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segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27561: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (14): Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Fonte: Gemini (Modelo Flash 2.5). [Boas festas 2025/26] Imagem gerada por Inteligência Artificial, 22 dez 2025, sob orientação do editor LG.


‪‪‪‪1. Mensagem natalícia  de Virgílio Teixeira‬‬‬‬, Vila do Conde:


Data - segunda feira, 22 de dezembro de 2025, 10:38 
Assunto - Boas festas

Luis,  bom dia.
 
Junto a minha mensagem e prova de vida nesta época natalícia.

Tenho visto diariamente as bonitas e sentidas mensagens de outros nossos grão-tabanqueiros, com espírito e habilidades poéticas e uso de tecnologias. Não comento porque no meu PC dá sempre erro.
Mas acompanho tudo.

Não sou grande cliente das festas Natalícias e de Ano Novo, mas vou tentando manter as tradições.
É uma época de grande consumismo e isso contribuiu para a minha descrença. 

Em tudo o que é comunicação social, milhões de anúncios com grandes ofertas Natalícias. E aqueles que sofrem, que não têm família, doentes, abandonados sem teto, como esse que hoje vi,  de um homem sem abrigo no primeiro dia de inverno a dormir debaixo de uma ponte à margem do Rio Nabão. em Tomar.

No meu tempo de criança havia o Menino Jesus e o presépio feito com musgo apanhado nos campos ou nas paredes frias e húmidas, com peças baratas dos Reis Magos.

Hoje a toda a hora somos doentiamente torturados com 'peças Televisivas com caras de gente sem vergonha mostrando e ostentando aquilo que só alguns conseguem atingir! E os seres humanos sem abrigo, sozinhos como este que reportei que é uma amostra dos cerca de 15000 que existem segundo um estudo publicado?

Por isso, eu prescindo cada vez mais desta época de consumismo exarcebante que dá dó ver a cada minuto.

Lamento esta forma de pensar, mas é assim que vejo as coisas.

Para todos um Bom Natal e um próximo Bom Ano para aqueles que lá chegarem.

Saúde acima de tudo com amor e paz.
Virgílio Teixeira

PS- Porque não tenho grandes habilidades para construir um postal, pego na imagem da Lua cheia em novembro de 1968 em São Domingos, que mandei à minha namorada de então e hoje minha mulher. E uma imagem fotográfica que recebi de um familiar numa viagem ontem na zona de Trás os Montes, a primeira neve, nevão (e uma saraivada que apanhei em Vila do Conde que não via há décadas).
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Guiné 61/74 - P27560: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (13): Ramiro Jesus, ex-fur mil cmd, 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73) e José Carlos Mussá Biai, amigo Grã-Tabanqueiro


1. Mensagem de Ramiro Jesus (ex-fur mil cmd, 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), transformada em cartão natalício. 

Fonte: Gemini (Modelo Flash 2.5). [Prova de vida e votos de boas festas 2025/26] Imagem gerada por Inteligência Artificial, 22 dez 2025, sob orientação do editor LG.

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2. Mensagem natalícia do nosso amigo Grã-Tabanqueiro José Carlos Mussá Biai, um dos nossos meninos do Xime, com data de 22 de Dezembro de 2025:

Bom dia, Meu Caro Dr. Luís
Serve a presente mensagem para endereçar a todos os Camaradas deste nosso blog um Santo e Feliz Natal e um Próspero Ano 2026 e com muita saúde.

Um abraço,
José C. Mussá Biai

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Nota do editor LG:

Último poste da série >21 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27558: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (12): Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873; Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659 e Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

Guiné 61/74 - P27559: Não-estórias de guerra (6): O Cherno Rachide que eu conheci (Manuel Amaro, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Fomosa e Nhala, 1969/71)


Guiné > Região de Tombali >  Aldeia Formosa (hoje, Quebo) > Janeiro de 1973 > Tabaski ou festa do carneiro > O Cherno Rachide, acompanhado de um dos seus filhos (possivelmente o seu futuro sucessor, Aliu),  presidiu à cerimónia, ele próprio degolou (ou ajudou a degolar) o carneiro. Viria a morrer nesse ano, em setembro. 

Em segundo plano,   o cap mil (e nosso grão-tabanqueiro) Vasco da Gama, cmdt da CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" ( Cumbijã, 1972/74). 

Foto (e legenda): © Vasco da Gama (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > Janeiro de 1974 > Da esquerda para a direita, (i) Califa, o homem mais velho de Aldeia Formosa com 83 anos de idade; (ii)  Aliú, chefe da antiga Tabanca do Cumbijã; (iii)  cap mil cav, Vasco da Gama (cmdt da CCAV 8351, Cumbijá, 1972/74); (iv) Sekúna (filho do Cherno Rachide,  falecido, em setembro de 1973, e seu herdeiro como imã) e  (v) o Cherno da República do Senegal (irmão do falecido Cherno Rachide).


