1. Algum dia saberemos ao certo quanto é custou a Portugal e aos portugueses (mas também aos angolanos, guineenses, moçambicanos, cabo-verdianos, são tomenses, macaenses e timorenses) a guerra do ultramar / guerra de África / guerra do Ultramar (1961/74) ? (*)
Acho que nunca o saberemos, para mais se, aos custos diretos, acrescermos os custos indiretos e sobretudo os custos ocultos (anos de vida perdidos com as mortes de combatentes e de civis, encargos com o tratamento e reabilitação dos feridos, stress pós-traumático de guerra, encargos financeiros dos empréstimo contraídos, quebra no investimento produtivo, danos para a imagem internacional do país, etc.)
Mas fiquemos só pelos custos diretos, os “encargos orçamentais”, com a guerra, a parte mais propriamente financeira, a que diz respeito, afinal, ao "vil metal"... ou pelo menos por aquilo que se pode apurar da contabilidade nacional…
Para esse efeito, vamos revisitar um artigo que já tem mais de uma dezena de anos, da autoria do tenente-general na situação de reforma Victor Manuel Mota de Mesquita (1932-2016), publicado na Revista Militar, nº 2511, abril de 2011, pp. O autor foi Director do Departamento de Finanças do Exército, tendo passado também como militar pelos TO de Angola e Moçambique.
E o autor começa por dizer-nos aquilo que no fundo é um segredo de Polichinelo, mas vai contra o mito, alimentado no Estado Novo, sobre as "contas limpinhas", a sacrossanta regra do equilíbrio orçamental, segundo a qual só se podia gastar o que se tinha:
“ (…) Também não foi fácil a vida das
Forças Armadas sob o ponto de vista financeiro, onde a coluna do débito foi
sempre superior à do crédito e só artifícios de toda a ordem permitiram
conduzir uma pesada cruz por caminhos cheios de dificuldades.”
Por outro
lado, “no início da guerra em Angola, em 1961, as finanças militares
encontravam-se estruturadas para a paz e, portanto, dispunham apenas dos meios
indispensáveis à sua gestão normal.” (...)
2. Há ideias falsas sobre quem pagou a guerra… Ainda hoje há quem pense que Angola era tão rica que a sua riqueza chegava para pagar a guerra durante muitos e muitos anos. Claro que Angola também contribuiu para o esforço de gerra, tal como Moçambique, a Guiné e os demais territórios então sob admimistração portuguesa (e hoje países independentes, com exceção de Macau, que voltou à soberania da Cahina, tendo desde 1999 o estatuto de Região Administrativa Especial da República Popular da China).
Por exemplo,
o nosso querido amigo e camarada António Rosinha, o último dos africanistas,
comentou, no poste P23462(*):
(…) “Uma guerra
tão longa e desgastante ? Não era tão desgastante (economicamente) assim, Luís
Graça.
No grande
território de Angola seria saturante e entediante para os 24 meses de arame
farpado dos praças e milicianos, mas não o desgaste (económico), porque este
era compensado com as riquezas naturais que dali saíam: petróleo, diamantes e
agriculturas diversas e pecuária e pescas.
“Notícia de
última hora: foi encontrada um pedra na região do rio Lukapa uma pedra
considerado o maior diamante bruto no mundo nestes últimos 300 anos. (Jornais,
atenção que os angolanos têm a mania das grandezas.)
“Só essa
região que era na Luanda, distrito do tamanho geográfico de 3 ou 4 Guinés,
laborava-se sem proteção militar direta durante os treze anos de guerra.
“Estamos a
falar da zona da Diamang. A Guiné era a Guiné, e Março de 61 Norte de Angola,
foi o que foi e os dois últimos anos do norte de Moçambique foi o que foi.
“No meio
disso tudo, falta contar ‘muito deixa andar’ em muitos Cus de Judas que iam
desde a ilha de Luanda até às coutadas da Gorongoza.” (27 de julho de 2022 às
13:35).
