sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7567: Notas de leitura (185): Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo, de Eva Kipp (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Este álbum fotográfico é uma pequena preciosidade.
Provavelmente serviu como edição de prestígio não se sabe para qual entidade e o valor das imagens ficou circunscrito. É lastimável este tipo de edições de prestígio, sempre condenadas a não chegar ao grande público.
Ficam aqui alguns exemplos de beleza praticamente ignota. O que é curioso é que há negociantes de arte a procurar toda esta policromia bijagó que não se vê nos mercados tradicionais. É assim o mercado da arte.

Um abraço do
Mário


Tesouros da arte dos bijagós e outras instituições culturais

Beja Santos

Eva Kipp colaborou com o Governo da Guiné-Bissau em vários projectos de divulgação da cultura tradicional da Guiné. “Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo” (por Eva Kipp, Editorial Inquérito, 1994 é o livro em que esta perita holandesa procura divulgar alguns aspectos da diversidade e riqueza cultural da Guiné-Bissau com especial destaque para a arte bijagós, cerimónias fúnebres, rituais de passagem e imagens de trabalho.

Relativamente à arte dos bijagós, a autora destaca a sua estreita ligação à religião: a representação dos irãs está a cargo dos escultores, alguns deles notáveis em Orango e Canhanbaque. A autora mostra-nos em actividade o escultor Ompane, especialista em estatuetas dos Irã Grande. Vemos as sucessivas fases do seu trabalho: as cerimónias de apresentação ao Irã com a convocação dos espíritos; a escolha da árvore na qual se pode incarnar os Irãs que também têm um vasto cerimonial. Por exemplo: “Para iniciar a cerimónia ele dá pancadas na árvore e faz o chamamento do Irã. Ele nunca inicia o corte sem realizar esta cerimónia, caso contrário podem acontecer coisas terríveis, teme-se sempre o desagrado do Irã… uma vez derrubada a árvore, separa o pedaço do tronco necessário à execução da estatueta”. O escultor utiliza como instrumentos o machado e a catana.

A autora refere seguidamente os Irãs Grandes e os seus santuários. Possuem forma humana, mas nem sempre. Em princípio, estes irãs estão depositados no santuário das mulheres ou em casa dos régulos. Ao lado do Irã Grande encontram-se outros objectos sagrados (caso de chifres de gazela ou de cabra). Os Irãs são utilizados para cerimónias colectivas da tabanca e que se praticam no início da lavoura, no fanado ou quando uma doença grave atinge alguém da tabanca. Para tais cerimónias, o Irã é retirado do santuário e colocado num outro ao ar livre que é chamado de Nan. A arte dos bijagós também se destaca pelas suas famosas pinturas murais em santuários e em casas. Além destas pinturas murais, os bijagós distinguem-se pelas esculturas de enorme colorido que usam nos enfeites das suas danças, que podem incluir figuras de animais, caso do tubarão martelo e vacas. São peças de grande valor ornamental, têm grande procura no mundo do artesanato.

Barco bijagó: estatueta de Bubaque

Os bijagós são maioritariamente animistas e daí a importância que têm os djambacós, os mediadores procurados por pessoas que precisam de conselho, possuem artes de vidência e poderes de curandeiro. Realizam cerimónias com conchas, orientam sacrifícios de animais; casos há em que os djambacós praticam a cartomancia ou prescrevem tratamentos para pessoas doentes. Eva Kipp refere outras etnias animistas que possuem outros tipos de Irãs que em vez de terem formas humanas podem ser estatuetas de forma de forquilhas. Por exemplo, na etnia papel realizam-se cerimónias em que o Cansaré é de grande importância no pedido de chuva. O mediador, aquele que detém o segredo de falar com o Cansaré são os balobeiros (sacerdotes) mas também os homens grandes.

O trabalho de Eva Kipp destaca o funeral do homem grande na etnia papel e ilustra como vestem os familiares, como utilizam unguentos, como se faz a festa de “choro” e se sacrificam animais para a cerimónia: “Ao ritmo dos tambores, toda a gente dança e bebe num terreno cheio de animais sacrificados, nem dando conta do risco quando dançam sob o telhado, prestes a ruir, de uma das casas. O consumo de álcool vai aumentando a exuberância da festa. Neste mesmo dia da cerimónia, enrolado em panos tradicionais, o falecido é sepultado. O número de panos que o envolve mostra o prestígio que ele tinha na sociedade. Os animais sacrificados são repartidos pelos participantes e segundos critérios fixos pela tradição.

Rapaz tocando flauta

O fanado é comum a todas as etnias da Guiné-Bissau, mas os rituais variam de umas para as outras. O fanado balanta implica um grande consumo de arroz, milho, animais e bebidas em todas as festas. A autora descreve as danças e cantares, entre os balantas há concursos de canto e improvisações teatrais.

É um livro de grande valor fotográfico e que bem merecia ser reeditado.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7560: Notas de leitura (184): O Fim do Império Português, de António Costa Pinto (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7566: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (23): Com humor também se fazia a guerra

1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 26 de Setembro de 2010:

Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Para quem conheceu a Ilha das Flores e as suas gentes ao tempo da história, sabe que os calões usados faziam parte do dia-a-dia florense. O mesmo acontecia por outras ilhas, numas mais que outras. Nem por isso havia menos respeito entre as pessoas. Tudo dependia do sentido dado à conversa e às circunstâncias.

Um abraço enorme para ti e para os nossos camaradas,
José Câmara



Memórias e histórias minhas (23)

CCAÇ 3327 - 2.ª Secção do 4.º GCOMB
Em pé, da esquerda para a direita: 
Sold. José R. Serpa, (Costa do Lajedo – Flores) – London, ONT, Canadá; Sold. João Avelar Ventura (Fajãnzinha – Flores) – Terra Chã, Terceira; Fur. Mil. José A. Câmara (Fazenda – Flores) – Stoughton, MASS, EUA; Sold. António Silvestre Jr. (Urzelina – S. Jorge) – Toronto, ONT, Canadá; Sold. José C. Arruda Massa (Arrifes – S. Miguel)

Na frente, da esquerda para a direita:
Cabo José Silveira Leonardes (Topo – S. Jorge) – Praia da Vitória, Terceira; 1.º Cabo António Fernando Silva (Praia do Alomoxarife – Faial); Sold. Magno Manuel Silva (Guadalupe – Graciosa) – Lowell, MASS, EUA; Sold. José Francisco Serpa (Ponte da Fajã – Flores) – Stoughton, MASS, EUA; Sold. Emanuel A Cardoso Silva (Castelo Branco – Faial) – Newark, CAL, EUA


Com humor também se fazia a guerra

A CCaç 3327, aquando da sua passagem por Bissau, tinha a seu cargo a segurança de várias instituições militares. O Laboratório era uma delas.

