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sábado, 7 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26895: Facebook...ando (83): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte III: A Bissau Velho a renascer das ruinas dos últimos 50 anos...


Foto nº 1  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Sede do BAO - Banco da África Ocidental, rua Guerra Mendes, nº 18A/C 1360 Bissau  (antiga Rua António de Oliveira Salazar) (**)


Foto nº 2A  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Vivenda reconstruída... Do lado direito seria a Rua 12 de Setembro...


Foto nº 2  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Do lado direito, Rua 12 de Setembro (antiga Rua Miguel Bombarda)


 Veja-se  como estava a vivenda em 2007 (Fonte: Bissau Velho | Wikimedia Commons)


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Rua Guerra Mendes, do lado esquerdp... Do lado direito, na perpendicular, é a Rua 24 de Setembro,  paralela à Fortaleza da Amura. (A Rua Guerra Mendes é, por sua vez,  paralela à Av 3 de Agosto, antiga marginal) e perpendicular à Av Amílcar Cabral (a artéria principal, a  antiga Av da República)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Rua Guerra Mendes... Do lado direito da foto fica a ASAPM - Agência de Supervisão de Atividades de Poupança e Microcrédito, criada em 2014 sob tutela direta do Ministério de Economia e Finanças (tem aqui página no Facebook)


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Parece ser a rua Guerra Mendes e ao fundo os centenários  poilões da fortaleza da Amura... Como se vê, ainda há muitos edifícios por reabilitar...


Foto nº 6  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 >  O alcatrão vai chegando aos poucos...



Fotos do álbum de João Melo (ou João Reis de Melo),  ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74) (*)

Fotos (e legendas): © João de Melo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Guiné-Bissau > Bissau Velho > Excerto do mapa do Google (com a devida vénia...), com a localização das Ruas 1, 2, 3 e 4 e outras à volta: Av 3 de Agosto; Av Amílcar Cabral; R 19 de Setembro; R António Nbana; R Guerra Mendes.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)

Legenda:

Av 3 de Agosto (antiga Av Marginal ou R Agostinho Coelho, 1º governador da Guiné,  referência ao 3 de Agosto de 1959, o "massacre do Pijiguiti"]
19S - R 19 de Setembro (antiga Rua Honório Barreto)
AC - Av Amílcar Cabral (antiga Av da República)
AM - R António Nbana (antiga R Tomás Ribeiro)
GM - R Guerra Mendes (antiga R Oliveira Salazar)




Mapa de parte da baixa da velha Bissau (colonial), entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura. A escuro, dois prédios que pertenciam a Nha Bijagó. Fonte: António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il.).
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Notas do editor:

(*) Vd. postes da série:


Vdf. também poste de 4 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20311: Memória dos lugares (396): Roteiro de Bissau Velha: ruas antigas e ruas atuais, onde se localizavam algumas casas comerciais do nosso tempo: café Bento, Zé da Amura, Pintosinho, Pinto Grande / Henrique Carvalho, Taufik Saad, António Augusto Esteves, Farmácia Moderna...

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26894: In Memoriam (549): Sarg-Mor Inf Ref Vítor Manuel da Costa (1949-2025), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3328 (Bula, 1971/73) (José Câmara)

I N   M E M O R I A M

Sargento-Mor Inf Ref Vítor Manuel da Costa (1949-2025)
Ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3328 (Bula, 1971/73)

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1 - Comentário de José Câmara

Victor Manuel da Costa, Sargento-Mor Inf Ref, faleceu no dia 1 do corrente mês. Tinha 76 anos de idade.

Como Furriel Miliciano integrou a CCAÇ 3328/BII17. Fez a sua comissão de serviço militar na Província Ultramarina da Guiné entre o dia 21 de Janeiro de 1971 e o dia 7 de Janeiro de 1973. Bula foi a zona de acção da sua Companhia Militar.

Após a sua comissão de serviço na Guiné enveredou pela vida bancária. Alguns anos mais tarde regressou ao serviço militar até à sua aposentação.

Numa nota pessoal, conheci o Victor Costa em Tavira, mas foi no BII17 que nos tornamos amigos, uma amizade que o tempo se encarregou de cimentar. Ao longo dos últimos anos tivemos a oportunidade de nos encontrarmos para aquele abraço de saudade.

Um abraço solidádio para os seus familiares e amigos.

Descansa em Paz, Victor, que bem mereces. Até um dia destes...
José Câmara


2 - Comentário de Henrique André, com o qual concordo plenamente e que descreve muito bem a pessoa que era o Victor Costa, para mim um bom irmão.

"É meu doloroso dever comunicar aos sócios do Núcleo de Faro da Liga dos Combatentes, amigos e comunidade farense o falecimento do nosso grande amigo e camarada Vitor Costa, Sargento-Mor de Infantaria do Exército, ferido em combate na Guiné e também ex-bancário que nos últimos anos desempenhando funções de tesoureiro na Direção da Associação de Deficientes das Forças Armadas em Faro.

Queremos também apresentar as nossas mais sentidas condolências a toda a família, com um carinho especial à sua filha que tanto o orgulhava. Foi sempre desde que nos conhecemos, após a chegada do Ultramar, um grande amigo sempre disponível para ajudar os outros, com aquela calma, tranquilidade e humor, que é natural em qualquer alentejano como ele se prezava ser, um Ser Humano fantástico.

É por isso com grande mágoa que vimos partir mais um amigo e que tanto nos ajudava nas nossas causas. Amanhã de manhã o seu corpo chegará à Igreja de S. Luís (terça-feira dia 3 de Junho) às 11h00, onde pelas 15h00 será rezada missa de corpo presente e posterior saída para o Talhão dos Combatentes, no Cemitério Municipal da Esperança (Velho) em Faro.

Que Repouses em Paz."



