Guiné > Região do Oio > Bissorã > Pessoal da CART 1525 (1966/67) e da CART 1746 (1967/69) > Na messe de oficiais: O Rogério Freire, alf mil da CART 1525, é o de "de óculos ao lado do Madaíl" (Gilberto Madaíl, em primeiro plano, no lado esquerdo). "Ao fundo está o (na altura) Capitão Mourão da CART 1525 e, ao seu lado, à direita da foto de óculos, o Capitão Vaz" (RF)... Este último comandava a companhia a que pertencia o Alf Mil Madaíl, a CART 1746 (que irá acabar a sua comissão no Xime, Zona Leste, Sector L1;; aqui, no Xime, os oficiais dormiam em rulotes que, segundo o Zé Ferraz, terão da antiga estação agronómica de Fá Mandinga onde dizem - mas ainda não vi documentado - terá trabalhado o Eng. Agrónomo Amílcar Cabral e possivelmente a sua esposa e colega, portuguesa, Helena).
Em Bissorã, sempre houve uma tradição ligada à actividade desportiva e, nomeadamente, ao futebol... Não sabemos se o jovem Madaíl tinha jeito para a bola ou, na altura, já tinha revelado a sua vocação para dirigente desportivo... Diz o Rogério Freire (RF) sobre o Gilberto Madaíl, que é hoje uma figura pública (presidente da Federação Portuguesa de Futebol): "A imagem que retenho do Madaíl daquele tempo é o de uma pessoa muito alegre e bem disposta e de muito fácil conversa e diálogo"... Pergunto ao Zé Ferraz se o reconhece... a ele e ao Cap Vaz, aqui referido no texto supra... (LG)
Foto: CART 1525 - Os Falcões (Bissorã,Guiné-Bissau, 1966-67) (Reproduzida com a devida vénia...).
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Companheiro e camarada Luís: Aqui está a história do Júlio.
Uma manhã ao alvorecer saí do Xime com a minha malta para montar segurança na área do costume, entre o Xime e Amedalai para uma coluna de reabastecimentos que sairia pouco depois. Sem novidades passaram e nós regressamos ao Xime.
Essas colunas de reabastecimento de costume regressavam por volta das 3 da tarde. Chegam as três e nada... Quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze e nada. Nunca soube porque os meios rádio nesse dia estavam de rastos e não conseguíamos comunicar com Bambadinca.
Por volta da meia noite fui chamado à rulotes [, onde dormíam os oficiais]:
- Ferraz, aguarre no seu grupo e vá ver o que se passa.
Noite de lua nova, não se via nada.... Agarrei na G-3, passei pelo abrigo da minha malta, acordei dois ou três passando duma ponta a outra dizendo:
-Tá no ir, pessoal balanta!...
E arranquei pelo arame farpado fora. Já no trilho da bolanha passaram-me à frente a bazuca e o morteiro porque suspeitávamos que o IN estava emboscado junto à primeira ponte. Fazia sempre fogo de reconhecimento com 3 morteiradas e isso fazia com que o IN levantasse a emboscada. Nessa noite, devido ao imprevisto, tinha a certeza que eles não teriam tido tempo de fazer nenhuma emboscada nem teriam tido nenhuma informação [, do pessoal da tabanca,] indicando a nossa saída... Íamos à vontade mas, como sempre, prevenidos.
Passámos Amedalai, e nada da coluna...Chegámos a Bambadinca e eles ali estavam porque a GMC tinha tido um problema com o eixo. Disse ao meu pessoal que se desenrrascasse com os amigos e eu fui dormir. Na manhã seguinte vieram-me avisar que o Júlio estava na enfermaria, todo cortado.
Primeiro pensamento: O sacana foi para a tabanca mandar a queca da ordem e lixou-se!... Fui à enfermaria e aí estava o Júlio, nu, na cama, a G-3 e o saco de dilagramas no chão.
- Ó Julio, o que é que te aconteceu ?...
- Meu furriel - diz-me ele - como é que nós chegámos aqui ?
- Ó Júlio, estavas com a burra, não?
- Meu furriel, sabia lá que íamos sair ontem à noite nem me lembro do caminho..
É evidente que o nosso amigo - vim mais tarde a saber - acordaram- no no gosse gosse, tá no ir, ele de tanga, para não dizer nu, agarra na sua G-3 e saco de dilagramos e porta fora... Durante esse trajecto, lua nova, ninguém se deu conta do estado em que estava ou o que trazia vestido. E aos trambolhões lá foi andando até Bambadinca.
A partir desse dia tive o maior respeito pela sua façanha. Que grande soldado, que bêbado ou não, não deixou os seus companheiros!... Valente!
Lembro agora, depois da minha louca chegada ao Xime, quando o Cap Vaz me chamou ao seu gabinete no dia seguinte e me apresentei... Lembro bem da sua figura, pera e tudo (se bem me lembro, era arquitecto)..
- Ó nosso furriel, se não é louco tem-nos de bronze... Benvindo, agora quero que forme um grupo de combate com aquilo que aprendeu...
E eu disse-lhe:
- Meu capitão, posso pedir voluntários ?...
Disse-me que sim e, quando a palavra passou que eu queria voluntários, quase a toda companhia se apresentou na "parada"... Nunca se formou nada e vi-me como o furriel reponsável pelo 2º pelotão cujo alferes tinha ido para Lisboa evacuado.
Realmente foi um pelotão formidável, éramos companheiros e tinhamos a maior confiança em todos nós, em situações de perigo ou fora de perigo. Tenho imensas saudades de todos esse valiosos companheiros.
Um forte abraço, Luís... Do Zé...e aí tens agora o resto história do valente [soldado] Júlio... Se bem me lembro...
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Nota do editor:
(*) vd. postes de apresentação:
19 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9065: Tabanca Grande (307): José Ferraz de Carvalho, português há mais de 40 anos nos EUA, ex-Fur Mil da CART 1746 (Xime, 1969)
14 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9043: Camaradas
da diáspora (7): José Marçal Wang de Ferraz de Carvalho, Fur Mil Op Esp, da 16ª
CCmds e da CART 1746 (Xime, 1968/69): vive hoje em Austin, Texas,
EUA
(...) Assentei tropa em Setembro de
1966 no CSM [ Curso de Sargentos Milicianos,] das Caldas da Rainha [ RI 5,] e
depois da recruta fui enviado para Lamego, para o primeiro curso de Operações
Especiais como especialização.
Posteriormente ofereci-me como voluntário para a 16ª
Companhia de Comandos com a qual cheguei a Guiné em 68. No fim da fase
operacional não quis ser comando e fui então destacado para a Cart 1746, Xime,
onde o Capitão Vaz me responsabilizou em formar um grupo de combate com o
segundo pelotão cujo alferes tinha sido enviado para Lisboa doente. (...)
[Depois do regresso da CART 1746 à Metrópole, em Julho de 1969, ] passei os meus últimos
meses da minha comissão como adido ao QG em Bissau. Regressei a Lisboa no velho
Carvalho Araujo em 1970. (...)