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 >  A população,  na sua maioria constituída por "homens grandes",  segue a leitura do alcorão pelo Cherno Rachide. Os fatos que envergam não os usam habitualmente mas só em dias festivos como o "Ramadão" ou "Festa do Carneiro", que significa para eles o início de um Novo Ano. 

Fotos do álbum do Vasco da Gama (ex-cap mil cav,  CCAV  8351, Cumbijã, 1972/74), disponibilizadas ao Pepito (1949-2012) e, através deste,  ao seu amigo Califa Aliu Djaló, filho do falecido Cherno Rachide).

Fotos (e legendas): © Vasco da Gama (2011). Todos os Direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

  
Não-estórias de guerra (6):
 O Cherno Rachide que eu conheci  

por Manuel Amaro

1. Mensagem de Manuel Amaro (ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71), já publicada em 28/10/2008 (*), e que é agora recuperada como poste da sua série "Não-estórias de guerra" (**). Vem a propósito do poste P27547 (***). 

Tem-se aqui discutido, no nosso blogue, qual o posicionamento político
do Cherno Rachide (1906-1973), na altura da guerra colonial. Seria um "agente duplo" ?  O Manuel Amaro, em 2008, achava que sim.

Eu conheci pessoalmente o Cherno Rachide Djaló, chefe dos muçulmanos, em Aldeia Formosa [Califa do Quebo-Forreá, chamava-lhe o Pepito]

E confirmo que este grande marabu era amigo do General Spínola e de mais alguém em S. Bento, Lisboa, que lhe pagava as viagens para Meca.

Em dezembro de 1969, era eu professor do Posto Escolar Militar de Aldeia Formosa. Já tinha ouvido algumas histórias sobre a influência, o poder e os "poderes" do Cherno.

Um dia fui abordado por um milícia, com ar preocupado, porque o filho (ou sobrinho?) do Cherno queria falar comigo, mas como não falava português, então ele, o milícia, seria o intérprete.

Recebi o visitante, que estava nervoso, mãos a tremer, que não falava português, mas percebia perfeitamente as minhas respostas. 

A preocupação do Cherno centrava-se na possibilidade de as cerca de trinta crianças que frequentavam a escola, serem aliciadas com o ensino da religião católica.

— Nada disso... zero... zero... — resp
ondi, gesticulando. — E mais, se necessário, eu próprio vou falar com o Cherno, para garantir que não será ensinada religião católica.

Proposta aceite. Reunião marcada. No dia seguinte, lá fui à morança grande do Cherno Rachide Djaló.

Primeira surpresa, agradável, o aspecto luxuoso dos tapetes que cobriam aquele chão.Tirei as botas e sentei-me. 

Segunda surpresa, desagradável. Tinha na minha frente um homem abatido, com ar doente, olhar distante, que nem as vestas brancas, debruadas de amarelo torrado, conseguiam amenizar. O grande marabu estava mesmo preocupado.

Falei-lhe em voz baixa, pausadamente, reafirmando o que já tinha dito ao ajudante. Apenas ia ensinar os alunos a ler, escrever e contar. Fora da Escola, ao ar livre, faríamos educação física, jogos e canções. Mas nada de religião.

Enquanto o milícia traduzia, o Cherno fazia pequenos gestos de concordância. Depois, fez uma pausa e disse que,  se era assim, os meninos podiam frequentar a Escola.

Ficou tranquilo. Menos tenso, mas nunca sorriu. Despediu-se afetuosamente, como se estivesse a abençoar-me. Agradeci, por mim e pelos alunos.

Regressei ao Quartel, mas pelo caminho uma dúvida permanecia no meu espírito. Alguma coisa não estava certa. Um chefe religioso, mesmo ali, naquele sítio, naquela situação de guerra, não tem aquele comportamento. 

E ao ler o poste do Luis Graça (***), fez-se luz. Era isso, um  "agente duplo".

O Cherno Rachid Djaló era um homem de confiança do PAIGC, pois embora estivesse no terreno ocupado por Portugal, tinha muita influência na população e não deixaria avançar a difusão da cultura e muito menos da religião dos portugueses. Aliás, nos ataques a Aldeia Formosa, os danos civis são quase nulos.

Manuel Amaro

(Revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)
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(***) Vd. postye de 19 de dezembro de 2025  > Guiné 61/74 - P27547: Documentos (47): O Cherno Rachide terá feito, em 1969, uma aproximação ao gen Spínola, o que terá irritado o PAIGC...

domingo, 21 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27558: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (12): Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873; Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659 e Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845


1. Mensagem natalícia do nosso amigo e camarada Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, com data de 20 de Dezembro de 2025.

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2. Mensagem natalícia do nosso camarada Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 20 de Dezembro de 2025:

Prova de vida e votos de um feliz NATAL e um ANO NOVO com muita saúde, para todos e seus familiares.

