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sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27474: A Nossa Marinha (5): Os últimos marinheiros do Império


Angola > Novembro de 1975 > Porto de Luanda > Atracada, a corveta General Pereira d'Eça  (F477, número de amura), da classe João Coutinho. Em primeiro plano , uma LDG, a carregar pessoal.


Angola > Novembro de 1975 >  Instalações navais da Ilha de Luanda


Lisboa > Outubro de 1974 > O regresso do DFE 4, o último Destacamento de Fuzileiros Especiais a abandonar a Guiné... Consegue-se ler no pano exibido pelos fuzileiros: |73 7 de Abril 15 Out (?) | DFE 4  |  Paz No Mundo  (?)| MFA | Viva Portugal|


Em 1973, a partir de agosto o dispositivo dos fuzileiros no CTIG era o seguinte:  DFE 1, Ganturé |  DFE 21, Cacheu, no rio Cacheu  | DFE 12, Cafine, rio Cumbijã |DFE 4, Chugué, rio Geba/r moio Corubal | DFE 22, Cacine, rio Cacine.












Fonte: texto e fotos: Excertos de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992),  pp. 62-63. (Com a devida vénia.)


1. A Marinha teve um importante papel antes, durante e depois da guerra.  

A cartografia militar da  Guiné muito lhe deve. Muitos de nós fomos transportados em LDG ou LDM, de Bissau para o mago de e do mato para Bissau ( no fim da comissão). As LDM levaram a "bianda" e munições a muitos portos fluviais. As Lanchas de Fiscalização patrulharam os rios, a par das Lanchas de  Desembarque. Marinha e Fuzileiros participaram em operações conjuntas com o Exercito e a Força Aérea... Foram, eles,  os últimos a sair dos antigos territórios ultramarinos. No caso da Guiné - Bissau, em 15 de Outubro de 1974. Eles foram os últimos marinheiros do império, fechando um ciclo, impressionante,  de 500 anos.

Não se poderá escrever a história da guerra colonial / guerra do ultramar / guerras da descolonização... sem ouvir os nossos marinheiros e fuzileiros... Infelizmente eles estão pouco representados no nosso blogue. E o mais ativo, o Manuel Lema Santos, 1o. ten RN (1965/72), já não está infelizmente entre nós.  Este alentejano de Barrancos, grande cronista da Reserva Naval, acaba de deixar a Terra da Alegria.

(Seleção,recortes, fixação de texto, edição de imagem: LG)
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Nota do editor LG:

Último poste da série : 26 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27466: A Nossa Marinha (4): Reserva Naval : uma elite ? Era, pelo menos, mais apelativa para os jovens com formação universitária, de classe média e média-alta, do que o Exército e a Força Aérea e por ela passaram alguns dos melhores quadros da nossa geração

Guiné 61/74 - P27473: Notas de leitura (1868): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Outubro de 2025:

Queridos amigos,
O Boletim começa por realçar a expetativa na criação de uma companhia de alumínio para a Guiné e Angola, tudo tinha a ver com bauxite, depois surgiu a legislação sobre a concessão das explorações petrolíferas, são estas as duas matérias gordas de 1958, o ano em que chega o novo governador, Peixoto Correia. Tanto quanto nos é dado a perceber, o Boletim não primava por grandes investigações, tinha um conselheiro técnico, Artur Augusto Silva, a quem seguramente se devem as análises sobre a economia da República da Guiné e a problemática da mecanização do caju; de resto, e estamos só a falar de 1958 e 1959, reproduzem-se artigos de O Arauto, transcreve-se a legislação da Guiné, discursos do governador, revelam-se as exposições feitas ao Governo e aos serviços públicos. E assim concluí o primeiro volume dos Boletins desta Associação referentes a 1958 e 1959.

