
Camarigos,

Podem publicar, pois a próxima "estória" do nosso amigo Mário de Azevedo já está na "forja".
Grande abraço para todos vós
Luís G. Vaz
1. Nota Biográfica

Fiz a recruta nas Caldas da Rainha (último turno de 1969).
Segui para Vendas Novas - especialidade artilharia de campanha (1º turno de 1970).
Em Abril de 70, fui colocado no RAP (Monte da Virgem - Gaia).
Em 3 de Maio de 70, fui mobilizado para a Guiné em rendição individual.
Embarquei em 8 de Junho de 70 no avião da TAP tendo chegado à Guiné 4 horas depois.
Depois em10Junho70 embarquei numa LDM a caminho de Bedanda, tendo chegado ali 3 dias depois (12Junho1970). Nesta viagem fui com o Furriel Pereira de Tomar (que frequentou o mesmo curso que eu em Vendas Novas).
Na vida civil - Entrei na Caixa de Previdência do Comércio do Porto, tendo seguido a carreira do funcionalismo público, estando atualmente na situação de reformado como “operador principal de sistemas”.
2. Maçaricagem
A primeira história que vos quero contar é precisamente de uma viagem inesquecível, logo no início da minha comissão no TO da Guiné, a de dois maçaricos eu e o furriel Pereira (este furriel miliciano chegou à Guiné no dia 03Junho70, também em avião da TAP, viagem a que eu faltei).
Mas passarei a contar a história em questão, “maçaricagem” pois a “falta ao avião”, será uma outra que contarei mais tarde.
No dia da “partida” de Bissau para o meu destino “Bedanda”, o pessoal que nos acompanhou até o cais (não me lembro do posto desses militares) para embarcarmos numa LDM (lancha de desembarque media), depois de questionados por nós onde era o nosso “destino” e que tempo nos levaria a lá chegar, disseram-nos secamente:
"Os furriéis no fim do dia chegam a Bedanda e para a vossa viagem aqui estão duas rações de combate."
Os maçaricos acreditam em tudo e como não estávamos habituados a rações de combate e tivemos tempo, fomos comprar pastas de chocolate e oferecemos as rações a miúdos que se encontravam no cais.
Assim embarcamos, ao fim da tarde pelas 17h00 horas locais e passado algum tempo atracamos num pequeno porto de mar. Julgando ser esse o nosso destino, peguei imediatamente nas minhas malas e ia a sair, quando fui questionado prontamente por um fuzileiro que me disse:
"Meu Furriel, o senhor não vai para Bedanda?"
"Sim, por acaso não estamos em Bedanda?" - retorqui eu!
"Para Bedanda faltam ainda dois dias, isto aqui é Bolama, mas julgo que existe um hotel onde podem tomar banho, comer e dormir algumas horas."
LDM 204 – Guiné
(teria sido nesta lancha, ou outra da mesma classe, que Mário de Azevedo viajou para Bedanda)
Desanimados por nos terem enganado e ao mesmo tempo termos dado as rações de combate, pois as pastas de chocolates já tinham acabado, e não tínhamos comida para a viagem, lá fomos à procura do tal hotel na esperança duma boa refeição, de um bom banho e de um bom sono, em boa cama. Chegados ao dito hotel, logo fomos informados que o mesmo tinha fechado já há dois anos… a esperança de bons momentos acabou mesmo ali…
A nossa sorte foi que os fuzileiros (militares solidários), no dia seguinte convidaram - nos, com pena de nos verem a passar fome, para fazermos as refeições com eles. Esta é mais uma pequena história de privações, passada no ultramar pelos nossos militares.
Tabanca feita pelos militares para a população africana e o obus do Mário de Azevedo
No dia 12Junho70 chegamos finalmente, pelas 16h30 a Bedanda depois de uma viagem atribulada, aí fomos bem recebidos pelos nossos camaradas e logo nesse fim de tarde tivemos o batismo de ataques dos “turras” (o IN), que nos enviaram 5 foguetões (de boas vindas…) que por acaso não caíram no espaço da CCAÇ.
Aquele que foi o meu abrigo em Bedanda durante a minha presença
Fiquei dois anos e um mês, adido a esta companhia, tendo vindo duas vezes de férias à metrópole e algumas vezes a Bissau.
Regressei à metrópole a 28Julho72, tendo sido desmobilizado no RAL5 em Penafiel.
Vosso amigo
Mário Azevedo
Fur Mil Art da CCAÇ 6
Barcelos, 29 de Abril de 2012
___________
___________
Notas de M.R.:
Mário, sê bem vindo, em meu nome, e dos demais editores. Senta-te à vontade debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande. Passas a ser o tabanqueiro nº 552. Contamos contigo para refrescar as nossas memórias (boas e más) da Guiné. Um Alfa Bravo para ti e para o Luís Vaz.
Vd. último poste desta série em:
29 DE ABRIL DE 2012 > Guiné 63/74 - P9829: Tabanca Grande: oito anos a blogar (16): Parabéns (Vasco Pires, no interior do Brasil; ex-cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72)
Sem comentários:
Enviar um comentário