Um grande abraço
Joaquim Fernandes Alves
Ex-Furriel Mil Art 
CART 1659 (ZORBA)


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3. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 21 de Dezembro de 2025:

Para a Tabanca Grande, Votos de Boas Festas, Feliz Natal e Bom Ano 2026

Vai um bom abraço
Albino Silva

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Nota do editor

Último post da série de 20 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27554: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (11): O Natal de 25 na Graça, na Rua da Senhora do Monte (O editor LG, e a "chef" Alice, com uma ajudinha das netas, que lhes dão amor e inspiração): "P'rós meninos de toda a terra, / Desejo saúde e paz, / Saibam dizer não à guerra, / E nunca ficar p'ra trás./

Guiné 61/74 - P27557: Notas de leitura (1876): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có, 1972/74) - Parte VII: A chega a Có, com a praxe do costume


Guiné > Região de Cacheu > Có > c. 1972/74 > Vista parcial do aquartelamento: edifício central (secretaria, messe e enfermaria

Foto (e legenda): © Luís da Cruz Ferreira (2025). Todos os Direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


~
Crachá da 2ª C/BART 6521/72
(Có, 1972/74)
1. Prosseguindo  a nossa leitura do livro do Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys: nos trilhas da memória" (edição de autor, 2025, il., 184 pp,) (ISBN 978-989 -33.7982-0) (*). (Revisão / fixação de texto: J. Pinto de Carvalho.)

Com a especialidade de 1º cabo auxiliar de enfermeiro feita em Coimbra, no RSS (Regimento de Serviços de Saúde) (jan/mai 1972), o Luís,  de alcunha o "Beatle",  empregado de hotelaria e restauração, nascido na Benedita, Alcobaça,  é mobilizado para a Guiné, indo formar batalhão, o BART 6521/72, no RAL 5, Penafiel (jun / set 1972). 

Daqui parte para o CTIG, por via aérea (TAM), em 22/9/1972. No CIM de Bolama, faz a IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional. O tom que neste livrinho de memórias é irónico, e às vezes burlesco, a raiar o absurdo. Vêmo-lo em Bolama, outrora capital, ultrapassada por Bissau e em 1972, já completamente decadente. Decididamente não gosta da CUF nem da Casa Gouveia, que para ele são os donos daquilo tudo. 

Após a realização da IAO, a 2ª C/ BART 6521/72 seguiu, em 290ut72 para Có, sector do Pelundo,  a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3308. 

É do cais de Bolama que o Luís e os "có boys" partem para  o seu novo destino, Có, "cháo manacanha", via Bissau e João Landim. 


pág. 5

A viagem foi feita de manhã, em LDG (lancha de desembarque grande, da nossa Marinha), aproveitando a maré. 

Chegados a Bissau, foram em coluna para o Cumeré onde pernoitaram. No dia seguinte dirigiram-se para João Landim, para a cambança do rio  Mansoa. Aqui começam a aperceber-se que estão já às portas da guerra. Teoricamente podia viajar.se sem escolta até Mansoa. Mas já não era aconselhável. 

Do outro lado do rio, estavam já os "velhinhos" que os iriam escoltar até Có, a 25 km dali, Foram precisas 3 viagens da jangada para transportaer os 160 homens, as suas bagagens e as suas viaturas (Berliets e outros veículos).



pp. 60/61




Luís da Cruz Ferreira 
(n. 1950,
Benedita, Alcobaça). 
É membro da Magnífica 
Tabanca da Linha. 
E vai aceitar, por certo,  o
 nosso convite para se sentar, 
connosco,
à sombra do poilão 
da Tabanca Grande

Demorou cerca de 1 hora a cambança do rio. A coluna prosseguiu até Có, sem problemas de maior. Â chegada ao quartel, tiveram una "apoteótica receção". Os "velhinhos" tinham um grande números de miúdos da tabanca que, a troco de uma coca-cola, se dispuseram a cantar em coro, a plenos pulmões, o clássico hino de bons vindas à "periquitagem":


"Periquito vai no mato,,,olé, lé, lé.
a velhice vai nos Lisboa... olaria, ló, lé".


Enfim, um filme que se repetia em toda Guiné, na rendição de tropas. entre "periquitos" e "velhinhos".

Antes de uma primeira descrição do quartel, o autor fala-nos da tabanca de Có:

"A aldeia de Có era um aglomerado artificial que foi 
projetado e executado pelas forças armadas portuguesas, através do programaa de reordenamento posto em prática no tempo do general António Spínola (...)"


Com cerca de 4 mil habitantes, predominava a etnia Mancanha, tinha um posto escolar miliar (PEM nº 20), onde era minitrado o ensino primária: havia um "profesor de raça branca" para a 3ª e 4ª classes, e três professores civis, jovens, de raça negra".

Além disso, "tinha um posto médico. Não tinha mercearia nem taberna"(sic). Os habitantes "viviam na sustentabilidade possível com os produtos que ainda granjeavam" (pp. 63/64).


Fonte: Excertos de Luís da Cruz Ferreira, "Os Có Boys" (edição de autor, 2025), pp. 59-63

(Contimua)



Guiné >  Região de Cacheu > Carta de Pelundo (1953) (Escala 1/50 mil)  > Posição relativa de Rio Mansoa, Pelundo Jolmete e Có.

