1. Mensagem do nosso camarada António Rosinha, (ex-Fur Mil em Anagola) topógrafo na TECNIL na Guiné-Bissau, depois da sua independência, com data de 11 de Maio de 2012:
Havia mais "PALOP" (entendimentos) antes das independências
Guerra colonial portuguesa, Guerra do Ultramar, Luta de Libertação Nacional de Angola, Guerra de Independência da Guiné-Bissau, Luta de libertação de Moçambique, sem falarmos nos casos de São Tomé e Cabo Verde, são tantos os nomes da guerra da geração dos que nasceram nas décadas de 40 e 50 do século passado, que todos os nomes se podem ajustar a cada circunstância.
Mas se quisermos balizar a guerra entre as datas que provocam a frase “para Angola e em força” de Salazar, até à entrada de Marcelo Caetano no Chaimite de Salgueiro Maia, então se quisermos ser realistas com a história, foi como “Guerra do Ultramar”, nome com que no continente e ilhas era alcunhada a guerra pelos soldados que embarcavam no continente e ilhas, a caminho das colónias.
Mas para os movimentos que lutaram contra os que iam do continente e ilhas e imensos que eram naturais das colónias, essas datas dizem muito pouco, pois eles próprios, que são vários movimentos, cada qual tem as suas datas, ignorando mesmo as datas importantes dos outros movimentos irmãos.
E exigem para cada um, o seu próprio protagonismo, e hoje, até fazem por ignorar os feitos dos “irmãos” e assumiram as suas próprias datas comemorativas, exclusivas e isoladas uns dos outros, quando na realidade foi em conjunto que trabalharam.
Esta é uma realidade que se quer varrer para debaixo do tapete pelos 5 PALOP, que estiveram sempre associados na luta contra o colonialismo português, e hoje quase se ignoram.
Claro que podem ser encontradas razões para esse afastamento entre os governos MPLA/FRELIMO/PAIGC/PAICV
(Não incluo aqui São Tomé nem a UNITA nem FNLA nem RENAMO porque estes foram secundarizados por aqueles).
É que o protagonismo dos dirigentes desses movimentos “vitoriosos” que se relacionavam entre si a nível internacional, era tão excessivo que apagaram o sacrifício que os povos sofreram, tanto dos que acreditaram nesses movimentos como aqueles que ainda hoje não acreditam.
E como esses dirigentes, que se conheciam todos uns aos outros e se entendiam bem, eram tão poucos que rapidamente foram sendo apagados e excluídos politicamente e até eliminados fisicamente alguns, e hoje “desconhecem-se” mutuamente, após as independências e as vicissitudes que se seguiram, porque os dirigentes que “sobraram” eram desconhecidos uns dos outros.
Ao contrário do que se passava no tempo colonial, que havia uma união entre os principais protagonistas da luta anti-colonial, e mesmo entre eles e a oposição política portuguesa metropolitana, e agora não há CPLP nem PALOP “que lhe valha”, e é uma pena que a tal elite tradicional que existia se tenha apagado tanto, embora fosse previsível que tal acontecesse.
Era uma mais valia enorme para todos os 5 PALOP, pois havia muito entendimento entre eles e é a união que faz a força, pode ser que um dia reapareça essa união que existiu, o que parece difícil.
A conjugação de esforços e entendimento entre os dirigentes dos referidos movimentos era tal que no caso de Amílcar Cabral é considerado nos relatos históricos como co-fundador de MPLA, angolano, e do PAIGC.
E após as independências, no caso da Guiné é bem conhecida a colaboração de guineenses e cabo-verdianos do PAIGC que se prolongou durante bastantes anos, e acabou essa colaboração com maus resultados para o futuro da Guiné.
Mas sabemos que não era a colaboração que estava errada, mas as políticas “importadas” e completamente erradas e contrárias ao espírito dos povos e que não diziam nada às pessoas, e que acabaram num virar de costas, mau para todos.
(Absurdos como ideologias guevaristas em balantas, Ganguelas e macuas ou beirões e algarvios, nem em Cuba foi bom)
Ainda no caso da Guiné, conhecemos no tempo de Luís Cabral, um angolano como ministro do governo guineense, Mário Pinto de Andrade, que foi, durante a luta anti-colonial um dos presidentes do MPLA.
Mas como todos os casos semelhantes a Mário Pinto de Andrade, que já era um “exilado” de Angola, tornou-se exilado também da Guiné, foi péssimo a fuga dos mais informados.
E foram milhares de angolanos, guineenses, e de todos os PALOP, que se “exilaram” em Portugal, no Brasil e por todo o lado. Por cá, ainda há quem chame a alguns de retornados. Mas periodicamente, durante estes 38 anos de independências, os mais informados vão-se afastando dos seus países.
Embora muitos países em África descolonizada tenham problemas semelhantes, no caso das ex-colónias portuguesas têm uns problemas específicos, à vista de todos.
Menciono dois:
Um desses problemas mencionava-o Samora Machel numa visita a Portugal num discurso com Ramalho Eanes, presidente, dizia Samora que: “…todos têm pai, só nós (moçambicanos) não temos pai", referia-se à colaboração dos vizinhos com a Inglaterra. (neocolonialismo???), chame-se o que se queira, mas da parte de Portugal era impossível impor-se à “bola de neve” que esses movimentos criaram, que até os próprios dirigentes esmagou.
O outro enorme problema específico é o êxodo quase total da tal elite que Amílcar falava como a “burguesia “ que corria o risco de se suicidar, mas que tanta falta fazia viva, mas bem viva, porque eram patriotas, bem formados e formavam uma sociedade sã e adaptada aos vários ambientes étnicos, religiosos e culturais e já não se consideravam nem eram vistos pelas etnias, como simples colonos, embora a maioria fossem brancos ou mestiços e muitos eram negros já desintegrados da respectiva etnia.
Não se suicidou, mas exilou-se contra a vontade da maioria deles que não viram maneira de contrariar as forças internacionais, tremendamente malignas para todas as etnias africanas, que a “demagogia das independências” atraiu naquele momento errado.
Claro que esta gente que (conheci e fui colega de centenas) teve que se “exilar”, também deita muitas culpas para cima da tropa e dos políticos tugas, por certas coisas correrem tão mal.
Mas para a “morte ter desculpa”, quando vemos as revoluções e os massacres por motivos étnicos, religiosos, fronteiriços ou políticos em África, se for nas ex-colónias portuguesas pode-se dizer que a culpa foi do atraso em que Portugal deixou aqueles territórios, noutros casos fica à responsabilidade da ONU, essa abstracção.
Quando digo que havia mais PALOP (entendimento) entre aqueles cidadãos desses futuros países, havia mesmo uma irmandade tão saudável e até com alguma rivalidade competitiva e orgulho na própria terra que era entusiasmante e saboroso conviver e assistir ao entusiasmo daquela gente, antes do terrorismo do Norte de Angola e mesmo depois.
Mas há certos motivos para explicar a diminuição de um sentimento “PALOP”, mas deixo para momento mais propício,
Claro que a Europa colonialista cansada da guerra da Índia, da guerra da Indochina, da 2.ª Grande Guerra, optou por ver os outros em guerra, sozinhos.
Alguns de nós portugueses, assim como em tudo, seguimos sempre a Europa um pouco mais atrasados, tinha que ser.
Um abraço e coragem para os editores “editarem sempre”
António Rosinha
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9655: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (211): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte III)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Guiné 63/74 - P9903: Tabanca Grande (338): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74)
Sonhei com
Portugal
[poema de José Carlos Suleimane Baldé]
Era uma noite,
calma,
serena!
Um ambiente bem silencioso!
Vejo os céus de Portugal.
Alguém disse:
- Levanta a cabeça!
Nos céus sem nuvens
vi variadíssimas estrelas
que nunca vira antes!
De repente soou um grito,
dizendo:
- Não tenhas medo,
que aqui é Portugal!
(*) Vd. postes referentes (ou com referências) ao Zé Carlos:
[poema de José Carlos Suleimane Baldé]
Era uma noite,
calma,
serena!
Um ambiente bem silencioso!
Vejo os céus de Portugal.
Alguém disse:
- Levanta a cabeça!
Nos céus sem nuvens
vi variadíssimas estrelas
que nunca vira antes!
De repente soou um grito,
dizendo:
- Não tenhas medo,
que aqui é Portugal!
1. José Carlos Suleimane Baldé, simplesmente Zé Carlos (*)... O "morto-vivo" da CCAÇ 12!... Já te deram por morto e ressuscitado, não sei quantas vezes!... Parafraseando Mark Twain, podemos pois dizer que a tua notícia da tua morte, logo em 1974, foi manifestamente exagerada.
De qualquer modo, não tenho tido notícias tuas desde o ano passado, na altura em que realizaste o teu grande sonho de vir conhecer Portugal, terra que tu tanto amas (ou amavas) mas que te tratou com ingratidão. A ti e a outros milhares de combatentes guineenses que estiveram sob a bandeira portuguesa. Essa viagem foi possível graças à generosidade de muitos camaradas, e sobretudo da Odete Cardoso e do Jaime Pereira. (Abrindo um parênteses, não confundamos Portugal e a sua gente, com o Estado e a elite dirigente; eu também não confundo a tua terra e a tua gente, com os que mandam e falam abusivamente em seu nome).
De qualquer modo, não tenho tido notícias tuas desde o ano passado, na altura em que realizaste o teu grande sonho de vir conhecer Portugal, terra que tu tanto amas (ou amavas) mas que te tratou com ingratidão. A ti e a outros milhares de combatentes guineenses que estiveram sob a bandeira portuguesa. Essa viagem foi possível graças à generosidade de muitos camaradas, e sobretudo da Odete Cardoso e do Jaime Pereira. (Abrindo um parênteses, não confundamos Portugal e a sua gente, com o Estado e a elite dirigente; eu também não confundo a tua terra e a tua gente, com os que mandam e falam abusivamente em seu nome).