Por vezes, era decretado o estado de alerta na cidade. Como era natural nessas ocasiões, o movimento de tropas ficava circunscrito aos serviços de emergência e abastecimentos e às patrulhas dos diferentes bairros de Bissau.

Também era prática generalizada reconduzir os militares nos seus postos de serviço, durante o tempo da prevenção. Portanto, ninguém se admirou de ver o pessoal de serviço ao Laboratório ser reconduzido nos seus postos por mais vinte e quatro horas.

O que não estava previsto é que os referidos militares, sem serem vistos nem achados para as circunstâncias, tivessem sido obrigados a uma dieta forçada. Alguém no AGRBIS esqueceu de dar ordens para que o rancho fosse mandado para os militares de serviço ao Laboratório.

Isso de fazer a tropa e a guerra é uma coisa. De barriguinha vazia é que não…

O José Francisco Serpa, conhecido na Companhia como o Serpa Pequenino, natural da Ponte da Fajã, Ilha das Flores, foi um dos militares apanhados de serviço ao Laboratório. Pertencia à minha Secção. Era um soldado muito disciplinado, de uma educação cívica bastante apurada e um excelente colaborador nos serviços da Secção. Uma das suas melhores qualidades era a capacidade de falar olhos nos olhos com as pessoas e com o coração bem junto da boca, fazendo jus a qualquer açoriano que se preze.

O nosso Serpa de regresso ao AGRBIS de imediato procurou pelo nosso Cap. Rogério Alves. Queria, veementemente, protestar pela falta do rancho a que tinha sido submetido nas últimas vinte e quatro horas. Encontrou-o na secretaria, e botou protesto:

- Meu capitão, quem foi o f. da p. do Oficial de Dia que esteve de serviço?! Eu quero matar o sacana que nos deixou à fome durante as últimas vinte e quatro horas!

O Cap. Alves que já se habituara à maneira de ser dos açorianos, humanamente compreendia que nesses desabafos e calões não existia qualquer maldade e muito menos falta de respeito, respondeu, serenamente, fazendo uma pergunta:

- Oh Serpa, você teria mesmo coragem de matar o seu Comandante de Companhia?

O nosso soldado não se desconcertou. Com nervos de aço e alguma graça respondeu:

- A esse não meu Capitão, mas não se esqueça de o avisar que da próxima vez deve mandar o rancho para o pessoal!

Hoje o José Serpa vive em Stoughton e é cliente na Agência de Seguros onde trabalho.

A história, contada pela sua boca, teve um final feliz. No dizer do Serpa e dos homens da Companhia, o nosso capitão era um bom homem.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7460: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (6): Uma história de Natal (José da Câmara)

Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7149: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (22): Aventuras em terras manjacas

Guiné 63/74 - P7565: Estórias do Juvenal Amado (33): O Léo e a macaca Chita

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 5 de Janeiro de 2011:

Caros Luís, Carlos, Magalhães, Briote e restantes atabancados.
A minha ligação ao pessoal do Pel Rec, acaba por aparecer nas minhas estórias por causa de minha relação especial com eles, desde de a viagem do Porto para Abrantes.
Ainda não sabíamos que eu ia com eles para a Guiné. Aliás de todos os Condutores que vieram do RI6 comigo só eu fui para a Guiné.

Um abraço para todos
Juvenal Amado




Estórias do Juvenal (33)

O LÉO E A MACACA CHITA

Soldado Pel Rec e carteiro dos CTT na vida civil, não sei como foi parar a padeiro da CCS do 3872.
Não sei mas foi um bom padeiro.

Após a chegada a Galomaro, não tenho ideia que de lá tenha saído alguma vez, nem para ir a Bafatá. Era afável e amigo de praticamente toda a gente, digo praticamente, pois só o ouro agrada a todos e ele era como nós de carne e osso.

No trabalho diário de pôr na mesa dos camaradas o pão nosso de cada dia, estava dispensado de formaturas, reforços, ou qualquer outro serviço para além do seu.
Fardado sempre a rigor em calções e tronco nu, ficou barato ao Exército no que diz respeito ao fardamento.

Nunca negava um pãozinho a quem lho pedisse.

Por ordem do Comando, fazia uns pães pequenos individuais na vez do famoso casqueiro onde era normal retirar o miolo, que depois de amassado servia de arma de arremesso a um camarada para chatear.

O pão era pois saboroso, praticamente todo consumível e era também o ideal para levar nas rações de combate. Também na nossa cantina havia umas sandes de queijo ou fiambre, para nosso prazer e lucro da instituição. Isto era para quem tinha dinheiro vivo, pois ao contrário de outros quartéis do nosso batalhão, ali não havia fiado.

Penso que foi uma forma de poupar uns bons quilos de farinha e em vez de desagradar, como acontece quando os nossos superiores decidem economizar nalguma coisa, esta ordem foi de agrado geral.

Está claro que o Léo beneficiava de um estatuto que o fazia presente em tudo o que fosse petisco, que muita vez era cozinhado na própria padaria.
Com os seus ajudantes de padeiro, recrutados nos garotos da população assim ele de forma bem económica poupava o esforço físico para além do estritamente necessário.

Enfim ele estava feliz com a ajuda e os garotos, que comiam no quartel, recolhiam os restos que levavam para as suas casas também eram felizes.

Talvez o único aborrecimento sério tenha sido provocado pela sua macaco-cão Chita de seu nome. Tinha-lhe sido deixada pelo padeiro velhinho do 2912, ainda pequena, mas na altura desta estória já ela era adulta e grande, pois já foi para o final da comissão.

A Chita gostava de cerveja tanto como nós. Assim nós deixávamos no fundo da garrafa sempre um restinho, que ela bebia depositando depois a garrafa no fundo do bidão.

Está claro que ela apanhava monumentais bebedeiras e andava depois aos guinchos, agarrava a cabeça, ia de um lado ao outro da cantina para nosso regozijo.

Certo dia a Chita com os copos, decidiu pendurar-se nas árvores ainda jovens, que tinham sido plantadas na parada do quartel e que eram o desvelo do nosso Comandante Tenente Coronel J.M. Castro e Lemos.

Escusado será dizer que as pequenas árvores ficaram como se tivesse passado por elas um tufão. Braças partidas, desfolhadas e meio arrancadas eram a visão de um autêntico desastre.

Quem foi? De quem é a macaca?

Logo chegaram os nomes ao nosso Comandante. O castigo foi sem apelo. O Léo tinha que se livrar da sua Chita.

Abatê-la estava fora de caso. Ninguém era capaz de o fazer.
A única solução à vista foi enviá-la para Cassamba, onde estava um pelotão na altura que se não estou em erro do Dulombi, que tomaram conta dela e a traziam sempre que vinham a Galomaro.

