para onde deslocou um pelotão.
Em 2Set74, foi desactivada e extinta.
Observações - Tem História da Unidade a partir de Jan72 (Caixa n." 117 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 382 e 634
Último poste da série > 7 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22607: Fichas de unidades (20): Batalhão de Comandos da Guiné (Brá, 1972/74), incluindo 1ª CCmdsAfr (1969/74), 2ª CCmdsAfr (1971/74) e 3ª CCmds (1972/74)
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
Guiné 61/74 - P22661: Tabanca Grande (527): António G. Carvalho, a viver em Ponta Delgada, ex-fur mil op esp, CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 (Bolama e Cuntima, 1969/70). É Deficiente das Forças Armadas. Senta-se no lugar nº 853, à sombra do nosso poilão
Foto nº 1 > Guiné > Bolama > Centro de Instrução Militar > CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 > 1969 > Da esquerda para a direita, os furriéis milicianos Eduardo Estrela, o Manuel Ramos Marques Cruz (, de Vila Real de Santo António, já falecido) e o António G. Carvalho.
Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Sector de Farim > Cuntima > CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 > Em Cuntima. Eu e o vagomestre Germano (do Porto). A inscrição que está no pedestal é de uma das companhias que esteve aqui, a CCAÇ 1789, do BCAÇ 1932 (1967/69), mobilizado pelo RI 15 (Tomar). A CCaç 2592 (futura CCAÇ 13) foi colocada em 6 de novembro de 1969, em Cuntima, a fim de substituir a madeirense CCaç 2529 como força de intervenção e reserva do BCaç 2879,
Este vagomestre mandava fazer muitas vezes bife com batatas fritas, e sempre servia uísque, quando estavámos em Portalegre, no IAO. Grande Germano.
1. Mensagem de António Manuel Gaspar de Carvalho, novo membro da Tabanca Grande, nº 753:
Data - domingo, 24/10, 21:10 (há 16 horas)
Assunto - Blogue
Olá, boa noite, Camaradas.
Terei muito gosto em pertencer como elemento activo na tertúlia.
Pertencia à CCAÇ 2592, ao que depois se veio a formar a CCAÇ 14, não foi rendição individual
Como diz o Estrela (eu já não me lembrava), pertencia ao 3.º pelotão, cujo alferes era o Azevedo.
Para não ficar pesado irei enviando fotos com algumas legendas. A foto n.º 1 foi tirada em Bolama, alguns dias antes de termos sido atacados (com mísseis) a partir de S. João, cujo comandante do IN (soube-se depois) era o 'Nino' Vieira, que certamente sabem, tinha sido cabo do exército Português.
Sou António Manuel Gaspar de Carvalho. (agora escolham o nome que pretendem usar). Actualmente sou 2.º Sarg. DFA
Na altura do embarque no navio Niassa, penso que a 24 de Maio de 1969, era Furriel Miliciano com a especialidade de Operações Especiais (Ranger), 1.º Classificado do 3.º turno de 1968, o 2.º Classificado foi o Humberto Reis, penso que da CCAÇ 2590 / CCAÇ12
No dia 2 de Março de 1970, por volta das 9 da manhã, em Cabele Uale caí numa mina antipessoal, com amputação abaixo do joelho), depois contarei a história.
Regressei a 11 de Abril de 1970, por evacuação, com destino ao HMP, após 38 dias de férias no HM 241, em Bissau
Abraço
AC
"Estive na CCaç 14, furrriel, ferido em combate, tenho algumas fotos, como faço?
Cumprimentos,
António G. Carvalho"
3. Resposta do nosso editor LG, na mesma data, às 17h23:
António: Sê bem vindo. Gostaria de te ter aqui ao lado do teu camarada Eduardo Estrela, que é do meu tempo (eu sou da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Manda duas fotos tipo passe, uma atual e outra do tempo da Guiné. Diz mais qualquer sobre ti. Terei muito gosto em apresentar-te à Tabanca Grande: somos já dois batalhões...