A partir de 1960, a gestão financeira das forças privativas passou a ser da responsabilidade da Metrópole, através do Departamento da Defesa Nacional. Todavia, a gestão financeira das forças extraordinárias (que vão reforçar a tropa dos territórios ultramarinos), continua a ser gerida pelo departamento de cada um dos três ramos, os quais são verdadeiros feudos, pensando e agindo como verdadeiras grandes corporações em copetição umas com as outras por recursos escassos…
Na prática, o Departamento da Defesa Nacional era “um ministro sem ministério”, dispondo, como “staff”, de um Secretariado Geral, criado para “coordenar” os três Ramos das Forças Armadas (Exército, Força Aérea e Marinha).
Esta descentralização financeira funcionou praticamemte durante toda a guerra, acabando por originar crescente endividamento das Forças Armadas, incapacidade para responder com prontidão às necessidades sobretudo logísticas, engenharias financeiras de toda a ordem, recurso a empréstimos bancários (Caixa Geral de Depósitos e outras fontes), criação de novos impostos, como o Imposto de Transações (na Metrópole), e, não menos grave, ao crescente protagonismo do Ministério das Finanças… Ou, por outras palavras, também na guerra o "economicismo" terá condicionado o desempenho operacional, e a mordernizaçao das Forças Armadas (e nomeadamente da FAP) não se pôde fazer "just in time"...
(...) “Só quem passou pelos problemas pode dar valor à luta travada com o Ministério das Finanças, que tudo subordinava à obediência a um sistema financeiro fiel à regra do equilíbrio orçamental, como se o País estivesse em tempo de paz.” (...)
Como consequência, chegámos a ter uma situação financeira "de tal modo grave que as Unidades seguiam para o Ultramar com as suas dotações orgânicas reduzidas a 25%, e as que se encontravam em operações tinham, em muitos casos, dotações inferiores a 50%.” (...).
Só para dar mais um exemplo:
(...) "No ano de 1966, nas receitas do Orçamento Metropolitano, 36,03 % eram absorvidos pela guerra, enquanto em Angola representavam 11,07 % e em Moçambique 12,07 %.
(...) "Cabe aqui referir que neste ano de 1966 o Chefe do Governo [ António de Oliveira Salazar] desconhecia o custo das operações de guerra, nem tão pouco conhecia as dificuldades financeiras existentes.
"Até então os responsáveis pelo Departamento da Defesa não lhe davam conhecimento da situação, atitude para a qual não se encontrou explicação que não fosse esconder a realidade que se vivia". (...)
- Nos treze anos de guerra, Angola contribuiu com 12 milhões e 300 mil contos, o que corresponde, em valores actuais (2008, tendo o artigo sido escrito em 2009), a cerca de 3 mil e 300 milhões e 300 mil euros;
- e Moçambique com 10 milhões e 200 mil contos, correspondendo, em valores actuais, a cerca de 2 mil 700 milhões e 600 mil euros;
(...) Podemos, pois, dizer que a valores actuais [ 2008], o esforço financeiro das duas Províncias foi cerca de 6 mil milhões de euros (...), a que se juntarmos o que a Metrópole despendeu no montante de cerca de 17 mil e 900 milhões de euros (...), totaliza cerca de 23 mil e 900 milhões de euros (...) de encargos financeiros com a guerra no Ultramar. (***)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 1 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23481: A nossa guerra em números (20): Meios e operações da FAP - Parte II: Armamento das aeronaves: o papel da OGMA e outras empresas portuguesas
(***) Vd. também poste de 15 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23079: A nossa guerra em números (15): Segundo o investigador Ricardo Ferraz, do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, a guerra colonial (1961/74) custou ao Estado Português, a preços de hoje, e na moeda atual, cerca de 21,8 mil milhões de euros
13 comentários:
Macaenses ?... Sim, lembro-me de ver em Bambadinca um chinês, oriundo de Macau, que tinha sido mobilizado para a Guiné. Nunca mais o especi porque aproveitou um macaco-cão, caçado por alguém, para fazer um "petisco"... Depois de grelhado, parecia o cadáver de um bebé humano...
Macau também deu um contributo financeiro para a guerra... O seu "imposto de guerra" foi muito superior ao dos outros pequenos territórios ultramarinos: Cabo Verde, Guiné, São Tomé, Timor... Mais do dobro do da Guiné... E não estava em guerra... Mas tinha as receitas do imposto sobre o jogo... Os chineses treinavam e ar
matam o PAIGC, os macaenses davam a sua a ajudinha para manter a guerra até às calendas gregas..