Era ver o Léo com a macaca abraçada a ele e vice versa. Mais tarde trouxeram-na às escondidas para Galomaro, onde passou a ser vigiada e estando presa a maior parte do tempo.

Quando havia revista, lá um dos ajudantes de padeiro se escapava com ela para a tabanca.

Penso que o Léo a deixou ao seu substituto na padaria.

Infelizmente o nosso camarada veio a falecer pouco tempo depois do nosso regresso. Foi atropelado em Lisboa quando exercia a sua profissão de carteiro.
Recordo-o com saudade hoje.

Há 37 anos por esta altura, só pensávamos no regresso não sabendo, que ele nos deixaria pouco tempo depois.

Paz à sua Alma
Juvenal Amado
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7534: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (29): Não falarei de mal-entendidos (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7265: Estórias do Juvenal Amado (32): Carne para o quartel

Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa




Capa e contra-capa do livro do nosso camarigo Jose Brás, Lugares de passagem, editado pela Chiado Editora,  Lisboa, 2010, 191 pp., e ontem apresentado em Loures, na Biblioteca Municipal José Saramago. Na mesa, estiveram prtesentes, além do presidente da edilidade, Carlos Morgado, amigos e camarigos do Zé, como o Vitor Ramalho, conhecido especialista na área do direito do trabalho,  além de mim, Luís Graça, em representação da nossa Tabanca Grande, e do Mário Beja Santos  a quem coube fazer a apresentação da obra. O autor, que naturalmente estava presente e feliz, contou com a camaradagem, amizade e camaridagem de algumas dezenas de leitores que se deslocaram, em noite de invernia,  à Biblioteca José Saramago, cujo acesso não é fácil...para quem vem de fora de Loures.



1. Recorde-se que o José Brás foi Fur Mil Trms, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), está connosco desde Janeiro de 2009. Esteve profissionalmente ligado à aviação comercial, além de ter sido sindicalista e autarca. 

 Hoje haverá uma nova apresentação do livro no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa, às 18h30, para a qual também estão convidados todos os nossos camaradas, amigos e camarigos, e demais leitores do blogue. Ao Zé desejamos o melhor sucesso para este seu segundo livro.

Recorde-se que o Zé Brás é autor  de um dos mais importantes e pioneiros romances sobre a guerra colonial, publicados na década de 1980, a obra Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura. Com chancela da Europa-América, venderam-se mais de 30 mil exemplares, o que é absolutamente notável no nosso pequeno mercado livreiro.

No V Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande, em Monte Real, 26 de Junho de 2010, o Zé mais o seu Gupo do Cadaval (Belarmino Sardinha, Vasco da Gama, Hélder Sousa, José Dinis e Jorge Rosales) aproveitaram a circunstância (a presença de centena e meia de convivas) para homenagear o nosso blogue, na pessoa do seu fundador, da sua equipa editorial e dos demais colaboradores. Esse texto, na altura lido pelo Belarmino Sardinha, vem agora reproduzido no livro (pp. 7-9). Tomo a liberdade de o reproduzir aqui, com a devida vénia ao autor e à editora, e com um abraço a todo o grupo. E naturalmente agradecer, mais uma vez, em público essa homenagem ao blogue que já não é de (embora fundado por) o Luís Graça: chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Encontrar-nos-emos mais logo, no auditório do SNPVAC, por volta das 18h. Quanto á recensão do livro e ás fotos e aos vídeos de ontem, ficarão naturalmente para mais tarde. Agora vamos festejar o feito que é sempre a escrita e o lançamento de um livro de um camarada nosso, onde estamos todos retratados enquanto caminhantes de muitos caminhos desta vida, incluindo as  picadas e os trilhos das matas da Guiné, em tempo de guerra, bem como  as pontes e demais lugares de passagem que temos vindo a construir, das memórias aos afectos... (LG)


2. A dedicatória ao nosso blogue começa com esta quadra:

"É rica, tem nome fino,/ É pobre, tem nome grosso, / É rica,  teve um menino, / É pobre, pariu um moço" (Célebre quadra de Manuel António Castro, vila de Cuba, Alentejo, 1885.). O livro tem também uma um belíssimo prefácio do António Loja, madeirense, que foi Cap Mil da CCAÇ 1622, e já aqui reproduzido.



Capa original da autoria de Cátia Brás, filha do José Brás, artista plástica, autor do blogue Sonhos a Pincel, assistente de bordo, enfim, uma mulher de talentos...












Guiné 63/74 - P7563: Parabéns a você (198): Agradecimento de Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490

1. Mensagem de Valentim Oliveira (ex-Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490, Região de Farim, 1963/65), com data de 5 de Janeiro de 2011:

Amigo Carlos.
Já se passaram alguns meses sem que eu tenha dito nada ou seja, dando a saber a todos os Camarigos Tertulianos, que além dos meus 69 completados precisamente hoje 05/01/2011, ainda ando no Reino dos vivos, e com vontade de viver pelo menos mais 31. Mas que raio de 31. Isto é um número um pouco suspeitoso. O melhor é avançar mais (um) porque os pares são sempre melhores.

Bem! Com esta vontade firme de viver, e, através desta mensagem, retribuo um abraço de Amigo a todos os Camaradas que fazem parte deste grande Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné, e que durante estes (31) ou (32) que eu espero de palmilhar os trilhos do nosso planeta Terra ”não com a G-3” mas sim com uma Granada cheia de TINTO do famoso Dão, Douro, ou Alentejano. Todas estas Granadas são óptimas para fazer explodir e abrir um pouco mais os Neurónios das Cabeças envelhecidas, porque como todos sabemos, e o ditado é antigo, os anos não perdoam.

Já agora se me permitem, deixo um abraço de real apreço ao nosso Camarigo Virgíno Briote por ser somente ELE e EU a fazermos parte desta TABANCA de um conjunto de aproximadamente de 600 Homens que formaram o BCAV 490. Não por minha culpa, porque nos convívios anuais faço sempre o incentivo para aderirem ao Blog e publicarem as Histórias. Muitos já partiram, os que ainda andam por cá remetem-se ao silêncio.

Também para o Rui Alexandrino meu amigo de verdade e meu vizinho aqui na Cidade de Viriato (VISEU) que se encontra em perfeita convalescença da operação urgente que fez à máquina no Hospital de Santa Maria, aqui vai o meu apreço para uma recuperação rápida para continuarmos a fazer umas ferritas.

Por "ultimo" um grande Abraço de agradecimento a todos que neste dia se lembraram de dizer que para o ano cá estaremos novamente.