As fotos têm que vir digitalizadas (passas-as pelo scan), com legendas (data, local, etc.). E com boa resolução... Mantenhas. Um alfabravo. Luis Graça
4. Logo a seguir o Carlos Esteves Vinhal escreveu-lhe (e ele respondeu logo, na volta do correiro, vd. ponte 1, acima):
Data - Sábado, 23/10, 20:03
Assunto - Contacto com o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Entretanto, muito obrigado pelo teu contacto. Se aceitares a nossa proposta, teríamos muito gosto em receber-te como elemento activo da tertúlia do nosso Blogue.
Para o efeito, manda-nos uma foto actual e outra do tempo de Guiné (fardado), diz-nos o teu nome, posto, especialidade, data de ida e de regresso. Poderás ter ido integrado na CCAÇ 2592 que mais tarde passou a designar-se CCAÇ 14, ou mais tarde em rendição individual, depois confirma.
Podes começar a mandar-nos as tuas fotos, com as respectivas legendas (à parte) que indicarão, se te lembrares, o local, a data, a situação e quem está retratado.
Também nos podes mandar memórias escritas, em forma de estórias, com acontecimentos que ainda retenhas.
Para contactares connosco, utiliza este meu endereço (carlos.vinhal@gmail.com) e o do editor Luís Graça: luis.graca.prof@gmail.com
Ficamos na espectativa da tua resposta.
Em nome da tertúlia e dos editores segue um abraço e os votos de boa saúde.
Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil da CART 2732
Mansabá/Guiné/1970-72
Co-Editor dos Blogues:
Luís Graça & Camaradas da Guiné
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt
CART 2732
https://cart2732.blogspot.pt
5. Entretanto, o Eduardo Estrela, nosso amigo e camarada, da CCAÇ 14, deu-nos mais informação sobre o António G. Carvalho, em mensagem de sábado, dia 23, às 2oh33:
O António Carvalho era o outro furriel do meu grupo de combate da CCAÇ 14. (3.º Pelotão). Era um grupo só com 2 furriéis, eu atirador de infantaria e ele de operações especiais. Grande companheiro e amigo com o qual temos mantido, não obstante ele viver há muitos anos em Ponta Delgada, um relacionamento que se traduz nalgumas presenças físicas em almoços onde o António faz questão de participar.
Ainda hoje estivemos a falar ao telefone e voltei a falar-lhe do blogue.
Lamentavelmente no dia 2 de Março de 1970 por volta das 9 da manhã, em Cabele Uale, a caminho do corredor de Sitató, foi vítima duma mina A/P e perdeu um pé.
Ele tem coisas e histórias para contar e fá-lo-á tenho a certeza. É mais um a engrossar as tropas desmobilizadas mas activas.
Grande abraço
Eduardo
6. Nova mensagem do Eduardo Estrela:
Data - 24/10/2021, 23:11
Olá Luís, boa noite!
Na fotografia que o Carvalho mandou (Foto n.º 1), o da esquerda sou eu, ainda sem o bigode que me tem acompanhado até hoje.
Ao centro está o saudoso Manuel Ramos Marques Cruz, bom amigo que nos deixou há vários anos. Era natural de Vila Real de Santo António. À direita, está o António Carvalho.
Julgo não estar enganado se disser que a fotografia foi tirada no dia do juramento de bandeira e do desfile a seguir, das CCaç 13 e 14. Em Bolama.
Abraço, Estrela
7. Comentário final do editor LG:
António, és recebido de braços abertos. Tens aqui um lugar, o n.º 853, para te abrigares à sombra do nosso polião, árvore sagrada para os nossos amigos guineenses, guarmecendo e protegendo as suas tabancas. Para nós tem um grande simbolismo.
(*) Último poste da série > 16 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22547: Tabanca Grande (526): Manuel Oliveira, ex-fur mil at inf, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74): senta-se no lugar nº 850, à sombra do nosso poilão
Guiné 61/74 - P22660: In Memoriam (416): Victor Barata (1951-2021), ex-1.º Cabo da FAP, Especialista de Instrumentos de Bordo, BA 12, Bissalanca, 1971/73; membro da Tabanca da Grande desde maio de 2006 e fundador, em junho de 2007, do blogue Especialistas da BA 12... Era um "Zé Especial", tratado com muito carinho por "Vitinho"... Velório: hoje, a partir das 16h00 em Campia; Vouzela; missa de corpo presente às 15h00 de amanhã, seguindo depois o féretro para a Casa Crematória de Viseu
;
O nosso Comandante "Vitinho" partiu hoje 25 de Outubro de 2021
Em nome dos ajudantes do nosso Comandante, Companheiro e Amigo, apresentamos aos familiares, filho, irmão e restante família o nosso sentido pesar.
