Nos postes anteriores esqueci-me de mencionar outras pessoas com quem estive a falar, por uma razão ou outra: (i) o nosso tertuliano Cor António Pereira da Costa (o único que ainda está no activo, sendo director da biblioteca do Exército, em Coimbra; falámos muito rapidamente sobre as últimas diligências relativas ao caso do António Batista, o morto-vivo do Quirafo); (ii) o jornalista Joaquim Furtado (que está a fazer investigações sobre a morte dos 3 majores no chão manjaco, e que se mostrou particularmente interessado no dossiê, organizado pelo nosso camarada Afonso M.F. Sousa)... Também cumprimentei e conheci pessoalmente o Eduardo Dâmaso. Reencontrei igualmente um antigo colega da DGCI - Direcção Geral das Contribuições e Impostos, o Torres, que afinal também passou por Guileje , no tempo do Cap Corvacho (CART 1613, 1967/68)...Convidei-o a integrar a nossa Tabanca Grande. Tive igualmente o prazer de estar por uns breves minutos com o Prof Eduardo Costa Dias, do ISCTE, um grande especialçista da Guiné-Bissau onde vai regularmente... Acabo de receber hoje um mail dele, que diz o seguinte:
"Como vais? Ontem acabamos por não nos despedirmos. Luis: achas que conseguirias meter na noticia que certamente farás no blog acerca do lançamento do livro, a informação de que vários homens grandes de Guiledge, sabendo do lançamento do livro, fizeram questão de enviar mensagens gravadas ao Coutinho e Lima e que essas mensagens foram entregues ao Coronel?"... Fica dada a notícia. Infelizmente, não tenho fotos de toda a gente...
Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
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1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves:
Caros Luís, Virgínio e Carlos
Embora a pergunta da sondagem [º 10, a decorrer de 12 a 18 de Dezembro] seja para mim muito perceptível, julgo que a mesma não está bem elaborada e poderá induzir em erro.
O discordo poderá muito bem estar a ser utilizado como apoio a uma decisão, de que afinal se quer discordar. E a inversa, claro.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
2. Resposta de Luís Graça:
Joaquim: É sempre complicado... A questão tem de ser clara, concisa e precisa... Agora já não posso mudar (a não ser anulando a sondagem)... Vou acrescentar uma nota, do tipo:
A questão é: Discordas ou concordas com a seguinte afirmação: "A posição de Guileje era tão defensável como a de Guidaje ou Gadamael [e não Gandembel, como por lapso ficou escrito...], pelo que a decisão de retirar em 22 de Maio de 1973 foi um erro".
Eu sei que mesmo assim é discutível: Posso achar que a posição era defensável e mesmo assim apoiar a decisão de retirar... O que o Coutinho e Lima procura demonstrar, apoiado em factos e documentos, é que a posição de Guileje tornara-se indefensável na noite de 21 de Maio de 1973 e que para poder continuar a defender a missão (a protecção de civis e militares ao cuidado do COP 5) só lhe restava retirar para Gadamael...
Este é o tipo de decisão clássico, em que o decisor está perante um dilema, não tem mais alternativas... Ou foge ou luta ("flight or fight"), ou retira ou resiste... Repara que a retirada podia ter-se transformado numa tragédia... Mas o mesmo podia ter acontecido caso o decisor optasse por ficar e resistir: sem comunicações, sem água, sem munições, sem reforços, sem apoio aéreo, com os abrigos superlotados (3 vezes mais do que a sua capacidade prevista)...
O PAIGC estava em condições de tomar o quartel, provocar muitas baixas mortais e aprisionar os militares (c. 200) e a população (c. 500)... A humilhação para o exército português teria sido muito maior; o PAIGC iria usar a conquista de Guileje (não o quartel mas os seus defensores) para efeitos de propaganda interna e externa...Uma coisa é conquistar um quartel vazio, outra é aprisionar (ou matar) 700 homens, mulheres e crianças, civis e militares...