Um abraço do
Mário



Uma publicação guineense de consulta obrigatória:
O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné – 2


Mário Beja Santos

Vimos no primeiro texto em que circunstâncias surgiu em 1958 o Boletim de uma Associação que tinha estatutos aprovados desde 1951. Deu-se realce à Companhia Lusitana do Alumínio da Guiné e Angola, mais adiante falou-se das possibilidades petrolíferas do subsolo da Guiné, o empenho do Ministro das Colónias, Raul Ventura, a publicação de dois Decretos, as companhias envolvidas, Norte-americanas, britânicas e alemãs, a opção foi a Esso Exploration Guiné Inc, foram negociações difíceis quanto aos investimentos que a Sociedade tem de fazer e às regalias financeiras que deve dar ao Estado; haveria um prazo de cinco anos para a fase de pesquisas. E dizia-se no Boletim: “Supondo que vem a provar-se a existência de petróleo na área da concessão, de todo o petróleo bruto extraído 12,5% pertence à Província da Guiné, que poderá recebê-los em dinheiro ou em petróleo. Mas supondo que por qualquer eventualidade a província tem interesse em poder comprar mais petróleo, está estabelecido o contrato que a Guiné terá o direito de adquirir metade dos petróleos que do seu subsolo forem extraídos e dar-lhes depois o destino que melhor entender. A realizar-se esta aspiração que modificará radicalmente a estrutura económica da Guiné, são de prever que surjam e se avolumem outros problemas e que esta Província tenha de encontrar, na multiplicidade de caminhos que se lhe oferecem, aquele que nos conduz à felicidade.”

Em Boletim posterior, o Presidente da Associação alertava:
“A vinda em larga escala de empregados da Companhia poderá trazer como consequência um encarecimento do custo de vida. Ora, a verdade é que enquanto a economia da Guiné se basear na produção de oleaginosas para exportação, não será possível melhorar as condições materiais dos seus habitantes, o que será de recear um aumento do custo de vida. Haverá uma maior afluência de moeda no mercado e abundância de dinheiro na mão de alguns. É possível e até aconselhável tomarem-se desde já todas as medidas para evitar a especulação. Não pense o público que a simples presença na Guiné de uma Companhia americana é suficiente para encher de dinheiro os bolsos dos que nada produzem e nem pense que será fácil encontrar emprego em qualquer das modalidades de ação da Companhia. De início, a maior parte dos empregados e operários será especializada, pelo que não poderá ser recrutada na Guiné. De positivo, só podemos contar com o pagamento à Província do arrendamento da superfície o que, não sendo muito, já representa para a Guiné a possibilidade de aumentar os cambiais disponíveis.”


Um ponto curioso que se vai registar nos Boletins de 1959 são as transcrições que se fazer do jornal O Arauto de artigos sobre a mancarra, o problema da cultura do algodão, a cultura orizícola, transcrevem-se as intervenções do deputado da Guiné, Comandante Teixeira da Mota, a correspondência do presidente da Associação tanto com o Governador como com dirigentes dos serviços.

Em 1 de abril de 1959 o novo Governador, Peixoto Correia, presidiu ao Conselho do Governo, o Boletim transcreve o seu discurso, de que se retira a seguinte passagem:
“A nossa exportação é constituída quase exclusivamente por oleaginosas – 90% da tonelagem total e 80% do valor realizado. Dedicam-se por isso os maiores cuidados às culturas do amendoim, coconote e óleo de palma. Há novas culturas em expetativa, a Brigada da Junta de Exportação de Algodão permanecerá mais um ano na Guiné. Ensaia-se a cultura do gergelim. Há a possibilidade de se produzir açúcar, há diligências para a industrialização do caju.”
O Governador enumerou os serviços de ensaios agrícolas e referiu o trabalho que estava a ser feito pela Fazenda Experimental de Fá.


Sendo um Boletim de interesses económicos, realça-se a secção de contencioso e consulta, as exposições feitas aos serviços, faz-se a transcrição da legislação da Guiné que importa à agricultura, comércio e indústria, noticia-se a criação da Escola Comercial e Industrial, que terá um curso de cinco anos. Mas o noticiário associativo também tem carácter social. É assim que se faz uma notícia sobre a presença do Sr. Aly Suleiman há cinquenta anos na Guiné. “De uma atividade fora do vulgar, o Sr. Aly Suleiman é bem o patriarca da numerosa colónia libanesa aqui estabelecida e a firma que fundou e dirige é uma das mais poderosas organizações comerciais da Província onde possui mais de trinta estabelecimentos comerciais, numerosas embarcações de cabotagem e algumas dezenas de camiões para transporte dos produtos do seu comércio. É, na ordem de grandeza, o quatro exportador de mancarra da Guiné.”