O corpo vai para a capela de Campia, Vouzela, às 16h00, de hoje, 25 de Outubro. O funeral realiza-se amanhã, dia 26 de Outubro, com missa de corpo presente às 15h00, segundo depois o corpo para a Casa Crematória de Viseu.
Um reparo: o blogue chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné > Blogue-fora-nada. Eu sou apenas o editor. A partir de hoje o blogue também é teu, de pleno direito. Vou publicar o texto adicional que me mandaste, e que é um bonito testemunho de solidariedade em tempo de guerra, ou seja, de camaradgem. Se tiveres fotos desses tempos que já lá vão, manda, que os tertulianos têm ainda a ilusão de que recordar é viver...
Monte Real > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca Grande > De que estarão a falar o Jaime Brandão (Monte Real / Leiria) e o Victor Barata (Vouzela)? Só pode ser do blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 de que o Victor é o fundador e comandante...
Notas do editor:
Guiné 61/74 - P22659: Notas de leitura (1390): Cabo Verde, os bastidores da independência, por José Vicente Lopes; Spleen Edições, 3.ª edição, 2013 (2) (Mário Beja Santos)

Queridos amigos,
Há que reconhecer que esta investigação de José Vicente Lopes nos assegura uma maior transparência para a compreensão da evolução do PAIGC antes, durante e após a luta armada na Guiné. O que mais impressiona neste trabalho, rigoroso dentro das regras do que se chama a história oral, é permitir ouvir os quadros cabo-verdianos, vinte anos depois das independências e perceber claramente que havia enormes divisões, desconfianças e desacertos nas linhas do rumo a traçar para os dois países. E perpassa, ao longo de toda esta investigação, de forma liminar, que aqueles dois povos não podiam coincidir para um futuro comum, eram patentes os antagonismos e os constrangimentos ditados pela cultura, pela identidade e até pela religião. É pena que o documento de José Vicente Lopes quanto a Cabo Verde não tenha o contrapeso de outro documento de igual valor e seriedade na Guiné-Bissau.
Um abraço do
Mário
Cabo Verde, os bastidores da independência (2)
Beja Santos
Trata-se do primeiro livro do jornalista e investigador José Vicente Lopes, construído a partir de entrevistas com mais de cem personalidades cabo-verdianas, guineenses e portuguesas, cruzadas com fontes documentais e bibliográficas: “Cabo Verde, os bastidores da independência”, por José Vicente Lopes, Spleen Edições, 3.ª edição, 2013.
Amílcar Cabral definira, em termos inquestionáveis, a unidade Guiné-Cabo Verde com uma grande consigna que levaria à independência os dois países. A tese, chamemos-lhe assim, não entusiasmou todos os simpatizantes do PAIGC, e muito menos os que dele estavam fora. Reconheço que o maior mérito deste livro é deixar claro o que separa a cultura guineense da cultura cabo-verdiana. Amílcar Cabral tudo fazia para encontrar afinidades históricas na complementaridade, camuflando problemas da longa duração de péssimo relacionamento entre os profissionais liberais, os funcionários da Administração colonial, os comerciantes de extração cabo-verdiana e as etnias guineenses. Logo em 1963 se pôs a questão da luta em simultâneo, pela independência da Guiné e Cabo-Verde. Não havia saída para lançar a guerrilha no Arquipélago, tão só a subversão, infiltrar elementos do PAIGC e sensibilizar as populações das ilhas, a luta armada foi sempre diferida, houve treino militar na RDA, na URSS e em Cuba, o desembarque adiado. Jorge Querido, então o responsável do PAIGC em Cabo Verde, ainda supôs ser possível lançar comandos e atacar aquartelamentos e fazer reféns, mas tudo isso foi dado como inviável, utópico. Alguém comenta: “Seriamos depois cercados e morreríamos de fome, ou então acontecia o contrário: o próprio povo chacinaria em dois tempos os dirigentes da luta armada em Cabo Verde, antes que ele próprio morresse de fome”. Amílcar Cabral viverá em permanente tensão todo o seu relacionamento com os cabo-verdianos, houve mesmo a sugestão de criar um posto avançado da luta em Nouakchot, na Mauritânia, mas os mauritanianos não apoiaram tal projeto. E por ironia da História, estes cabo-verdianos desviados da luta armada nas ilhas irão ter um papel determinante na ofensiva de 1973.
