quinta-feira, 4 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25716: In Memoriam (505): Isabel Barata Lopes Costa (1953-2024): "Mulher de ex-combatente, ex-combatente é... e será" (Joaquim Costa, ex-fur mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)



Porto > c. 1982/83 > Joaquim Costa e a esposa, Isabel Barata Lopes Costa (Idanha-a-Nova, 1953 - Rio Tinto, Gondomar, 2024)... 


Lamego > Hotel sobre o rio Douro > Há uns 6 anos atrás > A Isabel, professora reformada por invalidez desde cerca de 2009 (sofria de doença crónica degenerativa). Nascida m 10 de outubro de 1953, em Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, Isabel Barata Lopes Costa viveu em Lisboa desde tenra idade. O casal, que tem dois filhos,  morava em Rio Tinto, Gondomar, onde a Isabel faleceu no passado dia 4 de junho, faz hoje um mês. Tinha 70 anos.  

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Joaquim Costa: (i) ex-fur mil, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã,  1972/74); (ii) autor de livro, "filho da pandemia", a que deu o título invulgar "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74" (Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.);  (iii) membro da nossaTabanca Grande, desde 30 de janeiro de 2021, e onde se senta à sombra no nosso poilão, no lugar nº 826:


Data - segunda, 1/07/2024, 15:42

Assunto - Isabel, a combatente

Boa tarde Luís.

Espero que tudo esteja bem contigo e família. Deixo-te aqui a minha homenagem a uma combatente, mulher de um ex-combatente que de certa forma também o foi.

Estes exemplos de coragem devem ser perpetuados. Deixo ao teu critério a publicação do mesmo.

Um grande abraço, Joaquim
_____________

2. Joaquim Costa > Mulher de ex-combatente, ex-combatente é!

Por muito que façamos, ficaremos sempre em dívida para com estas mulheres, pelo que sofreram, e continuam a sofrer, já que para muitas a guerra ainda não acabou.

Hesitei em enviar este post para os editores, por considerar que o mesmo não se enquadrava nos objetivos do blogue. Contudo, logo me penitenciei por me ter ocorrido tal dúvida.

Por maioria de razão, estas mulheres continuam a combater, acompanhando, tratando e mitigando o sofrimento dos seus companheiros que de certa forma nunca abandonaram o teatro de guerra.

A minha combatente partiu.

Participava com entusiasmo no encontro dos tropas (como ela dizia), com o entusiasmo do ex -combatente. Conhecia pelo nome grande parte dos elementos da companhia bem como das suas mulheres e mesmo dos seus filhos e netos.

Guardava e revia regularmente as fotos dos encontros.

Várias vezes me perguntava: Quando é o encontro dos tropas?

Neste último encontro, já debilitada e em cadeira de rodas, perante a minha pergunta se queria ir ao encontro, ficou indignada e sentida com a minha pergunta.


O SORRISO

Um sorriso … e tudo acontece.

Sim! Foi na carreira da estação para a cidade:
...“Do alto Alentejo, cercada
De Montes e de oliveiras
Do vento suão queimada…”

Um raio de sol de inverno poisa sobre um sorriso que o ofusca.
Os teus olhos me incendeiam, 
já não sei onde estou nem para onde vou. 
Só sei que vou para onde me leva essa luz dos teus olhos.

Mas que linda caminhada. 
Duas sementes deitadas à terra 
que, regadas com muita ternura, amor e carinho, 
cresceram,  lindas, à tua imagem. 
São o nosso orgulho. 
Ai!.. Os rebentos, que lindos!,
que se inventem novas palavras, 
felicidade não basta!

Durante esta linda caminhada, 
fomos limpando as pedras do caminho. 
As que teimosamente resistem, 
sempre foram vencidas pela tua indiferença. 
Nestes últimos tempos repetias mil vezes, 
até que todos os santos te ouvissem: 
"Felizmente temos 'saúde' e uns filhos lindos".

“Só é vencido quem deixa de lutar”...
Todos nós sabíamos que era uma luta desigual, 
mas tu nunca te resignaste. 
Sempre nos surpreendias com a tua memória seletiva: 
acordava e adormecia a ouvir-te dizer, vezes sem conta, 
os dias do nascimento dos filhos e netos, 
terminando a linda 'ladainha' 
mostrando com orgulho o teu anel de noivado: 
10 de Abril, 
2 de Novembro, 
15 de Maio, 
4 de Novembro, 
7 de Fevereiro... 
e o anel de noivado na mão esquerda.

Contudo, quando te perguntava "
Quantos anos tens?"
 respondias tu "sessenta e três"...
"Talvez setenta", dizia eu. 
"Credo!", respondias tu... "Tenho sessenta e cinco".

Nem a medicina explica.