Bem curioso é um artigo que se publica sobre a República da Guiné:
“Calcula-se a reserva de bauxite da Guiné, das regiões de Boké e Fria em mais de 280 milhões de toneladas. Mas a bauxite, exportada em bruto, não é fonte de grandes rendimentos e o essencial para a industrialização de bauxite com vista à produção de alumínio reside na energia hidroelétrica. Neste capítulo, a Guiné encontra-se em boa posição, pois é considerada o celeiro de água da África Ocidental Francesa, com os inúmeros rios que aí nascem e as suas quedas de água. Calcula-se que, com facilidade, a Guiné possa produzir, nas duas barragens do rio Konkouré 5 biliões de KW por ano, o que corresponde a uma produção de 250 mil toneladas de alumínio, isto é: uma produção que iguala a atual produção francesa metropolitana. Porém, tem-se verificado ultimamente que a União Soviética não só se desinteressou das fontes externas de bauxite como a tem lançado nos mercados internacionais a preços que não permitem qualquer concorrência. Daí uma diminuição de produção do Canadá e, consequentemente, um retraimento de investimento de capitais estrangeiros na indústria do alumínio na Guiné.”


O artigo refere ainda outras riquezas da República da Guiné como reservas de ferro, uma produção de diamantes, um conjunto de fábricas ligadas a óleos, descasque de arroz, conservas de frutos, produção de bananas, plantações de café. O grande óbice económico é o da Guiné estar privada nos seus mercados tradicionais por se ter afastado da chamada “comunidade francesa”.

Terminamos com uma referência à castanha do caju, tudo tinha a ver com uma firma brasileira que oferecia ao comércio e indústria locais máquinas descascadoras de caju e de despeliculagem. Até então, referia-se no Boletim, todas as tentativas feitas para mecanizar a indústria do caju tinham falhado. “O processo que se afigurava mais viável consistia no descasque por meio da passagem da castanha, primeiro por vapor de água sobreaquecida e, logo em seguida, por um compartimento onde era produzido o vácuo, o que obrigava a castanha a abrir-se por si, sem ofender a polpa. No Governo do Sr. Almirante Sarmento Rodrigues, deu-se um extraordinário incremento à plantação de feijoeiros na Guiné e agora toda a Província deve produzir para cima de 1500 toneladas de castanha de caju, que só é aproveitada em reduzidíssima escala e por métodos mais do que primitivos.”

O autor da notícia manifestava uma grande expetativa no processo de mecanização proposto pelos brasileiros, poderia ser assim que o problema do descasque se resolvesse. Mas como esta maquinaria era de elevado preço seriam necessários capitalistas da metrópole. “Parece-nos duvidoso pois que estamos habituados a ver as reticências com que os capitalistas portugueses investem os seus dinheiros em África. Não seria possível a criação na Guiné de uma sociedade por acções, com a participação do Estado? A pergunta aí fica.”
Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné: ler-se-á num Boletim de 1959 que “Chegou de Lisboa o ilustre artista Sr. José Escada que a Bissau se deslocou para vir decorar a nossa sede – três painéis decorativos alusivos às atividades da Guiné. O nome de José Escada é reconhecido hoje como um dos artistas plásticos de maior prestígio e talento da segunda metade do século XX.”

(continua)
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Notas do editor:

Vd. post anterior de21 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27449 : Notas de leitura (1866): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 27 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27469: Notas de leitura (1867): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có, 1972/74) - Parte VI: a IAO em Bolama: "Eh, pá, estás morto!... Atira-te para o chão, que estás morto!" (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P27472: Fotogaleria do José António Sousa (1949-2025), ex-sold cond auto, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73): viagem de saudade em 2010 - Parte II: Passagem pelo Saltinho

 


Foto nº 9


Foto nº 10

Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Saltinho> 2010 >  Ponte do Rio Corubal, rápidos do Saltinho e Pousada do Saltinho


Fotos: © José António Sousa  (2010). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Em 2010, takvez em março,  o José António Sousa (1949 - 2025), ex-sold cond auto, CCAV 3404/BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73), voltou à Guiné (agora Guiné-Bissau), com mais um grupo de camaradas, entre eles  o Rogério Paupério.

Estamos a publicar algumas fotos, dispersas, sem legendas (data e local),  dessa viagem. Recuperámos a maior parte delas, disponíveis na sua página do Facebook.  

Infelizmente também não sabemos quem foram os seus companheiros de viagem, para além do Rogério Paupério. Presumimos que alguns fossem do Bando do Café Progresso, tertúlia portuense que o Zé António frequentava, a par da Tabanca de Matosinhos.

