sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3920: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (2): Opção inicial, uma tabanca algures no sul, segundo Luís Cabral (Nelson Herbert)

1. Mensagem do jornalista guineense Nelson Herbert (n. 1962, Bissau), da secção portuguesa da Voz da América, e membro da nossa Tabanca Grande desde Março de 2008 (*)

Assunto - Madina do Boé (**)

Caro Luís e Virgínio

Não creio na minha óptica ser muito difícil precisar as coordenadas do local, onde a 24 de Setembro de 1973 se proclamou a independência da Guiné Bissau, em Madina de Boé. Digo isto pelo simples facto do local ter sido - num dos últimos dois anos, se não me falha a memória - palco central das comemorações de mais um aniversário da data e de alguns dos protagonistas do acto fazerem ainda parte do mundo dos vivos.

Recordo entretanto que, numa das conversas mantidas com um dos comandantes guineenses da guerrilha do PAIGC, por sinal na altura exilado em Cabo Verde, na sequência do Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 (***), foi-me dito que inicialmente Madina de Boé esteve longe dos planos do PAIGC, como local adequado para a proclamação da independência do território. E mais que a primeira opção teria sido inclusive uma tabanca ou área na altura controlada pela guerrilha, no sul do territorio.

E recentemente em conversa com o antigo presidente guineense, Luís Cabral, foi-me de facto onfirmada essa versão. Só que, traído pela memória, Luís Cabral não me soube precisar com exactidão, a referência da tabanca em questão.

No que tange a Madina de Boé, insiste na ideia de que, como opção acabou por ter o seu efeito-surpresa, por não ter sido a escolha inicial.

Terá sido ? Será essa uma das plausíveis justificações para que o local não tivesse sido alvo de bombardeamentos da aviação portuguesa ?

Mais uma acha na fogueira!

Mantenhas

Nelson Herbert
Journalist-Editor / Editor e Jornalista
Voice of America / Voz da América
Washington, DC, USA

________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2652: Guineenses da diáspora (3): Nelson Herbert, o nosso Correspondente nos EUA (Virgínio Briote)

30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)

(**) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3911: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (1): Em 1995, confirmaram-me que o local da cerimónia foi mais a sul (Miguel Pessoa)

(***) Organizado por João Bernardo Vieira, Nino, contra o Presidente Luís Cabral (n. 1931), que foi derrubado, e seguiu para o exílio em Portugal.

5 comentários:

Anónimo disse...

Nestas coisas da Guiné, hà sempre mais mails que circulam entre nòs.
A 18 de Fevereiro recebi do abreusantospai um interessante texto com cinco pàginas, com pros e contras PAIGC e NT.Nele se le.

"1973, Setembro, 28
Em Lisboa, o matutino Diàrio de Notìcias, com destaque na primeira pàgina publica a Proclamacao do Estado da Guinè-Bissau -- anteontem divulgada em Dacar pelos correspondentes da Reuter e a da AFP --sobre o qual o ex-governador e comandante-chefe Antònio de Spinola è entrevistado e declara:
'O PAIGC designa por Madina do Boè
a sua base de Kambere situada no Boè guineano, sobre o meridiano de Madina, a cerca de dez quilometros da fronteira. Neste quadro ambiguo è perfeitamente possivel ao PAIGC
proclamar a sua independencia em territòrio da Republica da Guinè (...) Para fazer funcionar um Estado è preciso populacao, territòrio e governo. E ainda que quanto a populacao e governo seja fàcil fantasiar montagens e simulacoes, quanto a territòrio nao haverà qualquer hipòtese de um minimo de realidade."
Podem-se comprovar se estas palavras sao do Antonio de Spinola.Basta ver o Diario de Noticias.Eu nao vi, mas devem estar là.
Mais dificil è comprovar se sao verdadeiras.Os ex-combatente e dirigentes do PAIGC, ainda vivos, tambèm podem ajudar. Mas se a afirmaòao do Spinola è verdadeira, como è que os nossos irmaos guineenses vao reconhecer que declaraam a independencia da sua Guinè_Bissau, na outra Guinè, a Guinè-Conacry?

Desculpem os acentos tortos no texto, a falta de cedilhas e dos tils.Aproveitei agora para ver os mails e o nosso blogue, e o teclado deste computador è italiano, nao portugues.
Estou em Pisa, Itàlia, para um encontro em redor e dentro da poesia.
Um abraco,
Antònio Graca de Abreu

JC Abreu dos Santos disse...