Quando chegámos a Contuboel, em 2 de junho de 1969, depois de desembarcarmos em LDG no Xime, e de seguirmos em coluna auto por Bambadinca e Bafatá, descobrimos que dos 100 soldados do recrutamento local que se juntaram aos 50 quadros e especialistas da CCAÇ 2590 para vir a formar a futura CCAÇ 12, nenhum deles falava português... A única exceção eras tu, Zé Carlos!... Serias aliás o único soldado arvorado que chegaria a 1º Cabo, no meu tempo (Foste promovido logo a seguir, em setembro de 1969., lembras-te ?).
José Carlos Suleimane Baldé, o dedicadíssimo, delicadíssimo, educadíssimo Zé Carlos, uma joia de
rapaz!..
Terias na altura 18 anos, não ? A gente não sabia a vossa idade, vocês fintavam os tugas, só para ir para a tropa!... Tínhamos de tudo, djubis e homens grandes, alguns já mesmo velhotes... Lidei, convivi bastante contigo, no 4º Grupo de Combate (por onde passei mais tempo), considerei-te, desde logo, como "secretário particular, intérprete, cozinheiro, guarda-costas, e sobretudo amigo e camarada". Emprestei-te livros, dei-te cadernos, ajudei-te a melhorar o domínio do português. Falei-te da minha terra.
Pertencias à 2ª secção, comandada pelo Fur Mil At Inf António Marques, até àquele fatídico dia, 13 de Janeiro de 1971 -lembras-te ? -, em que caímos todos juntos, uma GMC inteira, numa potente mina A/C às portas de Nhabijões.
Estive contigo em muitas operações. E em várias tabancas fulas em autodefesa. Tu ajudaste-me a perceber melhor a tua gente, a tua história, a tua língua, a tua cultura e até a tua religião.
Terias na altura 18 anos, não ? A gente não sabia a vossa idade, vocês fintavam os tugas, só para ir para a tropa!... Tínhamos de tudo, djubis e homens grandes, alguns já mesmo velhotes... Lidei, convivi bastante contigo, no 4º Grupo de Combate (por onde passei mais tempo), considerei-te, desde logo, como "secretário particular, intérprete, cozinheiro, guarda-costas, e sobretudo amigo e camarada". Emprestei-te livros, dei-te cadernos, ajudei-te a melhorar o domínio do português. Falei-te da minha terra.
Pertencias à 2ª secção, comandada pelo Fur Mil At Inf António Marques, até àquele fatídico dia, 13 de Janeiro de 1971 -lembras-te ? -, em que caímos todos juntos, uma GMC inteira, numa potente mina A/C às portas de Nhabijões.
Estive contigo em muitas operações. E em várias tabancas fulas em autodefesa. Tu ajudaste-me a perceber melhor a tua gente, a tua história, a tua língua, a tua cultura e até a tua religião.
Até há um ano e meio atrás, eu não sabia nada de ti nem do curso da tua vida, depois da independência. Sempre receei pela tua segurança. Hoje sei, sabemos, que vives perto do Xime, com a tua família. Voltei a rever-te e a abraçar-te, com grande emoção, em Coimbra, no dia 21 de maio de 2011.
Zé Carlos: abandonados por nós, ostracizados pelo teu Governo, os nossos antigos camaradas guineenses vão desaparecendo
rapidamente, vítimas da perseguição, da doença, da miséria, da discriminação, do
abandono, do esquecimento, e até da falsificação da história... Recordá-los, recordar os seus nomes, publicar as
poucas fotos que temos deles, é o mínimo dos mínimos que podemos fazer no nosso
blogue!...
Da nossa CCAÇ 12, dos meus antigos 100 camaradas, do meu tempo de Contuboel e de Bambadinca (junho de 1969/março de 1971), restarão muito poucos, menos de duas dezenas. Entre eles, felizmente, estás tu, Zé Carlos.
Da nossa CCAÇ 12, dos meus antigos 100 camaradas, do meu tempo de Contuboel e de Bambadinca (junho de 1969/março de 1971), restarão muito poucos, menos de duas dezenas. Entre eles, felizmente, estás tu, Zé Carlos.
Em 29 de maio de 2011, tu vieste à minha escola para te despedires de mim, depois de umas férias fantásticas no teu querido Portugal. Vinhas acompanhado pelo António Marques e a Gina. Dessa vez achei-te abatido, apreensivo, na véspera de
partires. Não te mostraste tão expansivo, como em Coimbra. Pedi-te para fazer uma saudação para os teus antigos camaradas da CCAÇ 12, que eu gravaria em vídeo, mas tu recusaste polida e delicadamente. Acredito que o teu estado de espírito estivesse associado à ansiedade e tristeza da partida, além da convição de que na tua terra continuarias a ter muitas poucas ou nenhumas perspectivas de futuro.
Por outro lado, voltavas amargurado: em Portugal, os teus papeis da tropa
(portuguesa) de nada te valeram. Devem ter-te explicado, um burocrata qualquer: o sr. Suleimane Baldé nunca fizera descontos para a Caixa Geral de Aposentações; além disso, não era cidadão português...
Esta era talvez a maior decepção que tu levavas da tua primeira (e provavelmente última) viagem a Portugal... Os cinco anos e duzentos e tal dias que estiveras ao serviço do exército português não te davam quaisquer benefícios nem constituíam quaisquer direitos...
E, no entanto, tu guardas (ou guardavas) religiosamente a bandeira verde-rubra na tua morança!... Por essa bandeira, pela tua aliança com os tugas, estiveste em risco de ser condenado e executado nos tempos de brasa, possivelmente por volta do 11 de março de 1975 (altura em que terão sido executados o Jamanca e o Abibo Jau, da CCAÇ 21, em Madina Colhido )... "Valeram-me os anciãos de Bambadinca que, em pleno tribunal popular, me defenderam, a mim, Suleimane Baldé, como um bom homem, um bom professor, um bom fula, e um bom guineense" - confidenciaste-me tu, o ano passado...
Esta era talvez a maior decepção que tu levavas da tua primeira (e provavelmente última) viagem a Portugal... Os cinco anos e duzentos e tal dias que estiveras ao serviço do exército português não te davam quaisquer benefícios nem constituíam quaisquer direitos...
E, no entanto, tu guardas (ou guardavas) religiosamente a bandeira verde-rubra na tua morança!... Por essa bandeira, pela tua aliança com os tugas, estiveste em risco de ser condenado e executado nos tempos de brasa, possivelmente por volta do 11 de março de 1975 (altura em que terão sido executados o Jamanca e o Abibo Jau, da CCAÇ 21, em Madina Colhido )... "Valeram-me os anciãos de Bambadinca que, em pleno tribunal popular, me defenderam, a mim, Suleimane Baldé, como um bom homem, um bom professor, um bom fula, e um bom guineense" - confidenciaste-me tu, o ano passado...
Disseste-me com alegria que irias, dentro em breve, casar a tua filha com o filho de
um antigo camarada e amigo da 2ª secção do 4º Gr Comb da CCAÇ 12, o Sori
Baldé...
Constatei, com amargura, que tu já não pertencias ao meu mundo, pertencias a um outro mundo, o teu mundo, para o qual regressavas, definitivamente... Ainda pensei, num impulso de generosidade e de camaradagem, em convidar-te a integrar o nosso blogue... Mas percebi a tempo, numa fração de segundo de lucidez, quão atrozmente ridícula era a minha proposta!...
Na tua tabanca tu não tens nada, para além de um telemóvel e de uns óculos, para ler, que te deu a Odete Cardoso, esposa do Jaime Pereira, casal que são padrinhos da tua filha mais nova, e que te acolheram em Portugal...
Aliás, o que é que tu tens, no ocaso da vida ? Uma família para sustentar, uma morança, alguma terra para lavrar, uma saúde precária, uma velhice incerta... Antigo professor ou monito escolar (tarefa que te terá sida atribuída, depois de ferido em combate), não tens computador nem email nem internet nem sabes o que é isso... Não tens nada. Tens medo, continuas a ter medo, medo da palavra "política" e dos grandes inquisidores que te levaram a "tribunal popular" em Bambadinca...
Na altura, em 29 de maio de 2011, eu escrevi ou pensei: "Confesso que fiquei deprimido por sentir que há homens que podem ter medo do medo... E que podem ainda, hoje, quarenta anos depois do fim da guerra colonial, sentir medo... E eu tenho medo de escrever mais e complicar a vida de antigos camaradas meus, que foram meus camaradas de armas"...
Afinal, um blogue, para quê ?, perguntarias tu... O que é isso, de blogue ?... E que resposta te poderia eu dar, meu velho Zé Carlos ? Não saberia dar-te nenhuma, naquele momento... Em suma, desisti da ideia de te "atabancar" numa Tabanca Grande que não te diria nada, e que tu nunca reconhecerias... porque é uma coisa virtual, uma ideia abstrata, com um suporte digital, que nem tem cor, nem cheiro, nem sabor...
Mas hoje, passado quase um ano, e depois de voltar a ver o teu nome numa lista de fuzilados da CCAÇ 12, deu-me ganas de voltar a pegar na ideia e de concretizá-la. Não tenho poder, não tenho nenhuma varinha mágica para te poder trazer para Portugal (como tu sempre sonhaste, e confessavas ao António Marques, com quem te correspondeste regularmente entre os anos de 2000 e 2004... e o Marques tem essas cartas!)... Nem sei se tu aqui serias mais feliz do que na tua tabanca... Tenho todas as dúvidas, hoje mais do que nunca....
