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domingo, 28 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)




Guiné-Conacri > Conacri > Instalações do PAIGC > 1970 > Prisioneiros portugueses, fotografados pelo fotógrafo húngaro Bara István (nascido em 1942). Legenda em húngaro: "Bara István: Portugál foglyok a PAIGC börtönében, Guinea Bissau, 1970". A avaliar pela sua fotogaleria, o Bara István - oriundo de um país da Europa de Leste, com um regime comunista na época - teve um acesso privilegiado à guerrilha do PAIGC. São raras as fotos dos nossos camaradas em cativeiro, até à sua libetação em 22 de Novembro de 1970, na sequência da Operação Mar Verde. Estamos gratos a este conhecido grande fotógrafo magiar pelas imagens sobre a guerra colonial na Guiné-Bissau que disponibilizou na sua página.
Será que alguém, dos nossos amigos e camaradas, é capaz de reconhecer estes rostos ? Boa parte deles faziam parte da CART 1690 (Geba, 1967/69), a que pertenceu o nosso camarada A. Marques Lopes, ex-alf mil e hoje coronel, DFA, na reforma.

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)


Texto do A. Marques Lopes:

O nosso camarada tertuliano José Martins tem sido, de facto, um escavador persistente (e pertinente, sem dúvida) da nossa história na Guiné. Extremamente úteis e elucidativas as informações que nos trouxe sobre Madina do Boé, as condecorações e a lista daqueles que tombaram nos chãos guineenses (1). Mas, e já lhe transmiti isto pessoalmente, nesta lista de mortos na guerra da Guiné há omissões, várias, com certeza. E eu só posso falar daquelas que conheço, mas são exemplo, os da CART 1690.

Nesta companhia foram dados como "desaparecidos em campanha" o alferes Fernando da Costa Fernandes, o soldado Agostinho Francisco da Câmara e o soldado António Domingos Gomes. Sabemos que "desaparecido" era o termo para designar, também, aqueles cujos corpos não se recuperavam, e podemos aceitar que assim fosse, dado que até podiam ter ficado no terreno, mas feridos. Mas, muito tempo depois, e acabada a guerra, regressados a casa muitos desertores e alguns que se passaram para o outro lado (sem estar a pôr em causa as suas razões), os nomes destes homens deviam constar da lista dos mortos em combate na Guiné, porque assim sucedeu de facto.

O alferes Fernando da Costa Fernandes morreu em Sinchã Jobel em 19 de Dezembro de 1967, durante a Operação Invisível. Diz quem fez o relatório desta operação (2):

"Começou também nessa altura o IN a fazer fogo com o Mort 82, com que abateu o alferes miliciano Fernandes; verifiquei que nessa altura já o Destacamento B tinha as seguintes baixas: Alferes Miliciano Fernandes, 1º Cabo Sousa, da CART 1742, e que estava a fazer fogo com a Metralhadora Ligeira MG-42, soldado Metropolitano Fragata e um soldado milícia que não consegui identificar, além de vários feridos. Procurei trazer o alferes miliciano Fernandes para a rectaguarda e quando o puxava pelos pés, fui surpreendido por um grupo IN, que corriam em direcção aos furriéis milicianos Marcelo e Vaz e em minha direcção gritando que nos iriam apanhar vivos.

"Note-se que neste grupo IN avistei elementos brancos os quais usavam o cabelo bastante compridos (a cobrir as orelhas), facto também confirmado pelos já citados furriéis milicianos. Devido a tal tive que abandonar o corpo do alferes Miliciano Fernandes e retirar."

Mas morreu também nesta operação o soldado Vito da Silva Gonçalves, que foi dado como "morto em combate", porque o corpo foi recuperado. Mas também não vem nessa lista! E porque é que não foi dado como "desaparecido em campanha" o soldado Metropolitano Fragata, o Manuel Fragata Francisco, que também ficou nesta operação?

É uma história das teias que o império tecia. Eu conto: ele foi crivado com uma roquetada nessa operação, mas vivo, e os guerrilheiros do PAIGC levaram-no numa maca, atravessando a mata do Oio, o rio Mansoa e o rio Cacheu, até ao hospital que servia o PAIGC em Ziguinchor, no Senegal, onde, coincidência, foi tratado pelo doutor Pádua (actualmente no Hospital Pulido Valente, em Lisboa), que se tinha passado para o outro lado. A PIDE sabia disso, claro. Parece lógico que se pense que teriam feito o mesmo com o alferes Fernandes se ele tivesse ficado vivo. Mas foi muito claro que estava morto.

