1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos a apresentação oficial nesta Tabanca Grande do seu primo Mário José Lopes de Azevedo (foto do lado esquerdo), que foi Furriel Miliciano de Artilharia da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/72, dividida em duas partes: Nota Biográfica e uma história sobre a “Maçaricagem”.
Camarigos,
Conforme é da tradição, envio em anexo, uma pequena nota biográfica do meu primo Mário de Azevedo (ex-furriel miliciano de artilharia), para a "sua apresentação no nosso Blogue", bem como uma primeira história por si vivida, logo no início da sua "estadia neste Teatro de Operações", a antiga Província Ultramarina da Guiné Portuguesa.
Podem publicar, pois a próxima "estória" do nosso amigo Mário de Azevedo já está na "forja".
Grande abraço para todos vós
Luís G. Vaz
1. Nota Biográfica
Mário José Lopes de Azevedo, sou natural da Freguesia de Tenões -BRAGA, nasci em 07/04/1948 (64 anos). Concluí o antigo 7º ano liceal e tenho a frequência do 3º ano do curso de engenharia eletrotécnica e máquinas (Instituto de Engenharia do Porto). Sou casado com Octávia Maria da Fontoura Beleza Braga de Azevedo e temos dois filhos, a Francisca e o Mário. Atualmente moramos na cidade de Barcelos.
Fiz a recruta nas Caldas da Rainha (último turno de 1969).
Segui para Vendas Novas - especialidade artilharia de campanha (1º turno de 1970).
Em Abril de 70, fui colocado no RAP (Monte da Virgem - Gaia).
Em 3 de Maio de 70, fui mobilizado para a Guiné em rendição individual.
Embarquei em 8 de Junho de 70 no avião da TAP tendo chegado à Guiné 4 horas depois.
Depois em10Junho70 embarquei numa LDM a caminho de Bedanda, tendo chegado ali 3 dias depois (12Junho1970). Nesta viagem fui com o Furriel Pereira de Tomar (que frequentou o mesmo curso que eu em Vendas Novas).
Na vida civil - Entrei na Caixa de Previdência do Comércio do Porto, tendo seguido a carreira do funcionalismo público, estando atualmente na situação de reformado como “operador principal de sistemas”.
2. Maçaricagem
A primeira história que vos quero contar é precisamente de uma viagem inesquecível, logo no início da minha comissão no TO da Guiné, a de dois maçaricos eu e o furriel Pereira (este furriel miliciano chegou à Guiné no dia 03Junho70, também em avião da TAP, viagem a que eu faltei).
Mas passarei a contar a história em questão, “maçaricagem” pois a “falta ao avião”, será uma outra que contarei mais tarde.
No dia da “partida” de Bissau para o meu destino “Bedanda”, o pessoal que nos acompanhou até o cais (não me lembro do posto desses militares) para embarcarmos numa LDM (lancha de desembarque media), depois de questionados por nós onde era o nosso “destino” e que tempo nos levaria a lá chegar, disseram-nos secamente:
"Os furriéis no fim do dia chegam a Bedanda e para a vossa viagem aqui estão duas rações de combate."
Os maçaricos acreditam em tudo e como não estávamos habituados a rações de combate e tivemos tempo, fomos comprar pastas de chocolate e oferecemos as rações a miúdos que se encontravam no cais.
Assim embarcamos, ao fim da tarde pelas 17h00 horas locais e passado algum tempo atracamos num pequeno porto de mar. Julgando ser esse o nosso destino, peguei imediatamente nas minhas malas e ia a sair, quando fui questionado prontamente por um fuzileiro que me disse:
"Meu Furriel, o senhor não vai para Bedanda?"
"Sim, por acaso não estamos em Bedanda?" - retorqui eu!
"Para Bedanda faltam ainda dois dias, isto aqui é Bolama, mas julgo que existe um hotel onde podem tomar banho, comer e dormir algumas horas."
LDM 204 – Guiné
(teria sido nesta lancha, ou outra da mesma classe, que Mário de Azevedo viajou para Bedanda)
Desanimados por nos terem enganado e ao mesmo tempo termos dado as rações de combate, pois as pastas de chocolates já tinham acabado, e não tínhamos comida para a viagem, lá fomos à procura do tal hotel na esperança duma boa refeição, de um bom banho e de um bom sono, em boa cama. Chegados ao dito hotel, logo fomos informados que o mesmo tinha fechado já há dois anos… a esperança de bons momentos acabou mesmo ali…
A nossa sorte foi que os fuzileiros (militares solidários), no dia seguinte convidaram - nos, com pena de nos verem a passar fome, para fazermos as refeições com eles. Esta é mais uma pequena história de privações, passada no ultramar pelos nossos militares.
Tabanca feita pelos militares para a população africana e o obus do Mário de Azevedo
No dia 12Junho70 chegamos finalmente, pelas 16h30 a Bedanda depois de uma viagem atribulada, aí fomos bem recebidos pelos nossos camaradas e logo nesse fim de tarde tivemos o batismo de ataques dos “turras” (o IN), que nos enviaram 5 foguetões (de boas vindas…) que por acaso não caíram no espaço da CCAÇ.
Aquele que foi o meu abrigo em Bedanda durante a minha presença
Fiquei dois anos e um mês, adido a esta companhia, tendo vindo duas vezes de férias à metrópole e algumas vezes a Bissau.
Regressei à metrópole a 28Julho72, tendo sido desmobilizado no RAL5 em Penafiel.
Vosso amigo
Mário Azevedo
Fur Mil Art da CCAÇ 6
Barcelos, 29 de Abril de 2012
___________
___________
Notas de M.R.:
Mário, sê bem vindo, em meu nome, e dos demais editores. Senta-te à vontade debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande. Passas a ser o tabanqueiro nº 552. Contamos contigo para refrescar as nossas memórias (boas e más) da Guiné. Um Alfa Bravo para ti e para o Luís Vaz.
Vd. último poste desta série em:
29 DE ABRIL DE 2012 > Guiné 63/74 - P9829: Tabanca Grande: oito anos a blogar (16): Parabéns (Vasco Pires, no interior do Brasil; ex-cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72)
Sem comentários:
Enviar um comentário