Mas há uma coisa que eu posso fazer por ti, Zé Carlos, para além de prometer visitar-te (quando, e se, um dia voltar à Guiné-Bissau, e nessa altura conhecer a sua família, e se possível rever mais alguns camaradas da CCAÇ 12, os poucos que restarem vivos)... Ora o que eu posso fazer por ti, é da mais elementar justiça: é admitir-te na nossa Tabanca Grande e sentar-te à sombra do nosso simbólico, mágico, secular, portentoso, protetor, fraterno poilão!...
Constatei, com amargura, que tu já não pertencias ao meu mundo, pertencias a um outro mundo, o teu mundo, para o qual regressavas, definitivamente... Ainda pensei, num impulso de generosidade e de camaradagem, em convidar-te a integrar o nosso blogue... Mas percebi a tempo, numa fração de segundo de lucidez, quão atrozmente ridícula era a minha proposta!...
Na tua tabanca tu não tens nada, para além de um telemóvel e de uns óculos, para ler, que te deu a Odete Cardoso, esposa do Jaime Pereira, casal que são padrinhos da tua filha mais nova, e que te acolheram em Portugal...
Aliás, o que é que tu tens, no ocaso da vida ? Uma família para sustentar, uma morança, alguma terra para lavrar, uma saúde precária, uma velhice incerta... Antigo professor ou monito escolar (tarefa que te terá sida atribuída, depois de ferido em combate), não tens computador nem email nem internet nem sabes o que é isso... Não tens nada. Tens medo, continuas a ter medo, medo da palavra "política" e dos grandes inquisidores que te levaram a "tribunal popular" em Bambadinca...
Na altura, em 29 de maio de 2011, eu escrevi ou pensei: "Confesso que fiquei deprimido por sentir que há homens que podem ter medo do medo... E que podem ainda, hoje, quarenta anos depois do fim da guerra colonial, sentir medo... E eu tenho medo de escrever mais e complicar a vida de antigos camaradas meus, que foram meus camaradas de armas"...
Afinal, um blogue, para quê ?, perguntarias tu... O que é isso, de blogue ?... E que resposta te poderia eu dar, meu velho Zé Carlos ? Não saberia dar-te nenhuma, naquele momento... Em suma, desisti da ideia de te "atabancar" numa Tabanca Grande que não te diria nada, e que tu nunca reconhecerias... porque é uma coisa virtual, uma ideia abstrata, com um suporte digital, que nem tem cor, nem cheiro, nem sabor...
Mas hoje, passado quase um ano, e depois de voltar a ver o teu nome numa lista de fuzilados da CCAÇ 12, deu-me ganas de voltar a pegar na ideia e de concretizá-la. Não tenho poder, não tenho nenhuma varinha mágica para te poder trazer para Portugal (como tu sempre sonhaste, e confessavas ao António Marques, com quem te correspondeste regularmente entre os anos de 2000 e 2004... e o Marques tem essas cartas!)... Nem sei se tu aqui serias mais feliz do que na tua tabanca... Tenho todas as dúvidas, hoje mais do que nunca....
Mas há uma coisa que eu posso fazer por ti, Zé Carlos, para além de prometer visitar-te (quando, e se, um dia voltar à Guiné-Bissau, e nessa altura conhecer a sua família, e se possível rever mais alguns camaradas da CCAÇ 12, os poucos que restarem vivos)... Ora o que eu posso fazer por ti, é da mais elementar justiça: é admitir-te na nossa Tabanca Grande e sentar-te à sombra do nosso simbólico, mágico, secular, portentoso, protetor, fraterno poilão!...
Para que o teu nome e o teu arreigado amor a Portugal não sejam esquecidos, para que a nossa velha amizade e camaradagem continuem a ser celebradas, apesar da distância, apesar das nossas diferenças, apesar das nossas tristezas, qpesar das nossas desilusões. apesar das nossas memórias doridas!... Faço-o à tua revelia, mas na convicção de que um dia destes tu vais aceitar e compreender o meu gesto. Se alguém, guineense, da CCAÇ 12 merece estar aqui, és seguramente tu. E serás o primeiro e muito possivelmente o último.
Sê bem vindo, Zé Carlos, à Tabanca Grande. És o grã-tabanqueiro nº 557. Peço à dr. Odete Cardoso que te vá dando notícias nossas, por telefone e carta. Devo dizer-te que não és o único "morto-vivo", o nosso António Batista também o é; além disso, também não tem e-mail, mas foi acolhido, com todo carinho, neste espaço vritual onde se reúnem os velhos combatentes da Guiné, portugueses e guineenses, independentemente do seu passado, do seu presente, das suas crenças, e das suas perspetivas de futuro...
Que Alá te proteja, meu bom amigo e camarada Zé Carlos! És e foste sempre um grande homem e combatente!
Luis Graça, ex-fur mil at armas pesadas inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971)
PS - Não combinei nada com ele, mas peço ao António Marques [, foto à esquerda, ladeado por ti e pela Gina, Lisboa, no parque da minha escola, em 29 de maio de 2011,] que seja o teu "padrinho" na Tabanca Grande, e que te "empreste" o email dele... Espero poder encontrá-lo mais logo, aqui ao pé de casa, em Alfragide, na missa do 1º aniversário da morte da nossa amiga Teresa Reis (1947-2011), esposa do Humberto Reis.
__________________________
Notas do editor:
Sê bem vindo, Zé Carlos, à Tabanca Grande. És o grã-tabanqueiro nº 557. Peço à dr. Odete Cardoso que te vá dando notícias nossas, por telefone e carta. Devo dizer-te que não és o único "morto-vivo", o nosso António Batista também o é; além disso, também não tem e-mail, mas foi acolhido, com todo carinho, neste espaço vritual onde se reúnem os velhos combatentes da Guiné, portugueses e guineenses, independentemente do seu passado, do seu presente, das suas crenças, e das suas perspetivas de futuro...
Que Alá te proteja, meu bom amigo e camarada Zé Carlos! És e foste sempre um grande homem e combatente!
Luis Graça, ex-fur mil at armas pesadas inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971)
PS - Não combinei nada com ele, mas peço ao António Marques [, foto à esquerda, ladeado por ti e pela Gina, Lisboa, no parque da minha escola, em 29 de maio de 2011,] que seja o teu "padrinho" na Tabanca Grande, e que te "empreste" o email dele... Espero poder encontrá-lo mais logo, aqui ao pé de casa, em Alfragide, na missa do 1º aniversário da morte da nossa amiga Teresa Reis (1947-2011), esposa do Humberto Reis.
__________________________
Notas do editor:
(*) Vd. postes referentes (ou com referências) ao Zé Carlos:
4 de junho e 2011 > Guiné 63/74 - P8372: Os nossos camaradas guineenses (33): O Zé Carlos regressou ao seu mundo, à sua tabanca, à sua morança... (Luís Graça)
22 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8311: Os nossos camaradas guineenses (32): José Carlos Suleimane Baldé... Pensando na CCAÇ 12, em Coimbra, em Amedalai, em Bambadinca... Andando pelo Planaltod as Cesaredas, à procura de amonites e orquídeas-abelhas... Celebrando a biodiversidade, a etnodiversidade, a camarigagem, os nossos encontros e desencontros... (Luís Graça)
20 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8302: Os nossos camaradas guineenses (31): O José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (1969/74), está em Portugal até 3 de Junho, e quer estar connosco! (Odete Cardoso / Luís Graça)
5 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8222: Os nossos camaradas guineenses (30): Cherno Baldé, 4º Gr Comb, 1ª Secção (Comandada originalmente pelo Fur Mil At Inf Joaquim A. M Fernandes), Sold, Ap Metr Lig HK 21, nº mecanográfico 82115269, fula... O mesmo que terá abatido em finais de 1972 o comandante de bigrupo Mário Mendes
5 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8222: Os nossos camaradas guineenses (30): Cherno Baldé, 4º Gr Comb, 1ª Secção (Comandada originalmente pelo Fur Mil At Inf Joaquim A. M Fernandes), Sold, Ap Metr Lig HK 21, nº mecanográfico 82115269, fula... O mesmo que terá abatido em finais de 1972 o comandante de bigrupo Mário Mendes
3 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8213: Convívios (320): Coimbra, 21 de Maio: 38º Encontro do Pessoal da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/72) com a presença do José Carlos Suleimane Baldé (Victor Alves)
3 de Maio de 2011 > Guiné
63/74 - P8212: Os nossos camaradas guineenses (29): Uma carta pungente de um
ex-militar, de etnia fula, da CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca, Xime, 1969/74)
28 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P5909: Os nossos camaradas guineenses (25): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º Cabo, CCAÇ 12 (Contuboel, B)ambadinca e Xime, 1969/74), vive em Amedalai e sonha com Portugal, Não tenhas medo, que aqui é Portugal! (Odete Cardoso / J.L. Vacas de Carvalho)
28 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P5909: Os nossos camaradas guineenses (25): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º Cabo, CCAÇ 12 (Contuboel, B)ambadinca e Xime, 1969/74), vive em Amedalai e sonha com Portugal, Não tenhas medo, que aqui é Portugal! (Odete Cardoso / J.L. Vacas de Carvalho)
15 de janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7618: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (14): Aquele domingo de festa no Bambadincazinho
12 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7425: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (3): Dia 21 de Novembro de 2010
12 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7266: (In)citações (19): Africanização da guerra, tema para um colóquio a organizar pela Tabanca Grande, e pretexto para a efectiva reconciliação nacional (Nelson Herbert)
21 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6447: A minha CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (1): Composição orgânica (Luís Graça
(**) 9 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9875: Tabanca Grande (337): Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém - 1974)
Marcadores:
25 de Abril,
António Fernando Marques,
CCAÇ 12,
fuzilamentos,
Humberto Reis,
José Carlos Suleimane Baldé,
Os nossos camaradas guineenses,
Tabanca Grande
Guiné 63/74 - P9902: Parabéns a você (419): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 (Guiné, 1972/74)
Para aceder aos postes do nosso camarada António Eduardo Ferreira, clicar aqui
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9877: Parabéns a você (418): Daniel Agostinho Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2861 (Armando Pires)
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Guiné 63/74 - P9901: Em busca de... (188): Pessoal da CCAÇ 417 (Empada, 1963/65) (Jorge Soares Branco)
1. Mensagem do nosso leitor e camarada José Soares Branco (que esteve em Empada, e noutros sítios da Guiné, 1963/65) [, Foto á esquerda, Empada, vista aérea, 1974; foto de António Graça de Abreu]:
De: José Soares Branco [mailto:soares.branco@laborial.com.pt]
Data: domingo, 13 de Maio de 2012 23:32
Assunto: Guiné (1963/1965)
Caro Amigo Luís Graça,
Estive na Guine, incluído na Companhia de Caçadores 417. como Furriel
Miliciano.