Ninguém como a Isabel prezava os amigos.
Repetia vezes sem conta a frase 
que ficará para sempre gravada nos nossos corações:
“Os amigos são flores que florescem no jardim da vida.”

Não será a mesma coisa, 
mas a caminhada continua. 
Seguir o teu exemplo 
e continuar a teu lado caminhando, 
destruindo a frase feita: 
“Até que a morte nos separe”.

Sim, ISABEL,
Dez de Abril
Dois de Novembro
Quinze de Maio
Quatro de Novembro
Sete de Fevereiro...

E o Anel de Noivado
na mão esquerda…

JC

(Revisão / fixação de texto: LG)

3. Comentário do editor LG:

Joaquim, falámos ao telefone há um mês atrás, fizeste questão de me comunicar em primeira mão o inesperado falecimento da tua esposa, tua companheira de uma vida, mãe dos teus filhos, avó dos teus netos. 

Fiquei sensibilizado. Na realidade, já somos mais do que simples "amigos" das redes sociais: como tu dizes, e bem, ao fim destes anos todos,  somos também a "família do blogue", a "família da Tabanca Grande", e vamos acompanhando os altos e baixos uns dos outros, e até as alegrias e tristezas das famílias de cada um... Inevitavemente, vamos sabendo quem está doente, quem nasce, quem faz anos, quem morre... 

E temos uma série, "As nossas mullheres"... Todas elas acabaram por "ir à guerra", de um maneira ou outra, de mil e uma maneiras, mesmo depois da guerra acabar (se é que ela alguma vez acaba para quem foi combatente).

 Por isso, faz todo o sentido ser publicada aqui, no blogue de todos nós, a tua bela homenagem à tua Isabel... Sem nunca ter ido ao Cumbijã (que eu saiba...), ela foi uma "tigresa do Cumbijã", ao lado dos "tigres do Cumbijã"...   

Fico muito sensibilizado com as palavras de grande ternura e amor que lhe dedicas no teu texto poético. O teu testemunho passa a ser público, podendo agora ser partilhado por todos os que te estimam e admiram, e estimam e admiram as nossas mulheres que, sendo "mulheres de ex-combatentes, ex-combatentes são e serão".  Mesmo quando a morte (física) as aparta do nosso convívio...

A morte (e a guerra) pode levar-nos, infelizmente, tudo o que amamos, todos/as aqueles/aquelas que amamos, mas não nos pode roubar as memórias felizes que guardamos dos nossos amores...

____________

Nota do editor LG:

Guiné 61/74 - P25715: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (50): Ataque ao quartel no dia 12 de Maio de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


1970/MAIO/12 ÀS 19H05M
E
1970/MAIO/13 AO ROMPER DO DIA

Como tínhamos chegado havia 1 mês, o PAIGC resolveu associar-se às nossas comemorações.

Munido de "fogo de artifício" e outros artigos próprios para estas ocasiões fez-nos uma "surpresa".

Mas nós, apesar de "periquitos", como "bons amigos" associamo-nos à festa.
Reagimos depressa e bem, conforme pudemos confirmar na manhã seguinte.

Uma vez que o ataque foi ao cair da noite, não fomos fazer o "reconhecimento" porque tínhamos que atravessar uma ponte onde poderiam facilmente fazer-nos uma emboscada.

O meu grupo de combate estava de serviço ao quartel naquele dia, e na manhã seguinte fomos com o capitão fazer o "reconhecimento".

Encontrado o local donde foi feito o ataque ao quartel verificamos que os nossos morteiros acertaram em cheio no local do ataque.

Encontramos muitos rastos de sangue e sulcos provocados pelo arrastamento de guerrilheiros feridos ou mortos.

É caso para dizer que a Nossa Senhora de Fátima estava connosco.

(continua)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 27 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25692: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (49): Incêndio na Tabanca em 8 de Maio de 1970

Guiné 61/74 - P25714: Facebook...ando (59): Joaquim Martins, nosso grão-tabanqueiro desde 2015, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4142/72, "Herdeiros de Gampará (Ganjauará, 1972/74) - II (e última) Parte



Foto nº 11 >  Joaquim Martins: tem página no Facebook


Foto nº 12 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O fur mil at inf, Joaquim Martins


Foto nº 13 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "Eu à porta da minha morança"


Foto nº 14 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O obus 10.5 (29º Pel Art)


Foto nº 15 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 >Uma ida, em grupo, a uma tabanca próxima


Foto nº 16 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "A nossa lavandaria": as tinhas eram feitas com pipas (de vinho) cortadas ao meio.


Foto nº 17 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > Dois militares (um deles será o Joaquim Martins) junto a uma das instalações do quartel (inserido no reordenamento de Gampará), protegidas por bidões com terra calcada.