Infografia: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2025)

(Revisão / fixação de texto: LG)
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Notas do editor LG:

Último poste anterior da série : 19 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27548: Notas de leitura (1875): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27556: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (9): a última operação do 1º cabo LAntónio José Lourenço



 Estudo prévio  para ,onumento  em emória dos combatentes da guerra cvolonial (2005). Arquiteti Augusto Vasdconcelos (Fafe)

Foto (e legenda): © Jaime Bonifácio Marques da Silva (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã:
4 de agosto de 2012 > Jaime Silva

Jaime Silva (ex-alf mil pqdt, cmdt 3ª Pel /1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande, nº 643, desde 31/1/2014, tendo já 130 de referências, no nosso blogue; reside na Lourinhã, é professor de educação física, reformado, foi autraca em Fafe, com o pelouro de "Desporto e Cultura": residiu lá durante cerca de 4 décadas): Tem página pessoal do Facebook


Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci (9):  a última operação do 1º cabo Lourenço

por Jaime Silva



Não esqueci o que aconteceu ao 1º Cabo Lourenço, apontador da metralhadora HK 21, pertencente ao 4.º Pelotão,  comandado pelo meu amigo, alferes miliciano Francisco Cruz dos Santos 
[Foto à esquerda. página pessoal do Facebook]
 .

A 1ª CCP / BCP 21 estava destacada no Leste de Angola, sediada na vila de Léua (*) e o Comandante de Companhia nomeou o 3º e o 4º pelotões (o meu e o do meu amigo) para efetuar um assalto a uma base do MPLA, na zona de Kamgama – Chimbila.

Lembro, como se fosse hoje, o momento em que os dois grupos de combate saíam do quartel na direção dos Helicópteros que nos transportariam rumo ao objetivo. Lembro, de forma especial, o momento em que o Cabo Lourenço, caminhando ao meu lado me disse:

 
– Ai, meu alferes, isto nunca mais acaba! Esta é a minha última operação, já terminei a comissão. Quando chegarmos a Luanda,  vou-me embora para o “Puto”. Já chegou quem me vem render.

Lembro de ter dito palavras de circunstância, talvez do género:

– Vai correr tudo bem e daqui a poucos dias já estarás na “peluda”, livre, junto da tua família.

Depois, os dois grupos são lançados próximo do objetivo, mas em pontos distintos, tendo um rio de permeio a separá-los. 

Minutos, depois, do lançamento, somos confrontados com um intenso tiroteio e rebentamento de granadas. O grupo do Cruz dos Santos havia detetado a Base IN, mas, no assalto a esta, confrontou-se com enorme resistência e fogo intenso. 

Nesse tiroteio, o Cabo Lourenço foi atingido e perde a vida… Na sua última missão…

Fonte: excerto de Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 90-91 (**)

(Revisão / fixação de texto, parênteses retos, notas, edição de imagem: LG)



1º Cabo Pqdt António José Lourenço  (1948-1971)

(i) morto em combate em Angola (na ZML - região de Chimbila-Cazage-Luatxe-Lumeje), no decorrer da Operação CALCAR IH”, no dia 18 de novembro de 1971;

(ii) nasceu a 21 de Outubro de 1948, na então freguesia de São João Baptista, concelho de Tomar, distrito de Santarém;

(iii) frequentou o Curso de Pára-quedismo nº 56, tem o Brevet nº 7871. 



__________________

Notas do editor LG:

(*) Na altura, A vila de Léua (um município e comuna na província do Moxico, Angola) não tinha um nome colonial distinto, uma vez que a localidade de referência na região com um nome colonial alterado é a capital da província.

A capital da província do Moxico, a cidade do Luena, era anteriormente conhecida como Vila Luso durante o período colonial português. O nome foi alterado após a independência de Angola em 1975.

(**) Último poste da série : 15 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27531: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (8): escapei à terceira mina... mas o sold pqdt Lamas apanhou com um 'balázio' no braço


sábado, 20 de dezembro de 2025

Guiné 63/74 – P27555: (Ex)citações (446): De uma juventude saudável a um envelhecer agridoce (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 

Camaradas, conterrâneos e amigos, permitam-me mais uma viagem pelo tempo já sem tempo  

De uma juventude saudável a um envelhecer agridoce

 

 

Porra! Desculpem-me por esta dicotomia de palavreado porque sou cidadão do Baixo Alentejo, natural da freguesia de Aldeia Nova de São Bento e oriundo de famílias humildes. Gentes que, modestamente, souberam laborar, com precisão, o” pão que o diabo amassou”. Não foram pessoas letradas, mas gentes que souberam, com o seu erudito conhecimento, distinguir “o trigo do joio” e colocar-me em patamares jamais imaginados. 

Na percepção de um antigo combatente, eu de carne e osso, fui fruto oriundo de excelentes pomares, mas estes polvilhados de estrume de animais que deram vida à humanidade e que foi ganhando alicerces que me permitiram chegar à idade presente, 75 anos, e ser quem hoje o sou. O meu saudoso pai, Francisco Saúde, foi um dos militares que “guardaram” a fronteira entre Portugal e Espanha no tempo da guerra civil espanhola (1936). Dele, meu pai, recolhi excelentes ensinamentos que guardarei para sempre neste já débil corpinho. 