Salvo raras exceçoes, não tenho contacto com colegas de então.
Pode ajudar-me ?
Estivemos no aquartelamento de Empada mas, enquanto companhia de
intervenção, actuámos em vérios pontos da Guine, tambem mais a norte.
Chegámos à Guine em Fev de 1963.
Um abraço amigo,
José Soares Branco
2. Comentário de L.G.:
Sê bem vindo ao nosso blogue, camarada do caqui amarelo!... Perante tanta velhice, nós, piras, temos que piar três vezes. As nossas saudações para ti e restante rapaziada, hoje septuagenária, da CCAÇ 417, de quem infelizmente não temos ninguém inscrito na Tabanca Grande. Tu podes ser o primeiro se nos mandares as duas fotos da praxe e nos contares uma história... Diz-nos também onde vives e o que fazes nos tempos livres...
Pois é, Jorge, vejo que apanhaste os anos de chumbo da guerra. Daí haver por certo coisas (boas e más) que guardas na tua memória... Uma das poucas referências que temos à tua companhia vem num poste do ex-cap George Freire, hoje a viver na América.
(...) 15/3/63:
Chegou um pelotão da CCaç 417 que seguirá para Caboxanque. Enviei uma grande coluna de 10 viaturas para Emberem [Jemberém] para trazer o resto dos víveres pertencentes aos Fulas.
16/3/63:
O pelotão da CCaç 417 seguiu para Caboxanque para render o Pelotão 859. (...)
Consulta também este poste do pira Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, que esteve em Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, entre 1968 e 70):
(...) Conjugando os testemunhos já dados, com as acções havidas no Subsector de Empada, pela CCaç 153 – Fulacunda 1961/63 sob o Comando, ao tempo, do Cap Inf José dos Santos C. Curto, e, também, da CCaç 417 - 1963/64, esta por ter sido colocada na sede deste Subsector sob o Comando ao tempo do Cap Inf Carlos F Delfino:
“Por elementos da população também fora-me dito, que ao tempo as Autoridades Militares e Administrativas, condicionaram a população residente a ficarem controladas por nós ou a refugiar-se em Tabancas no mato, Sic.”
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 13 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9893: Em busca de ... (187): Maria Luísa procura ex-combatentes da CCAV 1693 e do BCAV 1915, camaradas de seu marido, falecido recentemente
De: José Soares Branco [mailto:soares.branco@laborial.com.pt]
Data: domingo, 13 de Maio de 2012 23:32
Assunto: Guiné (1963/1965)
Caro Amigo Luís Graça,
Estive na Guine, incluído na Companhia de Caçadores 417. como Furriel
Miliciano.
Salvo raras exceçoes, não tenho contacto com colegas de então.
Pode ajudar-me ?
Estivemos no aquartelamento de Empada mas, enquanto companhia de
intervenção, actuámos em vérios pontos da Guine, tambem mais a norte.
Chegámos à Guine em Fev de 1963.
Um abraço amigo,
José Soares Branco
2. Comentário de L.G.:
Sê bem vindo ao nosso blogue, camarada do caqui amarelo!... Perante tanta velhice, nós, piras, temos que piar três vezes. As nossas saudações para ti e restante rapaziada, hoje septuagenária, da CCAÇ 417, de quem infelizmente não temos ninguém inscrito na Tabanca Grande. Tu podes ser o primeiro se nos mandares as duas fotos da praxe e nos contares uma história... Diz-nos também onde vives e o que fazes nos tempos livres...
Pois é, Jorge, vejo que apanhaste os anos de chumbo da guerra. Daí haver por certo coisas (boas e más) que guardas na tua memória... Uma das poucas referências que temos à tua companhia vem num poste do ex-cap George Freire, hoje a viver na América.
(...) 15/3/63:
Chegou um pelotão da CCaç 417 que seguirá para Caboxanque. Enviei uma grande coluna de 10 viaturas para Emberem [Jemberém] para trazer o resto dos víveres pertencentes aos Fulas.
16/3/63:
O pelotão da CCaç 417 seguiu para Caboxanque para render o Pelotão 859. (...)
Consulta também este poste do pira Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, que esteve em Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, entre 1968 e 70):
(...) Conjugando os testemunhos já dados, com as acções havidas no Subsector de Empada, pela CCaç 153 – Fulacunda 1961/63 sob o Comando, ao tempo, do Cap Inf José dos Santos C. Curto, e, também, da CCaç 417 - 1963/64, esta por ter sido colocada na sede deste Subsector sob o Comando ao tempo do Cap Inf Carlos F Delfino:
“Por elementos da população também fora-me dito, que ao tempo as Autoridades Militares e Administrativas, condicionaram a população residente a ficarem controladas por nós ou a refugiar-se em Tabancas no mato, Sic.”
Entre outros fora o guerrilheiro Nino que escolhera refugiar-se no mato, ouvia-se dizer por ele ser de Empada e que ali tinha familiares não se lhe oferecia a flagelações. (...).
Há notícias de um camarada teu, António Ferreira, de Gindomar no blogue do nosso camarada Carlos Silvca. Consulta aqui (vd. foto de 2009).
Mas o pessoal da Tabanca Grande, teus camaradas da Guiné, de 1961 a 1974, vão-te dar uma ajuda a localziar mais malta da tua CCAÇ 417. Até uma próxima. LG
PS - A CCAÇ 417 foi mobilizada pelo RI 15, partiu para a Guiné em 6/2/63 e regressou a 18/7/65 (?)... Esteve em Empada e Bissau. Comandante: Cap Inf Carlos Figueiredo Delfino.
PS - A CCAÇ 417 foi mobilizada pelo RI 15, partiu para a Guiné em 6/2/63 e regressou a 18/7/65 (?)... Esteve em Empada e Bissau. Comandante: Cap Inf Carlos Figueiredo Delfino.
Nota do editor:
Último poste da série > 13 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9893: Em busca de ... (187): Maria Luísa procura ex-combatentes da CCAV 1693 e do BCAV 1915, camaradas de seu marido, falecido recentemente
Guiné 63/74 - P9900: Agenda cultural (200): Apresentação do livro de Mário Beja Santos, "Adeus Até ao Meu Regresso" na Biblioteca Municipal de Pedrógão Grande, dia 18 de Maio de 2012, pelas 21h30
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9841: Agenda cultural (199): Intervenção de Mário Beja Santos na Tertúlia sobre o livro de sua autoria "Adeus até ao meu regresso", realizada no passado dia 26 de Abril em Lisboa
Guiné 63/74 – P9899: Convívios (434): Almoço comemorativo do 40.º aniversário do regresso do BCAV 2922, dia 16 de Junho de 2012 no RC 3 em Estremoz (Francisco Palma)
1. Mensagem do nosso camarada Francisco Palma (ex-Condutor Auto Rodas da CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72), com data de 11 de Maio de 2012:
Estimados Camaradas e Amigos, Luís e Carlos
Venho por esta solicitar a vossa melhor colaboração no sentido de divulgarem no Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné o programa anexo que tem para além do habitual reencontro e convívio, um incentivo especial, ou seja a celebração dos 40 anos do regresso do nosso Batalhão e que se realiza dentro das instalações do Regimento de Cavalaria 3 em Estremoz, local onde se formou o mesmo antes da partida para a Campanha na Guiné.
Um muito obrigado
Saudações de Amizade e Camaradagem
Francisco Palma
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9884: Convívios (251): 7º Encontro da CCAÇ 1426, 7 de Julho de 2012, em Vila Amélia (Fernando Chapouto)
Estimados Camaradas e Amigos, Luís e Carlos
Venho por esta solicitar a vossa melhor colaboração no sentido de divulgarem no Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné o programa anexo que tem para além do habitual reencontro e convívio, um incentivo especial, ou seja a celebração dos 40 anos do regresso do nosso Batalhão e que se realiza dentro das instalações do Regimento de Cavalaria 3 em Estremoz, local onde se formou o mesmo antes da partida para a Campanha na Guiné.
Um muito obrigado
Saudações de Amizade e Camaradagem
Francisco Palma
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9884: Convívios (251): 7º Encontro da CCAÇ 1426, 7 de Julho de 2012, em Vila Amélia (Fernando Chapouto)
Guiné 63/74 - P9898: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (16): Guidaje foi há 39 anos...
1. Sobre Guidaje, há uma referência apenas do Diário da Guiné (1972/74) (*), da autoria do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu. Vem na entrada "Mansoa, 26 de Maio de 1973"...
[, Na foto, o AGA, na estrada Mansoa- Porto Gole, em 1973, a G3 numa mão e a máquina fotográfica na outra]
A Guiné ferve, até de boatos. Tenho a vantagem de estar razoavelmente bem informado sobre o que vai acontecendo.
25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1316: A participação dos paraquedistas na Operação Ametista Real: assalto à base de Kumbamory, Senegal (Victor Tavares, CCP 121)
16 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973) (João Almeida Bruno)
Ainda sobre Guidaje, vd aqui tambémo depoimento de José Afonso, que pertenceu à CCAV 3420:
Colocado com alf mil de secretaria num CAOP1 (Mansoa), o António Graça de Abreu estava relativamente bem colocado para ir sabendo das novas da guerra... Muito melhor colocado do que qualquer um de nós, que fomos operacionais mas atuámos sobretudo a nível de setor ou subsetor, com uma visão necessariamente fragmentada e parcelar da situação operacional e político-militar...