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3. Comentários do editor:

Adaptação do texto e selecção das fotos a partir da página do facebbok dos Antigos Combatentes Açorianos, gerida pelo nosso camarada José Câmara

A tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné associa-se à dor dos familiares do nosso camarada Vítor Costa, aos quais envia as mais sentidas condolências.

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Nota do editor

Último post da série de 9 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26783: In Memoriam (548): Recordar o meu amigo Carlos de Matos Gomes (1946-2025), o escritor Carlos Vale Ferraz (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26893: Notas de leitura (1805): "Crepúsculo do Império, Portugal e as guerras de descolonização", coordenação de Pedro Aires Oliveira e João Vieira Borges; Bertrand, 2024 (Mário Beja Santos)



Obra de referência sobre os últimos anos do colonialismo português

Mário Beja Santos

Publicado em novembro de 2024, pela Bertrand, "Crepúsculo do Império, Portugal e as guerras de descolonização", coordenado por Pedro Aires Oliveira e João Vieira Borges, este volume de quase oitocentas páginas, que reúne a colaboração de mais de três dezenas de autores, destina-se a familiarizar o público com algumas das investigações mais inovadoras acerca das guerras coloniais de Portugal. Beneficia, naturalmente de avanços historiográficos facilitados pela abertura dos arquivos portugueses.

“Instituições como o Arquivo Histórico Militar e o Arquivo da Defesa Nacional têm recebido, nos últimos anos, significativas incorporações, e funcionam segundo normas que, em geral, se alinham com as políticas de acesso arquivístico mais abertas no plano internacional. 

Como a história das guerras coloniais não se cinge apenas à sua dimensão militar e operacional, outros arquivos têm sido procurados pelos investigadores, com destaque para os acervos depositados nos Arquivos Nacionais Torre do Tombo e nos Arquivos Histórico-Diplomático e Histórico-Ultramarino. 

A isto teremos também de acrescentar toda uma pletora de arquivos internacionais, que tanto inclui os antigos aliados ocidentais de Portugal como os de vários ex-satélites da URSS que a partir de 1990 adotaram regras mais abertas no tocante aos acervos dos seus serviços diplomáticos e de inteligência (como a República Checa), ou a constelação de países do agora chamado Sul Global que desempenharam papel de relevo na solidariedade e apoio aos movimentos independentistas das colónias portuguesas”.

Vejamos, em síntese, a estrutura da obra:

A primeira parte intitula-se “Enquadramento”, aqui se procura estabelecer um quando contextual das guerras coloniais portuguesas em termos políticos, estratégicos e militares; 

a segunda parte denomina-se “Economia e Sociedade”, aqui explora-se a dimensão económica das guerras e os seus impactos sociais; 

a terceira parte obedece ao mote “Mobilização, Luta e Propaganda”, procura familiarizar os leitores com diversos aspetos da conduta do conflito, numa visão que procura conciliar uma abordagem analítica e algum sentido cronológico;

 “Dor e Sofrimento” é a quarta parte, aqui se enunciam os aspetos mais dolorosos do conflito, aqueles que resultam das baixas em operações militares, atrocidades, situações de cativeiro. 

A quinta e última parte é “Fim do Império”, são duas sínteses sobre as vicissitudes deste processo, primeiro na metrópole e em África, e depois nos territórios onde o nível de empenhamento militar português foi comparativamente menor do que em África, mas nem por isso menos gerador de consequências dramáticas, basta recordar Timor.

Sendo totalmente inviável alargar comentários a todos os diferentes comentários, vejamos, a título meramente ilustrativo o modo como os investigadores abordaram certos temas:

“Insistir na tese da vitória traída pode ser politicamente conveniente ainda hoje, mas é insistir em não querer perceber que uma guerrilha não ter por objetivo uma vitória convencional. Ela aposta na atrição prolongada da vontade de combater de um inimigo à partida muito mais forte. As guerrilhas independentistas sabiam não ser realista, nem tiveram como objetivo marchar sobre Lisboa, Paris ou Londres, pois não precisavam disso para atingir o seu objetivo estratégico: transformar o colonialismo num ativo tóxico na política internacional e demasiado custoso em vidas e despesas para ser viável a prazo na política interna das potências colonizadoras.”

“Ponto determinante foi a incapacidade de o poder político transmitir às suas Forças Armadas o que pretendia delas, isto é, o que considerava uma vitória e qual o seu objetivo. Esta incapacidade está plasmada nas cartas de comando entregues pelo Governo aos generais quando os nomeava comandantes-chefes. São todas elas idênticas e do tipo de ordens gerais: manter a ordem no território, colaborar com as autoridades civis e assegurar a relação pacífica entre os habitantes. Com esta latitude de objetivos cada general deduziu a sua missão. E daí cada um ter agido de acordo com a sua análise.

A perda da vontade de combater é uma das condições para o fim de uma guerra. Os capitães preferiram derrubar o regime, antes que o regime fizesse deles os bodes expiatórios da sua incapacidade, como acontecera na Índia. Preferiram defender o seu povo antes que o regime levasse o povo à exaustão.

O 25 de Abril de 1974 também resulta do sentimento de desconfiança dos militares relativamente ao poder político da ditadura do Estado Novo e dos seus dirigentes.”


No ensaio dedicado à estratégia e liderança do Conselho Superior de Defesa Nacional, abordando-se a situação na Guiné no período que vai de novembro de 1969 a maio de 1973, escreve-se:

“A situação na Guiné era a mais crítica. Na reunião de maio de 1971, Spínola deixou claro não ser possível vencer militarmente, levantando forte oposição dos ministros da Defesa e do Ultramar, que preconizavam a possível solução política teria de ter uma vitória no campo militar. Para Spínola, a solução ultrapassava largamente a possibilidade de uma vitória militar, e apenas no quadro de uma plataforma diplomática e política era possível encontrar uma solução de fundo para a Guiné. Qualquer solução que fosse orientada para a vitória militar tinha apenas como consequência e exaustão de recursos humanos, materiais e financeiros. Sem demonstrar aberta concordância com Spínola, Caetano considerava que o esforço financeiro suportado era muito elevado e não tinha a certeza de que a economia do país pudesse continuar a suportá-lo por muito mais tempo.”