Os macaenses e goeses não se queixavam que fossem vítimas da colonização e exploração portuguesa.
Estavam nas suas sete quintas, adoravam a situação em que se encontravam, navegavam pelo universo colonial português sem fazer ondas e com uma perspicácia especial.
Um ou outro podia afastar-se mas a maioria entrava no funcionalismo ultramarino e até tomavam parte muito activa, principalmente os goeses.
Este teu esforço brutal Luis Graça para esmiuçar tudo até ao tutano, mais do que saudosismo que alguns poderão associar, pode ser "também" um hobbie e uma terapia.
Mas estas contas da economia da guerra do ultramar será sempre muito complicado para analisar.
Até nisto estás a tentar entrar com todo o afinco e fazes bem, que é um tema interessantíssimo para muita gente, mas ninguém la vai em profundidade.
Claro que tens os teus pontos de vista e misturas com aqueles pontos de vista que vais rebuscar a tudo quanto encontras.
E há um ponto de vista que mencionas que não sei se é teu, e que eu queria fazer uma observação: "danos para a imagem internacional do país, etc.)"
Será que Portugal tinha alguma imagem internacional antes de 1961? È que eramos tão insignificantes e tão discretos que se não fosse o Neru com Goa e Angola ir para a ONU levado por Kennedy, nem ninguem sabia que até tínhamos colónias.
Ouvi a italianos cooperantes e suecos na Guiné em 1980 que só nesse tempo é que souberam que Portugal tinha tido aquelas colónias.
A nossa insignificância era tal que vi os brasileiros boquiabertos a perguntarem-se em 1975 como era possível Portugal ter colónias.
Mas estes não admira, naquele mundo enorme, para eles ninguém mais existia.
Será que aqueles treze anos na ribalta internacional não teriam criado uma imagem potenciada com o 25 de Abril, tanto a leste como a oeste?
Profissionalmente para ter sucesso eu fazia chantagem, punha no meu currículo "retornado de Angola" quer no Brasil, quer em Portugal quer na Guiné, nem me perguntavam se eu sabia trabalhar, era porta aberta, e vi isso com empresas portuguesas de obras, internacionalmente, por associação àquele período colonial, não ao 25 de Abril.
São pontos de vista, mas essa do esforço financeiro devia dar pano para mangas, mais até do que ter ou não ter muitas e melhores armas.
Gralhas, isto de escrever no telelé enquanto se bebe um café na esplanada... AS minhas desculpas:
(i) (...) Nunca mais o ESQUECI porque aproveitou um macaco-cão, caçado por alguém, para fazer um "petisco"... Depois de grelhado, parecia o cadáver de um bebé humano...
(ii) Os chineses treinavam e ARMAVAM o PAIGC, os macaenses davam a sua a ajudinha para manter a guerra até às calendas gregas...
Rosinha, és um arguto observador, e não deixas escapar nada... De facto, infelizmente podemos questionar a existência de uma imagem de marca de Portugal... ainda hoje (!).
Dizia, em 1921, o jornalista e escritor António Ferro, futuro colaborador íntmo de Salazar e diretor do Secretariado Nacional da Propaganda (SNP) (criado em 1933, o SNP passaria a designar-se, em 1945, SNI - Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo, paar ser extinto somente em 1968):
(...) Portugal não é um país gráfico. Portugal é um país sem ‘pose’. Furta-se constantemente à objectiva; não sai à rua só para que não lhe tirem o retrato. Portugal é triste como uma câmara escura, mas uma câmara escura onde não se fazem revelações... Uma raça que não se deixa fotografar é uma raça que desconhece a sua fisionomia, que desconhece, portanto, a sua força. (...)
António Ferro - O elogio do Outono. "Ilustração Portuguesa", II Série (817) Outubro, 1921, pág. 254.
Foi o SNP e depois o SNI que cuidou da "imagem de Portugal", dentro das balizas político-ideológicas e estéticas do Estado Novo de Salazar. Era a este organismo público, dependente da Presidência do Conselho, que competia a propaganda política, a informação pública, a comunicação social, o turismo e a acção cultural (cinema, teatro, literatura, artes plásticas, folcore, etc.)...