 

Estamos em pleno século XXI, onde a voraz notícia se transmite facilmente com os meios tecnológicos de que facilmente cada um de nós dispomos. O tempo de irmos aos correios para contactarmos alguém telefonicamente, e que estava longe, era do tipo em que a telefonista lá colocava uma “cavilha” no seu “painel” telefónico, sendo que ouvir do outro lado da linha alguém, entretanto solicitado, obedecia a um demasiado tempo de espera. Ou enviar um telegrama, ou quando a notícia chegava através de uma telefonia, a pilhas, ou a chegada da televisão a preto e branco. Recordo, desses tempos, ouvir aquela trova do antigo regime quando a guerra rebentou em território angolano e que dizia: “Angola é nossa!”. Ora, eis que anos mais tarde o meu destino militar passou por conhecer uma das antigas províncias ultramarinas. 

Hoje, porém, todo esse voraz passado dissipou-se nas auréolas do tempo, sabendo nós o quão difícil fora chegar ao momento presente, onde o poder tecnológico permite examinar o Mundo de uma outra forma pronta, ou seja, de fio a pavio, ou conhecer conteúdos de uma outra guerra, ou de guerras globais que sabemos existirem, mas em cima do acontecimento. 

Sento-me ao meu computador portátil e lá vou debitando ideias que o meu coração suscita, um coração que teima em bater, não obstante as delinquências sofridas ao logo da vida, mormente como protagonista de um antigo combatente numa Guiné a ferro e fogo. Sim, porque na verdade a vida, em toda a sua extensão, é uma ligeira passagem por este cosmo terrestre e o final irreversivelmente certo. 

 

Presentemente, a minha “máquina” acusa irreparáveis falhas que o tempo jamais recuperará, dado que as peças incriminam desgaste, o que é normal, e não usufruírem do deleite de uma retificação, ou da sua oportuna substituição. A tal “máquina” que sempre correspondeu aos imperecíveis desejos, mesmo quando fui um dos muitos camaradas da guerrilha em território guineense. Aquela velha “máquina” humana nunca recuou perante as adversidades surgidas. Ficaram as imagens que detenho e que viajarão comigo para a perpetuidade.  

De uma juventude saudável a um envelhecer agridoce tudo foi rápido. Mas, fica para a história a nossa passagem por este planeta de onde colhemos excelentes momentos, sendo que existiram ainda outros piores, sendo o caso específico, e em particular, alguns dos instantes constatados na guerra de além-mar. Tudo, no fundo, fez parte das nossas vivências. Regressámos a solo lusitano vivos e sãos, sendo que os nossos corpos regressaram tal como partiram. Outros, infelizmente, não poderão partilhar da mesma filosofia de uma vida. 

Pessoalmente parti, muito novo, da minha aldeia, Beja recebeu-me e conheci a algazarra de uma Lisboa deveras eletrizante. Nasci, após o fim da 2ª Guerra Mundial, à beira das searas e de um campo essencialmente marcado pelo prisma do literalmente saudável. Pelas ruas da minha aldeia, umas empedradas outras em terra batida, delineei os meus primeiros passos de vida. Vi mulheres com xailes pretos a lhes tapar o rosto e parte do corpo, ou conterrâneas cujos xailes tinham um preceito que anunciava a presença de um filho na guerra colonial, os ranchos de homens que aos domingos percorriam o povoado parando às portas das tabernas e lá seguia o voluntário a caminho do taberneiro a comprar uma garrafa de vinho, trazendo consigo um copo por onde todos bebiam, enquanto os outros lá se lançavam em mais uma moda. 

Assisti, ainda, ao abrir de valas cujas canalizações tinha como efeito que água canalizada chegasse a casa de quem o requestasse, ou a ida à bica comunitária situada no rossio, ou ao poço lobo. Recordo, com nostalgia, o tempo das matanças do porco. Da construção do depósito da água. O barulho de uma carroça a deslocar-se sobre as ruas empedradas. As aleluias com os moços, sempre em correria, andarem de loja em loja em busca de rebuçados, ou figos, de entre tantas outras brincadeiras de criança. Das profissões de então, sendo muitas delas agrestes. A luta das classes sociais. De homens que deixaram história. Do tempo que eu, com quatro ou cinco anos, fui “abarroado” pelos cães galgos do “Galdrapas” quando ao sair da taberna do meu tio Zé Torrão, rua do Sobral, se atiraram a mim e me “sacaram” uma sande que, entretanto, comia, ou da azáfama dos homens nas debulhas nas eiras do rossio. 