Foto nº 18 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > Um posto de sentinela




Foto nº 19 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 >  "Memórias. Agosto de 74. Percorri pela última vez esta estrada com 3 km, que nos levava de Ganjauará até ao cais de abicagem de Ganquecuta no rio Geba, onde nos esperava uma LDM que levaria a CCAÇ 4142 para Bissau, com destino ao Cumeré. Para trás ficava uma permanência de 23 meses no 'buraco' onde tombaram três companheiros. Para eles, Paz ás suas Almas, e ara os que regressaram um Abraço".


Foto nº 20 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "Esta relíquia tem mais de 50 anos, fez parte do meu equipamento, agora está na prateleira dos recuerdos."


Foto nº 21 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > Guoião dos "Herdeiros de Gampará".



Foto nº 22 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "A minha última foto como militar, em Agosto de 1974, aquando do regresso da Guiné, a bordo do Uíge. Dos elementos da CCAÇ 4142, da esquerda para a direita, eu sou o último, à minha direita o Salgueiro, o primeiro da esquerda é o Rocha. Grande Abraço para todos os ex-combatentes".



Foto nº 23 > Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > "Momentos que não se esquecem. Fiz parte do 3º Pelotão da CCAÇ 4142, que esteve em Gampará em 72/74. No fim do Convívio que levamos a efeito em Odivelas, estava eu junto do parque de estacionamento para o regresso a casa, chegou junto a mim um dos dos elementos que na altura fazia parte do 1º Pelotão. Despediu-se com as lágrimas nos olhos e, dando um abraço, disse-me que ele e eu sabíamos que faltava ali alguém... De momento fiquei sem palavras, sim eu sabia a quem se queria referir, em fevereio de 74, ambos vivemos momentos dramáticos, ele perdera um dos seus comandantes e um amigo, meu amigo também. O Silva não estava fisicamente, mas estava e estará sempre nas presente nas nossas memórias. Faltava também o Soares que perdeu a vida na mesma altura. E o Garrincha. Paz às suas Almas. Forte Abraço para todos os companheiros da CCAÇ 4142 e também para todos os combatentes".



Foto nº 24 > Açores > Ponta Delgada > 2024 > "Ao leme da nossa Sagres"..."A Pátria Honrae Que a Pátria Vos Contempla".

Fotos (e legendas): © Joaquim Martins (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda (e última) parte de uma seleção de fotos do álbum do  Joaquim Martins:

(i) membro da nossa Tabanca Grande, desde 5 de junho de 2015;

(ii) foi fur mil at inf, CCAÇ 4142/72, "Herdeiros de Gampará", Ganjauará, 1972/74;

(iii)  tem 74 anos, nasceu em Gondomar, em 19 de maio de 1950; 

(iv) vive em Ermesinde (até em 2017, em Águas Santas, Maia); 

(v) trabalhou no Gabinete de Planeamento da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP); está reformado.

A CCAÇ 4142/72  partiu para o CTIG em 16set72.  Fez a IAO no Cumeré. Um mês depois, a 18out 72, foi colocada em Gampará, rendendo a CART 3417, os "Magalas de Gampará".Regressou em agosto de 1974. Teve 3 baixas mortais.

Camaradas da CCAÇ 4142/72 que integram o nosso blogue (entre parênteses, o seu atual local de residência):


(Seleção, numeração, legendagem e edição de fotos,  revisão / fixação de texto: LG) 
(Com a devida vénia...)
___________

Nota do editor:

(*) Poste anterior da série > 2 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25707: Facebook...ando (59): Joaquim Martins, nosso grão-tabanqueiro desde 2015, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4142/72, "Herdeiros de Gampará (Ganjauará, 1972/74) - Parte I

Guiné 61/74 - P25713: Lembrete (46): Últimos dias! Viagem de grupo à China com o acompanhamento do Prof. Dr. António Graça de Abreu - 01 a 12 Setembro 2024


República Popular da China >
 Pequim > s/d (c. 1977/83) >
O António Graça de Abreu
na praça Tianamen

1. Declaração de interesses: não vou  à China, não tenho  descontos na viagem à China, nem sequer direito a uma malga de arroz chau chau... Não sou sinófilo, nem sinófobo, nem sequer sinólogo.  Mas tudo o que é humano e terreno me interessa.

Se eu tivesse menos uns aninhos, saúde e patacão,  também gostaria de ir à China,  ciceroneado pelo nosso grão-tabanqueiro  António Graça de Abreu, na esteira de outros camaradas que já fizeram em 2014 esta viagem turístico-cultural (o António PImentel, o Fernando Gouveia e o Egídio Lopes). (*)

Resumindo, o António, um histórico do nosso blogue, merece este postezinho promocional... 