Este documento diarístico vale também, para a historiografia da guerra colonial na Guiné, por nos dar uma outra visão, e aliás bastante interessante, a do estado de espírito ou do moral das nossas NT... Neste caso há referência explícita a tropas especiais, uma companhia do BCP 12 que regressa de Guidaje, e a 38ª CCmds (adida ao CAOP1) que parte para Guidaje...
Amigos e camaradas, leitores do nosso blogue: O "inferno de Guidaje" começou justamente a 8 de maio de 1973, faz agora 39 anos... Dizem os historiógrafos militares Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes que a operação de auxílio a Guidaje, reabastecimento e contra-ofensiva durou um mês (de 8 de maio a 8 de junho de 1973), e envolveu mais de mil homens das NT (na sua maioria, tropas especiais, comandos, fuzileiros e paraquedistas). Nunca é de mais evocarmos, nestas efemérides, o pesado sacrifício que foi pago pelos combatentes, de um lado e de outro, envolvidos nesta e noutras batalhas sangrentas da Guiné, ligadas a topónimos estranhamente começados por G (Guidaje, Guileje, Gadamael, Gandembel)...
Este documento diarístico vale também, para a historiografia da guerra colonial na Guiné, por nos dar uma outra visão, e aliás bastante interessante, a do estado de espírito ou do moral das nossas NT... Neste caso há referência explícita a tropas especiais, uma companhia do BCP 12 que regressa de Guidaje, e a 38ª CCmds (adida ao CAOP1) que parte para Guidaje...
Amigos e camaradas, leitores do nosso blogue: O "inferno de Guidaje" começou justamente a 8 de maio de 1973, faz agora 39 anos... Dizem os historiógrafos militares Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes que a operação de auxílio a Guidaje, reabastecimento e contra-ofensiva durou um mês (de 8 de maio a 8 de junho de 1973), e envolveu mais de mil homens das NT (na sua maioria, tropas especiais, comandos, fuzileiros e paraquedistas). Nunca é de mais evocarmos, nestas efemérides, o pesado sacrifício que foi pago pelos combatentes, de um lado e de outro, envolvidos nesta e noutras batalhas sangrentas da Guiné, ligadas a topónimos estranhamente começados por G (Guidaje, Guileje, Gadamael, Gandembel)...
Recorde-se, mais uma vez, para os eventuais leitores interessados, que há uma edição comercial do livro do AGA. Referência completa: António Graça de Abreu - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp. (*) (LG)
Mansoa, 26 de Maio de 1973
A Guiné ferve, até de boatos. Tenho a vantagem de estar razoavelmente bem informado sobre o que vai acontecendo.
O PAIGC, confiante e moralizado, passou à ofensiva. Começaram há quinze dias atrás por se concentrar em Guidaje (**), na fronteira norte e agora sobre Guileje, na fronteira sul, as duas povoações trissilábicas, ambas começadas por “Gui”, sinónimo de desespero e morte.
Um alferes pára-quedista meu amigo que passou agora por aqui com os seus homens vindos de Guidaje a caminho de Bissau, rotos, sujos, barbas de dias, os olhos afundados no nada, disse-me: “Lá para cima é só ferro, não se pode ir.”
Guidaje, embora flagelada continuamente há mais de duas semanas, tem-se aguentado. Não se pode ir para lá, mas ontem quase toda a 38ª. Companhia de Comandos partiu para Guidaje. Os quarenta homens que lá haviam estado, com o nosso David Viegas que aí morreu, permaneceram em Mansoa. Já tinham tido um morto e o soldado Tavares sem um pé. Foi triste ver partir os restantes. Formaram a Companhia, saudaram toda a gente.
Antes houve bebedeiras, risadas secas a tentar afugentar o medo, a incerteza de voltarem vivos. A zona de Guidaje está cheia de guerrilheiros, a terra fica a quinhentos metros do Senegal – dizem-me que a pista de aviação entra por dentro do território do Senegal, – e, do outro lado, em Cumbamori no país do Senghor, os combatentes do PAIGC têm uma grande base militar.
A partir de Bissau, lançou-se uma operação com o batalhão dos Comandos Africanos, cerca de 500 homens, sobre Cumbamori. Saiu um comunicado especial das Forças Armadas onde se refere a destruição do quartel de Cumbamori, só não se diz que este quartel fica no Senegal, tudo mais está mais ou menos correcto. O número de elementos IN abatidos, cento e sessenta e sete no total, é que pode criar algumas confusões porque engloba civis, às vezes mulheres e crianças, tudo o que aparece à frente e é suspeito de estar com os guerrilheiros, é frequentemente abatido. Na retirada, os Comandos Africanos foram atacados por blindados senegaleses e sofreram vinte e tal mortos.
O pessoal anda amedrontado. Ontem na messe, ao jantar, quase todos saltaram das cadeiras, ouviu-se um rebentamento. Afinal era a porta do frigorífico.
O pessoal anda amedrontado. Ontem na messe, ao jantar, quase todos saltaram das cadeiras, ouviu-se um rebentamento. Afinal era a porta do frigorífico.
_______________
Nota do editor:
(*) Último poste desta série > 6 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9859: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (15): Contam-se histórias tenebrosas sobre Gadamael...
(**) Sobre Guidaje temos mais de 140 referências no nosso blogue. Sobre a intervenção da CCP 12/BCP 12 bem como da 38ª CCmds ver aqui os seguintes postes de camaradas nossos:
Victor Tavares (CCP 121/BCP 12) [, foto à direita]:
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1316: A participação dos paraquedistas na Operação Ametista Real: assalto à base de Kumbamory, Senegal (Victor Tavares, CCP 121)
Amílcar Mendes (38ª CCmds) [, foto à esquerda]
27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)
27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)
22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje
23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje
24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...
21 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1198: Antologia (53): Guidaje, Maio de 1973: o inferno (Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes)
(...) "Para cercar Guidaje, o PAIGC começou por cortar o itinerário de Binta e instalar sistemas antiaéreos com mísseis Strela. O isolamento aéreo de Guidaje iniciou-se com o abate de um avião T-6 e de dois DO-27 e o terrestre acentuou-se em 8 de Maio, quando uma coluna que partira de Farim, escoltada por forças do Batalhão de Caçadores 4512, accionou uma mina anticarro e foi emboscada, sofrendo 12 feridos.
Aniceto Afonso [, foto à esquerda,] e Carlos Matos Gomes, [, foto à direita,] historiógrafos militares [, tendo o segundo participado na Op Amestista Real, como oficial do BCA]
21 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1198: Antologia (53): Guidaje, Maio de 1973: o inferno (Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes)
(...) "Para cercar Guidaje, o PAIGC começou por cortar o itinerário de Binta e instalar sistemas antiaéreos com mísseis Strela. O isolamento aéreo de Guidaje iniciou-se com o abate de um avião T-6 e de dois DO-27 e o terrestre acentuou-se em 8 de Maio, quando uma coluna que partira de Farim, escoltada por forças do Batalhão de Caçadores 4512, accionou uma mina anticarro e foi emboscada, sofrendo 12 feridos.
"Em 9 de Maio, a mesma força foi de novo emboscada, mantendo-se o contacto durante quatro horas.
"A coluna portuguesa sofreu mais quatro mortos, oito feridos graves, dez feridos ligeiros e quatro viaturas destruídas, deslocando-se então para Binta, em vez de subir para Guidaje" (...).
(...) "Em 23 de Maio, saiu uma coluna de Binta para Guidaje protegida por uma companhia de pára-quedistas [, a CCP121]. A coluna regressou ao ponto de partida, porque a picada estava minada em profundidade, e a companhia de pára-quedistas, apesar de ter sofrido violenta emboscada feita por um grupo de cerca de 70 elementos, que lhe causou quatro mortos, chegou a Guidaje " (...).
"A coluna portuguesa sofreu mais quatro mortos, oito feridos graves, dez feridos ligeiros e quatro viaturas destruídas, deslocando-se então para Binta, em vez de subir para Guidaje" (...).
(...) "Em 23 de Maio, saiu uma coluna de Binta para Guidaje protegida por uma companhia de pára-quedistas [, a CCP121]. A coluna regressou ao ponto de partida, porque a picada estava minada em profundidade, e a companhia de pára-quedistas, apesar de ter sofrido violenta emboscada feita por um grupo de cerca de 70 elementos, que lhe causou quatro mortos, chegou a Guidaje " (...).
(...) "Em 29 de Maio, foi organizada uma grande operação para reabastecer Guidaje. Constituíram-se quatro agrupamentos com efectivos de companhia em Binta e dois agrupamentos em Guidaje, estes para apoiar a progressão na parte final do itinerário. A coluna alcançou Guidaje nesse dia, tendo sofrido dois mortos e vários feridos" (...).
(...) "Em 12 de Junho, considerou-se terminada a operação de cerco a Guidaje. Uma coluna partiu desta guarnição para Binta, trazendo o tenente-coronel Correia de Campos, que comandara o COP3 durante este difícil período.
"Baixas das colunas de e para Guidaje, entre 8 de Maio e 8 de Junho de 1973: Mortos: 22; Feridos: 70; Viaturas destruídas: 6.
"Em suma, o primeiro objectivo do PAIGC foi isolar Guidaje, o segundo foi flagelar a posição e destruir o espírito de resistência das forças portuguesas e o último seria conquistar a povoação.
(...) "Em 12 de Junho, considerou-se terminada a operação de cerco a Guidaje. Uma coluna partiu desta guarnição para Binta, trazendo o tenente-coronel Correia de Campos, que comandara o COP3 durante este difícil período.