O soldado Agostinho Francisco da Câmara (e não Camará...) morreu também em Sinchã Jobel em 16 de Outubro de 1967, aquando da Operação Imparável (3). O mesmo relator disse assim:

"O nosso bazuqueiro (passe o termo) Soldado Agostinho Camará que estava a fazer um fogo certeiro, foi atingido mortalmente (note-se que este L.G.F. era o único que estava a fazer fogo). Foi o Soldado enfermeiro Alipio Parreira que se encontrava próximo e que estava a fazer fogo com a ML MG-42 (para a qual o referido soldado se oferecera como voluntário) pegar no LGF e continuar a fazer fogo com ele. Nesta altura tive que pegar na MG-42 e fazer fogo com ela. Logo a seguir tive que me dirigir à rectaguarda a fim de falar com o PCV que me chamava. Quando regressei à frente verifiquei o já referido soldado enfermeiro recomeçara a fazer fogo com a ML MG-42 que passado mais alguns momentos ficou impossibilitado de fazer fogo devido a uma avaria, ao mesmo tempo que o soldado enfermeiro e o municiador eram feridos por estilhaços."

"Atingido mortalmente" não quererá dizer que ficou morto?... Com essa expressão a língua portuguesa não cometeu nenhuma traição. Ele morreu lá, de facto. Mas o relatório desta operação diz mais à frente:

"Ainda foram abatidos a tiro de G-3 2 elementos IN um destes pretendia agarrar o Soldado Armindo Correia Paulino". E o soldado Armindo Correia Paulino também lá ficou. Mas há dúvidas se ficou morto ou vivo: há quem diga que foi agarrado e há quem diga que morreu. De qualquer modo foi considerado como "retido pelo IN", mas não foi libertado. Por isso, vou falar dele mais à frente.

O soldado António Domingos Gomes era um guineense de Bissau, do "recrutamento da Província", portanto, e era o guarda-costas do capitão da CART 1690 [, Manuel C.C. Guimarães] . Sei que morreu às 8 horas do dia 21 de Agosto de 1967 na picada de Geba para Banjara. Ficou feito em bocados por uma mina anticarro, espalhado pelas árvores e pela mata. Eu e o meu guarda-costas, o Lamine Turé, ficámos feridos e o capitão, que quiz ir comigo nesse dia, também ficou muito ferido. Na esperança de ainda o salvar, fui rapidamente para Bafatá, onde havia o médico do batalhão. O Domingos Gomes lá ficou espalhado nas bermas da picada, e o capitão acabou por morrer. Não há relatório da ocorrência, por razões óbvias, mas eu vi e dei testemunho disso, assim como os que me acompanhavam. O Domingos Gomes morreu. Parece brincadeira de muito mau gosto, mas deram-no como "desaparecido em campanha".

Penso, embora não tenha exacta certeza, disseram-me que há já legislação que regulariza estas situações de corpos que não foram recuperados. Não entendo é porque os seus nomes não constam ainda nas listas dos mortos durante a guerra, aquelas fontes que o José Martins pesquisou.

Esta é uma situação gritante. Mas há outra, que é a dos prisioneiros feitos pelo PAIGC, os tais "retidos pelo IN" (4), e que morreram no cativeiro na Guiné-Conakry. É o caso do soldado Luís dos Santos Marques, do soldado João da Costa Sousa, do soldado Manuel José Machado da Silva e, talvez, do soldado Armindo Correia Paulino.

Estes dados tirei-os de um documento que falava dos prisioneiros libertados aquando da Operação Mar Verde:

- o soldado Luís dos Santos Marques, da CART 1690, aprisionado em Cantacunda em 11 de Abril de 1968, "não compareceu entre os libertados", dado como "morto no cativeiro", dizia. E está confirmado pelos seus companheiros de prisão. Segundo uns, morreu de malária; ou, segundo o major piloto-aviador António Lourenço Sousa Lobato, depois de levar uma tareia dos seus carcereiros;

- o soldado João da Costa Sousa, da CART1690, para onde fora em rendição individual a 19 de Agosto de 1967, e também aprisionado em Cantacunda em 11 de Abril de 1968, também "não compareceu entre os libertados", não havendo mais indicações;

- o soldado Manuel José Machado da Silva, não sei de que companhia era (sei só os que eram da CART 1690), também "não compareceu entre os libertados", e é dado como "morto no cativeiro";

- o soldado Armindo Correia Paulino, da CART1690: é o tal que há dúvidas se morreu ou foi aprisionado em Sinchã Jobel; como foi dado como "retido pelo IN", o seu nome consta como "não compareceu entre os libertados".

Quer dizer que há dois sobre os quais se tem a certeza que morreram prisioneiros. Porque não constam os seus nomes na tal lista? Inadmissível também. Não há razão.