Aproveite quem quiser e puder, porque será um privilégio ter como guia um antigo camarada da Guiné, "globetrotter", grande sinólogo (especialista em história e cultura chinesas) e um português não menos amante da sua pátria e da sua língua (*)

Para mais informações contactar a agência Globalis através de:

e-mail: grupos@globalisviagens.com
ou telefone:  (+351) 213 502 201.


ÚLTIMOS DIAS! Viagem de Grupo à China com o acompanhamento do Prof. Dr. António Graça de Abreu - 01 a 12 Setembro 2024 (**)
_____________

Guiné 61/74 - P25712: Parabéns a você (2287): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Nova Lamego, Buruntuna e Bolama, 1961/63)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 29 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25698: Parabéns a você (2286): José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884 (Jolmete, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25711: Historiografia da presença portuguesa em África (430): João Vicente Sant’Ana Barreto, médico em Bolama (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Entrei nesta busca de documentos de João Barreto depois de ter participado numa cerimónia evocativa do autor da única História da Guiné na Casa de Goa. O seu neto Aires Barreto bem procurou saber mais informações sobre este avô que deixou a avó Julieta e a filha Genoveva em transe quando vinda de Margão até Lisboa descobriram que o médico partira para a Guiné com outra companhia. Só se encontrou esta fotografia de João Barreto que aqui se mostra, bem procurei mais elementos, nada se encontrou, é sabido que labutou na Guiné 12 anos, dali partiu altamente considerado, terá sido em Lisboa que pesquisou documentação e escreveu a sua História da Guiné, de que pouco se fala, injustiça habitual, não é recomendável louvarmos os pioneiros... As peças científicas existentes é este relatório de 1927, o artigo que escreveu sobre a doença do sono da Guiné em 1926 para a revista da Agência Geral das Colónias e a sua colaboração para um artigo sobre craniometria na Guiné Portuguesa, terá sido o fornecedor da matéria-prima, recolhida no cemitério de Bolama.

Um abraço do
Mário



João Vicente Sant’Ana Barreto, médico em Bolama (2)

Mário Beja Santos

O primeiro trabalho que se conhece de João Barreto é o seu relatório apresentado em 1927 à Direção dos Serviços de Saúde e Higiene, será publicado pela Imprensa Nacional da Guiné, Bolama, em 1928. Ele é diretor do laboratório de análises do Hospital Civil e Militar de Bolama. Barreto faz parte de uma missão que procedeu a estudos que tinham por fim averiguar se a doença do sono existia, ou não, entre as populações indígenas da colónia; e, ao mesmo tempo, praticar a vacinação antivariólica e proceder a inquéritos sobre outras doenças tais como lepra, filarioses, bilharzioses, etc.

Confesso que me dou muito bem com estilo narrativo de João Barreto, este seu relatório sobre a doença do sono, apresentado à Direção dos Serviços de Saúde e Higiene da Guiné, é um modelo de rigor e até de divulgação científica: explica a missão, quem nela intervém, os inquiridos e aonde, o que historicamente se conhece da doença do sono, as outras doenças tropicais com que os médicos da missão se confrontarão, desde as elefantíases à lepra, o modo como se executou a missão diante colheitas de sangue, vacinação antivariólica, captura de insetos hematófagos. E para comprovar que conhece o contexto em que está a trabalhar não só descreve ao pormenor a demografia da circunscrição de Buba como esclarece que naquele local ocorreu uma guerra devastadora, a do Forreá, que teve um impacto económico medonho, arrasou as grandes promessas de uma agricultura próspera no Sul.

Este gosto pela análise histórica e observação social a propósito da demografia levam-no a escrever as razões do despovoamento e abandono daquele território da circunscrição de Buba, onde encontraram grande número de crianças doentes, e nem sempre é claro que uma boa parte dessas manifestações de doença possam ser atribuídas à doença do sono. E escreve:
“Os poucos elementos por nós colhidos não nos habilitam a tirar conclusões se há um parasitismo crónico entre os Fulas de Buba e se esta endemia contribuiu para o abandono da região. No entanto, há um facto que não podemos deixar de prestar atenção.
Dentro da colónia da Guiné notam-se duas regiões em que o decrescimento da população se acentua progressivamente não tendo até hoje quaisquer medidas de ordem administrativa conseguido evitar o seu lento abandono.

Estas zonas estão situadas uma, ao Norte do rio Cacheu, compreendendo quase toda a circunscrição de S. Domingos, e, outra, entre as sedes administrativas de Buba e Cacine, abrangendo os territórios banhados pelos rios Bolola, Tombali, Cumbijã e Cacine. Ora é precisamente nestas duas zonas desabitadas pelos indígenas que a produção e desenvolvimento das glossinas parece ter atingido o máximo da sua intensidade; e esta aparição exagerada da mosca, quer a consideremos como mera coincidência quer como elemento causal do despovoamento, não é de molde a favorecer a fixação do indígena.”