Fotos acima: na sua viagem,  de jipe, de Bissau até à região de Tombali (onde visitaram, pelo menos, Guileje e e o seu "núcleo museológico"), o grupo passou pelo Saltinho, em cuja pousada deve ter pernoitado.

(Revisão / fixação de texto, edição de imagem: LG)

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 28 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27471: Fotogaleria do José António Sousa (1949-2025), ex-sold cond auto, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73): viagem de saudade em 2010 - Parte I: Regresso a Cabuca

Guiné 61/74 - P27471: Fotogaleria do José António Sousa (1949-2025), ex-sold cond auto, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73): viagem de saudade em 2010 - Parte I: Regresso a Cabuca

 


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

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Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8

Guiné- Bissau > Região de Gabu > Cabuca > 2010 > A visita deve ter sido em fevereiro ou março, no tempo seco


Fotos; © José António Sousa  (2010). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

1. Em 2010, o José António Sousa (1949 - 2025), ex-sold cond auto, CCAV 3404/BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73), voltou à Guiné (agora Guiné-Bissau), com mais um grupo de camaradas, entre eles  o Rogério Paupério.

Fomos agora descobrir algumas fotos, dispersas, sem legendas,  dessa viagem. Recuperámos a maior parte delas, disponíveis na sua página do Facebook. Seria uma pena perderem-se, mesmo sem legenda (indicação da data e local). 

Infelizmente também não sabemos quem foram os seus companheiros de viagem, para além do Rogério Paupério. Presumimos que alguns fossem do Bando do Café Progresso, tertúlia portuense que o Zé António frequentava, a par da Tabanca de Matosinhos.

Além de Bissau, o grupo passou, pelo menos, por Saltinho, Buba, Guileje, Gabu e Cabuca. As fotos, infelizmente,  não trazem legenda.

Em 1971/73, Cabuca era o aquartelamento ( e tabanca em autodefesa) que se situava mais a sudeste, na Zona Leste, Região de Gabu, depois da retirada das NT de Beli (1968), Madina do Boé e Cheche (1969). Ficava na margem direita do Rio Corubal, a sudeste de Nova Lameg (cerca de 25 km) o, e relativamente próximo da fronteira com a Guine-Conacri, pr+oxima da região do Boé.



Bando do Café Progresso, Porto  > s/l> s/d  > O Zé António é o primeiro da direita, seguido do  Zé Ferreira o o Ricardo Figueiredo.


Bando do Café Progresso,. Progresso > s/l >s/d  :  A poutra metade do grupo... Em primeiro lugar, o "bandalho-mor", o Jorge Teixera, à esquerda. E,m quarto kugar, o António Cavalhao, seguiddo o Manuel Cibrão Guimarães, do Jorge Lobo, do Cancela e do Fernando Súcio... Fotos da página do Facebook do José António Sousa.

(Revisão / fixação de texto, edição de imagem: LG)

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27470: Ser solidário (292): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (17): A cabana (Renato Brito)

1. Mensagem do nosso amigo Renato Brito, voluntário, que na Guiné-Bissau integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa, com data de 26 de Novembro de 2025:

Boa noite Carlos Vinhal,
3 anos volvidos desde o início do projeto de construir uma escola na Guiné-Bissau, amanhã um momento de encontro para comemorar os resultados do primeiro passo operativo do projeto e apresentar o passo sucessivo – construir uma horta pedagógica no terreno doado.
Envio a “cartolina” e o cartaz que divulgam o evento.

Cumprimentos,
Renato Brito


Nota do editor CV:
Ver aqui o PDF em português do Projecto previsto para a Horta Pedagógica:
https://sostegnoguineabissau.weebly.com/uploads/1/4/4/2/144252647/projeto_horta_portugu%C3%AAs.pdf

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Nota do editor

Último post da série de 11 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27411: Ser solidário (291): Início do ano lectivo na escola de Sintcham Arafam, na Guiné-Bissau (Renato Brito)

Guiné 61/74 - P27469: Notas de leitura (1867): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có, 1972/74) - Parte V: a IAO em Bolama: "Eh, pá, estás morto!... Atira-te para o chão, que estás morto!" (Luís Graça)



Luís da Cruz Ferreira 


1. Continuando a leitura do livro do Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys: nos trilhas da memória" (edição de autor, 2025, il., 184 pp,) (ISBN 978-989 -33.7982-0) (*). (Revisão / fixação de texto: J. Pinto de Carvalho.)