Para os Editores o meu bem-haja.
Valentim Oliveira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7554: Parabéns a você (196): Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490 (Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7562: Tabanca Grande (259): O casal Vinhal, um dos totalistas dos nossos cinco encontros nacionais, anuais (desde a Ameira, em 2006, a Monte Real, em 2010)


Montemor-O-Novo > Ameira > 2006 >  I Encontro Nacional da Tabanca Grande > Algumas das nossas companheiras... A  Dina Vinhal (*) é a segunda a contar da esquerda... Refira-se que ao casal Vinhal é um dos totalistas dos nossos encontros anuais (cinco, desde 2006).

A explicação é simples: a Dina é inseparável do Carlos (e vice-versa)... O Carlos (**), desde que entrou  para a nossa equipa editorial (foi o primeiro, em 2006, depois da Ameira), tem estado na comissão organizadora dos nossos encontros nacionais desde então. Recorde-se que o II foi em Pombal, em 28 de  Abril de 2007, sob a batuta do chefe de orquestra Vitor Junqueira... Desde 2009, o Carlos tem parelha com o Joaquim Mexia Alves na organização dos encontros nacionais da Tabanca Grande em 2008 e 2009, na Quinta do Paul, Ortigosa, Momnte Real; e em 2010, no Palace Hotel, de Monte Real...


Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados






Matosinhos > Leça do Balio > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Bar Vilas > Jantar-convívio de Natal > 27 de Dezembro de 2007 > Da esquerda para a direita: (i) Dina Vinhal, mulher do nosso co-editor Carlos Vinhal; (ii) A esposa e a filha do José Teixeira, respectivamente Maria Armanda e Joana, respectivamente... À esquerda, de costas, está a Eduarda, a esposa do Albano Costa e mãe do Hugo Costa...

Foto: © Albano Costa (2007). Direitos reservados.

  

Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > 2009 >A Dina Vinhal, na oprimeira fila, ao centro (é a quinta  a contar do lado direito)

Foto: © David Guimarães (2009). Direitos reservados





Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande  > 20 de Junho de 2009 > O nosso camarigo Rui Alexandre Ferreira (que neste último Natal esteve internado com sérios problemas de saúde)  mostrando um documento, de eventual interesse para o blogue, ao Carlos Vinhal, sob o olhar atento da Dina.


Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7559: Tabanca Grande (258): Agradecimento à tertúlia (Dina Vinhal)

(...) Chamo-me Maria Leopoldina, Dina para os amigos, e estou casada com o Carlos há quase 39 anos. Há que somar a este tempo mais 4 de namoro, e nestes, uma “comissão de serviço” na Guiné. Coincidências da vida, andámos no Ciclo Preparatório na mesma Escola e nos mesmos anos lectivos, mas daí não veio nenhum conhecimento, porque se bem se lembram, naquele tempo as meninas eram separadas dos meninos. Por outro lado eu morava no extremo sul de Matosinhos e ele no extremo norte de Leça da Palmeira, logo bem afastados um do outro. (...)



(**) Vd. poste de 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
 
Poste DCLI (em numeração romana, 651...)
 
(...) Amigos e camaradas de tertúlia: Abram aulas para receber mais um camarada da Guiné. Aqui vai o testemunho do Carlos Vinhal, ex-furriel miliciano da CART 2732 (Mansabá, 1970/72):


Caro Luis Graça

Entrei recentemente no seu site e, como antigo combatente da Guiné, queria deixar o meu modesto contributo para aumentar o número daqueles que não têm complexos em assumir-se como antigos combatentes de uma guerra que, a não querendo, dela não fugiram. (...)

Passo a apresentar-me:

(i) chamo-me Carlos Esteves Vinhal, fui Furriel Miliciano Atirador com a especialidade de Minas e Armadilhas;

(ii) fui incorporado como instruendo do CSM em Abril de 1969 nas Caldas da Rainha (RI5);

(iii) a especialidade de Atirador tirei-a em Vendas Novas (EPA);

(iv) em Novembro fui para Tancos (EPE) onde tirei o 33.º Curso de Minas e Armadilhas;

(v) em Dezembro rumei para o Funchal onde ajudei a dar a Especialidade de Atirador a um grupo de militares madeirenses com os quais se formaram as duas primeiras Companhias do Grupo de Artilharia de Guarnição n.º 2 (GAG2) a irem para o Ultramar: a CART 2731 foi para Angola e a minha, a CART 2732, embarcou no Cais do Funchal para a Guiné no dia 13 de Abril de 1970, chegando a 17;

(vi) uns quantos dias em Brá e no dia 21 do mesmo mês seguimos para Mansabá, situada entre Mansoa e Farim, onde permanecemos até finais de Fevereiro de 1972.

Como se tratava de uma Companhia independente ficámos dependentes administrativa e operacionalmente ao BCAÇ 2885, sediado em Mansoa. Os Oficiais, Sargentos, Cabos e Soldados especialistas eram todos continentais. Os madeirenses, homens de comprovada bravura, eram aquilo que poderíamos chamar a carne para canhão. A verdade é que muitos deles foram feridos em combate mais de uma vez e nunca viraram a cara à luta. Verdadeiros heróis anónimos, embora alguns reconhecidos e louvados até pelo General e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

Perdemos três militares madeirenses, dois em combate quase no fim da comissão (o Vieira e o Barbosa) e um por acidente (o Silvestre). O soldado Malcata, oriundo do continente, morreu de doença. Perdemos também o Alferes Couto que, tendo como eu o Curso de Minas e Armadilhas, viu-lhe rebentar nas mãos uma mina antipessoal.

Futuramente escreverei mais umas coisas, porque memórias não faltam.



 Guiné > Região do Oio > Mansabá> CART 2732 (Mansabá, 1970/72)> 1970 > : 3º Pelotão, secção do Fur Mil Vinhal (na primeira fila, à direita, ladeado pelo seu amigo Ornelas).

Foto: © Carlos Vinhal (2006). Todos os direitos reservadios


 
É com muita honra e a título de homenagem aos meus valorosos camaradas madeirenses da CART 2732 e em particular ao meu 3º Pelotão que anexo duas fotografias. Na de cima a minha Secção  (...).

Refira-se que nesta altura - e só tínhamos 6 meses de comissão - já a Companhia se encontrava desfalcada. Já havia morrido o Alferes Couto e estava hospitalizado o Alferes Bento comandante do meu Pelotão, vítimas do mesmo incidente. Por que estou presente nas fotografias, na Secção estou em baixo à direita, ladeado pelo meu grande amigo Ornelas  (...)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7561: Blogpoesia (101): Considerações (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  5 de Janeiro de 2011:

Carlos,
Aqui seguem dois grupos de sextilhas, num total de onze.
As primeiras sete fazem parte do título Considerações, as outras quatro agradeço que as subordines ao outro título.
São as primeiras do ano e vêm cheias de força...