 

Dos jogos de futebol dos rapazes e do jogo com um ringue das moças. O saltar aos “aviões”, do pau da lua ou do eixo. Memórias, embora sintéticas, que nos fazem viajar no tempo e que nos enviam para a nossa juventude. Ou uma ida aos ninhos lá para as bandas do monte do campinho onde o montado imperava e um barranco no qual as mulheres lavavam a roupa, ou uma ida para as califórnias, uma zona onde havia figos de qualidade. Beber água do poço do “tio” Matias e com a rapaziada exausta pelo calor que se sentia. Poço do “tio” Matias que ao lado tinha um forno onde se coziam os tijolos. E tantas as vezes o fiz com o Chico do Toril. 

Da feira anual de setembro, 1, 2 e 3, na minha/nossa aldeia, e das romarias que nos enchiam de prazer e orgulho. A Festa das Santas Cruzes é disso um exemplo óbvio. O dia de São Sebastião, 20 de janeiro, a sua procissão e a venda de ramos de laranjas, com o João Lucas, sempre ativo, a anunciar “quem dá mais por este raminho”. E tão bem que o nosso João Lucas o fazia. Descansa em paz, grande amigo. 

Saudades de um tempo que se definhou enquanto o “diabo” esfregou os olhos. Do Bairro Alto ao Algés, nas baixas, passando pela malta da rua da Atafona, do Rossio, do Bairrinho, do Rabo Toureiro, de entre muitos outros, todas essas “guerrilhas” futebolísticas amigáveis o tempo queimou. Ou, dos jovens que partiam para a guerra do Ultramar e o presumível “luto” de ausência que os pais e irmãos assumiam. 

Hoje, encostado, não a um cajado, mas a uma bengala, lá vou prosseguindo o meu viver, “queimando” as pestanas dos meus olhos, tendo como finalidade deixar memórias para as gerações presentes e futuras poderem observar desde que o interesse lhes desperte a atenção. Testemunhos onde fui mais um dos camaradas que se depararam com tal conflito.  

O meu AVC que leva praticamente 18 anos de “convívio” com a minha pessoa e que data a 27 de julho de 2006, uma madrugada que nunca esquecerei, não me derrubou, pelo contrário deu-me ganas que me trouxeram eloquentes prazeres. 

Um dia partirei para um outro mundo, ficando, porém, a certeza que repousarei para a eternidade na terra que me viu nascer: Aldeia Nova de São Bento. Restos de uma saudade que se definha no tempo, ou seja, de uma juventude saudável a um envelhecer agridoce, sabendo, no entanto, que naquele recanto lá descansam camaradas e amigos infância, da minha geração, que perderam a vida nas então três frentes da guerra colonial. 

Ficará, porém, no meu cardápio uma passagem pela guerrilha na Guiné, território onde conheci o quão difícil fora assumir de um conflito onde os poderes das armas impunham, obviamente, respeito. Mas, jamais me sairá da minha memória a despedida dos jovens mancebos que eram enviados para as frentes de guerra. Na minha aldeia, a exemplo daquilo que passava em quase todo o nosso território, era comum as famílias e amigos se juntarem para prestarem ânimo a quem partia. Ou, os regressos daqueles que chegavam aparentemente bons de saúde, ou daqueles que faziam essa viagem de regresso, mas “embrulhados” em quatro tábuas de madeira.  

 

Retratos de uma vida que ficarão eternamente no meu mero historial! 

Agora é Natal, neste contexto felicito-vos com um Santo Natal e um Ano Novo, 2026, cheio de paz e amor. De resto todos estamos cansados de guerras cuja finalidade é o poder dos homens, onde a soberba da superioridade ganha cada vez mais força. 

Abraço, camaradas, conterrâneos e amigos.  

José Saúde  

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

16 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 – P27537: (Ex)citações (445): Literatura da Guerra Colonial? (Alberto Branquinho, ex-Alf Mil Art da CART 1689/BART 1913)

Guiné 61/74 - P27554: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (11): O Natal de 25 na Graça, na Rua da Senhora do Monte (O editor LG, e a "chef" Alice, com uma ajudinha das netas, que lhes dão amor e inspiração): "P'rós meninos de toda a terra, / Desejo saúde e paz, / Saibam dizer não à guerra, / E nunca ficar p'ra trás./


Lisboa > Bairro da Graça > Rua da Sra. do Monte > Casa da Clara e da Rosa >  18 de dezembro de 2025 > Presépio qie elas montaram


Lisboa > Bairro da Graça > Rua da Sra. do Monte > Casa da Clara e da Rosa > 18 de dezembro de 2025 > O Pai Natal que chegou mais cedo, do Polo Norte...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os Direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Ilustração: IA generativa (ChatGPT / OpenAI), composição orientada pelo editor LG


O Natal de 25 na Graça


Em vinte e cinco o Natal
Tem mais graça na Graça,
O primeiro que a gente passa,
C'a Rosa, e na capital.

Na capital que é Lisboa,
Desta terra que é do papá,
Quase todos são de cá,
Só a mamã é que voa.

Tem de passar o Natal
Na terra que a viu nascer,
E p'ra quem não o souber
Essa terra é o Funchal.

Lá o Natal tem mais encanto,
Digo eu, a filha, Clara,
Pois é coisa muito rara,
Nascer-se num dia tão santo.