Abordando a condição em que ficaram os combatentes africanos que tinham sido leais a Portugal, vejamos o que se escreve sobre a Guiné:

“O elevado número de guineenses ao serviço de Portugal, a sua reconhecida destreza militar, e a própria notoriedade alcançada por muitos deles num território com aquelas dimensões, tornava o PAIGC particularmente receoso quanto à desmobilização daqueles elementos. O seu desarmamento começou a ser feito a partir de 19 de agosto, imediatamente após o acordo de independência, sob a supervisão do Brigadeiro Carlos Fabião. Esse processo deveria ter lugar contra o pagamento de seis meses de salário e uma guia de marcha que habilitaria os antigos combatentes a apresentarem-se ao serviço nas Forças Armadas do Novo Estado, a partir de janeiro de 1975.

A possibilidade de os militares guineenses das Forças Armadas portuguesas, na qualidade de cidadãos da República da Guiné-Bissau, serem elegíveis para o pagamento de pensões de sangue, invalidez e reforma por parte do Estado português estava previsto no Acordo de Argel, mas nos anos seguintes nenhum programa completo para concretizar essa promessa seria implementado. 

A queda em desgraça do setor spinolista da Revolução, na sequência dos acontecimentos do 11 de março de 1975 em Lisboa, trouxe graves consequências para estes elementos, particularmente para os que se tinham distinguido em unidades de operações especiais.

 Os serviços de segurança do novo Estado, organizados por elementos formados na URSS, RDA e Checoslováquia, terão sido instrumentais na identificação e eliminação de vários ex-comandos. Dados revelados em 1980, mencionam 53 fuzilamentos ocorridos em 1965, mas as matanças conheceriam um novo pico em 1978, a propósito de rumores que apontavam para o envolvimento de antigos elementos do Exército colonial num alegado golpe de Estado liderado por Malam Sanhá, um ex-comando.”

Livro essencial, portanto.

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Nota do editor

Último post da série de 2 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26875: Notas de leitura (1804): "A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa", por António Duarte Silva; Afrontamento, 1997 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 – P26892: Memórias de Gabú (José Saúde) (101): A nossa passagem como antigos combatentes (José Saúde)

1.   O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem rebuscada nas suas memórias.

As minhas memórias de Gabu

A nossa passagem como antigos combatentes


A nossa passagem como antigos combatentes numa Guiné que escondia numerosos percalços, revesti-se de pequenos/grandes detalhes onde a aventura noturna tantas vezes predominava. Aliás, esta pequena introdução leva-me, em particular, a muitas noites passadas debaixo de um calor intenso, ou sob o frio enérgico pela madrugada fora, na época do cacimbo, mas cuja prioridade passando ministraram pelo resguardar de um proficiente descanso de camaradas que, em suas camas, descansavam as suas almas.

Mantenho comigo, para além dos habituais sonhos da guerrilha, pedaços de vida que ainda hoje guarda num baú, embora carunchoso, que, amiúde, me assaltam a memória. Eis, pois, um relato de uma noite de luar cujo objetivo passar por verificar se as secções de tropas guineenses estavam, ou não, atentas a eventuais entradas de intrusos em Nova Lamego.

Uma narrativa que trago no meu livro -GUINÉ/BISSAU 1973/1974 UM RANGER NA GUERRA COLONIAL -, Edição Colibri, Lisboa.

Noites em que os estridentes filhos da velha Daimler acordavam o pessoal.


O vigiar noturno à população e, naturalmente, ao quartel, de seções de camaradas que garantem a segurança

As entradas, ou saídas, das estradas que ligavam Nova Lamego a Bafatá, a Pirada e a Piche, eram vigiadas por secções de camaradas que ao longo da noite asseguravam a segurança dos companheiros que no seu “santo” descanso de almas, não obstante a certeza de que ao longo da noitada estes eram, de quando em vez, subidas pelos estridentes filhos que o velho Daimler lançava para o infinito.

Esta missão, obviamente estendível à competência taciturna a um breu que escondia incertezas, concorrência ao sargento-dia que utilizou amiúde essa tal obsoleta Daimler para se deslocar às frentes operacionais que, entretanto, tinham sido previstas para o cumprimento do dever militar.

E se a entrada de Pirada era da competência de uma secção de milícias guineenses, o mesmo não sucedia com as vigílias das estradas de Bafatá e Piche, sendo estas da competência de uma secção de camaradas pertencentes ao grupo que normalmente eu e o Rui, ambos rangers, comandávamos.

Claro, porém, é que a maior parte da noite a vigia se concentrava na estrada que tinha como rumo Bafatá. No lado oposto, ou seja, na saída para Piche, precisamente onde se localizava a Fonte da Várzea do Cabo, local de abastecimento de água ao nosso quartel, as vigilâncias eram mais espaçadas.

Mas as prevenções noturnas do sargento-dia estendiam-se, também, pelos limites da povoação. Ora era para prevenir alguma incursão à pista velha de aviação por parte de um qualquer endiabrado prevaricador, local onde o pessoal das antiaéreas se instalavam, ora com uma visita surpresa ao âmago do burgo civil tendo em vista o garantir uma maior segurança à população.



A vigilância da estrada que se dirigia a Pirada era da competência das milícias locais. Aliás, a este corpo militar transmitiu o Jaló, o tal soldado dúbio, pachorrento e pedinchão e que após a tomada do poder territorial pelo PAIGC logo caiu bem alto e de viva voz “aqui d'el rei” e lá se safou a uma presumível chacina de que foram vítimas muitas das suas anteriores camaradas.

