Camaradas,
Lendo o P5943 da autoria do António Tavares, onde faz referência ao livro Missão na Guiné, muito naturalmente fiquei com curiosidade de o comparar com o que eu possuo.
O meu livro é de 1971, não referindo no entanto a Edição e, pelo relato feito, existem algumas alterações em relação ao meu.
Como diz o António Tavares, o livro foi elaborado à medida da ideologia do antigo regime (outra coisa não seria de esperar), no entanto, não deixa de ser um documento histórico, que vou iniciar a transcrever neste espaço, para conhecimento geral.
MISSÃO NA GUINÉ – (POR UMA GUINÉ MELHOR)
MISSÃO NA GUINÉ: Estado Maior - Maior do Exército – 1971
MISSÃO NO ULTRAMAR
1. Neste folheto encontrarás as «ferramentas» necessárias para «construíres» uma primeira ideia da Província Ultramarina para onde leva o cumprimento do teu dever de Soldado e de Português.
No estudo geográfico e histórico que se segue (chamam-se monografias a estes estudos), algumas das características mais evidentes da GUINÉ, as tais «ferramentas» foram arrumadas em três «secções» ou aspectos gerais – aspecto físico humano e aspecto económico.
Assim:
- No aspecto físico, descreve-se a terra para onde vais viver, dando-te notícia da sua situação geográfica, do seu clima, do seu relevo, da sua vegetação que a cobre, dos rios que nela correm, etc;
- No aspecto humano, esboça-se o estudo das populações que irás conhecer, tendo em atenção os seus usos e costumes, a sua distribuição no território, a História que junto delas escrevemos, a organização administrativa, sanitária e escolar em que vivem, etc.,
- Finalmente, no aspecto económico, referem-se os recursos agrícolas e industriais da terra Guineense, o seu comércio e as vias de comunicação (estradas, carreiras marítimas e aéreas, etc.)
Se a tua natural e louvável curiosidade não ficar satisfeita com a primeira ideia que as «ferramentas» desta «Monografia da Guiné» te permitem alcançar recomendamos-te, adiante a leitura de algumas publicações que facilmente podes conseguir em qualquer biblioteca pública.
Na parte final deste folheto, encontrarás, ainda, um par de Notas sobre assuntos que podem ter interesse para ti durante a tua estada no Ultramar.
Reservámos, inclusivamente, umas poucas páginas em branco para registo dos teus próprios apontamentos.
2. Já te foi dito mais do que uma vez, mas nunca será de mais repeti-lo: na guerra que ensanguenta o nosso Ultramar - «guerra subversiva» se chama ela – as populações desempenham um papel fundamental.
Houve mesmo alguém, entre aqueles que um dia puseram em prática este tipo de guerra, que afirmou serem as populações para os terroristas «como a água para os peixes», isto é sem a ajuda das populações os terroristas não têm qualquer possibilidade de levar a cabo os seus intentos de destruição e de assassínio, não podem sequer viver. Com a vista a conseguir aquela ajuda, os terroristas lançam mão dos meios mais condenáveis e violentos, capazes de aterrorizarem as populações indefesas. Na nossa acção de resposta, a luta que desenvolvemos tem de ser, pois, uma luta de populações, em defesa das populações e nunca uma luta contra as populações.
Nesta luta pelas populações, contrariamente ao que possa parecer à primeira vista, o teu comportamento individual tem muita importância. Com efeito, de uma tua atitude menos feliz podem resultar graves e desastrosas consequências, cuja reparação é sempre muito difícil, não só para o prestígio, eficácia e valor da Unidade a que pertences, como também para a Missão do Exército em terras de Além-Mar.
Pretende-se, assim de ti Soldado, que nas tuas relações com as populações procures ser sempre e em todas as circunstâncias, um modelo de dignidade, um exemplo de compostura, de cortesia e de humanidade.
Em especial no respeitante às populações nativas, jamais te esqueças de que a «pele negra» esconde almas tão Portuguesas como a tua própria! Para com elas deves sempre proceder – recordamos-te, uma vez mais – por forma a respeitar os seus usos e costumes e os direitos de família, tal como eles são regionalmente considerados, desde que, evidentemente, tanto uns como outros não ofendam os princípios humanitários ou morais.
3. Das dificuldades da tua missão ninguém duvida, mas todos confiam em ti!
Valentes e duros frente ao inimigo que os ataca traiçoeiramente, generosos e confiantes para com as populações, firmes e atentos em todas as circunstâncias, os teus Camaradas souberam bem merecer a confiança que a NAÇÃO neles sempre teve.
Basta seres como eles, basta, afinal, seres como tu próprio és, para, na alegria do regresso, poderes gritar bem alto àqueles que no cais orgulhosamente de aguardem – MISSÃO CUMPRIDA!
CONTINUA…
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540
Documentos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
26 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5886: Histórias do Eduardo Campos (11): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 11): Nhacra 6/Final
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540
Documentos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
26 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5886: Histórias do Eduardo Campos (11): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 11): Nhacra 6/Final
1 comentário:
Caro Eduardo,
Estou com curiosidade para ver se a literatura é a mesma.
Pelo que já publicaste é igual.
A minha Missão na Guiné é a 2ª.Edição de 1969.A fotografia da capa é diferente.
Parabens pela tua paciência na transcrição do livro.
Falaremos no Milho Rei.
Um abraço do,
António Tavares
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