... ao António Graça de Abreu.

Se tinha – e, pela expressão escrita, mantém (e alimenta) – dúvidas sobre alguma parte de um "texto" que recebeu, por email, haveria interesse em as esclarecer, pela mesma via. No entanto, optou por vir aqui, 'urbi et orbi', produzir sofismas. Sim, sofismas.
E malévolas insinuações, representadas na sua incorrecção, porque entendo incorrecto de sua parte aqui haver deixado este... escrito:
«Podem-se comprovar "se" estas palavras são do António de Spínola. Basta ver o Diário de Notícias. "Eu não vi", "mas" devem estar lá. Mais difícil é comprovar "se são verdadeiras"»; (obviamente que a correcção fonética e "as aspas", aqui e agora, não advêem daquele comentarista).

Em vista de ter sido posta em causa, publicamente, a veracidade da reprodução 'ipsis verbis' contida em extractos (de um trabalho de investigação) de minha exclusiva autoria – e do qual com toda a boa vontade cedi, em primeira mão a alguns dos interessados na discussão da presente matéria e meramente como "auxiliar de memória" –, aguardo que fundamente as suas "reservas"; ou se retracte.

Mas há mais: é que, de novo, foi ilidida a substância de uma questão posta(da), no caso, por Luís Graça, qual seja a de se saber o "local" de uma determinada histórica ocorrência.
Ora o antecedente comentarista, e bem assim outros veteranos da Guiné, recebeu por email um citado e «interessante texto com cinco páginas», mas a sua demonstrada preocupação pública, aqui, incidiu tão só no extracto respeitante ao dia 28Set73, e não aos de precedentes datas – nomeadamente 19Set73, 23Set73 e 24Set73 –, cujos conteúdos aqui me dispenso de reproduzir, mas nos quais está explícito – por um alto responsável do PAIGC –, "o local" da ocorrência e "as circunstâncias" em que a mesma se verificou. À evidência, nada disso interessou/interessa ao comentarista. Antes, a dúvida – não sustentada – na "veracidade" da bibliografia consultada pelo autor do «texto com cinco páginas»; e nas «palavras», «do» António de Spínola.

Recorrentemente, surgem neste blogue (seus posts e respectivos comentários), alguns avisos/lembranças relacionados com o devido respeito mútuo, a ética, as "regras", etc. etc. Todavia, o antecedente comentário de António Graça de Abreu, em minha opinião [é preciso explicitar que a opinião é minha, não vá pensar-se alheia, e é preciso explicitar que é opinião, não vá pensar-se que é "arrogância"]... 'in short', Graça de Abreu deixou aqui o exemplo acabado de tudo o que é contrário às tais "regras"; (mas, afinal, estará este específico espaço internáutico a ser transformado numa espécie de praça da ribeira ou albergue espanhol; ou é ainda um local onde gente séria, e adulta, discorre sobre assuntos que, quando dizem respeito a outrém e à História, é suposto poder e dever fazê-lo criteriosamente e na fundada expectativa de ser, não digo bem, pelo menos, razoavelmente acolhido e, eventualmente, replicado?).

Conscientemente obliterei regra auto-imposta, de não comentar comentários. Desta vez, sem exemplo.
Há mais de ano e meio, em email trocado com o fundador deste weblog, dele recebi um alvitre significado no termo "equivocado". É, é isso, equivoquei-me.
Jongleurs é o que por aí há mais. E por aqui me fico.
Entendam-se. Os camaradas bloguistas que se entendam. Principalmente os que estiveram lá. Lá, na Guiné. Sim, porque "eles", os que lá estiveram, "eles" é que sabem. Os "outros", serão... intrusos. Objectivamente, o autor «do texto com cinco páginas», um deles.

Anónimo disse...