Este relatório vai culminar com a apresentação de providências sanitárias, que João Barreto enumera assim:
“Reconhecida a existência da tripanossomíase humana dentro das nossas fronteiras, cabe-nos o dever de organizar um plano de combate dessa endemia. Não vamos enumerá-las, uma por uma, porque nos parece desnecessário transcrever para aqui aquilo que já está escrito e assente entre os tratadistas.
Podemos estabelecer um programa completo de campanha anti-hipnótica socorrendo-nos das lições que as autoridades sanitárias portuguesas têm colhido com a prática destes serviços nas colónias de Angola, S. Tomé e Príncipe.

A execução destas providências na colónia está dependente de uma medida fundamental, que é a criação de uma Brigada Médica com caráter permanente, especialmente destinada a este fim, tornando-se, porém, obrigatória a inclusão da respetiva verba no orçamento ordinário da colónia. Esta Brigada Sanitária, constituída por um médico, dois enfermeiros e pessoa auxiliar, fixaria a sua sede em Cacine ou Buba, teria por missão, percorrer especialmente ao longo da fronteira, as circunscrições de Buba, Cacine, Gabu, Bafatá, Farim e S. Domingos, a fim de descobrir e tratar os indígenas atacados da doença do sono, executar as medidas agronómicas para a destruição ou afastamento das glossinas, mosquitos e outros insetos hematófagos; defender a fronteira terrestre contra a invasão de moléstias contagiosas, podendo também auxiliar a Polícia Pecuária contra a importação das epizootias; proceder à vacina antivariólica; tratar as doenças endémicas como, por exemplo, a boba e sífilis.”


Recorde-se que João Barreto já escrevera grande parte destas sugestões para limitar a doença do sono no artigo intitulado “Doenças do sono na Guiné Portuguesa” publicado no Boletim da Agência Geral das Colónias, ano 2.º, n.º 11, mais de 1926.

Temos agora a referência à sua colaboração no trabalho “Contribuição para o estudo antropológico da Guiné Portuguesa”, publicado em Coimbra na Imprensa da Universidade em 1932, onde se diz expressamente ser o primeiro trabalho acerca da craniometria dos indígenas da Guiné Portuguesa. Recorde-se que nesta época existia doutrina, hoje totalmente contestada e abolida, que a craniometria permitiria conhecer as diferenças rácicas, chegar ao conhecimento dos indicadores de inteligência, etc., houve filosofia nazi neste sentido, o objetivo era conhecer as características dos homens superiores e das raças inferiores. O capitão médico João Barreto foi o fornecedor de um conjunto de crânios que os outros dois autores do artigo, Pires de Lima e Constâncio Mascarenhas, introduziram informação de índole craniométrica.

Nada mais conhecemos da obra científica de João Barreto, muito se agradece se o leitor puder contribuir com quaisquer informações sobre outros trabalhos deste historiador amador, autor da única História da Guiné.

Trata-se da única fotografia que se conhece do médio João Barreto, imagem que me foi amavelmente concedida pelo historiador Valentino Viegas aquando do lançamento o opúsculo que lhe dedicou o seu neto Aires Barreto
Mapa étnico da Guiné, seguramente enviado por João Barreto aos seus colegas
Doente portador da doença do sono
A lepra, um flagelo que ainda não está completamente erradicado
_____________

Nota do editor

Último post da série de 26 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25685: Historiografia da presença portuguesa em África (429): João Vicente Sant’Ana Barreto, médico em Bolama (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25710: Louvores e condecorações (16): Aurélio Trindade, ten gen ref (1933-2024), ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): Cruz de guerra de 2ª classe e Medalha de Valor Militar, Prata com palma


Aurélio Trindade, membro da Tabanca Gande,
 a título póstumo (nº 891)


Capitão de Infantaria AURÉLIO MANUEL TRINDADE

4* CCAÇ - CTIGUINÉ 

Cruz de Guerra 2ª  Classe


Cruz de Guerra de 2ª Classe. 
Imagem: cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da


Transcrição da Portaria publicada na OE n.o 5 - 2.8 série, de 1967.

Por Portaria de 31 de Janeiro de 1967:

Condecorado com a Cruz de Guerra de 2ª  classe, ao abrigo dos 
artigos 9º  e 10º  do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o Capitão de Infantaria, Aurélio Manuel Trindade.

Transcrição do louvor que originou a condecoração.

(Publicado nas OS n.o 10/66, de 06 de Dezembro de 1966, do CCFAG e nº  49, de 08 de Dezembro do mesmo ano, do QG/CTIG):

Louvado o Capitão de Infantaria, Aurélio Manuel Trindade porque, sendo Comandante da 4ª  CCac, aquartelada no Agrupamento Sul, conseguiu durante
os 15 meses do seu comando, mercê 
duma acção notável de chefe, transformar aquela Unidade de características muito  especiais, aquartelada numa região sujeita 
a grande isolamento e onde o lN se tem mostrado  forte e aguerrido, numa Unidade disciplinada, de elevado moral, agressiva e eficiente, solucionando sempre da melhor maneira os problemas administrativos e operacionais, com grande destaque para estes, que resolveu sempre dando provas de elevado espírito ofensivo.