"Baixas das colunas de e para Guidaje, entre 8 de Maio e 8 de Junho de 1973: Mortos: 22; Feridos: 70; Viaturas destruídas: 6.
"Em suma, o primeiro objectivo do PAIGC foi isolar Guidaje, o segundo foi flagelar a posição e destruir o espírito de resistência das forças portuguesas e o último seria conquistar a povoação.
"Guidaje sofreu, entre o dia 8 e o dia 29 de Junho, 43 flagelações com artilharia, foguetões e morteiros. Logo no dia 8 esteve debaixo de fogo por cinco vezes, num total de duas horas, em 9 sofreu quatro ataques, em 10 três, e até ao final todos os dias foi atacada. No total dos 43 ataques, a guarnição de Guidaje sofreu sete mortos, 30 feridos militares e 15 entre a população civil. Foram causados estragos em todos os edifícios do quartel" (...).
Sobre Op Ametista Real, ver ainda:
3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVI: Salgueiro Maia e os seus bravos da CCAV 3420 (Guidage, Maio/Junho de 1973) (José Afonso)
Marcadores:
38ª CCmds,
Amílcar Mendes,
Aniceto Afonso,
António Graça de Abreu,
CAOP 1,
Carlos Matos Gomes,
Diário da Guiné Lama Sangue e Água Pura,
Guidaje,
Mansoa,
Op Ametista Real,
Victor Tavares
Guiné 63/74 - P9897: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (52): Encontro o Leopoldo Amado na Feira do Livro de Lisboa, 4 anos depois de Bissau: está agora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, como investigador no programa de pós-doutoramento (Luís Graça)
Lisboa > Parque Eduardo VII > 82ª Feira do Livro de Lisboa, 2012 > 12 de maio de 2012 > O nosso amigo Leopoldo Amado, ladeado pela Alice, Luís, João e Joana... Mais uma prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Tanto o Leopoldo como a família Graça (com exceção da Joana) têm morança na Tabanca Grande.
1. Imaginava-o em Cabo Verde, na cidade da Praia, transmitindo aos seus alunos caboverdianos o seu largo e profundo saber de guineense, português, cidadão do mundo, em matéria de história contemporânea, e mais exatamente da história recente da nossa amada e sofrida Guiné-Bissau... Mas, não, o Leopoldo está, no ano letivo em curso, a trabalhar na Universidade de Coimbra, no prestigiado Centro de Estudos Sociais, onde é investigador no programa de pós-doutoramento.
Andava eu, mais o João, acabado de chegar de umas férias na Índia, a visitar a feira do livro, mais a Alice e a Joana (enfim, não é todos os dias que se reúne a família toda!), quando dou de caras com o nosso grã-tabanqueiro Leopoldo Amado, amabilíssimo, como sempre, e que de imediato nos reconheceu a todos. Já não o via pelo menos desde Março de 2008, na altura em que estivemos junto no Simpósio Internacionald e Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008).
No sábado passado, dia 12 de maio, às 18h30, tinha-se realizado, no auditório da APEL - Associação Portuguesa dos Editores e Livreiros, na 82ª Feira do Livro de Lisboa, no Parque Eduardo VII, uma "Mesa Redonda sob o tema: História e Literaturas em Língua Portuguesa: Expressões da Diversidade" (que eu lamentavelmente perdi)... O nosso Leopoldo Amado era um dos oradores, a representar a sua terra natal... Já agora tome-se boa nota dos restantes escritores lusófonos que participaram nesta iniciativa inserida no âmbito da Semana Cultural da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,
Oradores:
Pires Laranjeira (moderador) – Portugal;
Luís Kandjimbo - Angola;
Luís Carlos Patraquim – Moçambique;
Luis Costa – Timor;
José Luís Hopffer Almada – Cabo Verde;
Maria Esther Maciel – Brasil.
E já agora, que estamos em maré de lusofonia, acrescente-se que a CPLP também marcou presença marcada no último dia da Feira do Livro de Lisboa, domingo, 13, com uma sessão de lançamento de livros de autores lusófonos residentes em Portugal, entre outros originários dos Estados-membros da CPLP, sessão que decorreu no Pavilhão da Câmara Municipal de Lisboa, na 82ª Feira do Livro de Lisboa. Obras apresentadas com respectiva sessão de autógrafos:
“Marcas da guerra” e “Lexical Doutrina” de Lopito Feijó [n. 1963, poeta e ensaísta angolano]
"Paraíso Apagado por um Trovão" de José Luís Tavares [n. 1967, poeta caboverdiano, a residir em Portugal]
“O Processo dos Cinquentas - Tempo e Memória (1940-1962) - Considerações Históricas” e “Américo Boavida – Tempo e Memória” de Fernando Correia, pseudónimo literário de do angolano Fernando Edviges Chasse
“Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império – 1951-1963 – Angola, S. Tomé e Príncipe e Moçambique I e II Volume” de Aida Freudenthal [, investigadora reformada do IICT - Instituto de Investigação Científica Tropical], edição da Associação Casa dos Estudantes do Império.
2. Recorde-se que o Leopoldo Amado é, historicamente, o segundo guinense, depois do Pepito, a integrar o nosso blogue. É um dos nossos mais antigos grã-tabanqueiros. Está neste neste momento como investigador no programa de pós-doutoramento da UC. Achei-o bem, de boa saúde, e otimista q.b., em relação à atual crise guineense. "Há uma nesga de oportunidade de que esta seja a última crise de reime, levando de facto à reforma das forças armadas e, se não mesmo, à sua abolição e refundação".
Como estamos "proibidos" de falar, no blogue,. da atualiddae política (entenda-se: político-partidária) dos nossos dois países, a nossa conserva fica só por aqui.
Da página da CES/UC recolhemos, entretanto, os seguintes elementos biográficos a seu respeito:
Universidade de Coimbra > CES > Leopoldo Amado
(i) Nasceu em 1960 no Sul da Guiné-Bissau.
(ii) Licenciou-se em História em 1985 pela Faculdade Letras de Lisboa - Universidade Clássica de Lisboa.
(iii) Antes de voltar à Guiné-Bissau em 1989, concluiu em 1987 o Curso de pós-graduação em Relações Internacionais (Estudos Islâmicos) pela extinta Universidade Internacional de Lisboa e frequenta entre os anos de 1987-1989 o curso de mestrado em Estudos Africanos no Institituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa.
(iv) Na Guiné-Bissau, tornou-se investigador do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas).
(v) Nesse país, desempenhou, sucessivamente, as funções de: Director do mensário "Baguera"; Director Comercial do Geta-Bissau (empresa privada);Vice-Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos; Director do "Tcholoná", única Revista Cultural então existe no país.
(vi) Trabalhou ainda na Guiné-Bissau como consultor nacional e internacional, destacando-se, entre outros, os trabalhos em matéria de gestão de projectos e planificação estratégica, desenvolvidos com a UNICEF, PLAN INTERNATIONAL, PNUD, FNUAP, RADDA BARNEN e AMNISTIA INTERNACIONAL, para além das funções de correspondente e de comentador político da BCC, Rádio France International, Voz de América, RDP África e RTP África.
(vii) No além-fronteiras, com sede em Cabo Verde, e cobrindo outros países como Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Guiné-Conacri e Gâmbia, trabalhou ainda como Director do SPHAC - Projecto da UNESCO para a Salvaguarda do Património Histórico da África Contemporânea, entre os anos 1995 à 2001.
(viii) Posteriormente, em Portugal, antes de concluir um Doutoramento em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa (2007), trabalhou como Secretário Executivo da “Guineáspora” (Fórum Mundial dos guineenses na Diáspora);
(ix) Tendo posteriormente regressado a Cabo Verde, onde, desta feita, trabalha junto da Uni-CV (Universidade Pública local), desde 2008 à esta parte, desempenhando aí, designadamente, as funções de docência em cursos de graduação (licenciaturas em História e Ciências Sociais) e em cursos de pós-graduação(mestrado em Ciências Sociais), para além de outras funções que assumiu, concomitante e alternadamente, como sejam as de Coordenador de Curso de História (Chefe de Departamento) e de Presidente do Departamento (Faculdade) de Ciências Sociais e Humanas.
Endereços de email:
leopoldoamado@ces.uc.pt
leopoldo.amado@gmail.com
leopoldoamado@yahoo.com
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 10 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9469: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (51): Dois amigos, Paulo Santiago, aguedense, e Vasco Pires, anadiense, reencontram-se, no blogue, ao fim de 50 anos!
Guiné 63/74 - P9896: Notas de leitura (360): Marcello Caetano, Silva Cunha e a Guiné (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 10 de Abril de 2012:
Queridos amigos,
Às vezes faz bem retornar sem pressas às fontes escritas e rever o que os dirigentes políticos propuseram para a questão guineense. É curioso verificar que todos aqueles que se pronunciam sobre o assassinato de Cabral não cuidem de atender às súplicas de Spínola a Caetano para ter um encontro com Cabral, documento político da época, o que nos leva a perguntar se era imaginável que alguém que implorava conversações com um dirigente político tivesse alguma responsabilidade com a sua morte. E Silva Cunha, como veremos, também nos reserva surpresas.
Um abraço do
Mário
Marcello Caetano, Silva Cunha e a Guiné (1)
Beja Santos
É fundamental carrear para o blogue elementos doutrinais e informativos provenientes dos ideólogos políticos do regime deposto em 25 de Abril de 1974 e dos seus críticos.
