1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2010:
Amigo e Camarada Carlos Vinhal,
Saudações e extensivas a todos os Tabanqueiros.
Como tudo deve feito a seu tempo e houve um pouco de disposição, para responder a alguns comentários feitos a “estórias minhas” contidas nos Postes:
P5293 e
P5304.
Provavelmente os camaradas a quem irei responder, não tivessem feito uma leitura mais atenta e/ou eu como algarvio “escrevi muito rápido” e não tendo esclarecido devidamente a mensagem, mas tenho elementos que elucidam as datas e observações. No entanto tratam-se de outros acontecimentos com situações relevantes que no meu ponto de vista não se ajustam aos contidos.
Ponto 1 – Guiné 63/74 P5324: FAP (37) TEVS a Aldeia Formosa e Buba – Jorge Félix ex - Alferes Mil. Pil. B12 – Bissalanca.
Amigo e Camarada Jorge Félix, documentando e esclarecendo os factos subjacentes, das intervenções em TEVS e da interpretação que deu ao conteúdo da minha crónica:
- Excerto da História da Unidade CCaç 2381, da qual consta que em 04/Jan/69.
A Unidade deslocou-se em coluna de Aldeia Formosa para Buba, tendo-lhe sido atribuída a missão de dar segurança aos trabalhos de abertura da nova estrada entre Buba e Aldeia Formosa, colaborar nas escoltas às colunas realizadas entre estas duas localidades, operações e emboscadas de contra penetração.
Coluna Aldeia Formosa – Buba, sem incidentes.
- Estando mencionado no Poste P5304 – Aldeia Formosa, em data posterior a 04/Jan/69, quando regressei a este Aquartelamento, o Comando e Serviços da minha Unidade CCaç 2381, já se tinha deslocado para Buba. É porque não podendo precisar, pois nesta data ainda me encontrava em Bissau (foto 1) a frequentar um curso sobre geradores eléctricos.
Foto 1 – Guiné> Cidade de Bissau> Praça do Império> 1969> Museu e Biblioteca, imagem com belos realços e hoje como será.
- Por conseguinte tratou-se de TEVS, efectuadas na data na zona mencionada e em apoio de outras Unidades.
- Excerto da História da Unidade CCaç 2381, da qual consta que em 21/Jan /69, durante a coluna auto Aldeia Formosa – Buba, grupo In emboscou as NT durante dez minutos, utilizando armas ligeiras, RPG-2, granadas de mão e morteiros ligeiros, causando 07 feridos às nossas tropas e 02 civis.
Quando a coluna retomava a marcha, foi accionada por um viatura uma mina a/c reforçada, causando danos materiais e destruição parcial de uma viatura. As NT reagiram pelo fogo e manobra efectuando uma batida à zona.
- A data que registou coincide com a antes mencionada e por conseguinte foram efectuados os TEVS, relativos aos feridos sofridos pela acção In e no decorrer da coluna. (foto 2)
Foto 2 - Guiné> Região de Quinara> Algures do Sector de Buba> 1969> Operação de TEVS, estando eu assentado, de pé o ex-1.º Cabo “O Lisboa” e um sinistrado.
- No entanto eu consegui evitar seguir incorporado nessa coluna, porque tive a sorte de antecipadamente fazer a viagem de Dakota e todavia é a única menção que fiz na crónica.
- Assim sendo, como eu referi trata-se de assunto diferente com data de 22/Jan./69, que ao anoitecer em Aldeia Formosa (Quebo) deu-se um acidente, o qual ocasionou dois mortos e dez feridos às NT. Estando eu no Quartel de Buba, pela noite dentro ouvia as inusitadas passagens de meios aéreos, o que era anormal e por isso interrogávamo-nos sobre o que sucedera para os lados de Aldeia Formosa.
Penso que assim ficaram devidamente esclarecidas as dúvidas em causa e ficarei receptivo para quaisquer esclarecimentos.
Amigo Jorge Félix, daqui vai um forte abraço.
Ponto 2 – Guiné 63/74 P5293 Buba – Aldeia Formosa – Comentário de Carlos Cordeiro.
- Caro amigo e Camarada Carlos Cordeiro, tenho muito gosto em lhe responder ao seu comentário um pouco sarcástico, mas, e embora tapando o Sol com uma peneira com (estou a brincar naturalmente), a primeira reacção pessoal que tive foi impulsiva de lhe apontar a esferográfica, mas para saber em que águas podia navegar tive o cuidado de aproveitar o Blogue para antecipadamente fazer uma pequena leitura sobre os seus dados, em que consta ex–Furriel Miliciano de Infantaria e actualmente professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, bonita cidade que já visitei três vezes, quando militava nas lides da Arbitragem de Futebol. Assim, a coisa fiou mais fino e claro está tratou-se de uma brincadeira para espicaçar as hostes. Tudo bem quando é salutar.