Com a especialidade de 1º cabo auxiliar de enfermeiro feita em Coimbra, no RSS (Regimento de Serviços de Saúde) (jan/mai 1972), o Luís é mobilizado para a Guiné, indo formar batalhão, o BART 6521/72, no RAL 5, Penafiel (jun / set 1972).

Daqui parte para o CTIG, por via aérea (TAM), em 22/9/1972 (*)

Em 11 páginas (pp. 48-59) descreve a sua estadia em Bolama, em cujo CIM iria fazer a IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional. O tom que adota continua a ser irónico, e às vezes burlesco, a raiar o absurdo.

~
Crachá da 2ª C/BART 6521/72
(Có, 1972/74)
"O tempo que me faltava para terminar a minha comissão era tanto que para mim ainda não tinha começado a contar" (pág.56).

Em quatro pincelaas, descreve Bolama, "capital abandonada", "uma cidade de recordações de postais
desbotados" (pág.48).

O batalhão "estava aquartelado nos antigos armazéns da Casa Gouveia, que ficavam  perto do cais e pertenciam ao grupo CUF" (pág. 49),  o "dono" daquilo tudo:

 "Eram edifícios altos, cobertos de telha e sem forro, onde à noite (...) éramos armazendos em pilhas de colchões, em beliches quádruplos" (pp. 49/50)... 

De tudo o que restava do passado colonial (hospital, câmara municipal, hotel, vivendas de estilo colonial...), "a piscina era a que estava em melhores condições; estava cheia, a água era limpa e tinha um bar de apoio com muitas cervejas" (pp. 50/51).

Nas restantes páginas (pp. 52-59), fala-nos da IAO, que nada teve de empolgante, a não ser a chuva... e o quase-acidente de que foi vítima numa brincadeira estúpida, a finalizar a famigerada "semana de campo". Vale a pena reproduzir aqui os excertos correspondentes a essa cena burlewsca (pp. 56-58).








 Fonte: Excertos de Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys" (edição de autor, 2025), pp. 56-58.

Acabou-se o "recreio", mas a passagem dos "Có Boys" por Bolama (um mês, em outubro de 1972, ) "acabou por ser o melhor tempo que se passou na Guiné", confessa o autor (pág. 54).

Após a realização da IAO, no CIM, em Bolama,  a 2ª C/ BART 6521/72 seguiu, em 290ut72 para Có, sector do Pelundo,  a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3308. 


Último poste da série "Notas de leitura" > 24 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27460: Notas de leitura (1866): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27468: Efemérides (378): foi há 55 anos a Op Abencerragem Candente (25 e 26 de novembro de 1970, subsetor do Xime), com meia dúzia de mortos de um lado e do outro




Seco Camará, guia e picador das NT.
Morto em 26/11/1970. Está sepultado
em Nova Lamego /Gabu
 Foi vouvado a título póstumo
pelo cmdt do CAOP2, em 28/1/71,
e pelo Cmd-Chefe, em 16/4/71
Foto: Torcato Mendonça (2007)


(...) Um, dois, três, quatro, cinco, seis homens 
vão morrer daqui a três ou quatro horas,
às 8h50,
em vinte e seis de novembro de mil novecentos e setenta,
no cacimbo da madrugada,
na antiga picada do Xime-Ponta do Inglês.
Cinco brancos e um preto,
a lotaria da morte, em L,
numa emboscada que é cubana,
numa roleta que é russa,
com os RPG, amarelos, "made in China"...
no corrocel da morte que é, afinal, universal! (...) (*)



1. Um dos maiores desaires das NT, no Sector L1 (Bambadinca), no meu tempo (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, junho de 1969/ março de 1971) foi a Op Abencerragem Candente  (subsetor do Xime, 25 e 26 de novembro de 1970). 

Temos 3 dezenas de  referências no nosso blogue a esta operação. Em contrapartida, há um estranho silêncio nos livros da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África), como já em tempos referimos. Silêncio em relação  este revés das NT bem como a outros... 

De facto, não há sequer uma linha no livro relativo à atividade operacional no CTIG em 1970: vd. CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro II (1.ª edição, Lisboa, 2015), 

A Op Abencerragem Candente (envolvendo 8 Gr Comb, 3 da CART 2715, 3 da CCAÇ 12 e 2 da CART 2714) foi  há 55 anos atrás (4 dias depois da Op Mar Verde).