Este é o raciocínio do nosso coronel, um homem que foi condenado antes de ser julgado. Mais: um homem solitário, sem apoios, nem à esquerda (MFA) nem à direita... Preso durante um ano, com redução do vencimento a metade, foram os seus amigos, em Bissau e em Lisboa, que se quotizaram (5 mil escudos / cada) para contratar os serviços de um bom advogado (João Palma Carlos)... Quatro advogados que cumpriam o serviço militar em Bissau, como oficiais milicianos, foram impedidos de o defender...
É importante ler o livro, para depois poder tomar posição...
De qualquer modo, eu não quero que a sondagem se transforme em acção de julgamento do comportamento do Coutinho e Lima, que é nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande... Não quero que os nossos leitores tomem uma decisão emocional, mas tão apenas que votem, apreciando os factos...
Obrigado pelo teu interesse e cuidado... Tive pena de não te ver no sábado... Temos que começar a pensar no IV Encontro... Um abraço.
3. Resposta de Joaquim Alves:
Caro Luís
Não me passa pela cabeça fazer um "julgamento" do Coutinho e Lima e nem sequer tornar ainda mais dificil a sua vida ou a sua memória.
A verdade é que também não fui eu ou tu, ou qualquer outro, que decidiu fazer um livro para defender a sua posição.
Quando decidimos tomar uma posição pública, como ele decidiu tomar em relação a este assunto, fica-se sujeito à opinião dos outros.
Claro está que este assunto terá sempre pelo menos duas opiniões distintas: os que concordam com a decisão e os que não concordam.
Mas mesmo entre uns e outros as razões para o apoio ou a rejeição podem ser diversas, razões que podem envolver a política e razões da política, razões sentimentais, razões de nacionalismo exarcebado, razões de simpatia, e tantas mais que não têm fim.
E, meu caro Luis, é uma discussão que não tem fim, porque não há nada que prove que poderia acontecer isto ou aquilo.
Verdade é que, tanto Gadamael, como Guidaje, apesar de cercadas e até por mais tempo e com mais baixas, resistiram e ganharam essa guerra "especifica".
E a dúvida sempre restará, ou seja, será que com um novo comandante, e tropas especiais Guileje não teria destino igual aos outros? Não se serviu de qualquer modo o PAIGC do abandono do Guilege para declarar a guerra ganha?
São assuntos muito delicados e que nos tocam ainda de um modo, quer queiramos quer não, apaixonado e eu, meu caro Luis, sofro um pouco disso, da emoção à flor da pele.
Terei todo o cuidado nas coisas que eventualmente possa escrever sobre o assunto.
Julgo que ficou mais esclarecida agora a pergunta da sondagem.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste anterior desta série > 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
(**) Para aquisição do livro, contactar o Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima
Rua Tomás Figueiredo, nº. 2 - 2º. Esq.
1500 – 599 LISBOA
Telefone: 217608243
Telemóvel: 917931226
Email: icoutinholima@gmail.com
2 comentários:
Em 1973, em Mampatá, ouvimos, durante uma semana inteira o martírio de Guiléje. Ouvi também dizer que uma bojarda caíu no depósito de géneros e a população faminta devorou os destroços alimentares.Sem comida, sem água, sem munições, sem evacuações...e sem certezas quanto ás tropas especiais, quem gostaria de um Vassalo e Silva(com todo o respeito) reeditado.
Talvez não tenha sido exactamente assim.
O Mexia Alves já explicou que se a situação era "militarmente insustentável" em Guileje, não o foi em Guidage e Gadamael, com mais mortos, em cercos ou avanços dos militares do Paigc, com combates mais prolongados e creio bem mais duros. O que poderia ter acontecido se Coutinho e Lima não tem ordenado o abandono entra no campo das conjecturas.
A verdade dos factos, segundo Coutinho e Lima é que os guerrilheiros do Paigc, segundo Coutinho e Lima, só se aperceberam do abandono de Guileje três dias depois das Nossas Tropas terem retirado.
A questão era, sempre foi, política, a guerra injusta que Salazar e Caetano nos mandaram fazer.
Um abraço,
António Graça de Abreu
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