- Contudo para satisfação ao v/pedido de eu comentar como funcionavam as viaturas, porque lhe fazia confusão e os mecânicos quando punham uma viatura avariada a andar, (o português é muito traiçoeiro) deitavam os peitos para fora e olhavam de soslaio com ar de superioridade.
- Aqui vai mais ou menos como as coisas se passavam:
- A Secção Auto da Unidade só deveria receber as viaturas que circulassem e sem qualquer avaria detectável (foto 3)
- Era sempre conveniente que houvesse várias viaturas da mesma marca e tipo, para quando uma se avariasse ou se acidentasse e mesmo antes de ser abatida servia para peças sobressalentes ou era feita permuta de peças com outras viaturas;
Foto 3 – Guiné> Região de Quinara> Empada> 1969> Oficina Auto e Garagem, um luxo no meio do mato.
Foto 4 – Guiné> Sector de Buba> Algures Aldeia Formosa – Buba> 1968/9> Desmantelamento de uma viatura sinistrada, pela direita um mecânico africano, eu ao centro e o Soldado Mec. Auto, José António Coelho, de Maiorca - Figueira da Foz.
- Como não havia ferramentas para grandes reparações, as funções dos mecânicos eram mais à base de desempanar e/ou substituindo peças (foto 4). Eram poucas as Secções de oficinas existentes no mato que tinham a possibilidade de reparar um motor e/ou caixa de velocidades, em caso fosse necessário deveriam ser enviados os conjuntos para Bissau e eram comuns as instruções dadas, todavia em Aldeia Formosa, a CCaç 1792 teve o consentimento para reparar motores e caixas de velocidades.
Por conseguinte neste Aquartelamento, agrupou-se um bom grupo de mecânicos auto tendo como o seu principal promotor um 1.º Cabo (foto 5).
Foto 5 – Guiné> Região de Tombali> Aldeia Formosa (Quebo)> 1968> Eu, à direita, e o ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas da CCaç 1792, que era um senhor na arte prática da mecânica auto.
- Se os mecânicos quando punham uma viatura a andar, olhavam de soslaio e com ar de superioridade,” era devido às deficientes condições de trabalho, com um reduzido tipo de ferramentas, com martelo e escopro até faziam milagres, depois era para alguém dar-lhes uma palmada nas costas e acordarem de um lindo sonho de ser útil (foto 6).
- Ao frequentar a EPSM em Sacavém, (textos eram comigo) dadas as minhas habilitações teóricas granjeei amizades com aqueles que tinham a prática oficinal e juntávamos a teoria à prática. Portanto eu possuidor do Curso Secundário da Escola Industrial de Silves e o Curso de Mecânico Auto, da EPSM em Sacavém, e os meus camaradas tinham a prática profissional e o Curso de Mecânico Auto, das EPSM.
Foto 6 – Guiné> Região de Quinara> Empada> 1969> Parque de viaturas, depósito de combustíveis e a Tabanca Manjaco, sendo a primeira palhota a da Eugénia, irmã do recente falecido Mamadu o conhecido ex-Alferes da Milícia de Empada.
- Das muitas dificuldades deparadas, posso-lhe dizer que aquando uma coluna ter chegado a Buba, efectuara um trabalho que aparentemente era simples, tornando-se complicado somente colocar um motor de arranque numa viatura Berliet, demorando cerca de cinco horas para executar, devido ao reduzido espaço de movimento e da forma como era encaminhado (guiado) para apanhar posição. Que belo petisco, fazendo-o sem ajudas, estando deitado debaixo da viatura, com o motor em suspensão e colocando-o a pulso. A urgência e a ânsia de efectuar o serviço conjugavam-se, não podia dar mostras de incapacidade e por fim disse “eureka.” Mas esta viatura só depois de reparada é que foi posta em marcha (também estou a brincar naturalmente).
- Em que cada um me dizia que era inventar o que já estava inventado, que também sabiam das dificuldades e eu fiquei sem apetite de repetir a façanha.
- Nos trabalhos efectuados e a coadjuvar dei o meu melhor, dando como forma de remate de conversa que no desempenho das minhas funções, tive a honra do Comandante do BCaç 2892 me ter concedido um Louvor.
Pelo o meu ponto de vista dou por terminadas as respostas a comentários, que me foram colocados e dando o devido esclarecimento.
Com cordiais saudações a todos os Tabanqueiros,
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Auto Rodas
CCaç 2381 Os Maiorais
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 - P6421: Do meu álbum fotográfico (Arménio Estorninho) (2): Bissau - Um olhar de turista
Vd. último poste da série de 8 de Abril de 2010 >
Guiné 63/74 - P6129: (Ex)citações (58): Repondo a verdade sobre o ensino na Guiné Portuguesa (Mário Dias)