Aconteceu que uma bela noite pediu ao condutor da Damler que deixou uma máquina de guerra antiquada longe do lugar onde essa seção de milícias se concentrava de vigilância, e lá fomos a pé ao encontro dos soldados guineenses que, em princípio, estariam alerta para um qualquer movimento estranho que porventura ocorresse.

Alertei para a delicadeza aventura, pois o breu da madrugada escondia eventuais percalços, logo impunha-se uma proximidade de cuidadosa. Passos e mais passos em frente e uma presumível ocorrência das milícias nada. Agora, a imprevisibilidade de tamanho silêncio dava aso a um rol de cuidados redobrados.

O certo é que chegámos ao local e qual não foi o nosso espanto quando todo o pessoal ressonava, sonhando, quiçá, com a santa paz dos anjos e nada se apercebendo da nossa aproximação. De facto, tinham as armas ao seu lado, é certo, mas estas, tal como os seus “patronos”, descansavam na paz dos anjos e em completa deserção. Tive para sacar uma e pirar-me de imediato, todavia recebi que o atrevimento desse presumível e ocasional resvalasse disparate para o torto. Recei e “travei” a intenção que, entretanto, me ia na alma.

Falando baixinho com a camarada que me acompanhou eis que num repente o Jaló acordou e de olhos entre abertos, mas assustando-se com a nossa presença imprevisível, logo disse: “furrié disculpe”! Entretanto os outros camaradas deram uma volta ao corpo e apoiaram a navegação no mundo da utopia.

Claro que não houve estrilhos, apenas alertei que a situação por mim observada jamais voltaria a acontecer, uma vez que aquela entrada que exigiava a Pirada, apresentava-se algo arriscado. Com a voz embargada o Jaló penitenciou-se e o perdão foi aceito.

Neste contexto, o assunto “morreu” ali, mas a camarada onde o pessoal da milícia dormitava se apresentou, naquela noite, como um sublime palco onde os “anjinhos descansavam numa profunda serenidade”.

O Jaló atrapalhado, acordou os camaradas e botando palavra em fula, lá fez a sua palestra aos companheiros que entrementes abriram as pestanas e depararam-se com a visita inesperada do furriel numa noite em que o luar iluminava e o imprevisto merecia um cuidado literalmente redobrado.

Coisas da guerra numa Guiné onde a imprevisibilidade do instante seguinte se apresentou sempre como uma incógnita!...

Um abraço, camaradas 

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

15 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 – P24657: Memórias de Gabú (José Saúde) (100): Os homens do volante. A minha singela homenagem aos condutores. (José Saúde)

Guiné 61/74 - P26891: S(C)em Comentários (71): Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador" (Cgherno Baldé, Bidssau)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) >   c. 10 de janeiro de 1970 > O Cherno Rachide em visita religosa a Bambadinca. A personagem central, vestida de branco e "gorro" preto, que parece estar a presidir a uma cerimónia religiosa islâmica,  é sem dúvida o Cherno Rachide que eu conheci em Bambadinca... (A foto do leiriense António T. Roda, meu camarada da CCAÇ 12, campeão nacional de damas, dirigente federativo, que vive em Setúbal,  não traz legenda: ampliando-a, parece que o imã está a contar notas e moedas que recebeu, oferta dos crentes, a par de nozes de cola.)

Recordo-me de o comando do batalhão, na altura sediado em Bambadinca, o BCAÇ 2852 (1968/70), ter  mandado armar uma tenda, com tapetes e almofadões, na parada do aquartelamento (a localidade era um importante posto administrativo e porto fluvial), para receber condignamente não só as autoridades locais, civis e militares, como também os seus fiéis...  

Ele virá a falecer, em Aldeia Formosa, em setembro de 1973, em  dia que não podemos precisar (nem com a juda do assistente da IA...), mas seguramente antes do 24 de setembro (em que o PAIGG, diz-se, terá proclamado unilateralmente a independência do território... em "Madina do Boé"!). 

O comando do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) organizou uma coluna de transporte  para os seus fiéis do regulado de Badora poderem ir prestar-lhe a última homenagem em Aldeia Formosa (Quebo)...  No meu tempo, em 1969, o troço Saltinho-Aldeia Formosa estava interdito... Hoje, por estrada alcatroada, são 87 km, mas na época (1969) só havia o troço alcatroado Bambadinca-Bafatá.

 
Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali >  Aldeia Formosa (Quebo) > Janeiro de 1973 > Tabaski ou festa do carneiro > O Cherno Rachide, acompanhado de um dos seus filhos (possivelmente o seu sucessos, Aliu),  presidiu à cerimónia, ele próprio degolou (ou ajudou a degolar) o carneiro. Por detrás de si,  o cap mil (e nosso grão-tabanqueiro) Vasco da Gama, cmdt da CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", Cumbijã, 1972/74). 

Foto (e legenda): © Vasco da Gama (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Cherno Baldé (Bissau)



1. Comentário do nosso colaborador permanente, Cherno Baldé (Bissau),  ao poste P26880 (*)


A morte do Imã a que se refere o Carlos Filipe Gpnçalves,  é a do bem conhecido chefe religioso de Quebo (Aldeia Formosa), Cherno Rachide, que morreu em setembro de 1973 e não no Gabu, como ele refere. 

E, ao contrario do que muitos militares portugueses da época pensavam,  ele nunca foi um agente duplo, era sim um prestigiado sábio muçulmano, versado em letras corânicas,  entre outros conhecimentos esotéricos. Assim como não era o chefe hierárquico de nenhuma comunidade de religiosos,  como acontece em outras confissões religiosas, pois nesta religião existe uma reconhecida descentralização que faz de cada comunidade e de cada mesquita uma entidade quase autónoma, sendo que é a força da sua dinâmica em movimento em permanência,  assim como é a sua grande fraqueza enquanto entidade que deveria ser unida e coesa no seu todo, o que não acontece no seu caso,  dai a  diversidade e pluralidade nas tomadas de decisões que muitas vezes a afetam e dividem, contrariamente a muitas outras confissões monoteístas.