A mamã e o Jesus
São de vinte cinco de dezembro,
De mais ninguém eu me lembro,
Com direito a tanta luz.

Mas com ela também voa
O papá, e nós, as filhas,
Vamos todos lá para as ilhas,
Qu' o clima é coisa boa.

O avô é da Lourinhã,
E ao Natal não liga nada,
Mais a titi, tão calada,
E a Rosinha, a minha irmã.

A avó Chita é de Candoz,
Onde também gosto d'ir,
E não se fica a rir,
Cozinha p'ra todos nós.

O Natal é trabalheira,
Muita freima, confusão,
Pode ser bom, mas não
P'ra escrava da cozinheira.

Mas quem é mais lambareira,
Nesta noite de consoada,
Lambe tudo, não deixa nada ?
A nossa flor da roseira!

Se lhe tiram o bacalhau,
Muito grosso e lascudo,
O meu papá, que é barbudo,
Diz que o Natal foi... mau.


Eu só quero é chicletes,
Se não houver, tanto faz,
Pai Natal, qu' és bom rapaz,
Podes trocar por bandoletes.


E a titi, mascarada,
Prega um susto à Rosa,
Que só fica furiosa,
Quando o prato não tem nada.

É um espectáculo de garota,
P'ró ano vai p'ró beliche,
E eu, Clara, que me lixe,
Tenho de aturar a marota!

Não houve prenda melhor,
Neste ano de vinte cinco,
Tenho mana com quem brinco,
Um mano era pior.

Ficamos muito felizes
De cá termos a Joana,
Que é uma titi bem bacana,
Faz de nós umas atrizes.

P'rós meninos de toda a terra,
Desejo saúde e paz,
Saibam dizer não à guerra,
E nunca ficar p'ra trás.


E pr'ós versos acabar,
Desejo a todos boas festas,
E eu, Clara, gosto destas,
Vamos lá todos... cantar.


  CANÇÃO DE NATAL 

(refrão, musiquinha conhecida)


A todos um bom Natal,
A todos um bom Natal,
Que seja um bom Natal
Para todos vós.
Que seja um bom Natal
Para todos vós.


Lisboa, Graça, Rua Senhora do Monte, 18 de dezembro de 2025,
Casa da Clara (6 anos) e da Rosa (11 meses),
que são as netas dos avós Luís & Chita (Alice)
E fica feita a prova de vida destes dois tabanqueiros
que anteciparam o Natal,
porque as "grutas de Belém" (ou as "capelinhas") são muitas...

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Nota do editor LG:

Útimo poste da série > 19 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27549: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (10): Vilma e João Crisóstomo, ex-Alf Mil da CCAÇ 1439

Guiné 61/74 - P27553: Os nossos seres, saberes e lazeres (715): "Soldado do Ultramar", poema do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845), publicado no youtube, com música gerada por IA e adaptação de Pedro Alexandre



1. Há muitos anos que conhecemos os dotes poéticos do nosso camarada e amigo Albino Silva. Agora, um dos seus poemas foi musicado pela IA e interpretado pela cantora Mónica Pires, com adaptação de Pedro Alexandre, filho de um camarada de Companhia do Albino Silva e que de há muito participa com o pai nos convívios dos antigos combatentes.

Vale a pena ouvir no youtube e deixar um like a este trabalho do Bino Silva


Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último post da série de 20 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27552: Os nossos seres, saberes e lazeres (714): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (235): A Sevilha de um viajante apressado, nem pode acudir à Sevilha essencial: La Giralda, o Parque de María Luísa, Torre del Oro e algo mais; a caminho de Granada - 2

Guiné 61/74 - P27552: Os nossos seres, saberes e lazeres (714): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (235): A Sevilha de um viajante apressado, nem pode acudir à Sevilha essencial: La Giralda, o Parque de María Luísa, Torre del Oro e algo mais; a caminho de Granada - 2

Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf
CMDT Pel Caç Nat 52

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Novembro de 2025:

Queridos amigos,
Foi dia e meio de deslumbramento, deu para saborear tapas, obrigatoriamente o arroz à valenciana, estar longamente especado e a cirandar pela Catedral, uma das maiores do mundo, passear pelos bairros típicos, recordar o Parque María Luísa e a Praça de Espanha; e até aconteceu, face a uma precisão da bexiga, ter pedido para ir aos aseos no Museu de História Natural, acolhido com muita simpatia, não me deixaram sair sem visitar uma exposição sobre a Antártida e o Chile. Creio ter aprendido a lição de que é uma tremenda injustiça passar por Sevilha como visita de médico, estou arrependido e quero voltar depressa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (235):
A Sevilha de um viajante apressado, nem pode acudir à Sevilha essencial: La Giralda, o Parque de María Luísa, Torre del Oro e algo mais; a caminho de Granada - 2