O João da Costa Sousa e o Armindo Correia Paulino mereciam um cuidado para se saber, então, o realmente sucedeu com eles. Nem os seus companheiros de prisão sabem deles, porque alguns não estavam no mesmo sítio aquando da operação do comandante Alpoim Calvão. Mas não "se passaram", com certeza (não me parece, por exemplo, que a "história" do Armindo Paulino durante a Operação Inquietar II lhe desse hipótese disso) (5). Dos prisioneiros de Conakry houve um que "se passou" e foi para a rádio Argel, eu sei: foi o soldado Francisco Gomes da Silva, da CART 1690, e também aprisionado em Cantacunda.

Claro que na tal lista constam os "por doença" e os "por acidente". Devem estar nela, mas não está certo que não estejam os "desaparecidos em campanha", mortos com certeza, e os que "não compareceram entre os libertados", mortos no cativeiro com certeza.

Claro que, também injustamente, não consta os seus nomes no monumento em Belém. E, já agora que se fala dos cemitérios nos locais da guerra, há que lembrar que quer o alferes Fernandes, quer o Agostinho Câmara e, talvez, o Armindo Paulino terão os seus corpos "sepultados" no poço que o ex-guerrilheiro Darami me disse que era para onde atiravam os mortos que ficavam dos ataques à base de Sinchã Jobel (6).


Abraços
A. Marques Lopes

__________

Notas de L.G.:

(1) Lista disponível, em formato pdf, no sítio do António Pires > Moçambique - Guerra Colonial > José da Silva Marcelino Martins > Militares que Tombaram em Campanha (1961-1974) > Guiné

(2) Vd. post de 5 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLV: Sinchã Jobel VII(A. Marques Lopes)

(3) Vd. post de 3 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XL: Sinchã Jobel IV, V e VI (A. Marques Lopes)

(5) Vd. post de 7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIX: Samba Culo II (A. Marques Lopes)

(...) "E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o Bigodes, o Armindo F. Paulino (que foi, depois, feito prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conakri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência. Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida" (...) (7).
(6) Vd. post de 16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXIII: Do Porto a Bissau (17): Finalmente entrámos em Sinchã Jobel (A. Marques Lopes)

(7) Vd. post de 29 Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXX: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes)

(...) "Tenho de partir, de voltar a Portugal. Gostei muito de falar contigo, tinha mesmo necessidade de o fazer, já que, naquele dia em que nos encontrámos pela primeira vez, só eu te disse “firma lá!” e tu não me disseste nada. Percebo que nem me quizesses ouvir... E nunca mais dormi descansado até agora. (...)

"Quero pedir-te uma última coisa, que desculpes aquele meu soldado que tentou violar-te quando estavas agonizante. Conseguiste ver ainda que não o deixei fazer isso. Perdoa-lhe, era bom rapaz, um camponês minhoto que para aqui foi lançado e, sabes, é fácil perder a cabeça numa guerra de inimigos fabricados. Talvez o encontres por aí, o teu camarada Gazela matou-o em Jobel e o corpo dele por cá ficou. Deve andar, como tu, no meio desta floresta do Oio. Fala com ele agora". (...)

terça-feira, 7 de junho de 2005

Guiné 63/74 - P49: Samba Culo II (Marques Lopes)

Texto de A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1968) e actualmente coronel (DFA) na situação de reforma:

Na Op Inquietar II conseguiu-se o objectivo: a base de Samba Culo foi mesmo destruída... Mas há coisas que não vêm relatadas: diz o relator que "junto à base de patrulhas pelas 14H20, um grupo IN que seguia em coluna por um, detectou as NT abrindo fogo e tendo ferido um Soldado, pondo-se em fuga pela reacção das NT. Pelas 14H45 saiu um grupo de combate em patrulhamento ao longo do R Canjambari e regressou sem contacto".

Não foi assim. O que sucedeu foi o seguinte: o IN encostou-nos ao Rio Camjambari, não podendo nós cambá-lo, porque era muito fundo, nem podendo dali sair porque estávamos cercados. O comandante da operação disse-me:

- Ó Lopes, a minha companhia já está aqui instalada, por isso, você, que tem um grupo autónomo, vá ver se consegue furar o cerco. 

E lá fui, não só uma mas duas vezes, sem sucesso. Na segunda vez, fiquei sob fogo cruzado do PAIGC e da companhia do comandante, tendo um soldado meu levado um tiro nas costas, dado pelos dos nossos.