Dizem que o Cherno Rachide morreu em 1973 para não assistir ao advento da independência com o PAIGC como poder dominante no país. Sorte foi a sua que teve essa visão reservada só aos sábios e visionários, também eu,  se tivesse dom e essa capacidade,  preferiria morrer a assistir a essa "heresia" que, na Guiné-Bissau, chamaram de libertação nacional. 

Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador". E foi um bom amigo do General Spinola, embora a sua familia fosse originária do Futa-Djalon.

Um abraço amigo,

Cherno AB (**)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 4 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26880: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte VII: Os "turras" têm agora um míssil que abate aviões e helicópteros

Guiné 61/74 - P26890: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (6): Exportar caju e importar arroz: uma fatalidade?



Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > "Chegou a hora do Caju" > Data de Publicação: 9 de maio de 2010 > Data da foto: 24 de abril de 2010. Palavras-chave: Segurança alimentar .

Foto (e legenda) © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010).
 Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]

(http://www.adbissau.org/adbissau/fotodasemana/2010.05.09.htm) (link descontinuado) (*)

Legenda que tinha o inegável cunho crítico, original e pessoal,  do nosso querido amigo Pepito, engº agr. Carlos Schwarz (Bissau, 1949-Lisboa, 2012), então diretor executivo da ONG AD. Faz muita falta ao seu país. Infelizmente, os bons irãs não o protegeram.

"Aí está! Chegou a hora do caju!

"Anualmente, por esta altura, o caju assume a sua omnipresença e todos se envolvem freneticamente nesta actividade, excluindo bem claro, os que estão mais preocupados em dar uso às fardas e às armas.

"Para além da castanha de caju, vendida ou trocada por arroz, num processo iniciado há mais de 20 anos e que subverteu por completo a lógica da segurança alimentar nacional, a qual deixou de se basear na nossa produção de arroz para passar a contar com a importação deste cereal, o que custou o ano passado 85 milhões de dólares. (Negritos nossos)

"Igualmente mobilizadora é a comercialização de vinho de caju extraído da polpa e que, uma vez introduzido em bidões de plástico de 20 litros, é comercializado, transportado e… arrastado em camiões por todo o país."




Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Um trecho do porto de mar em Bissau quando em maré baixa. Ao fundo, um navio graneleiro chinês a fazer descarga de arroz... No passeio da avenida marginal do nosso tempo (hoje, e desde 1975, avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria), bons carros, sinal de prosperidade (que é para alguns, não para todos)...

Fotos (e legenda): © João de Melo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


I. A Guiné-Bissau é um país independente. É membro da CPLP. Temos uma relação de amizade com este país lusófono e o seu povo. Não devemos imiscuir-nos nos seus assuntos internos. Mas os seus problemas e desafios não nos são (nem devem ser)  estranhos ou indiferentes.  Daí esta série, "A Guiné-Bissau, hoje: factos e números" (**).

(...) O caju é uma fruta tropical originária do Nordeste do Brasil. Ele foi introduzido na África, incluindo a Guiné-Bissau, pelos portugueses no final do século XVIII.

Na Guiné-Bissau, o caju tem sido historicamente plantado ao longo das estradas e hoje forma vastas florestas de cajueiros, tornando-se o principal produto de exportação do país e um pilar fundamental da sua economia. (...) (Gemini IA / Google)


Pergunta 1  - Valores da exportação de caju e da importação de arroz, na Guiné-Bissau?

Resposta do assistente de IA / Gemini, Google:

A economia da Guiné-Bissau é fortemente dependente da exportação de caju e da importação de arroz

Exportação de Caju:

  • Principal produto: A castanha de caju é o pilar da economia guineense, representando mais de 90% do total das exportações nacionais.
  • Volume de exportação:
    • Em 2022, o volume de exportação foi de 200.000 toneladas.
    • A Guiné-Bissau está pronta para exportar 130 mil das 200 mil toneladas de castanha de caju que espera vender em 2025.
  • Preço:
    • O preço base de venda da castanha de caju para a campanha de 2025 foi fixado em 410 francos CFA (0,63 euros) por quilograma. Em 2024, o preço base foi de 350 francos CFA, mas chegou a 700 francos CFA devido à procura.
    • Em 2022, o preço de venda efetivo foi de 363 FCFA/kg, o equivalente a 626 USD/tonelada.
  • Destino: Mais de 95% da castanha de caju exportada pela Guiné-Bissau tem como destino a Índia.

Importação de Arroz:

  • Consumo: O arroz é o principal alimento básico da população guineense, representando cerca de 80% do consumo de cereais no país.
  • Volume de importação:
    • A Guiné-Bissau importa anualmente mais de 200 mil toneladas de arroz.
    • A produção nacional de arroz está longe de satisfazer as necessidades do consumo, que é de cerca de 200.886 toneladas por ano, com uma produção que não passa das 112 mil toneladas.
  • Valor:
    • Em abril de 2024, o governo decidiu aumentar os preços do arroz devido à incapacidade de continuar a subvencionar as empresas importadoras.
    • Um saco de 50kg de arroz tipo "nhelém" 100% partido passou a custar 21.500 francos CFA (cerca de 32 euros).
    • O arroz da qualidade 5% partido (grosso) passou a custar 24.000 francos CFA.
    • Entre novembro de 2023 e abril de 2024, o governo gastou mais de quatro mil milhões de francos CFA (cerca de 6 milhões de euros) para financiar a subvenção do arroz no país.

É importante notar que há também um problema de contrabando de caju para países vizinhos, como Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri, o que afeta as receitas do Estado. O governo tem reforçado a vigilância nas fronteiras para combater essa prática.