Um grande abraço
manuelmaia



CONSIDERAÇÕES

Quisera receber a directriz,
de transformar o mundo de raíz,
travar desigualdades tão gritantes...
Ser como Salomão, qual rei dos reis,
usar de Talião as duras leis,
punir vilões, ladrões, vis governantes...

Pedido a um mago para adivinhar,
o rumo que o futuro quis traçar
p`rós seis antigos espaços lusitanos...
Angola, Cabo Verde e S.Tomé,
Timor ou Moçambique, `inda Guiné,
chafurdarão na lama muitos anos...

Tal como os portugueses cá da Ibéria,
mergulharão os ditos na miséria
sem vislumbrar saída, solução...
Petróleo ou diamantes não melhoram
vivência d`angolanos e pioram
a já tão miserável situação...

Poder nesses países está assente
na corrupção que a tudo diz presente,
herdadas foram formas de viver...
Quem sai aos seus não degenera, é certo,
exacta a conexão ou dela perto,
com Portugal haviam de aprender...

Abúlica e já orfã de valores,
esquece ou desconhece os seus maiores,
por vírus de traições inoculados...
A Pátria, outrora berço de gigantes,
gerida hoje por biltres e tratantes,
a um passo está do toque de finados...

Sextilhas vão p`ra além já das quinhentas,
contidas umas, outras violentas,
verdades tal qual punhos, sem roupagens...
Se falho, é por defeito, podem crer
na carência de jeito p`ra escrever,
as ditas, tendo a rima por linguagem...

Pintando neste quadro de seis versos
os casos de memória, algo dispersos,
chorrilhos de carências de tal vida...
Regressa a adrenalina fulminante,
conforme os revisito a cada instante,
p`lo sofrimento, dor, raiva incontida...
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7537: Blogpoesia (100): Futebois... (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P7560: Notas de leitura (184): O Fim do Império Português, de António Costa Pinto (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Dezembro de 2010:

Queridos amigos,
É a última recensão deste ano.
Ainda aqui tenho um saco de livros, mas aproveito a oportunidade de relembrar aos confrades que me mantenho aberto a todas as sugestões que partam ou estejam em convergência com a centralidade do nosso blogue, as coisas da Guiné ou as que as ilustram, nas duas margens. Ficarei gratíssimo a tais propostas e a essas cedências temporárias de títulos para recensão.

Um abraço,
Mário


O fim do Império Português

Beja Santos

É incontestável que a guerra colonial determinou, mais do que qualquer outro fenómeno, novos comportamentos políticos e atitudes sócias e culturais, a sociedade portuguesa, dos anos 60 para os anos 70, isto para já não falar nas sequelas da descolonização. Daí a atracção que ela provoca nos historiadores e o seu resultado salta à vista em estudos, monografias, biografias, análises de grandes eventos bélicos, etc. António Costa Pinto, professor no ISCTE, nome associado a várias universidades de renome internacional, escritor com créditos firmados na historiografia do Portugal contemporâneo, é autor de uma interessante síntese intitulada “O Fim do Império Português, A Cena Internacional, a Guerra Colonial, e a Descolonização, 1961-1975”, Livros Horizonte, 2001. Adverte o autor: “Tive a preocupação de incluir e integrar um já vasto conjunto de obras habitualmente não citadas pela historiografia portuguesa sobre o tema. Os estudos sobre o colonialismo português contaram desde os anos 60 com um núcleo progressivamente significativo de contribuições de estudioso ingleses, norte-americanos e franceses.

Não sei se por preguiça intelectual, ignorância, ou paroquialismo, muitas destas obras foram raramente citadas ou discutidas pela historiografia portuguesa”.
O que há de verdadeiramente estimulante neste trabalho ensaístico é ditado pelo olhar sobre a cena internacional, a compreensão do regime a partir do despertar do antigo colonialismo e as cambiantes decorrentes da evolução da guerra nas três frentes de combate e, por último o modo como se descolonizou, como a descolonização influiu na vida política portuguesa, desde o processo revolucionário até à adesão europeia. São esses dados que se pretendem abreviadamente enumerar.

Ao contrário do que muitas vezes é propalado, o Portugal apresentado como uma nação isolada (“orgulhosamente sós”) a defender a civilização ocidental em África, foi uma figura de retórica com que o salazarismo procurou impressionar para consumo interno de que uma realidade. Esse isolamento foi muito menor do que foi apregoado por Salazar e Caetano. É facto que o aliado mais importante, os EUA, ensaiaram, na administração Kennedy, uma pressão activa para a descolonização de Angola, mas foi sol de pouca dura. Kissinger negou inicialmente armamento que permitisse equilíbrio na guerra da Guiné mas, já no ocaso do regime português, mandou ceder armamento por portas e travessas. Isto para enfatizar que Washington exerceu como estratégia uma “neutralidade colaborante" e votou muitas vezes ao lado de Portugal. Num outro ângulo, a guerra colonial pesou muito pouco na guerra fria, foi abafada por acontecimentos determinantes como o Congo, a guerra de secessão na Nigéria e pela escalda do Vietnam. As grandes potências europeias e os principais aliados de Portugal investiram nas colónias e venderam armamento, seja às claras ou às escondidas. Salazar teceu a sua muralha ideológica à volta do “aguentar”, à espera de melhores dias, chegou a visionar a importância das colónias numa terceira guerra mundial. Por outro lado, fruto dos imperativos do desenvolvimento da década de 60, Portugal abriu-se à Europa, não podia ser de outra maneira para receber as multinacionais, o turismo de massas e as remessas dos emigrantes. Salazar aguentou as pressões dos aliados, usou o trunfo das Lages, desvalorizou ao limite o campo de batalha da ONU, mas não ignorava os sucessivos apoios dos seus velhos aliados aos movimentos de libertação. O historiador passa em revista os entendimentos e desentendimentos, o aproveitamento de conflitos africanos, o uso da NATO a favor da causa portuguesa. Quando o teatro da guerra da Guiné manifestamente deu sinais de esfarelamento, Caetano aceitou a sugestão do Governo britânico para estabelecer contactos secretos com o PAIGC.

As elites independentistas formaram-se em Portugal e em oposição ao regime de Salazar e Caetano. Actuaram ao lado do MUD Juvenil, conheceram o cárcere, conspiraram na Casa dos Estudantes do Império, fizeram amizades com os comunistas e os socialistas, daqui partiram directamente para o exílio e para a luta armada. Mas foram verdadeiramente movimentos de libertação distintos uns dos outros, se bem que o PAIGC tenha estado sempre muito próximo do MPLA. Enquanto os africanos buscavam a independência também se operava uma radicalização política dos opositores a Salazar, desde grupos gravitando à volta de revistas ou cooperativas até certas formas de ataques violentos a objectivo político-militares, com o aparecimento da LUAR e das Brigada Revolucionárias. O historiador refere em pormenor o envolvimento militar e a progressiva africanização da Guerra, os serviços de segurança e espionagem e a evolução nos diferentes teatros dos combates. No caso da Guiné, chamo a atenção para ecologia do território, para os progressivos êxitos do PAIGC e para um estado de espírito que ele denomina como “a caminho do Vietname”.