Nem mesmo com a morte do líder do PAIGC o problema da luta armada em Cabo Verde diminuiu de intensidade. Abílio Duarte resolve desenterrar o problema no II Congresso do PAIGC, realizado de 18 a 22 de julho de 1973, na região do Boé. Ele sugere a criação da Comissão Nacional de Cabo Verde, foi fortemente contestado, acusado de estar a quebrar a unidade. José Vicente Lopes vai dando a palavra a outros protagonistas como Osvaldo Lopes da Silva, que também tinha uma relação cortante com Cabral. Segundo ele, o líder do PAIGC entrega-lhe a missão de tomar um quartel, escolheu-se Guileje. É neste congresso que Abílio Duarte terá salvo Osvaldo Vieira de fuzilamento, corria o rumor de que este guerrilheiro mítico estava seriamente envolvido no complô do assassinato do líder. Osvaldo foi suspenso de todas as suas atividades e morreu alguns meses depois.
É neste contexto que vai ganhando notoriedade Pedro Pires, que se irá distinguir na dita Comissão Nacional de Cabo Verde. Aristides Pereira é confirmado como novo secretário-geral do PAIGC e Luís Cabral como seu adjunto, julgava-se ter pacificado o interior do partido, a rivalidade entre gente de dois países entrara num compasso de espera, impunham-se medidas enérgicas de luta, como virá a acontecer em Guileje, Gadamael e Guidaje e em 24 de setembro dá-se a independência unilateral, o autor descreve a diplomacia de Cabral, a procura da conquista dos emigrantes, a operação de preparar eleições junto das populações afetas ao PAIGC, a elaboração da Constituição, o apoio da ONU e de muitas dezenas de países para reconhecerem a Guiné-Bissau como um Estado independente parcialmente ocupado por uma potência colonial.
Com muito detalhe e pormenor, o autor descreve Cabo Verde nas vésperas do 25 de abril e não ilude o facto de que a agitação do PAIGC nas ilhas era muito reduzida, a PIDE sufocava com relativa facilidade os agitadores. E assim chegamos ao 25 de abril, logo o PAIGC começou a preparar o regresso às ilhas de quadros relevantes e mesmo oposicionistas de peso ao PAIGC, como Leitão da Graça, pensaram em regressar. Começam as negociações com as novas autoridades portuguesas, assim se vai chegar aos acordos de Argel, o PAIGC entrará em Bissau em outubro de 1974. As negociações decorrem numa atmosfera difícil quanto ao reconhecimento à independência de Cabo Verde, imiscuíam-se interesses geoestratégicos e geopolíticos, tais como as preocupações da NATO, o temor de bases soviéticas nas ilhas, dificuldades em voos da África do Sul no aeroporto do Sal, por exemplo.
Os quadros cabo-verdianos entrarão em luta renhida, na disputa pelo poder. Jorge Querido é arredado, guerreiam-se várias linhas, com peso para os marxistas-leninistas e trotskistas, o PAIGC terá a vida facilitada por uma linha do MFA que impedirá a circulação de outras forças políticas, incluindo a de Leitão da Graça. De novo José Vicente Lopes transfere a sua linha de leitura para a Guiné, voltamos ao protocolo de Argel, o PAIGC entra em alta com o reconhecimento internacional, volta-se a Cabo Verde e descreve-se minuciosamente a consagração do PAIGC, o modo como irão ser sufocadas as oposições, a formação de um Governo de transição, os saneamentos, o papel desempenhado por Aristides Pereira, Luís Cabral e Pedro Pires. Há eleições em 5 de junho de 1975, o partido único elege 56 deputados, há Assembleia Nacional Popular. Aristides Pereira é eleito Presidente da República, ele apela a que “todos os cabo-verdianos, independentemente da sua tendência, acabarão por aderir à causa da independência da sua terra”. Aristides Pereira e Pedro Pires não ignoram os condicionalismos internacionais, as colónias de emigrantes cabo-verdianos nos Estados Unidos e na Europa, expectantes quanto à natureza do Estado a implementar, os sucessivos anos de seca, a fortíssima oposição ao PAIGC. E nessa hora de independência, as figuras gradas da oposição são recambiadas para Portugal.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 18 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22640: Notas de leitura (1389): Cabo Verde, os bastidores da independência, por José Vicente Lopes; Spleen Edições, 3.ª edição, 2013 (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P22658: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XIX: Copenhaga, Dinamarca, junho de 2017
1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. Texto e fotos recebidos em 27 de setembro último.