Pergunta 2 - Análise SWOT da relação Caju (Exportação) / Arroz (Importação) na Guiné-Bissau.

Resposta do assistente de IA / Gemini, Google:

Análise SWOT da Relação Caju (Exportação) / Arroz (Importação) na Guiné-Bissau

A relação entre a exportação de caju e a importação de arroz na Guiné-Bissau é um ponto central da sua economia, com implicações significativas para a segurança alimentar, balança comercial e desenvolvimento sustentável. Abaixo, é apresentada uma análise SWOT detalhada dessa dinâmica:

Forças (Strengths)

  • Potencial de Exportação de Caju: O caju é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau, gerando divisas estrangeiras cruciais para a economia. A procura global por castanha de caju tem-se mantido robusta.
  • Adaptação do Caju ao Clima: O caju é uma cultura bem adaptada às condições climáticas da Guiné-Bissau, exigindo relativamente poucos fatores de produção  e sendo resiliente a períodos de seca.
  • Geração de Emprego na Cadeia do Caju: A colheita e o processamento inicial do caju (ainda que limitados) geram empregos, especialmente em áreas rurais, contribuindo para a subsistência de muitas famílias.
  • Disponibilidade de Terras para Arroz: A Guiné-Bissau possui extensas áreas de várzeas e bolanhas com potencial para o cultivo de arroz, uma cultura alimentar fundamental.
  • Importância do Arroz na Dieta Local: O arroz é a base da dieta da população guineense, o que garante uma demanda interna constante e justificada para o seu consumo.

Fraquezas (Weaknesses)

  • Dependência Excessiva do Caju: A economia da Guiné-Bissau é excessivamente dependente da exportação de caju, tornando-a vulnerável a flutuações nos preços internacionais e a choques externos.
  • Baixo Valor Agregado do Caju: A maior parte do caju exportado é em bruto, o que significa que o país perde a oportunidade de agregar valor através do processamento industrial (descasque, torra, embalagem), limitando os ganhos económicos e a criação de empregos qualificados.
  • Vulnerabilidade à Flutuação de Preços: Os preços do caju no mercado internacional podem ser voláteis, impactando diretamente as receitas de exportação e a rendimento dos produtores.
  • Elevada Dependência da Importação de Arroz: A Guiné-Bissau importa uma parcela significativa do arroz que consome, tornando-a vulnerável a choques nos preços internacionais do arroz, flutuações cambiais e interrupções na cadeia de suprimentos.
  • Baixa Produtividade do Arroz: A produção interna de arroz é frequentemente baixa devido a técnicas agrícolas tradicionais, falta de acesso a sementes melhoradas, fertilizantes e sistemas de irrigação adequados.
  • Infraestrutura Deficiente: A infraestrutura precária (estradas, portos, eletricidade) dificulta o escoamento do caju e o transporte do arroz importado para o interior do país.
  • Financiamento Limitado: O acesso limitado a financiamento para agricultores, tanto para o caju quanto para o arroz, impede investimentos em melhorias de produtividade e processamento.

Oportunidades (Opportunities)

  • Agregação de Valor ao Caju: Investir no processamento local do caju pode aumentar significativamente as receitas de exportação, gerar empregos qualificados e promover o desenvolvimento industrial.
  • Diversificação de Mercados para o Caju: Buscar novos mercados para o caju pode reduzir a dependência de um pequeno número de compradores e estabilizar as receitas.
  • Aumento da Produtividade do Arroz: Adoção de novas tecnologias agrícolas, sementes melhoradas, técnicas de irrigação e formação para os agricultores pode impulsionar a produção interna de arroz e reduzir a necessidade de importação.
  • Desenvolvimento de Cadeias de Valor Locais: Fortalecer as cadeias de valor do caju e do arroz, desde a produção até o consumidor final, pode criar novas oportunidades de negócio e empregos.
  • Cooperação Regional e Internacional: Parcerias com países vizinhos e organizações internacionais podem facilitar o intercâmbio de conhecimentos, tecnologias e financiamento para o setor agrícola.
  • Investimento em Infraestrutura: Melhorias na infraestrutura de transporte e armazenamento podem otimizar o escoamento do caju e a distribuição do arroz.
  • Promoção de Práticas Agrícolas Sustentáveis: Implementar práticas agrícolas que melhorem a fertilidade do solo e a gestão da água pode aumentar a resiliência da produção de caju e arroz às mudanças climáticas.

Ameaças (Threats)

  • Flutuações nos Preços Internacionais: A volatilidade dos preços do caju e do arroz no mercado mundial pode impactar negativamente a balança comercial e a segurança alimentar.
  • Mudanças Climáticas: Secas, inundações e outras condições climáticas extremas podem afetar a produção de caju e arroz, colocando em risco a segurança alimentar e as receitas de exportação.
  • Concorrência Internacional: A Guiné-Bissau enfrenta concorrência de outros países produtores de caju e arroz, o que pode pressionar os preços e a participação de mercado.
  • Barreiras Comerciais: Novas tarifas ou regulamentações comerciais impostas por países importadores podem afetar negativamente as exportações de caju.
  • Instabilidade Política e Social: A instabilidade pode perturbar as cadeias de produção e distribuição, afetando tanto a exportação de caju quanto a importação e distribuição de arroz.
  • Doenças e Pragas: O surgimento de doenças ou pragas que afetam as culturas de caju ou arroz pode causar perdas significativas na produção.
  • Dependência de Agentes Externos: A forte dependência de intermediários na cadeia de valor do caju pode resultar em menores retornos para os produtores locais.

Conclusão

A Guiné-Bissau enfrenta um desafio complexo na gestão da sua relação caju/arroz. Embora o caju seja uma força económica, a sua dependência excessiva e a falta de valor acrescentado representam vulnerabilidades significativas. 

Por outro lado, a importação maciça de arroz sublinha uma fraqueza na segurança alimentar. 