Meu caro Abreu Santos Pai
Que dizer?
Limitei-me a transcrever palavras que recebi num mail seu, palavras do Spinola que sao mais uma achega para se entender a historia da proclamacao da Republica da Guinè Bissau. Nao transcrevi outras afirmacoes porque achei que nao devia. Como comeco logo por referir no inicio do comentàrio, digo que o texto veio de si, mas como pode comprovar lendo agora outra vez as cinco paginas do mail, nao esta assinado por si. Assegura que foi mesmo publicado no Diario de Noticias de 23 de Setembro de 1974.Ainda bem. Com certeza que procedeu a essa investigacao. Acha que eu tenho algum gosto em criticar o trabalho de quem quer que seja? Se calhar acha, mas aì o problema jà nao è meu.
A questao do local da cerimonia de proclamacao da independencia da Guinè-Bissau, no contexto global da Guerra è mesmo importante e tem-me acompanhado ao longo destes trinta e tal anos. Ainda hoje, apesar das suas uteis achegas e de outras ainda nao tenho a certeza albsoluta do local onde o PAIGC declarou a Independencia. Se o Abreu Santos tem, escreva um texto para o blogue demonstrando toda a verdade dos factos.
Quanto ao resto, informou-o que o seu mail nao me pareceu ser confidencial. Se era, desculpe-me divulgar, sem sua autorizacao um pequeno excerto de palavras do general Antònio de Spinola.
Quanto ao resto, è natural nao nos entendermos. Os homens sao uns singulares seres plurais.
Mas nao fale em Praca da Ribeira ou em albergue espanhol.
O meu amigo tambèm è uma pessoa sensìvel.
A Sophia de Mello Breyner dizia que "as pessoas sensìveis nao sao capazes de matar galinhas/
mas sao capazes de comer galinhas."
Na serà o caso do Abreu Santos.
Vamos dar por concluidos este pequenos jogos de florete.
Sauda-o, desde Pisa, Itàlia, com todo o respeito,o
Antònio Graca de Abreu

JC Abreu dos Santos disse...

...

que, neste momento fora-de-horas, acabado de ler o "comment" supra e após inicial hesitação em replicar, ponderando as circunstâncias e o tom geral do mesmo, cumpre proporcionar esclarecimentos, não apenas ao precedente comentarista, fundamentalmente aos eventuais leitores, totalmente alheios à origem da presente troca de... impressões, escusadamente pública.

1. O supra referido «mail», no pretérito dia 18 remetido pelo signatário, que - para contacto com LG & Camaradas -, de há muito utiliza email titulado «abreusantospai» (tal como é de conhecimento dos destinatários):
1.1 - não tem quaisquer «cinco páginas»;
1.2 - e todos os destinatários, sabiam/sabem qual a identidade do remetente;
1.3 - e além do mais, está devidamente «assinado» (não apenas o email propriamente dito, como também o documento anexo ao mesmo).
1.4 - Posto o que, aquela parte do "esclarecimento" produzido por António Graça de Abreu, é - em linguagem 'soft' - objectivamente desinformativa.

2. O «interessante texto de cinco páginas» (termos do mesmo António Graça de Abreu), foi anexado a email cujos simultâneos destinatários foram, os email de Luís Graça (fundador/editor deste weblog), de Virgínio Briote (camarada 'comando' e co-editor deste weblog), de António Graça de Abreu (pelo interesse 'in loco' manifestado sobre o assunto), de Joaquim Mexia Alves (pela m/consideração pessoal), e de Magalhães Ribeiro (pela divulgação do polémico panfleto publicitário):
«assunto: P3905 > P3910 - pistas..
Estimados veteranos que andaram por matos e bolanhas da Guiné,
Anexo infos que talvez ajudem a iluminar algumas questões por aclarar.
Cumprimentos,
Abreu dos Santos
anexo _24Set73.pdf 140K»

3. Na mesma tarde, e decorridos escassos 34 minutos, LG teve a amabilidade de responder também por email e do qual tomo a liberdade de extrair o seguinte: «[...] Vou ler com atenção. Parece-me ser uma pesquisa exaustiva e rigorosa, com informação relevante (e nova) para muitos dos nossos leitores, no que diz respeito à data (24Set73) e ao local (Madina do Boé) em apreço. Pelo que eu depreendo, é um inédito seu. [...] Obrigado pelo seu empenho nos esclarecimentos das nossas dúvidas.[...]»

4. No final da manhã seguinte, a uma questão apresentada por LG (naquele s/email), informei, igualmente com conhecimento (em "bcc") aos mesmos citados veteranos da Guiné:
«assunto Re: P3905 > P3910 - "Ajudas de Memória(s)"
Bom dia, Luís Graça,
[...]
Do aludido extracto que convosco partilhei, fará o resumo que melhor entenda publicar, no v/blogueforanada, para os fins em vista, seja, esclarecimento do assunto.
Cumprimentos,
Abreu dos Santos»

5. As observações, contidas, no público pedido de explicações, públicas, a António Graça de Abreu, à evidência ao próprio não satisfizeram ou, provavelmente, não as leu.

