quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3648: Pensar em Voz Alta (Torcato Mendonça) (18): Guileje ainda é cedo, Saiegh 18/12/78: foi há trinta anos...


MEMÓRIAS ou PENSAR em VOZ ALTA


Torcato Mendonça



1 - Não sei ao certo se “Penso em Voz Alta” ou o faça só para mim.

Pensar só para mim foi um recalcamento de anos. Um esconder, um calar uma parte do meu passado, tão curto e tão intensamente vivido.
Uma Memória, uma velha, cada vez a ficar mais velha recordação da passagem pela guerra da Guiné.
E porquê? Para quê tentar esconder ou recalcar essa memória que, em nada envergonha essa parte, enquanto jovem, do meu passado. Pelo contrário.
Por isso:

Hoje, pela manhã abri o Blogue e li ao rolar do rato. Apareceu Peniche e o “Cerro do Cão”. Parei a pensar um pouco, somente um pouco. Afazeres e compromissos vários, obrigaram-me a sair. Não me impediram de pensar.

Agora, com a noite fria a bater lá fora gelando esta Cova entre serras, recolhi ao lar e reli o texto. Mais calmamente e, curiosamente ou nem por isso, identifico-me com que lá foi escrito.
Senti essa maneira de pensar e recordar o passado, certo passado comum a tantos homens. Não só no apelo á memória e a torná-la presente, mas também o encontro com velhos companheiros ou camaradas, daquela parte comum de vida. Depois conviver novamente em recordação desse passado e, aos poucos, sentir a alegria do encontro, do convívio.
Só que há um custo: Há sempre um custo. A este chama-se despedida, afastamento e até para o ano ou para a próxima, que se quer logo ali.
Mas vale a pena. Não sou muito assíduo destes encontros. A minha vida corrida …! Prefiro contudo justificar, até porque o sinto com a frase ”Dói-nos muito comparar o que somos e o que fazemos com o que fomos e o que fizemos”…

2 – Parece que não, talvez seja pensar pelo absurdo, para mim claro, mas podemos entroncar o que atrás foi dito com a sondagem sobre o abandono de Guileje.


Quando a vi, á esquerda da página do Blogue disse para mim:
- É prematura. Devia esperar-se um pouco mais. Possivelmente não terei razão. Possivelmente há pessoas com ideias já formadas. Possivelmente há…só que a mim ainda me faltam documentos de análise. O livro pode ser uma ajuda.

Quando foi público o telefone do Coronel Coutinho e Lima entrei em contacto com ele. Falei com a esposa e posteriormente o Coronel ligou-me. Depois da apresentação enviava-me o livro. Espero por isso. Preciso de o ler. Necessito conhecer, a versão de quem decidiu abandonar um aquartelamento.

Sempre me questionei sobre tão melindrosa tomada de decisão. Não tenho opinião formada. Fui treinado para vencer. A divisa do Capitão Comando Zacarias Saiegh, assassinado em 18 de Dezembro de 1978, era “Matar ou Morrer”.
Pode haver quem não apoie ou concorde. Pode haver quem concorde. Pode haver…na guerra elimina-se o inimigo, abate-se…e não se mata.
Só que fomos treinados para morrer se necessário, para cumprir e fazer cumprir ordens.
Só que dar ordens não é fácil. Em jogo estão a vida de homens. O erro, a ordem indevida pode provocar a morte de quem comandamos. E o inverso?

Fui um simples oficial subalterno, um soldado, do Senhor Marechal António de Spínola, Brigadeiro e depois General enquanto estive na Guiné. Respeitei-o e respeito a sua memória. Por ora é suficiente.
Conheço o Senhor Coronel Alexandre Coutinho e Lima. Respeito-o. Nada mais adianto. Não tenho o direito, legitimidade e os conhecimentos para opinar. Qualquer juízo será pessoal e só a ele o diria. Vou ler o livro.
Acrescentar algo mais é dispensável. Seria pretensioso de minha parte.

3 – Parei aqui, jantei e passado tempo voltei ao blogue.

Espanto meu Os Guias. Falavam deles, de guias que no meu tempo foram (os que me guiaram) amigos, camaradas. Outros, antigos combatentes do PAIGC, depois das missões eram entregues a quem de direito…agora leio, releio e…foi aqui escrito que eram abatidos alguns…Aguiar (não da Beira – de malvadez)?! Quando, onde e porquê trazer isso á colação?
Porquê?
Lembrei-me do tal “Sítio de Afectos”, do tal lugar, sitio, site ou o que lhe queiram chamar, onde, velhos combatentes, escrevem, desabafam, contam estórias dentro de regras (X dez) definidas. Divergem, convergem – convivem.
De quando em vez um pequeno desvio. Lógico, normal e, até, salutar. Não mais que um desvio, um pequeno desvio…Aguiar, ainda por cima pior que isso…Aguiar só da Beira (vou ver o mapa), fiquei, geograficamente, confuso.