As oportunidades residem na agregação de valor ao caju, na diversificação da produção agrícola e no aumento da produtividade do arroz. No entanto, o país deve estar atento às ameaças externas, como as flutuações de preços e as mudanças climáticas, e internas, como a instabilidade política e a infraestrutura deficiente.

Para um futuro mais sustentável, a Guiné-Bissau precisa de uma estratégia integrada que promova a diversificação económica, o aumento da produtividade agrícola (especialmente do arroz), o processamento local do caju e o investimento em infraestrutura

A resiliência económica do país dependerá da sua capacidade de transformar estas fraquezas e ameaças em oportunidades de crescimento e desenvolvimento.

(Perguntas, Revisáo / fixação de texto: LG / Respostas,  Negritos: Gemini IA)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6376: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (14): Chegou a hora do caju... e do vinho de caju!

(**) Último poste da série > 17 de junho de 2022 >
Guiné 61/74 - P23360: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (5): A principal fonte de energia (c. 85%) ainda é a proveniente da biomassa (lenha, carvão vegetal...)

Guiné 61/74 - P26889: Parabéns a você (2384): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista - STM/CTIG (Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74)

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Nota do editor

Último post da série de 5 de Junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26883: Parabéns a você (2383): João Moreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26888: (In)citações (272): "A guerra nunca acaba, fica connosco" (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, QueboMampatá e Empada, 1968/70) com data de 2 de Junho de 2025:


"A guerra nunca acaba, fica connosco"
Arturo Pérez-Reverte

Era eu um jovem, feito homem, quando fui convocado para prestar o serviço militar. Passado um ano, fui forçado a partir para a Guiné (hoje, República da Guiné-Bissau) para, como diziam os mandantes da Pátria, defender o solo pátrio do ultramar, por outras palavras; defender a soberania portuguesa, e porque não; os interesses dos senhores do grande capital.

Tinha duas hipóteses: aceitar, a contragosto, e pegar em armas, ou despedir-me da família, dos amigos, da Pátria que me viu nascer, e fugir para o estrangeiro, até ao fim da vida, sob o risco, de no caso de ser preso, partir de imediato para os locais onde a guerra era mais impetuosa.
Empada - José Teixeira escrevendo

Apenas dois anos dados à Pátria, os quais rapidamente recuperávamos, graças à nossa juventude, diziam os mandantes.

Mas não foi bem assim. Andei dois anos perdido, é um facto. Vivi situações de difícil descrição. Vi morrer, sem poder valer. Salvei vidas de militares e civis vítimas da guerra que ninguém queria. Salvei vidas de crianças (bebés) com crises de paludismo, que atingiam 42ºC de temperatura corporal. Consegui fazer daqueles dois anos um tempo de vitórias e algumas derrotas, de algumas alegrias no meio de muito sofrimento. Vivi momentos em que senti a morte a meu lado, nos estilhaços cravados na terra a centímetros da minha cabeça, nas balas que passavam a assobiar e se cravavam na árvore, onde me protegia, da mina anticarro que destruiu a viatura da qual tinha saltado segundos antes…

Passados dois anos regressei à “mãe pátria” e tentei esquecer aquele amargurado tempo que nunca mais passava, mas a guerra ficou cá dentro, e nunca mais acabou.

Regressei com uma sensação de vazio dentro de mim, e encontrei vazios muitos dos espaços, onde antes de partir, centrava a minha vida. Até a família, apesar do intenso calor humano e amor, com que fui recebido, estava diferente. Tinham feito caminhos que eu não palmilhei. Sentia-me estranhamente só. Os amigos e amigas tinham partido para outras aventuras onde não eu estive. Perdi-os. Já não tinha lugar junto deles. Estava com um atraso de dois anos. Tive de conquistar de novo, a pulso, o meu lugar, onde me foi possível.

Do emprego recebi um não. Não havia lugar para mim. Tive de aceitar a parca indemnização que me ofereceram e partir para outra aventura. Na valorização académica, foi um começar de novo, com muito esforço. A mente parece que tinha adormecido e recusava-se a retomar o caminho da aprendizagem que precisava de fazer para construir o futuro.

Tantas outras barreiras que tive de ultrapassar para me encontrar!

Será que me consegui encontrar? Não!

Fui caminhando ao meu encontro. Reconstruir a vida era o desafio mais cativante e absorvente. Encontrar caminhos novos, caminhos diferentes, seguir novas pistas e sorrir para a esperança. Uma vida longa, com muitos momentos gratificantes, faz-me sentir um homem realizado, diferente do jovem que partiu para a Guiné.

Dentro de mim, tentava apagar os resíduos da guerra, mas quando pensava que tinha enterrado uns, apareciam outros. E, assim tem sido pela vida fora.

Recordo que quinze dias depois de regressar apareci debaixo da cama, sem saber como fui lá parar. Apenas uma porta tinha batido com um pouco de violência, provocada pelo vento.

Nos primeiros tempos tentava recusar-me a pensar na Guiné. Nem sequer falar ou ouvir falar de guerra. Qualquer cena de guerra na TV me angustiava. Os meus filhos dizem (muito mais tarde) que me viam chorar frente à TV a preto e branco, quando passava filmes de guerra, ou reportagens sobre conflitos armados, que infelizmente continuaram a surgir em várias partes do mundo).

Com a Revolução de Abril, surgiu como que um abafado silêncio, talvez medo, perante as correntes que denunciavam a guerra colonial e os seus efeitos, enquanto defendiam, e muito bem, a autodeterminação e independência para as colónias. Nós, os veteranos que tínhamos sido forçados a viver essa guerra, sentíamos uns olhares acusativos, como fossemos nós os culpados.

Depois, surgiu uma necessidade tremenda de falar, de contar o que me tinha acontecido, mas logo notei que não era compreendido. As pessoas não conseguiam entender. Ouviam. Ouviam… como para mim bastasse que ouvissem. Nem eu sabia o que queria com aqueles desabafos.