Mário Beja Santos

Ninguém me mandou pôr o Rossio na betesga, tive a felicidade de visitar Sevilha em diferentes épocas, basta pensar na Catedral de Santa María, o Museu das Belas Artes, os diferentes Palácios e Igrejas, os imperdíveis Alcazáres Reais, os bairros típicos, como a Triana, os passeios pelas margens do Guadalquivir, as deambulações pelo Parque María Luísa e, sem exagero, passar-se-iam aqui cinco belos dias, incluindo o passeio pela Ilha da Cartuxa, aproveitando para visitar Itálica, a 7Km, os imperadores Trajano e Adriano descendiam de duas famílias nobres aqui residentes. Esta observação só serve para manifestar a minha mágoa, encontrei a Catedral fechada, para desfrutar a contemplação da Capela Maior fui à missa com bispo e um coro triunfal; amedrontei-me com aquela multidão quilométrica que queria entrar nos Alcazáres Reais, e que saudades Deus meu! Aqueles belos palácios e jardins. Tive um cheirinho dos bairros típicos, percorri o Parque de María Luísa e na Praça de Espanha lembrei-me de cenas filmadas do Lawrence da Arábia, um dos filmes épicos de topo. O tempo estava maravilhoso, nunca vi tanto turista em Sevilha, em resumo acho que foi um dia e meio que deram para lavar a alma, cresceu água na boca para voltar depressa. E de autocarro seguiu-se para Granada, a primeira etapa era mesmo a Capela Real, como aconteceu e se contará depois.
La Giralda, 97 metros de altura, começou por ser uma construção almóada (século XII), teve acrescentos no século XVI, lá em cima está uma estátua ao sabor do vento, o Giradillo.
Artéria comercial, saindo de La Giralda, muitos edifícios imponentes, muita traquitana para recuerdo de turista, aqui e acolá os cantores andaluzes oferecem os seus préstimos, cantam a gemer, há para ali toadas embebidas na memória mourisca, pois claro.
A dor em transe, em plena rua, muito estava a sofrer esta jovem de mãos postas, bem mereceu que deixássemos uma recordação em dinheiro.
Palácio de San Telmo, em frente aos jardins de Santa Cristina, é um dos palácios mais belos barroco-sevilhano. A joia do edifício é este portal de três andares. As colunas e as figuras ricamente ornamentadas mantém uma ligação com as ciências e as artes da náutica, emolduram o portal, a varanda central e o frontão. Na arcada descoberta está a estátua do padre Pedro Telmo, adorado pelos navegadores desde o século XVI. Começou por ser academia náutica, aqui viveu a Infanta María Luísa Fernanda, deixou o seu nome ao mais belo parque de Sevilha. É atualmente a sede da presidência da Junta de Andaluzia.
Parque de María Luísa, Praça de Espanha com o Palácio Espanhol. Foi a Infanta María Luísa de Orleães, que cedeu os terrenos para estas construções palatinas e parque. O parque é muitíssimo concorrido, tem superfícies relvadas, sebes, lagos e repuxos, ânforas de cerâmica e monumentos soberanos sevilhanos. A praça de Espanha e a praça da América, que estão integradas no parque, foram construídas por ocasião da Exposição Ibero-Americana em 1929-30. Os pavilhões da exposição dos 20 países participantes (entre eles Portugal) foram conservados até hoje. O Palácio Espanhol, arqueado em semicírculo recorre a vários estilos. As torres angulares recordam a Giralda e apresentam, em geral, elementos de estilo maneirista. A fachada central é barroca e o restante edifício é de estilo renascentista. Um canal, com uma ponte ao estilo de Veneza com um bonito corrimão em cerâmica, serve a curvatura do local. Há diferentes museus aqui, destaca-se o Museu Arqueológico da Província, nele se pode ver o tesouro de El Carambolo, consta de 16 chapas de cinto e toucados, dois broches, duas pulseiras largas e um fio com pendente de ouro maciço, peças em ouro dos séculos VIII e VII a.C.
Tesouro El Carambolo, Museu Arqueológico de Sevilha
A Torre del Oro data do século XIII, está numa margem do rio Guadalquivir, é um dos patrimónios mais visitados em Sevilha. Entre as cerca de 166 torres de defesa da fortificação almóada, a Torre del Oro ocupava uma posição privilegiada. Daqui podia observar-se uma serra com uma outra torre, atualmente destruída, era um sistema para proteger o porto de ataques inimigos. É um edifício dodecagonal, tem algumas janelas e fendas e em cima uma coroa de pináculos piramidais. Sobre a plataforma, eleva-se uma torre mais estreita também dodecagonal com uma lanterna do século XVIII.
Pormenor da Capela Real de Granada
Outro pormenor da Capela Real
Uma belíssima escola corânica (madrassa), perto da Capela Real
Pormenor da cúpula da Capela Real
Um outro ângulo das cúpulas da Capela Real
Uma bela fachada de um edifício perto da Capela Real

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 13 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27526: Os nossos seres, saberes e lazeres (713): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (234): A ópera Carmen, de Bizet, a maior igreja gótica do mundo, a Casa Lonja, tudo isto se passa em Sevilha, depois Granada e por fim Córdova - 1 (Mário Beja Santos)