Com o derrube do regime, introduziu-se uma dinâmica de ruptura em que a transição para a democracia se realizou a par da descolonização e ao rápido fim do império português. Não houve um cenário de descolonização mas diferentes processos de transição em que historicamente teve expressão determinante a independência da Guiné-Bissau, foi ela que marcou a cadência das descolonizações ulteriores. Todo o processo revolucionário acabou por apontar para cedências e abdicações de responsabilidades e influiu na opção europeísta. Foram tão rápidos os desenlaces da descolonização, e os seus dissabores, foram tão influentes as feridas entre os contendores do processo revolucionário que se gerou uma maioria favorável à adesão à CEE. Não é novidade para ninguém que o regime implodiu quando não encontrou saída para uma negociação política com os diferentes movimentos de libertação. Acresce que um súbito imprevisto veio acelerar os acontecimentos: depois da Guerra dos 6 Dias veio a primeira crise petrolífera, a inflação caiu como uma bomba, os grandes detentores da economia e das finanças escudaram-se na proposta federalista de Spínola. Tudo em vão, a História foi mais longe e não se compadeceu de paliativos.

E não vale a pena especular se as elites africanas estavam preparadas para governar ou tinham verdadeiramente atrás de si nações consolidadas. É interessante especular mas a História prefere passar à margem desses condicionalismos.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7548: Notas de leitura (183): Vasco Lourenço, do interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7559: Tabanca Grande (258): Agradecimento à tertúlia (Dina Vinhal)

Caros amigos tertulianos

Como manda a boa educação, venho agradecer as manifestações de amizade que recebi por causa da minha admissão na tertúlia, por iniciativa de Luís Graça, honra que não merecia, nem queria.

Tenho o prazer de conhecer e manter as melhores relações de amizade com alguns tertulianos do blogue, assim como com as respectivas esposas que formam já um numeroso grupo nos Encontros da tertúlia. Reconheço que há uma empatia especial entre toda a gente que em cada ano renova uma saudável amizade.

Posto isto, é minha obrigação escrever algumas letras para que me fiquem a conhecer minimamente, por intermédio do meu secretário particular, já que o teclado tem as letras bastante apagadas e eu perderia demasiado tempo a tentar escrever algo.

Chamo-me Maria Leopoldina, Dina para os amigos, e estou casada com o Carlos há quase 39 anos. Há que somar a este tempo mais 4 de namoro, e nestes, uma “comissão de serviço” na Guiné. Coincidências da vida, andámos no Ciclo Preparatório na mesma Escola e nos mesmos anos lectivos, mas daí não veio nenhum conhecimento, porque se bem se lembram, naquele tempo as meninas eram separadas dos meninos. Por outro lado eu morava no extremo sul de Matosinhos e ele no extremo norte de Leça da Palmeira, logo bem afastados um do outro.

O que interessa aqui é o tempo que vós, ex-combatentes, passastes naquela violência gratuita da guerra, que nós, mulheres,  não compreendíamos. Só sabíamos que os nossos filhos, irmãos, maridos, namorados, primos, vizinhos, tudo o que era homens na força da vida ia bater com os costados em África. Anos tenebrosos que espero nunca mais voltem.

Lembro-me dos momentos de angústia, na hora da passagem do carteiro, abeirar-me da janela e receber aquelas palavras que não queria ouvir:
- Menina, hoje não trago nada do seu namorado.

No dia seguinte repetia-se a cena. Os pais do Carlos telefonavam-me a saber se eu tinha recebido correspondência, e eu mentia dizendo que sim e que estava tudo bem com ele.

Tragicamente aquele primeiro ano de comissão do Carlos, coincidiu com o aparecimento de uma doença cancerosa na minha mãe. Ela adoeceu em Janeiro de 1970, o Carlos veio da Madeira passar os 10 dias de férias de mobilização em Março, visitando já a minha mãe no hospital. Foi para a Guiné em Abril, e quando veio de férias em Fevereiro de 1971, já eu não tinha mãe. Faleceu no dia 24 de Dezembro de 1970.

A minha vida não foi fácil nesse ano de 1970, tendo a minha mãe internada e o meu noivo na Guiné, as minhas preocupações dividiam-se entre o Hospital de S. João, a Guiné e a minha casa onde havia um menino, o meu irmão de 12 anos, que não entendia porque não tinha direito a ter a mãe junto de si como os outros meninos.

Outra mágoa que guardo dessa maldita guerra é a transformação que operou naquele jovem que eu conheci, que partiu um e regressou outro totalmente diferente. Posso até afirmar com a convicção de quem ama, que aquele que eu conheci nunca mais voltou. Este mesmo sentimento foi corroborado pelos meus sogros.

Desculpai, mas isto tinha que ser dito.

Se, futuramente, em conversa convosco, não vos conseguir tratar por tu, como mandam as normas do Blogue, a mais não se deve do que ao imenso respeito e admiração que tenho por vós e pelo que passastes naquela guerra.

Mais teria para dizer, mas a ladaínha já vai longa.

Recebei um abraço da vossa amiga
Dina Vinhal
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7540: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (32): Carlos e Dina Vinhal

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7549: Tabanca Grande (257): Ernesto Pacheco Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857 (Mansabá, 1965/67)

Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)



PARABÉNS A VOCÊ

06 DE JANEIRO DE 2011

O SEMPRE JOVEM PAULO SANTIAGO


Caro Paulo, a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva. Assim, vêm os Editores em nome de todos os teus camaradas, amigos e camarigos desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares.

Que esta data se festeje e prolongue por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre junto de ti quem mais amas.

Na hora do brinde não esqueças os camaradas e amigos deste Blogue, que irão erguer também uma taça em tua honra.
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Notas de CV:

- Postal de aniversário de autoria de Miguel Pessoa

- Paulo Santiago* foi Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 53, no Saltinho, nos anos de 1970 a 1972

(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5598: Parabéns a você (63): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Mário Migueis / Editores)

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7554: Parabéns a você (196): Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490 (Tertúlia / Editores)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Dezembro de 2010:

Malta,

É um tempo de dias excepcionais, boa colheita para o coração disponível.
Deixo aqui muito trabalho para a malta que viveu no Enxalé, segui depois para Madina e Belel, confirmei que tudo é áspero, penoso e até pobre. Mas o povo recebeu o Tangomau com calor, quis perceber o sentido da viagem, manda cumprimentos para quem ali combateu.