4 – Ainda o Cherno Rachide.

É uma figura incontornável da Guiné.
O Poder dele, talvez, quem sabe, era tal que os 82, os 122 e eteceteras se desviavam de Quebo e quedavam-se por outro lado…quem sabe? Quem sabe…malhas que o Império teceu…

5 – De facto sinto a “velhice”.

Mas o Apocalipse Now, A Dança das Valquírias, a loucura…ficam…marcam-me, dizem-me que o soldado Português, com Viras e Fados, era melhor combatente.
Lá, cá, na solidão, na alegria ou tristeza, gosto de música clássica em alto som. Precisava dela agora. Fico-me pelo “ Oceano Pacifico “ na R.F.M.
__________

Notas de vb:

1. Torcato Mendonça, ex-Alf Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69

2. Último artigo da série em

4 comentários:

Anónimo disse...

ainda bem que não opinaste sobre guileje
ainda bem que vais ler o livro
ainda bem que conheces o coutinho e lima
se quizeres saber a verdade não precisas do livro pois só vais saber a verdade do cor coutinho e lima
eu se estivesse no teu lugar depois de ler o livro quereria ouvir outras testemunhas
eu foeneço-te os nomes e moradas dos que realmente viveram o drama
de não ter o que comer, não ter o que beber, não ter sitio onde fazer as necessidades ,que viviam com a população aterrorizada nos seus abrigos, não ter reforços, não ter apoio aereo, não ter evacuações, estar sobre fogo de obuses ewtodo o tipo de metralha, podes também ouvir as esposas os filhos e os netos do pessoal da ccav 8350,do pelotão de artilharis (GA 7) do pelotão fox, do pessoal do cop 5, dos milicias,etc etc npara que possas opinar com fundamentos.convido-te (se quizeres eu convido-te para o próximo encontro de " OS PIRATAS DE GUILEJE")para conviveres connosco, não opines só com base no testemunho de um livro. eu já o comprei,claro,pois só me faltava a versão do então meu Major Coutinho e Lima (grande Homem).
um abraço amigo para ti do
JOSE CARVALHO
EX FUR MIL OP ESP
PIRATA DE GUILEJE


PS
ah! eu caí numa emboscada em gadamael onde morreram 4 homens, um deles o Alferes Branco, recentemente chegado á Guiiné, e que saíra para o mato pela primeira vez.
se pretenderes saber como é possivel sairem cerca de 14 homens para uma patrulha eu conto-te a minha versão.
até á próxima
para terminar eu venero o
CORONEL COUTINHO E LIMA
como já expressei publicamente
um abraço.

Anónimo disse...

José Carvalho:eu nunca opinarei sobre a saída de Gileje. Disse-o no escrito. Conheço o que tem saído ,aqui no Blogue, sobre ti (mesmo a ultima do Correio da Manhã)e outros relatos sobre aqueles acontecimentos. NUNCA,SOBRE ELES OPINAREI e, menos ainda, farei um juízo do que aconteceu e sobre os seus intervenientes.É contra os meus princípios ou a minha forma de estar na vida.
Gosto de saber o que efectivamente se passou. Por isso vou ler o livro. Mas isso será pessoal. Igual a tanto do que queremos e gostamos de saber...meramente pessoal. Havemos de falar. Um abraço do Torcato

Anónimo disse...

OBRIGADO PELAS TUAS PALAVRAS
EU NÃO FUI IRÓNICO
SIMPLESMENTE INTERPRETEI MENOS BEM AS TUAS PALAVRAS
E TU FOSTE UM DE NÓS
DOS QUE SOFRERAM AS AGRURAS DA GUERRA DA GUINÉ
SÓ POR ISSO MERECES O MEU/NOSSO RESPEITO
BEM HAJAS
UM FORTE ABRAÇO TABANCAL.
J CARVALHO

Anónimo disse...

Tenho o livro, ainda não o li e não preciso de lê-lo para confirmar as afirmações do Coronel Coutinho e Lima, na apresentação do mesmo...
Estávamos entregues aos bichos…
Estive em Gadamael (tropa macaca) no período, já aqui relatado pelo Victor Tavares (P2729), corroboro tudo o que escreveu nesse "poste" e se o pessoal da minha companhia não sofreu "baixas", penso que o deve aos paraquedistas e aos deuses...
Morreu sim, um furriel de minas e armadilhas, penso que de Espinho, por falta de socorro - os helis não tinham autorização para ir a Gadamael, ordens do Comando de Bissau!
Um abraço,
Bernardo Godinho