A descolonização da Guiné possui ainda meandros de interpretação confusa e que requer o cruzamento de leituras, de olhares. Nesta aceção, é indispensável cruzar o que se disse antes do 25 de Abril com o que se escreveu depois. Por exemplo, no seu “Depoimento”, a primeira obra que Caetano escreveu no Brasil, ele refere uma reunião do Conselho Superior da Defesa Nacional em que questionou se a Guiné era defensável, tendo escrito que o marechal Costa Gomes respondera afirmativamente. Na longa entrevista que este oficial deu à historiadora Manuela Cruzeiro, afirmou perentoriamente que a Guiné era defensável nos termos da nova manobra do dispositivo que iria ser recuado até os aquartelamentos das nossas tropas não ficarem ao alcance dos morteiros 120. E mais afirmou que teria dito que a Guiné era defensável desde que não entrasse em ação a aviação que iria ser posta à disposição do PAIGC. Ficámos igualmente a saber que as atas deste Conselho Superior de Defesa Nacional desapareceram misteriosamente.
Enfim, é da maior utilidade pôr em cima de mesa os argumentos e deixar os historiadores falar. Na sequência do “Depoimento”, Marcello Caetano concedeu entrevistas que apareceram sobre o título “O 25 de Abril e o Ultramar”, sobre os quais é muito raro os estudiosos pronunciarem-se. Ora este texto é, a vários títulos, da maior importância. Logo a páginas 12, Caetano admite que a política que estava a executar “deveria conduzir à independência dos grandes territórios, criando condições para se tornarem Estados”. Os documentos que anexa incluem uma carta ao General Spínola, datada de 26 de Fevereiro de 1973, que é uma peça de filigrana da epistolografia política, onde quer que seja. As relações mútuas arrefeceram, Caetano justifica-se pelo facto de ter proibido uma entrevista de Spínola a um periódico nacional, bem como o litígio decorrente do estatuto da Guiné. Spínola responde em 6 de Março e justifica o seu desapontamento por sentir que a “autonomia progressiva” é alvo de calúnias e que o próprio presidente do governo dela se está a afastar. E há um trecho que pode ser uma mais-valia para perceber como os dois entraram em rota de colisão: “Afirmou-me Vossa Excelência que tendo os africanos optado pela intolerância face à presença do branco, qualquer solução política corresponderia a apressar a nossa saída de África; ouvi também a Vossa Excelência a opinião de que mais facilmente aceitaria uma derrota militar do que uma solução política que implicasse quaisquer concessões; e, anteriormente, já Vossa Excelência, perante a perspetiva de um cessar-fogo, me tinha expressado opinião de que considerava inconveniente o termo da guerra da Guiné por tal facto originar a deslocação da luta para o arquipélago de Cabo Verde”.
E Spínola brande um argumento que irá funcionar nas justificações que levarão ao 25 de Abril: “Uma tal hipótese, a meu ver, só nos oferece como alternativa o prolongamento da atual situação de desgaste até que a Nação se esgote ou, a exemplo da Índia, sobrevenha uma derrota militar, pois não vejo, no quadro da análise ponderada da situação militar, que outras alternativas se nos oferecem na hipótese de rejeição das outras soluções políticas. Não ignoro que uma derrota militar possa ser encarada em certos sectores como fatalidade solucionadora; mas se a derrota militar pode oferecer à expiação os seus responsáveis imediatos, a história não deixará de julgar quantos a não souberam evitar”. E depois espraia-se sobre o federalismo, as negociações que deviam ter continuado com o presidente Senghor, reafirma a fórmula de autonomia progressiva e o esforço desenvolvido na Guiné quanto à africanização das instituições, conservando no seu seio os germe de portugalidade.
Caetano responde a 22 de Março, volta a justificar porque não aceitou a proposta do encontro de Spínola com Amílcar Cabral, seria um precedente de consequências incalculáveis: “E era quanto a esse precedente que eu dizia preferir perder a Guiné por derrota militar, mas combatendo pelo nosso direito, do que entregá-la em negociação mais ou menos feliz”. E desloca o teor da conversa para o facto de o PAIGC ser liderado por cabo-verdianos e que a independência da Guiné levaria a deslocação da guerra para Cabo Verde. Para Caetano, “É na África austral que se joga verdadeiramente o nosso destino ultramarino. Se fosse só a Guiné, tudo seria para nós muito mais fácil”.
Silva Cunha escreve o seu livro “O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril” em 1977, publica-o na Atlântida Editora. Temos aqui outro documento de incalculável valor. O último ministro da Defesa Nacional de Caetano e que esteve no governo no Ministério do Ultramar durante 12 anos tece justificações sobre a grande opção ultramarina, dando uma panorâmica do ambiente internacional do pós-guerra, como se processou a subversão da África portuguesa e as diretrizes para a defesa militar. Aí a páginas 40, refere abundantemente a Guiné: as preocupações de Senghor, quer com a Guiné Conacri quer com a passagem de material do PAIGC pelo seu território. Fala também de preocupações da Nigéria, da incógnita da atitude dos EUA e da tentativa de Senghor contribuir para o cessar da luta na Guiné, isto logo em 1963 e afirma explicitamente: “O Doutor Salazar deu abertura à solução que infelizmente, porém, não chegou a concretizar-se”.
Mesmo depois do corte de relações diplomáticas entre Portugal e o Senegal não pararam as diligências para o fim da Guerra. Foi a Dakar o Dr. Alexandre Ribeiro da Cunha acompanhado pelo inspetor da DGS em Bissau, Matos Rodrigues. Senghor pedia a suspensão das operações militares para poder ter contactos com os chefes do PAIGC e encontrar uma forma aceitável para ambas as partes. “Foi decidido transmitir instruções ao Governador e Comandante-Chefe da Guiné para que evitasse lançar operações ofensivas, limitando-se à defesa contra eventuais ataques dos guerrilheiros”. Factos subsequentes levaram a crer que as diligências do Senegal não interessavam ao PAIGC. Houve ainda encontros entre autoridades senegalesas e portuguesas em Paris, com carácter altamente secreto. Sugeriu-se a escolha de uma personalidade imparcial que pudesse vir a fazer um juízo objetivo sobre a ação do PAIGC e das forças portuguesas com o objetivo último de evitar novos incidentes transfronteiriços. Os contactos seguintes fizeram-se por intermédio do General Spínola. O resultado da reunião foi transmitido em Lisboa: Senghor oferecia-se como medianeiro para obter uma suspensão nas hostilidades, primeiro passo para entabular conversações com o PAIGC. Discutiu-se politicamente o que seriam as consequências desse cessar-fogo. E veio a avaliação feita por Silva Cunha: “Embora se começasse a fazer sentir no país, mas especialmente nas forças Armadas, um certo cansaço da luta, a verdade é que a opinião pública não estava preparada para aceitar uma mudança radical na orientação da política ultramarina”. Realizou-se uma reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional presidida por Américo Tomás para tratar da questão da Guiné. Todos os presentes concluíram não haver razão para seguir as sugestões de Senghor e que eram defendidas acerrimamente por Spínola.
(Continua)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9886: Notas de leitura (359): As grandes Operações da Guerra Colonial (3), edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Às vezes faz bem retornar sem pressas às fontes escritas e rever o que os dirigentes políticos propuseram para a questão guineense. É curioso verificar que todos aqueles que se pronunciam sobre o assassinato de Cabral não cuidem de atender às súplicas de Spínola a Caetano para ter um encontro com Cabral, documento político da época, o que nos leva a perguntar se era imaginável que alguém que implorava conversações com um dirigente político tivesse alguma responsabilidade com a sua morte. E Silva Cunha, como veremos, também nos reserva surpresas.
Um abraço do
Mário
Marcello Caetano, Silva Cunha e a Guiné (1)
Beja Santos
É fundamental carrear para o blogue elementos doutrinais e informativos provenientes dos ideólogos políticos do regime deposto em 25 de Abril de 1974 e dos seus críticos.
A descolonização da Guiné possui ainda meandros de interpretação confusa e que requer o cruzamento de leituras, de olhares. Nesta aceção, é indispensável cruzar o que se disse antes do 25 de Abril com o que se escreveu depois. Por exemplo, no seu “Depoimento”, a primeira obra que Caetano escreveu no Brasil, ele refere uma reunião do Conselho Superior da Defesa Nacional em que questionou se a Guiné era defensável, tendo escrito que o marechal Costa Gomes respondera afirmativamente. Na longa entrevista que este oficial deu à historiadora Manuela Cruzeiro, afirmou perentoriamente que a Guiné era defensável nos termos da nova manobra do dispositivo que iria ser recuado até os aquartelamentos das nossas tropas não ficarem ao alcance dos morteiros 120. E mais afirmou que teria dito que a Guiné era defensável desde que não entrasse em ação a aviação que iria ser posta à disposição do PAIGC. Ficámos igualmente a saber que as atas deste Conselho Superior de Defesa Nacional desapareceram misteriosamente.
Enfim, é da maior utilidade pôr em cima de mesa os argumentos e deixar os historiadores falar. Na sequência do “Depoimento”, Marcello Caetano concedeu entrevistas que apareceram sobre o título “O 25 de Abril e o Ultramar”, sobre os quais é muito raro os estudiosos pronunciarem-se. Ora este texto é, a vários títulos, da maior importância. Logo a páginas 12, Caetano admite que a política que estava a executar “deveria conduzir à independência dos grandes territórios, criando condições para se tornarem Estados”. Os documentos que anexa incluem uma carta ao General Spínola, datada de 26 de Fevereiro de 1973, que é uma peça de filigrana da epistolografia política, onde quer que seja. As relações mútuas arrefeceram, Caetano justifica-se pelo facto de ter proibido uma entrevista de Spínola a um periódico nacional, bem como o litígio decorrente do estatuto da Guiné. Spínola responde em 6 de Março e justifica o seu desapontamento por sentir que a “autonomia progressiva” é alvo de calúnias e que o próprio presidente do governo dela se está a afastar. E há um trecho que pode ser uma mais-valia para perceber como os dois entraram em rota de colisão: “Afirmou-me Vossa Excelência que tendo os africanos optado pela intolerância face à presença do branco, qualquer solução política corresponderia a apressar a nossa saída de África; ouvi também a Vossa Excelência a opinião de que mais facilmente aceitaria uma derrota militar do que uma solução política que implicasse quaisquer concessões; e, anteriormente, já Vossa Excelência, perante a perspetiva de um cessar-fogo, me tinha expressado opinião de que considerava inconveniente o termo da guerra da Guiné por tal facto originar a deslocação da luta para o arquipélago de Cabo Verde”.