Um abraço do
Mário



Operação Tangomau (10)

Beja Santos

O dia no Enxalé, em Madina e Belel

1. Tudo quanto se vai ver, até a própria comunicação bem-sucedida com o recurso ao crioulo, deve-se ao infatigável desempenho do prestador de serviços Lânsana Sori. Sem ele, o Tangomau ficaria apeado, impossibilitado de visitar pontos ermos, inacessíveis a viaturas. Lânsana aparece na vida do Tangomau graças a Calilo Dahaba, condutor de ligeiros, que detectou a expectativa e encontrou uma resposta. Durante três dias, até ao termo da digressão em terras de Bambadinca e arredores, Lânsana será omnipresente, prestável, sorridente e compreensivo. 

Nesse dia 26, começou-se por ir ao mercado, depositaram-se as vitualhas no Bairro Joli, passou-se pela Bantajã Mandinga, inflectiu-se à esquerda, em direcção a Finete. Manga de cumprimentos na encruzilhada entre Finete e Canturé. O Sr. Biloche mostra casa, sabe-se lá até para dar um sinal da sua competência como construtor civil, ele andou com o Tangomau por Finete e discutiram com o chefe de tabanca a cedência de terreno para o anarca Jorge Cabral se transferir de Miami para ali. Há orçamentos, agora o anarca que tome decisões. 

O Tangomau não esquece a luminosidade do dia, o ar cheio de odores da floresta e os sons de Novembro. Não se vêem macacos mas há borboletas, os pássaros multicolores atravessam o Geba nos dois sentidos. O ronrom da máquina trepidante embala os viajantes. É uma sensação única ir falando para o ouvido do condutor e depois apontar com o nosso próprio ouvido para os lábios de quem fala. E assim se seguiu por Mato de Cão, Saliquinhé, São Belchior, sempre a avistar Samba Silate, na outra margem do Geba. Depois a curva para o Enxalé, é um dos trajectos mais gostosos para quem vê sem precisar de estar atento às rugosidades do estradão traiçoeiro. Feitas as apresentações, o Tangomau é conduzido por Suleimane Sanhá, chefe de tabanca, e dois antigos combatentes, Malã Tchamo e Sadjo Tchamo.


2. Em primeiro lugar, o Tangomau pediu esclarecimentos sobre o Enxalé de ontem e o de hoje. No passado, o Enxalé da guerra era abastecido por dois caminhos: o chamado porto novo, mais curto, na margem do Geba, em frente a Samba Silate; e o porto do Xime, um caminho de alguns quilómetros entre o Enxalé e o Geba. Hoje, estes dois portos estão desactivados. O que se está a mostrar era o início da estrada para o Porto Novo. 

O Tangomau não esconde a sua atracção pelos vestígios, pensa sempre nos sacrifícios, nas escoltas, nos cuidados, em aprovisionar em condições tão difíceis. A natureza ainda não mudou tudo. Certamente que quem viveu e combateu no Enxalé terá recordações deste caminho, um ponto de partida ou um ponto de chegada, consoante a situação, quem desembarcava não era só a comida nem as munições, eram também os homens que faziam a guerra.


3. Um plinto com história, alguém ali gravou nomes, talvez mortos em combate, sabe-se lá. O importante é que temos uma memória, os habitantes do Enxalé e cultores deste blogue terão histórias para contar. Tivesse havido tempo e tomava-se nota de tudo, até se teria fotografado em melhores condições. Agora, quem esteve no Enxalé conte a sua versão da história. Um esclarecimento: o Enxalé expandiu-se mas as edificações, disseram os acompanhantes do Tangomau, estão ali praticamente todas, à excepção dos abrigos e das vedações. 

Depois do Xitole, o Enxalé é um verdadeiro alfobre de vestígios. Oxalá que alguém os queira preservar.


4. Alto lá, aqui temos um sinal de uma companhia, a 556 (**), parece, está lá dentro um crocodilo e a legenda diz "Os Sem Pavor". Eles que se apresentem e que se orgulhem de que o tempo inclemente poupou a lembrança da sua passagem. O Tangomau ia cogitando: quem viveu e combateu no Enxalé tem razões de sobra para aqui vir em romagem de saudade.


5. Aqui está a prova provada da presença da Companhia dos madeirenses [, a CCAÇ 1439,]  os mesmos que habitaram em Missirá, que percorreram as mesmas estradas, que viram o sangue derramado no Cuor. O Tangomau foi convidado para o último convívio, que se realizou em Coruche e gostou muito. Agora pede-se a todos que escrevam sobre este monumento, certamente que lembranças não faltam.


6. Aqui temos um armazém, ou oficina, ou até caserna, a caminho da destruição total. Houve várias versões sobre a função do edifício, nem tem sentido andarmos a especular. Isto porque alguém avançou que se tratava de instalação comercial, anterior à guerra, mostrou os restos do telhado, dizendo que pertencia às instalações usadas por um comerciante. Compete à malta do blogue ler e identificar. Até teria mesmo sentido, caso seja possível, mostrar todas as fotografias de décadas atrás, de múltiplas presenças, e juntar agora estas imagens, para clarificar a memória.


7. Este edifício cheira a instalação do comando, seja para tratar do expediente ou local de convívio. Aqui também se ouviram opiniões díspares, houve quem argumentasse que era a casa de um antigo comerciante, nada da Casa Gouveia ou Ultramarina, um comerciante que ali viveu. Seja como for, tem função e está preservada. Agora, os antigos habitantes do Enxalé que se pronunciem.


8. Os guias foram peremptórios: aqui era refeitório, talvez dos oficiais ou dos sargentos, ou de ambos. Mais material para descodificar. Felizmente, que lhe puseram cobertura: será escola? Terá funções de mesquita? Era tal o afã do Tangomau em tudo registar que nem se pôs com conversa fiada, e bem gostaria. 

Não é preciso ser antropólogo para se saber que isto de conversar não é atar e pôr ao fumeiro, é preciso estar, criar atmosfera, deixar as mentes confiarem nas suas memórias; é preciso tempo para ganhar confiança. Talvez mais um motivo para voltar, assim pensa o Tangomau, este Enxalé está cheio de preciosidades, apetece andar por estes caminhos até ao rio, beleza natural não falta.


9. Quem terá vivido aqui? Mais discordância: para uns, aqui trabalhava o capitão e aqui vivia; para outros, era sala de convívio; houve reticentes, disseram que a construção era anterior à guerra. O Tangomau mantinha-se indiferente a tantas razões inconclusivas, o que ele queria era captar todos os vestígios, todas as marcas, ninguém o incumbiu da missão, foi ele que inventou esta obra asseada. Vamos a ver o que dizem os bloguers que lá viveram.