Terá sido, no subsetor do Xime, a mais sangrenta das operações ali realizadas, durante a guerra colonial, pelo lado das baixas contabilizadas para as NT: 6 mortos e 9 feridos graves. O IN, por sua vez, terá tido outros tantas baixas.

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Notas do editor LG:

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27467: Historiografia da presença portuguesa em África (505): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, continuação de 1949 (63) (Mário Beja Santos)

Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf
CMDT Pel Caç Nat 52

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Maio de 2025:

Queridos amigos,
É gritante, flagrantemente gritante, o conteúdo das matérias dos Boletins Oficiais da governação de Sarmento Rodrigues, da do período que ficou a cargo do encarregado de Governo e agora do novo Governador, Engenheiro Raimundo Rodrigues Serrão. O que conta agora é a institucionalização da vida administrativa, vai surgir a aviação civil, fala-se dos direitos dos aposentados, de segurança social, como seja as indemnizações, pensões e compensações por acidentes de trabalho dos indígenas, do abastecimento de água em ruas ou zonas servidas pela rede geral da distribuição de água, dos direitos dos funcionários a medicamentos, há melhoria do abastecimento em carnes verdes, há necessidade da Guiné se apetrechar com aparelho estatístico, e aumenta o número dos clubes de futebol, fundou-se uma associação de desporto com o nome Nuno Tristão Futebol Clube, em Bula. Ainda não se falou numa preocupação que é latente em Raimundo Serrão, ele quer pôr o liceu a funcionar, no fundo o espírito da colónia-modelo parece enraizar-se nas preocupações do novo governador, enquanto decorrem as construções deixadas pelo seu antecessor procura melhorar o aparelho administrativo, pô-lo na dimensão da modernidade.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné, continuação de 1949 (63)


Mário Beja Santos

Estamos em julho de 1949, no Boletim Oficial n.º 29, do dia 18, são publicados os estatutos do Nuno Tristão Futebol Clube, tem a sua sede em Bula, o emblema constará de camisola amarela, calção preto, meia preta com lista amarela e as armas da colónia, o seu estandarte será também preto e amarelo com as armas da colónia. Os fins da associação são: promover diversões familiares entre os associados, a prática das diversas modalidades desportivas, expansão do espírito associativo e o progresso da associação.

O reforço da vida administrativa passava também pela introdução de infraestruturas de abastecimento portadoras de sinais da civilização. No Boletim Oficial n.º 30, de 25 de julho, consta uma Portaria que nos recorda que a população de Bissau, 11 mil habitantes, lutava com sérias dificuldades quanto à aquisição de carnes verdes, refere-se que o serviço de aquisição, matança de rezes e fornecimento de carnes verdes é do verdadeiro interesse público, sendo necessário dotar o serviço com fundo permanente para aquisição de gado, autoriza-se a Câmara Municipal de Bissau tomar as medidas atinentes. É também nesta perspetiva que se deve olhar o regulamento para serviço de abastecimento de água nas circunscrições civis, consta do Suplemento ao n.º 30, n.º4-A, 26 de julho, atenda-se aos propósitos:
- As administrações das circunscrições civis fornecerão água potável para usos domésticos e industriais a todos os proprietários e inquilinos de prédios, bem como as repartições, dependências e utilizações públicas situadas nas ruas, zonas ou locais servidos pela rede geral de distribuição;
- A água será fornecida ininterruptamente de dia e de noite, exceto em casos fortuitos e de força maior;
- Nas ruas ou zonas servidas pela rede geral de distribuição de água é obrigatória a instalação de canalizações de distribuição, esta obrigação pertence sempre ao proprietário do prédio. É um minucioso regulamento que contempla as canalizações, o fornecimento de água e muito mais.

As preocupações sociais vão começar a dar pelo nome de segurança social e direitos dos trabalhadores. No Suplemento n.º 4-B, de 26 de julho, consta um despacho do gabinete do governador em que se pretende regulamentar a proteção aos indígenas vítimas de acidentes de trabalho e por isso se publicam instruções sobre acidentes de trabalho em concordância com o Código do Trabalho dos Indígenas, que tinha sido aprovado por um decreto de 6 de dezembro de 1928. Vejamos alguns aspetos relevantes:
- Terão direito às indemnizações, pensões ou compensações fixadas neste regulamento todos os trabalhadores indígenas que forem vítimas de um acidente de trabalho, do qual lhes resulte alguma lesão ou doença que tenha ocorrido no local e durante o tempo de trabalho ou na prestação de trabalho ou fora do local e tempo de trabalho normal, se ocorrer enquanto se executam ordens ou realizam serviços sobre a autoridade da entidade patronal. O legislador é também minucioso, dirá o que não é acidente de trabalho ou o que não se poderá considerar como acidente de trabalho, em condições o sinistrado perde o direito a qualquer pensão ou indemnização, etc., etc.