E Spínola brande um argumento que irá funcionar nas justificações que levarão ao 25 de Abril: “Uma tal hipótese, a meu ver, só nos oferece como alternativa o prolongamento da atual situação de desgaste até que a Nação se esgote ou, a exemplo da Índia, sobrevenha uma derrota militar, pois não vejo, no quadro da análise ponderada da situação militar, que outras alternativas se nos oferecem na hipótese de rejeição das outras soluções políticas. Não ignoro que uma derrota militar possa ser encarada em certos sectores como fatalidade solucionadora; mas se a derrota militar pode oferecer à expiação os seus responsáveis imediatos, a história não deixará de julgar quantos a não souberam evitar”. E depois espraia-se sobre o federalismo, as negociações que deviam ter continuado com o presidente Senghor, reafirma a fórmula de autonomia progressiva e o esforço desenvolvido na Guiné quanto à africanização das instituições, conservando no seu seio os germe de portugalidade.
Caetano responde a 22 de Março, volta a justificar porque não aceitou a proposta do encontro de Spínola com Amílcar Cabral, seria um precedente de consequências incalculáveis: “E era quanto a esse precedente que eu dizia preferir perder a Guiné por derrota militar, mas combatendo pelo nosso direito, do que entregá-la em negociação mais ou menos feliz”. E desloca o teor da conversa para o facto de o PAIGC ser liderado por cabo-verdianos e que a independência da Guiné levaria a deslocação da guerra para Cabo Verde. Para Caetano, “É na África austral que se joga verdadeiramente o nosso destino ultramarino. Se fosse só a Guiné, tudo seria para nós muito mais fácil”.
Silva Cunha escreve o seu livro “O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril” em 1977, publica-o na Atlântida Editora. Temos aqui outro documento de incalculável valor. O último ministro da Defesa Nacional de Caetano e que esteve no governo no Ministério do Ultramar durante 12 anos tece justificações sobre a grande opção ultramarina, dando uma panorâmica do ambiente internacional do pós-guerra, como se processou a subversão da África portuguesa e as diretrizes para a defesa militar. Aí a páginas 40, refere abundantemente a Guiné: as preocupações de Senghor, quer com a Guiné Conacri quer com a passagem de material do PAIGC pelo seu território. Fala também de preocupações da Nigéria, da incógnita da atitude dos EUA e da tentativa de Senghor contribuir para o cessar da luta na Guiné, isto logo em 1963 e afirma explicitamente: “O Doutor Salazar deu abertura à solução que infelizmente, porém, não chegou a concretizar-se”.
Mesmo depois do corte de relações diplomáticas entre Portugal e o Senegal não pararam as diligências para o fim da Guerra. Foi a Dakar o Dr. Alexandre Ribeiro da Cunha acompanhado pelo inspetor da DGS em Bissau, Matos Rodrigues. Senghor pedia a suspensão das operações militares para poder ter contactos com os chefes do PAIGC e encontrar uma forma aceitável para ambas as partes. “Foi decidido transmitir instruções ao Governador e Comandante-Chefe da Guiné para que evitasse lançar operações ofensivas, limitando-se à defesa contra eventuais ataques dos guerrilheiros”. Factos subsequentes levaram a crer que as diligências do Senegal não interessavam ao PAIGC. Houve ainda encontros entre autoridades senegalesas e portuguesas em Paris, com carácter altamente secreto. Sugeriu-se a escolha de uma personalidade imparcial que pudesse vir a fazer um juízo objetivo sobre a ação do PAIGC e das forças portuguesas com o objetivo último de evitar novos incidentes transfronteiriços. Os contactos seguintes fizeram-se por intermédio do General Spínola. O resultado da reunião foi transmitido em Lisboa: Senghor oferecia-se como medianeiro para obter uma suspensão nas hostilidades, primeiro passo para entabular conversações com o PAIGC. Discutiu-se politicamente o que seriam as consequências desse cessar-fogo. E veio a avaliação feita por Silva Cunha: “Embora se começasse a fazer sentir no país, mas especialmente nas forças Armadas, um certo cansaço da luta, a verdade é que a opinião pública não estava preparada para aceitar uma mudança radical na orientação da política ultramarina”. Realizou-se uma reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional presidida por Américo Tomás para tratar da questão da Guiné. Todos os presentes concluíram não haver razão para seguir as sugestões de Senghor e que eram defendidas acerrimamente por Spínola.
(Continua)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9886: Notas de leitura (359): As grandes Operações da Guerra Colonial (3), edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)
domingo, 13 de maio de 2012
Guiné 63/74 - P9895: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (5): As memórias dos familiares dos ex-combatentes da guerra colonial como trabalho de fim de Curso de Antropologia na FCSH da Universidade Nova de Lisboa
1. Mensagem de Marta Lima, estudante universitária do curso de Antropologia da FCSH da UNL, com data de 8 de Maio de 2012:
Muito boa tarde,
O meu nome é Marta Lima e sou estudante do curso de Antropologia.
Escrevo para pedir uma possível colaboração, e passo a explicar, como trabalho de final de curso estou a escrever um projecto sobre a Guerra Colonial, mais exactamente sobre as memórias dos familiares, dos filhos e filhas dos combatentes, que ficaram por cá, já que o seu papel nesta guerra nunca foi devidamente valorizado.
Para isso, necessitava de fazer algumas entrevistas, a filhos ou familiares de ex-combatentes, e na minha procura teórica para o projecto deparei-me com o seu blog e cá estou a pedir ajuda. Claro está que todas as informações e/ou materiais recolhidos nas mesmas serão apenas e só utilizados para o trabalho, e apenas aquilo acordado com o entrevistado(a).
Sendo assim, agradeceria imenso que se conhecesse alguém disposto a dar-me essa entrevista entrasse em contacto comigo, ou se puder divulgar o meu pedido junto de outros ex-combatentes.
Termino, agradecendo mais uma vez o tempo e disponibilidade.
Com os melhores cumprimentos,
Marta Lima
martalimonete@gmail.com
(+351) 967 166 871
2. Comentário de CV:
Aqui fica tornado público o pedido de colaboração de Marta Lima, que está no final do seu curso de Antropologia, e que está a elaborar um trabalho para o qual serão fundamentais os depoimentos dos familiares dos ex-combatentes, que na retaguarda sofreram e viram, à sua maneira, a guerra do ultramar.
Já serão poucos os pais vivos ou em condições de colaborar, mas há as esposas, os irmãos, as madrinhas de guerra e outros familiares que se podem disponibilizar a ajudar a nossa amiga Marta Lima.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9648: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (4): O stresse pós-traumático de guerra, em estudo na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL)
Guiné 63/74 - P9894: O Nosso Livro de Visitas (136): António Martins Alves, Regimento de Cavalaria 8 - Castelo Branco, 1967/70
1. Mensagem do nosso camarada António Martins Alves que prestou serviço militar no RC 8 de Castelo Branco entre os anos de 1967 e 1970, com data de 8 de Maio de 2012:
Meu caro,
Por acaso, andava a procurar fotografias do RC8, caí no vosso blog, " Blog Tabanca Grande.
Na leitura que fui fazendo encontrei o nome de um ex-furriel miliciano que esteve no RC8, António da Costa Maria e que foi para a Guiné /esquadrão Rec Fox 2640. Pela data (69/71) esteve comigo no RC8.
Eu estive no RC8 entre 67 e 70. Gostava de entrar em contacto com ele.
Há uma página no Facebook - amigos do ex-RC8. Uma das intenções, se ele tem página no FB seria adicioná-lo ao Grupo.
O meu mail: z.zeferino@gmail.com.
No FB a página António Martins Alves.
Agradeço que lhe faça chegar esta notícia.
Os meus parabéns pelo blog.
António Martins Alves
2. Comentário de CV:
Caro camarada António Alves
Já falei telefonicamente com o António da Costa Maria que entrará em contacto consigo.
Julgo que ele não tem página no FB.
Receba um abraço
Carlos Vinhal
Co-editor deste Blogue
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 8 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9868: O Nosso Livro de Visitas (135): José Ferreira, ex-1.º Cabo (Bafatá e Teixeira Pinto, 1967/68)
Meu caro,
Por acaso, andava a procurar fotografias do RC8, caí no vosso blog, " Blog Tabanca Grande.
Na leitura que fui fazendo encontrei o nome de um ex-furriel miliciano que esteve no RC8, António da Costa Maria e que foi para a Guiné /esquadrão Rec Fox 2640. Pela data (69/71) esteve comigo no RC8.
Eu estive no RC8 entre 67 e 70. Gostava de entrar em contacto com ele.
Há uma página no Facebook - amigos do ex-RC8. Uma das intenções, se ele tem página no FB seria adicioná-lo ao Grupo.
O meu mail: z.zeferino@gmail.com.
No FB a página António Martins Alves.
Agradeço que lhe faça chegar esta notícia.
Os meus parabéns pelo blog.
António Martins Alves
2. Comentário de CV:
Caro camarada António Alves
Já falei telefonicamente com o António da Costa Maria que entrará em contacto consigo.
Julgo que ele não tem página no FB.
Receba um abraço
Carlos Vinhal
Co-editor deste Blogue
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 8 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9868: O Nosso Livro de Visitas (135): José Ferreira, ex-1.º Cabo (Bafatá e Teixeira Pinto, 1967/68)
Subscrever:
Mensagens (Atom)