Sob o seu comando, a 4ª CCAÇ, realizou e tomou parte em cerca de 20 operações e em todas elas o Capitão Trindade soube extrair dos seus meios grande rendimento. Salienta-se a sua acção na operação "Sempre Fixe", uma das muitas que realizou por sua iniciativa, durante a qual a Companhia, devidamente articulada, em frente de um grupo lN bem armado e instalado em boas posições de tiro, oferecendo forte resistência, executou, a descoberto, uma valorosa manobra envolvente, com um grupo de combate em que se incorporou o Cap Trindade, a qual conduziu à fuga desordenada do ln, com muitas baixas, tendo confirmado nesta acção serenidade, decisão, coragem e sangue frio, a par da forte determinação em bater o ln e dum elevado espírito manobrador.

Oficial muito modesto, os relatos das acções em que tomou parte quando elaborados por ele não realçam suficientemente a sua acção que se pode classificar de verdadeiramente extraordinária através das opiniões dos seus subordinados e dos Comandos sob cujas ordens serviu.

Por todos estes factos e porque se trata de um oficial inteligente, com óptimos conhecimentos militares, dotado de forte personalidade, perfeitamente
integrado na sua missão, e, ainda, porque sempre dispensou a maior e mais eficiente colaboração aos outros ramos das Forças Armadas, designadamente às Forças Navais nas inúmeras vezes em que se tornou necessário dar protecção aos comboios por estas efectuados na sua zona de acção, deve o Cap Trindade ser apontado como exemplo dignificante ao CTIG e ao Exército. 

 Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo IV: Cruz de Guerra (1967). Lisboa, 1992, pp. 116/117
_______________




Medalha de Valor Militar, Prata, com palma. 
Imagem: cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da


Capitão de Infantaria AURÉLIO MANUEL TRINDADE

Medalha de Prata de Valor Militar, com palma

CAÇ 6 - CTIGUINÉ

Mdalha: Valor Militar | Grau: Prata, com palma



Transcrição da Portaria publicada na OE n.o 21 - 2.a série, de 1967:

Por Portaria de 3 de Outubro de 1967:

Condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar, com palma, nos termos do artigo 7º , com referência ao § 1º do artigo 51º, do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, o Capitão de Infantaria, Aurélio Manuel Trindade, pela forma altamente eficiente e extraordinariamente brilhante como, durante mais de 23 meses, em zona isolada e muito difícil do Sector Sul da Guiné, comandou a Companhia de Caçadores nº 6 (antiga 4.ª Companhia de Caçadores), constituída por pessoal do recrutamento da Província.

Tendo participado em cerca de 50 operações, em todas cumpriu integralmente
a missão, alcançando êxitos consideráveis à custa de ligeiríssimas perdas, e, actuando sempre com determinação e decisão inquebrantáveis, ocupando no dispositivo os lugares de maior perigo, comparecendo onde mais necessário se tornava fazer sentir a sua acção e não raro, à frente de um punhado de soldados, arrancando heroicamente sobre o inimigo, o obrigou a aliviar a pressão, desalojando-o de posições que lhe conferiam vantagens.

Merecem especial relevo as últimas actuações deste oficial nas operações "Pronta" e "Penetrante", em que, mais uma vez, conseguiu resultados valiosos, mercê das hábeis e ousadas manobras que pôs em execução e dos conhecimentos especiais que possui do tipo de guerra que se trava na Guiné.

Dotado de extraordinárias qualidades de Chefe, reconhecidas, aliás, pelos seus subordinados, que, em todas as cicunstâncias, o seguiram cegamente e com total confiança, o Capitão Trindade conseguiu evidenciar exuberantemente, no comando da sua Companhia, em operações, a prática de actos de rara abnegação, arrojo, audácia, valentia, coragem moral e física, sempre com grave risco de vida frente ao inimigo.


Mealhada (2012).
Aurélio Trindade,
ten gen ref
Militar de excepção, muito leal, inteligente, de forte carácter e vincada personalidade, disciplinado e disciplinador, enérgico, decidido e voluntarioso
e com excepcionais qualidades de comando, a par da sua invulgar actuaçãono campo operacional, conduziu com muita proficiência, em todos os aspetos, a Companhia de Caçadores nº 6, que conseguiu transformar numa unidade combatente de real valor.
 