Vejamos agora o Boletim Oficial n.º 36, de 5 de setembro, determina que os comerciantes fiquem obrigados a manifestar mensalmente, para fins exclusivamente estatísticos, as quantidades compradas e os preços praticados. Isto porquê? O legislador explica:
“Não dispõe a Guiné de estatísticas da sua produção agrícola. Os números publicados quanto a este aspeto da estrutura económica da colónia resultam de simples estimativas que nem sempre traduzem a realidade dos factos, refletindo com exatidão a atividade agrícola geral dos indígenas, nem permitem traçar com segurança a política económica mais adequada às necessidades locais. Enquanto não for possível a organização daquele ramo de estatística por forma a fornecer elementos de grande utilidade, quer sob o ponto de vista económico-agrícola, quer sob o ponto de vista político e social de ocupação do território, tenta-se suprir a lacuna existente organizando o manifesto comercial agrícola que permitirá ao Governo conhecer, com o rigor possível, não só o volume dos produtos da lavra indígena que afluem aos centros comerciais de cada circunscrição como a evolução anual dos respetivos preços, as compras feitas por uma circunscrição em qualquer das outras e as existências em armazém no fim de cada mês.”
E estabelece-se esta obrigatoriedade de que todos os comerciantes que compram os produtos agrícolas aos indígenas são obrigados a manifestar mensalmente as quantidades compradas e os preços praticados.

Temos finalmente o Suplemento n.º 17, de 31 de dezembro, publicam-se os Estatutos do Aero Clube da Guiné, organismo de interesse público e privado com sede em Bissau, tendo como objetivo o desenvolvimento da aviação civil na Guiné Portuguesa. “Para atingir os fins enunciados, o Aero Clube dedicar-se-á ao ensino, prática e propaganda da aeronavegação e, mais particularmente, procurará criar e desenvolver escolas de pilotagem e transportes aéreos, destinados aos seus associados; também o Aero Clube poderá promover a prática de desportos e à realização de reuniões, festas e sessões educativas; o Aero Clube será o porta-voz dos interesses da associação civil, desportiva e turística da Colónia junto dos competentes organismos do Estado.” E prescrevia-se, conforme o espírito do tempo, que o Aero Clube orientaria a sua atividade de forma a favorecer o interesse nacional, ficando indiferente em matéria política ou religiosa, sendo estranho às opiniões políticas e crenças religiosas dos seus associados.

Creio que o leitor pode verificar que o novo Governador está mais vocacionado para a institucionalização da vida administrativa, nada do que espelha a sua atuação durante estes meses de 1949 nos faz recordar a dinâmica introduzida por Sarmento Rodrigues, Raimundo Serrão quer uma boa administração para a colónia, como veremos proximamente em 1950 estará atento ao transporte do correio por toda a colónia, estatutos sindicais, instruções especiais da polícia e fiscalização do movimento migratório de nacionais e estrangeiros, sanidade urbana, serviços meteorológicos ou camarários. A administração cresce, tenho que estar à altura do espírito da colónia-modelo que tinha sido insuflado por Sarmento Rodrigues. Claro está que haverá construções mas sobretudo das obras lançadas pelo anterior Governador.

Em julho de 1949 chega o novo Governador, o Engenheiro Raimundo Rodrigues Serrão
Engenheiro Raimundo Rodrigues Serrão
Escreveu um dia Avelino Teixeira da Mota que a Mata do Cantanhez é a mais bela do mundo
Planta da Praça de São José de Bissau, desde a Ponta de Balantas até à Ponta de Bandes, Bernardino António Alves de Andrade, 1776, Arquivo Histórico Ultramarino
Geba, habitação de Fulas, postal antigo
Fotografia retirada da Casa Comum/Fundação Mário Soares, porventura representação da família de um régulo
Sala de aulas do Liceu Honório Pereira Barreto

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 19 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27441: Historiografia da presença portuguesa em África (504): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1949 (62) (Mário Beja Santos)