1. Mensagem do nosso camarada Júlio Pinto, ex-2.º Sarg da CART 769, (Angola, 1967/69), com data de 13 de Setembro de 2008
Amigo Luís Graça,
Eu sou aquele combatente de Angola que um dia me dirigi a si para saber notícias sobre o desaparecimento do meu amigo e colega da juventude, Fur Mil Júlio Lemos, da CCAÇ 797 que esteve na Guiné, em Tite de 1965 a 1967 (1).
Já tenho muita informação sobre o sucedido e sinto-me muito mais aliviado. Obrigado a si e aos tertulianos.
Mas agora o motivo de me dirigir novamente a si, é outro.
Eu estive no nordeste de Angola na fronteira com o ex-Congo Belga, mas sempre atento ao que ia sucedendo tanto em Moçambique como na Guiné e não há dúvida que os jovens deste País, mais sacrificados, foram aqueles que tiveram de passar pela Guiné, pois a Guiné era um Vietname em ponto mais pequeno. Numa área tão pequena, tantos e tantos jovens para sempre ficaram.
Assim quero aqui prestar a minha HOMENAGEM a todos aqueles que estiveram na Guiné e para quem houve regresso, aos que pagaram com vida a defesa da Guiné espero que Deus lhes tenha reservado um lugar especial, pois eles merecem.
Os meus cumprimentos
Júlio Pinto,
Ex-2.º Sarg Mil
CART 769
Angola 1967/69
2. Comentário de CV
Caro Júlio Pinto
Se não te importas, à maneira da Tabanca Grande, vamo-nos tratar por tu.
Ficamos satisfeitos por te termos sido úteis na busca da causa do falecimento do teu amigo de infância, nosso malogrado camarada, Júlio Lemos.
Aceitamos e agradecemos a tua homenagem em nome de todos quantos combateram na Guiné. Sentimo-nos honrados pelo teu reconhecimento.
Na verdade neste TO, as condições de clima e terreno eram particularmente difíceis. O território ocupado por nós e pelo PAIGC, por vezes, estava separado por escassos quilómetros. Na Guiné, a guerra fazia-se quase porta a porta, mal se podendo sair do arame farpado em muitos quarteis. Permito-me salientar as ZA junto às fronteiras e no sul do território onde havia grandes dificuldades operacionais.
Ou era o IN, que por se infiltrar a partir principalmente da Guiné-Conacri, dificultava o movimento das NT, quer flagelando os quarteis, quer atacando colunas auto e embarcações da Marinha, quer as condições do terreno no tempo das chuvas, que danificavam irremediavelmente as picadas, dificultando o fornecimento de víveres e munições aos aquartelamentos, originando muita carência alimentar, escassez de meios de defesa e principalmente sérias dificuldades na evacuação de feridos e mortos.
Como deves saber, para se navegar nos rios da Guiné, mesmo nos principais, estávamos sujeitos às marés, pelo que até esta circunstância denunciava o momento da nossa passagem. Eles sabiam quando nos deviam esperar.
Viveram-se horas muito difíceis e mesmo a tropa especial, como os Comandos, Páras e Fuzileiros Navais passaram momentos dramáticos nas bolanhas, rios e matas daquele pequeno território. Não podemos esquecer os nossos bravos pilotos da nossa Força Aérea que arriscavam o material e principalmente a própria vida, para tentar chegar onde mais ninguém chegava.
Não se pode no entanto passar para segundo plano Angola e Moçambique, onde camaradas nossos passaram também maus bocados, embora com mais possibilidades de rotação para zonas menos más. Na Guiné não havia essa possibilidade, porque até Bissau chegou a ser atacada algumas vezes com foguetões.
Queremos que te consideres amigo da nossa Tabanca Grande e aparece sempre que queiras.
Um abraço fraterno da Tertúlia.
Carlos Vinhal
_____________
Nota de CV
(1) - Vd. postes de 18 de Setembro de 2007
Guiné 63/74 - P2115: Em busca de...(12): Notícias do desaparecimento de Júlio Lemos, ex-Fur Mil da CCAÇ 797, Tite, 1965/67 (Júlio Pinto)
Guiné 63/74 - P2116: Fur Mil Júlio Lemos, da CCAÇ 797, morto em Rio Louvado, por ferimentos em combate (A. Marques Lopes)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Camarada Júlio Pinto
Sinto-me particularmente honrado pelo implícito da tua Mensagem. Temos “falado” do assunto e é bem gratificante saber que “falando”, olhos nos olhos, acerca dos acontecimentos e das dúvidas que nos acossam as noites de insónia, acabemos por poder dizer que nos sentimos mais aliviados. Felicito-te por isso. Mas tenho pena que os “sabedores” mais próximos dos acontecimentos se não descosam do seu saco, deixando a luz penetrar nalgumas sombras que persistem em resistir.
Abraços, do
Santos Oliveira
PS: Onde se lê CART 769 deve ser CART 1769. Correcto?
Luis e Julio Pinto,
segundo os estrategas militares todos os terrenos podem ser bons para uma guerra.
Mas pior que as bolanhas da Guiné houve um general Amilcar Cabral, que marcou o "ritmo" da guerra. Enquanto os outros generais, principalmente em Angola, estavam parcialmente desacreditados, interna e externamente, Amilcar Cabral tinha todos os apoios desde Cuba até à Suécia passando pelos mísseis soviéticos.
Só que ninguem quer realçar o nome deste "BERDEANO", principalmente os ex-combatentes africanos.
Sem Cabral, a "nossa guerra" seria muito diferente tanto para nós como para Angolanos, como Moçambicanos, e principalmente Guineenses.
Para pior? para melhor?
Antº Rosinha
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