Domingos Robalo (no Facebook da Tabanca Grande, 8 de agosto de 2022, 14h30):
Artigo interessante. Todavia, posso afirmar que sempre ouvi dizer de pessoas com negócios em Angola, que era desta "província ultramarina" que provinha todo o dinheiro para o sustento da "guerra do ultramar". Lembram-se de terem ouvido falar do tal " fundo de reserva do ultramar" que muito se associou às motivações do atentado ao Adelino Amaro da Costa, que acabou por envolver, também, o Sá Carneiro? Pois...
https://www.facebook.com/people/Tabanca-Grande-Lu%C3%ADs-Gra%C3%A7a/100001808348667
Não sei, e nem li nada sobre isso, mas era um facto que recebíamos os processamento dos vencimentos vindos de Angola e quanto à transferência do patacão, como digo, não sei.
Outra questão é Goa, Macau e Timor serem colónias sem colonos metropolitanos, a não ser os primeiros navegadores do séc, XVI, jesuítas e aventureiros, e em Timor haver alguns desterrados (caso de Sarmento de Beires) que "brancos" nunca se fixaram por aquelas bandas
Valdemar Queiroz
Parabéns pela ilustração, Luís. Gostei.
Abraço
Fernando G.
Estou farto de ouvir e de ler que Portugal era um país pobre, "de mão estendida", dependendo da esmola das potências ricas. É falso, completamente falso. O povo português é que era pobre, mas era só o povo! Com as riquezas das colónias que possuía, Portugal estava muitíssimo longe de ser um país pobre. O nosso camarada António Rosinha mostra-o.
É claro que a Guiné era pobre. Lembro-me de ouvir dizer que a Guiné só produzia amendoim para a CUF e mais nada. Não era bem assim, pois a Guiné devia produzir quantidades razoáveis de arroz, de caju e de peixe, pelo menos. Dizia-se também que a Guiné não possuía riquezas minerais, a não ser uns vestígios de bauxite (minério de alumínio) nas Colinas do Boé, que não tinham interesse comercial, de tão escassos que eram. Estes vestígios seriam as pontas mais extremas das grandes jazidas de bauxite (estas, sim, com enorme interesse comercial) existentes no outro lado da fronteira, no Fouta Djalon, Guiné-Conacri.
Julgo que ninguém duvida igualmente da pobreza de Cabo Verde, flagelado pelo vento leste. O valor de Cabo Verde residia sobretudo na sua importância estratégica, na encruzilhada das linhas de navegação e como "porta-aviões" ao largo de África. A captura de peixe também devia ser uma importante fonte de rendimento para Cabo Verde.
Já quanto a São Tomé e Príncipe, o caso mudava completamente de figura. Apesar da extrema pequenez do seu território, São Tomé e Príncipe era um grande produtor de cacau, o quarto ou o quinto maior do mundo!
Quanto a Angola, a lista das riqueza nunca mais acaba. O Antº Rosinha fez uma pequena lista, que só peca por incompleta. Angola era o segundo maior produtor de café do mundo, ultrapassado apenas pelo Brasil. A riqueza diamantífera da Lunda, e não só, era (e é) lendária. A Companhia dos Diamantes de Angola (Diamang) era uma companhia majestática, um estado dentro do Estado. Na Lunda, tudo se devia à Companhia e nada se fazia sem o seu consentimento. A Diamang tinha um corpo policial e paramilitar próprio, quase dispensando a presença das Forças Armadas Portuguesas, que na Lunda pouco mais tinham do que um batalhão sediado em Henrique de Carvalho (atual Saurimo). Só a riqueza dos diamantes extraídos em Angola chegava e sobrava para custear por inteiro as três frentes de guerra.
Mas a riqueza mineira de Angola não se ficava pelos diamantes apenas. Por exemplo, no distrito da Huíla, no sul de Angola, era explorado ferro nas minas de Cassinga. A linha do Caminho de Ferro de Moçâmedes foi construída com a finalidade de transportar o minério de Cassinga para o porto de Moçâmedes, e aproveitou-se a oportunidade para estendê-la até Serpa Pinto (atual Menongue).