10. Armazém? Caserna? Escola? Edificação da tropa ou de comerciante? Que é de estrutura impressionante, não restam dúvidas. Quando se percorre o Enxalé fica-se com a noção de que a povoação já tinha história e um certo passado de residência e estadão comercial. Na reunião de Coruche compareceu uma senhora que ali viveu na infância, salvo erro filha de um comerciante. (**) O que se espera é que alguém lhe faça chegar estas imagens e a convoque para rememorar, mais não seja com base no seu acervo fotográfico.


11. Do Enxalé partiu-se à procura de Madina. Saiu-se de um território amplo, com vistas largas e com história. Entra-se num espaço hermético, árido e até inóspito. Não é difícil perceber como o PAIGC aqui estava aninhado e bem protegido. Este caminho fala de secura, de pouca fertilidade, de distâncias longínquas. Como se irá comprovar, deu que fazer os primeiros quatro quilómetros até Cabuca, passou-se ao largo, mas deu para ver que ali havia tabanca, e não pequena. 

É tudo aspereza à volta de Madina. O chefe de tabanca não estava, andava na faina. Foi o Sr. Sebastião Mendes quem nos acolheu, já Lânsana Sori dava sinais de esgotamento, graças àquele maldito pneu furado, que vê na primeira imagem. O que o Tangomau quis captar foi o futuro, as crianças à sombra, pois cá fora temos a ameaçadora fornalha do sol. E pensarmos nós que aqui houve combates terríveis, que morreram homens, mulheres e crianças, aqui se sinistraram Quebá Soncó e Fodé Dahaba. A cabeça do Tangomau não pára de girar. Sente-se apaziguado mas reserva para si este dever de memória.


12. Seguiu-se para Belel. Esta é uma enternecedora memória, a escola de Belel. Curiosamente, o professor, vemo-lo na primeira fila de pé, também se chama Sori, recebeu-nos efusivamente, propôs fotografia. O Tangoamu gosta a valer desta imagem, mais do que futuro temos aqui a hospitalidade guineense. Aqui se interrompe a viagem, a motocicleta está cada vez pior e o narrador quer ter mais história para contar, amanhã. Vamos continuar, está prometido.


(Continua)

Fotos: © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados.
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Notas de CV/LG:

Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7528: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (9): O dia no Xitole e o regresso a Finete

(*)  CCAÇ 556 foi mobilizada pelo RI 6, partiu para a Guiné em 4/11/1963 e regressou a 28/10/1965. Esteve em Bissau, Enxalé e Bambadinca. Comandantes: Cap Inf José Abílio Lomba M;artins, Cap Inf Carlos Alberto Gonçalves, Ten Inf Fernando Gonçalves Foitinho.

(**) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)

(...) Na sequência do encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67) , em Coruche, contactou-me, por telefone,  a Maria Helena Carvalho, nascida no Enxalé, e actualmente casada, residente nas Caldas da Rainha (...) (Telef. 262 842 990). 

Seu pai, Amadeu Abrantes Pereira, natural de Seia, era um conhecido comerciante, o Pereira do Enxalé. Era dono um importante destilaria de aguardente cana, bem como de outras instalações e casas, que ainda hoje estão de pé. A família era muito estimada pela população local. 

A Maria Helena nasceu no Enxalé em 1950, se não erro. Saiu cedo de lá, creio que com sete ou oito anos, por volta de 1958, para ir estudar em Bissau e depois na Metrópole. Mas regressava nas férias grandes. As suas memórias de infância (e os seus amigos de infância) estão indelevelmente ligados a esse tempo e a esse lugar. Os pais acabaram por sair do Enxalé, fixando-se em Bissau, em 1962. Já havia nuvens negras que prenunciavam a chegada da borrasca da guerra. A matéria-prima (a cana de açúcar) que abastecia a destilaria começou a escassear. Os caminhos tornavam-se perigosos. O PAIGC fazia o seu trabalho de sapa. Entretanto, a mãe morreu e a Maria Helena ficou definitivamente entregue aos cuidados dos padrinhos, das Caldas da Rainha.

O património da família ainda lá está, no Enxalé, arruinado. Também tinham prédios em Bissau. Em 1989, a Maria Helena voltou aos lugares da sua infância. Ainda encontrou, no Enxalé, gente que trabalhava para o seu pai e amigos de infância.

Ela ainda fala do Enxalé e da Guiné com emoção. (...)

Guiné 63/74 - P7556: Agenda Cultural (98): Digressão da Companhia Maior com a peça Bela Adormecida, de Tiago Rodrigues (Carlos Nery)

1. A propósito do Poste 7546* do nosso camarada Vasco da Gama, que comparava a "Companhia Maior", com o nosso Blogue, a "Maior Companhia", pedimos ao outro nosso camarada Carlos Nery, que faz parte dos "elencos" das duas "Companhias", que nos enviasse material relacionado com a peça "Bela Adormecida", que a "Companhia Maior" tem levado e vai continuar a levar à cena em todo o país.

Assim nos propomos enriquecer a nossa Agenda Cultural, com o anúncio deste espetáculo, levado a todo o lado por sexagenários ativos e bem vivos intelectualmente.

Caros tertulianos, velhos são os trapos...

CV



Em Outubro de 2010, a "Bela Adormecida" esteve em cena no Centro Cultural de Belém


CALENDÁRIO DAS ACTUAÇÕES DA "COMPANHIA MAIOR" LEVANDO À CENA A PEÇA "BELA ADORMECIDA", COM TEXTO E ENCENAÇÃO DE TIAGO RODRIGUES:




15 de Janeiro de 2011 - Tempo - Teatro Municipal de Portimão
 

21 de Janeiro de 2011 - Guimarães
 

28 e 29 de Janeiro de 2011 - Teatro Viriato de Viseu
 

18; 19 e 20 de Fevereiro de 2011 - Teatro Carlos Alberto - Porto
 

26 de Fevereiro de 2011 - Teatro Micaelense - Ponta Delgada
 

26 de Março de 2011 - Teatro Virgínia - Torres Novas





Vamos conhecer os artistas:


Clicar nas imagens para ampliar

A "Companhia Maior" em Bragança. O elenco, de que faz parte Carlos Nery, à esquerda da foto, quando em digressão.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 – P7546: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (XIII): A Companhia Maior e a Maior Companhia, partos do mesmo querer?

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7547: Agenda Cultural (97): Para não esquecer a apresentação do livro Lugares de Passagem, de José Brás, dia 6 de Janeiro de 2010, pelas 18 horas na Biblioteca José Saramago, em Loures