Copenhaga, Dinamarca, junho de 2021
Palácios reais que nunca mais acabam, Amalienborg, Christiansborg, Charlottenborg, Rosenborg, as jóias da coroa, de portas abertas para toda a gente,
Meio dia para ir ao Tivoli, não o teatro lisboeta, na nossa Avenida da Liberdade, não o palácio e jardins nos arredores de Roma, mas o Tivoli da Dinamarca plantado na cidade para diversão das pessoas da terra. Um lago, uma montanha russa, um altaneiro pavilhão chinês, uma péssima cópia de um templo indiano. Carrocéis piramidais, um restaurante croata, relvados, flores e jardins. Entretenimento para novos, velhos, para toda a gente.
Na cidade, comer, dormir, respirar, tudo muito caro se considerarmos a minha depauperada bolsa lusitana.
Passou-me ao lado o bairro hippie de Christiania, existente desde 1971, paraíso para a venda de drogas leves e pesadas, tolerado pelas complacentes autoridades dinamarquesas. É uma área que não faz parte das minhas opções de vida.
Nyhavn, o Novo Porto é um dos ícones da capital. Trata-se de um largo canal escavado no século XVII por prisioneiros suecos, o que possibilitou a entrada de navios quase até ao coração de Copenhaga, transportando peixe e todo o tipo de mercadorias. De ambos os lados de Nyhavn erguem-se casas antigas com vários andares, cada uma com a sua cor alegre, em tons pastel fortes, os amarelos, azuis, verdes, vermelhão. E bares, restaurantes, cafés, alguma música amenizando as noites.
Como disse Hamlet, príncipe da Dinamarca, ao aproximar-se das horas da morte, “o resto é silêncio.” Silêncio, após o ruído incessante dos dias, também nestas paragens nórdicas.
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Nota do editor:
(*) Último poste ds série > 6 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22602: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XVIII: Montanha Wutai, província de Shanxi, China, 2002
domingo, 24 de outubro de 2021
Guiné 61/74 - P22657: (De) Caras (180): 55 anos depois, o reencontro ao vivo, em São da João da Madeira, com o ex-alf mil médico Francisco Pinho da Costa (BCAÇ 1888, Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68) (João Crisóstomo, Nova Iorque, de visita a Portugal)
1. Mensagem do João Crisóstomo, com data de hoje, dia 24, às 10:14:, antes do encontro marcado para hoje, domingo, com missa às 12h30, no Mosteiro do Varatojo, Torres Vedras, das famílias Crispim & Crisóstomo (*):
Caro Luís Graça,
Acabo de chegar a casa (, em Torres Vedras, depois da Vilma ter regressado a bordo, no passado, dia 20, vinda da Eslovénia) . Gostas que partilhemos experiências relacionadas com a Guiné … aqui vai o que se passou ontem comigo:
Fui a Coimbra onde tinha deixado para encadernar um calhamaço que comprei um dia numa feira em Nova Iorque. Reencaderná-lo lá era proibitivo mas lembrei-me de o fazer em Portugal. E foi em Coimbra que encontrei quem o fizesse.
Não te preciso dizer o que senti, que em circunstâncias é experiência muito repetida , mas que não deixa de ser menos sentida sempre que um de nós reencontra um camarada.
Dentro em pouco falávamos da Guiné:
Trata-se do alferes médico Francisco Pinho da Costa, do BCaç 1888, sediado em Bambadinca, em 1965 /66. Tem agora 84 anos, com uma memória ainda muito boa, lembrando coisas nos seus pormenores, capacidade que eu há muito perdi substancialmente.
Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Fevereiro de 1966 > Cecília Supico Pinto, presidente do Movimento Nacional Feminino, na sua 1ª visita à Guiné, então já com 44 anos (ia fazer 45 em 30 de maio de 1966). De pé à esquerda, na primeira fila, de óculos, o alf mil médico Francisco Pinho da Costa, hoje, com 84 anos, a residir em São João da Madeira.
Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Mas foi a leitura do relatório sobre a operação Gorro que lhe ocasionou ume enxurrada de comentários e detalhes, alguns deles a meu respeito que eu tinha já completamente esquecido mas que me vieram à memória então.
Lembrou que o Capitão Pires o havia mandado para ir nessa "saída ao mato”. Mas, quando ele se preparava para o fazer, alguns elementos da tabanca vieram ter com ele, avisando-o que não fosse. Mas ele não lhes deu ouvidos: o capitão tinha-o mandado ir e portanto ia. Mas que mais tarde os mesmos membros da tabanca que o haviam aconselhado a não sair, voltaram e desta vez com mais insistência o avisavam de que não devia ir pois que iam ser atacados. Que não lhes deu atencão, mas que, perante a insistência deles de que iam ser atacados, resolveu então levar uma G3, como todos os outros.
Lembra-se de ir em pé em cima do “granadeiro”, agarrado à “parede da frente "por trás do condutor António Figueiredo, quando a mina explodiu e foi pelos ares. "Foram os maiores minutos da minha vida”… sentiu e ficou consciente do sopro da explosão que o fez ir pelos ares mas que depois "parecia nunca mais chegar ao chão”…
E lembra-se bem de mim: que eu ia ao lado do condutor e que eu ia a dormitar quando a mina rebentou. A mim e ao condutor não nos sucedeu nada, apesar de termos sido lançados pelos ares. Lembra-se que eu o abracei quando vi que ele estava vivo; e lembrou-me dum facto que de todo tinha esquecido até hoje: que lhe disse que eu estava ferido, mas que não sentia dores, mas que — dizia eu— o sangue me corria pelas pernas. E logo verificou que o que eu pensava ser sangue a escorrer na perna era apenas o azeite de uma lata de sardinhas… Sucede que eu tinha comigo a ração de combate e um estilhaço qualquer atingiu o meu saco da ração de combate mas a lata de sardinhas salvou-me do pior. E a verdade é que quando ele mencionou isto eu lembrei-me imediata e vivamente de tudo isso.
E foram umas atrás das outras, as histórias e memórias que relembramos, umas boas, outras menos boas: a historia dum alferes, Alves Moreira, conhecido como "o Grilo” que era comandante do Xime: havia no Xime um cão de guerra ( devo dizer que nunca ouvi isto antes) que, embora não atacasse ninguém sem razão, só respeitava mesmo o soldado que o havia treinado. O alferes porém pensava que, porque alferes, sabia melhor que os outros, e gostava de mostrar as suas capacidades e conhecimentos no manejo de cães de guerra; mas o cão parecia não concordar e não reconhecia autoridades; e um dia atirou-se ao alferes que apenas se salvou de pior porque o treinador presente controlou imediatamente “ aquela falta de respeito” a um oficial .
Do Enxalé lembrou ainda que quando aí esteve havia uma grafonola; mas o problema é que só havia um disco e ele depressa se cansou da variedade musical que isso oferecia… Foi neste momento que eu compreendi que deve ter sido então no Enxalé que nasceu o popular dito "vira o disco e toca o mesmo"…
E quando estávamos nós neste desfilar de recordações apareceu um indivíduo que conhecia bem o nosso Francisco Pinho da Costa. Depois das devidas apresentações, vim a saber que se tratava de um outro veterano da Guiné, de nome António Azevedo Praia de Vasconcelos. Também ele foi alferes miliciano médico nos anos 1966/68 do BCAV 1897, cujo comandante era o tenente coronel Vasconcelos Porto, e lembrava as companhias desse batalhão : CCav 1615, 1616 e 1617 . Esteve em Canquelifá, Nova Lamego, Madina do Boé, Mansabá, e Bissorã (se bem percebi estes últimos dois nomes).
João Crisóstomo