Angola também possuía minério de cobre em Mavoio, no distrito do Uíge, no norte, minério este que foi explorado por uma empresa alemã até ao início da guerra em 1961. Quando estalou o conflito, os alemães abandonaram a mina e deixaram lá tudo quanto tinham. Os bens mais valiosos foram desaparecendo ao longo dos anos e não se sabe quais eram, mas mesmo assim ficaram no Mavoio numerosos livros (em alemão, claro está), com evidentes sinais de terem sido lidos, relidos e treslidos, e até... um piano! Os alemães tinham-se dado ao trabalho de levar um piano para o coração de África! O piano lá ficou a apodrecer, porque ninguém o quis.
O petróleo só foi descoberto em Angola em meados dos anos 60, quando a guerra já tinha começado, e a sua exploração foi entregue aos americanos de uma empresa criada para o efeito, a Cabinda Gulf Oil. Mesmo depois da independência, os americanos continuaram a explorar o petróleo de Cabinda, apesar de o governo de Angola ser pró-soviético... O dólar tem muita força! Conta-se que, quando lhe disseram que tinha sido descoberto petróleo em Angola, Salazar, em vez de ficar contente, teria exclamado: «Só nos faltava mais esta!»
(continua)
(continuação)
As riquezas de Angola no domínio da agro-pecuária eram fabulosas. Quem percorresse as estradas de Malange, por exemplo, espantar-se-ia com os quilómetros e quilómetros sem fim dos brancos campos de algodão que as ladeavam, como se estivessem cobertos de neve. Angola produzia também frutas em grande quantidade e qualidade, tanto tropicais como de clima temperado. A criação de gado era igualmente uma fonte de rendimento muito importante dos distritos da Huíla e do Cunene, no sul, assim como da região de Ambaca, no norte.
Angola também possuía uma extraordinária riqueza em peixe, graças à Corrente Fria de Benguela, que banha as suas costas no centro e no sul. Apesar de ser a causadora da desertificação do Namibe (que era chamado Deserto de Moçâmedes em Angola), a Corrente Fria de Benguela transbordava de peixe.
Moçambique também estava muitíssimo longe de ser um território pobre. Era o maior produtor de caju do mundo e também era um dos maiores produtores de chá do mundo. As suas planícies aluviais eram fertilíssimas, com destaque para a do Zambeze, e a sua extensíssima costa fazia dele um grande produtor de peixe. Moçambique não tinha diamantes nem ferro, mas tinha, por exemplo, carvão, que era explorado na mina de Moatize, no distrito de Tete. A grandiosa barragem de Cahora Bassa fez de Moçambique, também, um grande exportador de eletricidade.
Graças à política de casamentos com mulheres locais incentivada por Afonso de Albuquerque, Goa e Damão foram um laboratório de fusão de culturas, tendo a religião cristã como esteio. Nos pequenos territórios de Goa e de Damão floresceu uma elite cristã, de que ainda restam vestígios em velhas famílias locais ciosas dos seus pergaminhos. A Escola Médica de Goa, nomeadamente, foi a primeira Faculdade de Medicina de toda a Ásia! Por sua vez, Diu (e também Goa e Damão, claro) serviu como um importante entreposto para a exportação para a Europa de pimenta, canela, cravinho, sedas e outros artigos provenientes do subcontinente indiano, sobretudo da península de Guzarate (Gujarat), em cuja costa Diu estava implantada.
Quando se fala em Macau, logo nos vêm à mente os seus casinos, mas Macau era mais do que isso. Desde o séc. XV até ao fim do séc. XX, a China esteve praticamente fechada para o mundo. Macau foi durante quase todo esse tempo uma importante porta de entrada para a China e de saída de produtos chineses. Nem Mao se atreveu a pôr em causa a presença portuguesa em Macau, porque lhe convinha.
Timor não era tão pobre e tão abandonado como se possa imaginar. Apesar da distância a que se encontrava da Metrópole colonial, Timor possuía uma grande riqueza, que era a produção de café. O café timorense poderia não ser em grande quantidade, mas primava sobretudo pela qualidade, pois era considerado um dos melhores cafés do mundo!
Portanto, a conclusão que se tira de tudo isto é que Portugal não era, de maneira nenhuma, um país pobre. Graças às suas colónias, Portugal era, isso sim, um país fabulosamente rico! O fadinho choradinho do Portugalinho pobrezinho coitadinho não correspondia de maneira nenhuma à verdade. Então, fica a pergunta: para onde ia tanta riqueza, se o povo português viveu sempre mal e era obrigado a emigrar?