O Capitão Trindade prestou, no exercício das suas funções no Comando Territorial Independente da Guiné, valorosos e distintos feitos de armas, de que resultaram brilho e honra para as Forças Armadas e para a Nação.

Ministério do Exército, 3 de Outubro de 1967. 

O Ministro do Exército, Joaquimda Luz Cunha.

Promovido por distinção a Major, por Portaria de 1 de Maio de 1969, pubJicada na OE n" 12 - 2ª série, de 1969:

Estado-Maior do Exército
Major de Infantaria, por distinção, supranumerário, o Capitão de Infantaria,
do Estado-Maior do Exército, Aurélio Manuel Trindade.

 Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo I: Torre e Espada e Valor Militar. Lisboa, 1990, pp. 258/259

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

(**) Últimno poste da série > 15 de junho de  2023 > Guiné 61/74 - P24401: Louvores e condecorações (14): Ordem da Liberdade, Grande Oficial, para o antigo cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier, cmdt da CCAÇ 12 (e também da CCAÇ 14, e antes da CART 3359)

Guiné 61/74 - P25709: Tabanca Grande (561): Aurélio Manuel Trindade, ten gen ref, ex-cap 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67), militar de Abril, e autor do livro de memórias "Panteras à solta": senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 891



O então cor inf Aurélio Manuel Trindade. 
Foto da Academia Militar, s/d, 
gentilmente cedida pelo seu camarada e 
amigo cor art ref Morais da Silva,
beirão de Lamego

1. Não somos um blogue de generais, nem os generais precisam deste blogue.  Somos um blogue de "amigos e camaradas da Guiné", antigos combatentes.  Mas sentimo-nos honrados por termos também alguns generais entre nós. Fomos arraia-miúda da guerra da Guiné: infantes, artilheiros, cavaleiros, marinheiros, fuzileiros,  "rangers", paraquedistas, enfermeiros, enfermeiras paraquedistas, médicos, capelães, vaguemestres, sapadores, condutores, cozinheiros, mecânicos, bate-chapas, escriturários, quarteleiros,  básicos, homens as transmissões, pilotos, especialistas da FAP, e por aí fora. 

Temos comandantes operacionais, capitães de várias armas, que combateram na Guiné e fizeram as suas carreiras, chegando a oficiais superiores  (coronéis, capitães de mar e guerra) a a oficiais generais (majores e tenentes 
generais). E alguns estiveram no 25 de Abril de 1974.  

Só não temos nemhum marechal: Spínola (tal Costa Gomes) morreu muito antes da criação da Tabanca Grande. Mas o Costa Gomes nunca nunca bebeu a água do Geba, do Corubal, do Cacheu, do Buba, do Cacine, do Cumbijã... 

O Aurélio Manuel Trindade foi nosso camarada (conceito que,  entre os infantes,  abarca todos os combatentes até ao nível de comandante operacional, ou seja, o que "alinha no mato" com a "canhota"). 

Foi combatente na Guiné e militar de Abril.   Faleceu no passado dia 12 de junho (*). Era tenente general, oriundo da arma de infantaria. Estava reformado. Tinha acabado  de fazer 91 anos.  Viúvo, deixa três filhos e não sei quantos netos. Na comunicação social a sua morte passou praticamente despercebida. Ele não er um figura mediática, vivia muito discretamente e era raro aparecer nos nossos convívios.  Convidei-o, através do seu amigo e cmarada cor inf ref Arada Pinheiro, a ir um dia à Tabanca da Linha. Declinou amavelmnete o convite. Mas sabia que estávamos a publicar notas de leitura e excertos do seu livro "Panteras à solta" (**)...

Recorde.se que, sob o pseudónimo literário Manuel Andrezo, escreveu um livro notável de memórias, de cariz autobiográfico, "Panteras à Solta" (edição de autor, 2010). 

Sabemos que  à frente da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67), o cap inf Trindade revelou-se um excecional comandante operacional, e um grande líder:  percebeu, muito cedo, que naquela "guerra subversiva" o mais importante era conquistar as populações...

No CTIG, foi o último comandante da 4ª CCAÇ e o primeiro da CCAÇ 6. Fez a sua comissão sempre em Bedanda, entre julho de 1965 e julho de 1967

Com mais três comissões, primeiro na Índia, depois em Moçambique, como capitão (1962/64) e outra em Angola, já como major (1971/73), era um militar condecorado com Medalha de Prata de Valor Militar com Palma, Cruz de Guerra, colectiva, de 1.ª classe, Cruz de Guerra de 2.ª Classe, Ordem Militar de Avis, Grau Cavaleiro, Medalha de Mérito Militar de 3.ª Classe e ainda Prémio Governador da Guiné. Participou no 25 de Abril, como major, tinha então 41 anos e estava colocado na EPI, Mafra.