Passados cerca de vinte anos senti a carência das amizades que nasceram e frutificaram naqueles dois anos, os camaradas de aventura, os companheiros da minha Companhia Militar, e toca a tentar encontrá-los. Cerca de cinquenta atenderam a chamada. Três não responderam. Tinham tombado para sempre na Guiné. Outros já tinham partido no caminho que não tem retorno. Muitos, tinham emigrado. Houve, também, quem tentasse pôr uma pedra definitiva sobre os tempos de guerra, mas o encontro fez-se, e vieram as mulheres e os filhos. Depois, os netos e bisnetos. Vieram as dores, as enxaquecas, as artroses, indícios da velhice que não perdoa. Vieram as dores ao ver alguns partirem para a eternidade. Mas, continuamos a reservar um dia por ano para nos encontrarmos, falarmos de nós, da guerra que vivemos, das barreiras que tivemos de ultrapassar, dos caminhos novos que tivemos de construir, dos tempos que correm e que não entendemos. Da crueza das guerras que rebentam por todo a terra e que nós sentimos como ninguém, porque também vivemos uma guerra. Sabemos que quem as faz, não as quer fazer. Quem as manda fazer, não padece no corpo, os seus efeitos. Quem sofre os seus efeitos é o povo, as gentes humildes que querem viver em paz.

Para tentar acabar com a “guerra” que vagueia dentro de mim, parti para a Guiné, em romagem aos locais onde senti de perto os seus efeitos, onde a vivi. Procurei os lugares onde mais sofri. Os locais onde vi camaradas partirem para a eternidade sem lhes poder valer, locais onde acolhi e tratei feridos. Chorei as dores, que não tivera tempo de chorar no momento dos acontecimentos.

Procurei os amigos que por serem guineenses por lá ficaram na guerra. Tinham vindo comigo, no coração. Receberam-me em abraços. Muitos já tinham partido, alguns dos quais barbaramente assassinados, pelos conquistadores da “liberdade” da Pátria Guineense, por terem sido cobardemente abandonados por Portugal, que os considerava filhos e os motivara para a guerra na sua terra contra os seus irmãos de sangue, para os abandonar e lhes tirar a cidadania, entregando-os nas mãos dos combatentes contra quem tinham lutado, por Portugal. Trouxeram-me a família, mulheres, filhos, netos. Passei a ser “ermon di coração”. Seus filhos viram em mim o pai, seus netos, o avô.

Encontrei, em sã convivência, antigos guerrilheiros que me saudaram sem qualquer remorso, que tentavam localizar encontros de guerra, batalhas de frente a frente, sem nos vermos. Recordamos o ruido das armas, os mortos e feridos de ambas as partes. Ainda foram alguns, esses desencontros de outrora que tanto nos fizeram sofrer, a mim e a eles. Estranhamente sentimos necessidade de contarmos pormenores, localizarmos posições, historiarmos aqueles momentos, tal como fazemos quando encontramos algum camarada que partilhou connosco a terrível aventura da guerra. A necessidade de darmos o abraço da paz, apossou-se de nós em cada encontro. A frase “discurpa ermon, mas guerra é guerra” bailou nos nossos lábios, por ordem expressa do coração. Nos nossos olhos brilhava a luz da paz, do reencontro de “ermons” desavindos, e a amizade ganhou vida.
Ingoré, 2015, José Teixeira rodeado de crianças

Visitei as tabancas que me tinham acolhido, de quem retenho boas memórias. As “bajudas” raparigas de então, hoje, esposas, mães e avós. Fui reconhecido, chamado pelo nome. Sucederam-se os abraços, os ajuntamentos familiares, a festa cheia de sorrisos tão quentes como os de outrora. Recordamos tempos em que no ar pairava o medo da morte, a dúvida, a insegurança, ao lado da esperança do fim de uma guerra injusta. Hoje, respira-se paz e harmonia entre as gentes da Guiné, tão divididas naquele tempo. Há o bem-estar possível, num país continuamente adiado, mas onde a alegria caraterística dos povos africanos expressa nos ritmos e batuques, ocupou de novo o seu lugar.

A Tabanca de Matosinhos surgiu da necessidade de nos encontramos, os que passaram pela Guiné, de falarmos de nós, das nossas “guerras” numa linguagem que só nós entendemos. De convivermos numa “caserna” real, onde todas as semanas há sempre novidades da guerra. Já se passaram vinte anos, mas continua bem viva.
Uma quarta-feira na Tabanca de Matosinhos

O blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné foi outro espaço de reencontro comigo, com camaradas que viveram dramas idênticos, e como eu continuam a sentir a guerra dentro de si e a pôr em comum dramas e aventuras, momentos bons e momentos menos bons da sua guerra.

Voltei à Guiné, mais tarde, outra e outra vez, à procura da paz interior, mas a guerra nunca acabou. Continua cá dentro.

José Teixeira
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Nota do editor

Último post da série de 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26828: (In)citações (271): Eu vivo na Lisboa que amo (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

Guiné 61/74 - P26887: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (31)

Foto 244 > Janeiro de 1972 > Nhacra > Fonte do Vale > João Moreira
Foto 245 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira
Foto 246 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira
Foto 247 > Janeiro de 1972 > Nhacra > Quartel > João Moreira
Foto 248 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira
Foto 249 > Janeiro de 1972 > Nhacra > Desvio para a estrada para CUMERÉ > João Moreira
Foto 250 > Janeiro de 1972 > Nhacra > Antiaérea na Emissora Oficial da Guiné que ficava ao lado do nosso quartel > João Moreira
Foto 251 > Janeiro de 1972 > Nhacra > Antiaérea na Emissora Oficial da Guiné que ficava ao lado do nosso quartel > João Moreira
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Nota do editor

Último post da série de 29 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26861: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (30)