"...fica a pergunta: para onde ia tanta riqueza, se o povo português viveu sempre mal e era obrigado a emigrar?"
E mais que 'para onde ia tanta riqueza', quem eram os verdadeiros donos dessas riquezas?
Só a partir de 1960 é que começaram as despesas com a guerra em Angola, Moçambique e Guiné, então até essa data em que era esturrado o dinheirinho das riquezas das colónias*?
Valdemar Queiroz
* colónias: para não ferir suscetibilidades, trabalhei numa empresa que tinha umas instalações num prédio em Lisboa propriedade da Companhia Industrial Portugal e Colónias, SARL, Companhia esta fundada no início do século XX que manteve a mesma a denominação social até 1986 ligada à moagem e produção de conhecidas bolachas.
Fernando Ribeiro, tudo que mencionas é popularmente certo mas uma ou outra coisa está fora das datas, como o caminho de ferro de Moçâmedes, como a descoberta do petróleo.
Mas a respeito de ser muito ou pouca a riqueza, só com estatísticas e estudos à nossa frente.
Mas de uma maneira grosseira podemos dizer que só com orçamento do rectângulo não dava nem para as viagens de barco e de avião durante tantos anos de tanta gente.
Mas não era com mais armas e mais dinheiro que se ganhava esta guerra.
A França tinha porta aviões e a Argélia teve que ceder.
Contra o mundo não se pode lutar, nem com o povo ao lado de Spínola, como aconteceu, tanto na Guiné dos guinéus como nas outras duas colónias.
Mas sobre o controle das economias da guerra há muitas explicações assim como das riquezas de Moçambique e Angola, mas como há alguma vergonha de dizer as verdades, vai-se disfarçando ao sabor do politicamente correto.
Aparece um ou outro desbocado que diz uma ou outra coisa, mas ainda é cedo para ser aceite.
Está tudo ainda muito verde.
Olá Camaradas
Conheci o General Mota Mesquita e toda a gente - superiores, inferiores e iguais - eram unânimes em considerá-lo como um grande perito de assuntos financeiros. Agora, li o texto da conferência e sugeria aos camaradas que o lessem com atenção.
Faz uma análise da estrutura financeira "da defesa" e das relações entre a FAP, o Exército e Defesa Nacional. A Armada parece não estar envolvida no processo, sem que se saiba porquê.
Facilmente se conclui que a desorganização e a burocratização eram mais que muitas, embora fosse necessário um controlo financeiro aturado. Fico admirado quando ele afirma que o "presidente do conselho" não tinha a ideia do custo da guerra. Como se pode ver a burocracia, a pretexto de controlar os gastos - actividade necessária - não tinha qualquer consideração pela necessidade de obter os recursos com rapidez. Ele não se refere ao processamento dos vencimentos ser feito em Angola e isso, em si mesmo, não é relevante para os gastos da guerra.
Fica-se com a certeza de que se pretendeu resolver tudo com sucessivos empréstimos e avais a pagar, com juros, a médio prazo. Por outras palavras as despesas da guerra eram sucessivamente empurradas com a barriga e eram cada vez maiores.
Pedia aos camaradas que se mantivessem na matéria em apreço e lessem atentamente a conferência do Gen. Mesquita.
Um Ab.
António J. P. Costa
Antonio J.P.Costa, li e apreciei, e aqui está algo que podia ser trazido para o blog,resumido e apreciado por si ou pelo Beja Santos.
Eu como entendo um pouquinho daquilo que é uma percentagem, apenas, acho que é um grande trabalho, embora resumido, daquilo que foram as contas da Guerra do Ultramar.
Ele começa por dizer que outros venham com isenção contar a História, quando a nossa geração se for, e termina a dizer que os ultimos três anos as contas ficaram acertadas.
Depois de tantos anos a "empurrar com a barriga" aqueles deficits.
O General Mota Mesquita, não diz, e não era das contas dele, de onde vinha tanto dinheiro.
Faz-me lembrar as palavras de Caetano, penso que para a brigada do reumático. que pelo dinheiro podiamos aguentar a guerra outros tantos anos (isto mais ou menos).
Cumprimentos
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