6. A primeira difusão das opiniões do general Spínola, proferidas a propósito da dita "Proclamação", não ocorreu no matutino lisboeta DN «de 23 de Setembro de 1974» - como acima ficou, por António Graça de Abreu, escrito -, mas sim do dia 28Set74 (como está no aludido *.pdf): e a quem interessar possa e tenha tempo, sugere-se consulte a hemeroteca municipal lisboeta e desfaça dúvidas ao camarada Graça de Abreu que, relativamente à chamada-de-atenção para extractos referentes a 19Set73, 23Set73 e 24Set73... respondeu, nada. À evidência, nada "daquilo" merece(u) interesse - e crédito - àquele comentarista.
6.1 - Relativamente a eventuais "reservas" reprodutivas, em vista do tema ser de "interesse público", não estavam nem tinham de estar expressamente consignadas no texto "do" inicial email, tanto mais que a precisa ordem prioritária dos destinatários, e bem assim o teor da indagante resposta de LG e m/subsequente info, foram - são - suficientemente elucidativas para todos os recebedores dos citados email.

7. Ora, o pretendido alvo de graçolas - "brincadeira" carnavalesca, talvez fruto da enovoada época veneziana -, não "acha", nem deixa de "achar" coisa alguma relacionada com "problema" de outrém: não é "achista" e quanto a poesia prefere sintécticos hai-ku orientais; noutra perspectiva, um dos livros de cabeceira é a "Arte da Guerra" de Sun Tzu (por Samuel B. Griffith); além do que "nas tintas" para bizantinices, quanto à erudita alusão a animais de capoeira, a referida católica-progressista «Sophia» apesar de não ser "prima do Solnado" também «gostava muito de dizer "coisas"», a maior parte das quais - e que para o caso (me) interessa -, basto apoiantes dos ML's que, nas "colónias"... , em nome da sacrossanta "autodeterminação e liberdade dos povos", emboscavam e matavam civis e militares portugueses.

8 . Mas, passando a matéria de facto (e citando-o, gracejante António Graça de Abreu): «A questão do local da cerimónia de proclamação da independência da Guiné-Bissau, no contexto global da Guerra é mesmo importante e tem-me acompanhado ao longo destes trinta e tal anos. Ainda hoje, apesar das suas úteis achegas e de outras ainda não tenho a certeza absoluta do local onde o PAIGC declarou a Independência. Se o Abreu Santos tem, escreva um texto para o blogue demonstrando toda a verdade dos factos.»
8.1 - A «questão do local da cerimónia de proclamação da independência da Guiné-Bissau», está - concreta e iniludivelmente -, exposta no extracto apenso ao email das 17:20 de 18Fev2009;
8.2 - Mas se, ainda assim, aquela questão «é mesmo importante e tem-me acompanhado ao longo destes trinta e tal anos», de momento só me ocorre opinar - com sua licença - nos seus próprios termos: «aí o problema já não é meu»;
8.2 - Pois face à inexistência, à época, do sistema GPS, e porque a palavra do meio-irmão do fundador do PAIGC lhe não basta - como parece ser o caso -, permita-me caro veterano da Guiné remeta à procedência o repto: «escreva um texto para o blogue demonstrando toda a verdade dos factos»; porque, desta origem, foi em tempo convosco partilhado tudo quanto entendido útil de momento extractar, para eventual apreciação e usufruto geral, aqui, neste preciso blogue, de assunto posto à discussão por Luís Graça, ao qual está naturalmente entregue o seu desenvolvimento... ou não.

Porque, bem vistas as coisas, todos quantos regularmente integram e/ou visitam este "blogueforanada", merecem outras, mais elevadas, considerações. Tanto mais que, caro António Graça de Abreu, porque «é natural não nos entendermos», pode tomar por certo não mais receber contacto algum, directo ou indirecto, desta proveniência, simples soldado básico que apenas sabe ler, escrever e fazer contas. Ademais, qualquer outrém a quem incomodar possa um email oriundo «do abreusantospai», fará obséquio de clicar 'spam'... e ´tá despachado!; é pró lado que melhor durmo...

Entretanto, queiram os estimados veteranos que andaram por matos e bolanhas da Guiné, aceitar as sinceras desculpas pelo incómodo, e os melhores cumprimentos de

Abreu dos Santos (senior), (pai de três e quase [bis]avô)

JC Abreu dos Santos disse...

... que acima, em 6.
onde se lê
«mas sim do dia 28Set74 (como está no aludido *.pdf):»
deve ler-se (como é óbvio),
«mas sim do dia 28Set73 (como está no aludido *.pdf):»