Foto da capa  do livro "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, s/d [c. 2010 / 2020] , 445 pp. , il. [ Manuel Andrezo era o pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, Bedanda, jul 1965/ jul 67]

Na foto acima, da capa, o "capitão Cristo, sentado ao centro, na casa do Zé Saldanha [encarregado da Casa Ultramarina, em Bedanda, e onde se comia lindamente, graças aos dotes culinários da esposa, a balanta Inácia] . Por trás, em pé, os alferes Carvalho e Ribeiro e ainda o Zé Saldanha" (legenda, pág. 440).  O cap Cristo era nem mais nem menos do que o "alter ego" do cap Aurélio Manuel Trindade, o 10º (e último) comandante da 4ª CCAÇ, desde 1jan61, e o primeiro comandante (de dez!), a partir de 1bril de 1967, da CCAÇ 6 (Bedanda, 1967/74).



Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Brasão da CCAÇ no bolo da festa...


Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Foto de grupo.


Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Foto de grupo (metade esquerda)

«

Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Foto de grupo (metade direita: o ten gen Aurélio Manuel Trindade, em mangas de camisa, é o segunda  a contar da direita, na primeira fila)


Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das 
Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Da esqura para a direita, Gualdino, Luz e Coronel Renato Vieira de Sousa (este oficial foi quem comandou a CCAÇ 6,  em 1967/69, logo seguir ao Aurélio Trindade, que terminou a comissão em meados de 1967)


Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 2º Encontro Nacional das Onças Negras de Bedanda, 1967/74) > Da esquerda para a direita, o ex-cap Trindade, o primeiro cmdt da CCAÇ 6, Lassano Djaló, Rui Santos (nosso grão-tabanqueiro da primeira hora) e o Amará Camará.

Fotos (e legendas): © António Teixeira (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Brasões das 4º CCAÇ e CCAÇ 6


2. O Aurélio Manuel Trindade, um beirão de Viseu, vai agora sentar-se, à sombra do nosso poilão,  no lugar nº 891 (***).  

É uma entrada, mais que merecida, embora infelizmente a título póstumo. É "apadrinhada" pelo seu amigo e camarada cor inf ref Mário Arada Pinheiro, um ano mais velho do que ele na Escola do Exército (1951/52).

Temos poucas fotos do novo grão-tabanqueiro. Uma delas é do 2º encontro do pessoal da CCAÇ 6, na Mealhada, em 6 de fevereiro de 2012, organizado pelo saudoso António Teixeira, "Tony" (1948-20123), ex-alf mil da CCAÇ 6 (Bedanda, 1972/73)  (****)

Como eu próprio escrevi na altura, foi um  êxito este 2º  encontro dos bedandenses, por uma razões que eu especifiquei:

(i)  por um lado, as qualidades de comandante do António Teixeira (Tony, para os amigos), à sua capacidade de liderança motivacional e de organização, qualidades que eu topei logo quando o conheci, no verão de 2011, na Lourinhã, por intermédio de um amigo e camarada comum, o Pinto Carvalho (infelizmente, morreria pouco tempo depois,  em 25/11/2013; era professor de educação física, reformado, natural de Espinho);

(ii) uma segunda razão,  tem a ver com  “bom irã” de Bedanda, essa terra mágica, as palavras eram do próprio Tony Teixeira:  (,,,) “muitos dos presentes neste encontro não se conheciam, visto terem pisado naquele chão em alturas muito diferentes. Mas aquele chão, aquela terra, é mágica, e exerce sobre nós um poder fantástico, poder esse que nos move e nos transcende"; e acrescentava o Tony:  "já depois do grande êxito que foi o nosso primeiro encontro, este ultrapassou todas as expectativas, conseguindo juntar 48 convivas, que por lá passaram entre 1963 e 1974, e  nem o dia cinzento, com uma chuva miudinha à mistura, arrefeceu o nosso entusiasmo: logo ao primeiro abraço era como se sempre nos tivéssemos conhecido”. (…)

 Entre esses convivas estava o ex-cap inf Aurélio Manuel Trindade, que não disse a ninguém que era tenente general.E era o mais antigo dos "Onças Negras" (antes  "Panteras Negras"), a a seguir ao Rui Santos (que foi alf mil, 4ª CCAÇ, 1963/65)...

Há homens que não precisam de se pôr em bicos de pés para mostrar que são grandes. O Aurélio Trindade era um desses, um português dos melhores. Vamos continuar a honrar a sua memória e a memória das "Panteras Negras" e  das "Onças Negras".

(***) Último poste da série > 26 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25684: Tabanca Grande (560): José Álvaro Almeida de Carvalho, ex-alf mil art, Pel Art / BCAC, obus 8.8 m/943 (1963/65) , adido 14 meses ao BCAÇ 619 (Catió, 1964/66): senta-se no lugar nº 890, à sombra do nosso poilão