Quando o comandante me disse, pela terceira vez, para tentar furar o cerco, disse-lhe que não ia. Que chamasse os T6, o que ele acabou por fazer, e foi assim que dali saímos. Mas o que mais me impressionou nesta operação foi o seguinte: Samba Culo tinha uma escola; quando lá chegámos, vi escrito no quadro preto, em perfeito português: "Um vaso de flores". Tinha desenhado, a giz, por baixo, um vaso de flores.

E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o Bigodes, o Armindo F. Paulino (que foi, depois, feito prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conakri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. 

Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência. Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida.

«6. Op Inquietar II. 4 a 7 de Julho de 1967"

"Situação particular:

Há notícias que o IN tem un acampamento em Canjambari, além de outros espalhados pela mata do Óio. Tem-se revelado durante operações realizadas e implantado engenhos explosivos nos itinerários.

"Missão:
Executar uma acção em força sobre o acampanento IN de Canjambari em coordenação com forças do AGRP 1976.

"Força executante:

Dest A - CCAÇ 1685; 1 Gr Comb CART 1690; 1 Secção CMIL 3

Desat B - CART 1689: 1PEL.(-) /CMIL 3

Dest C - 1 PEL EREC 1578.

"Desenrolara da acção:
04JUL67

Concentração das forças em Banjara pelas 17H00.

05JUL67
Pelas 00H00 iniciaram o movimento em direcção a Samba Culo (050.0p.) seguindo o itinerário Banjara-Gendo-Tambicó-Samba Culo. Pelas 07H00 atingiram Gendo. Um pouco à frente desta antiga tabanca, pelas 08H00 foi detectado um grupo IN o qual tentaram cercar e capturar, só não o conseguindo por alguns elementos da Milícia na testa da coluna, que não entenderam a manobra, terem aberto fogo, pondo-os em fuga.

Entretanto foram avistadas 2 casas de mato (010 OP), que foram destruídas bem como diversos utensílios domésticos. Retomado a progressão e cerca das 11HOO foi detectado um núcleo de 10 casas de mato (050 OP), incluindo uma escola com vinte carteiras, tendo sido totalmente destruídas pelo fogo. Retomado a progressão e ainda perto deste último acampamento, as NT emboscaram um grupo IN não estimado, do qual foi capturado um elemento portador de uma faca de mato.

Reiniciado a progressão, Tambicó (Base de patrulhas) foi atingida às 14H00. Junto a base de patrulhas pelas 14H20, um grupo IN que seguia em coluna por um, detectou as NT abrindo fogo e tendo ferido um Soldado, pondo-se em fuga pela reacção das NT.

Pelas 14H45 saiu um grupo de combate em patrulhamento ao longo do R Canjambari e regressou sem contacto. Pelas 15H20 um grupo IN estimado em 30 a 40 elementos atacou a base de patrulhas com mort 60, LGF, PM e Armas Automáticas, durante 15 minutos sem consequências.

Os T6 que nessa altura sobrevoavam a base de patrulhas para protegerem o heli na evacuação do ferido, fizeram umas rajadas sobre o grupo IN. Nessa altura foi evacuado em HELI para o HM 241 o soldado ferido na acção IN anterior.

Pelas 17H00 saiu um outro grupo de combate para fazer o reconhecimento do itinerário Tambico - Samba Culos. Percorridas apenas algumas dezenas de metros, foi emboscado por um grupo IN de cerca de 60 elementos armados de mort 60, LGF, PM e Armas Automáticas, tendo ferido 2 soldados, evacuados mais tarde para o HM 241, por heli.

Juntamente com a emboscada o IN flagelou a base de patrulhas com 2 granadas de mort 60. Perante a reacção das NT o IN furtou-se ao contacto com baixas prováveis.

06JUL67

Cerca das 11H20, orientado pelo PCV iniciou-se a progressão em direcção ao acampamento de Samba Culo (050.OP.), tendo atingido pelas 15H20. O IN, que estava instalado do lado Sul do acampamento e que tinha reagido fortemente impedindo o Dest B de entrar no acampamento, reagiu à manobra de envolvimento e assalto ao acampamento com Mort 60 e PM, tendo ferido dois soldados, evacuados posteriormente para o HM 241 por heli.

O IN, apercebendo-se do cerco que se preparava, furtou-se ao contacto tendo as NT assaltado e destruído o acampamento composto por 30 casas de mato, sendo algumas cobertas a zinco. Foram destruídos também alguns utensílios domésticos.

Já no regresso o guia conduziu as NT a uma arrecadação de material, que o Dest B conquistou tendo capturado todo o armamento lá existente. Capturado o material foi destruída a arrecadação ouvindo-se então fortes rebentamentos de cartuchos e granadas que se prolongaram por 50 minutos.

Retomado a progressão de regresso para Banjara as NT por alturas de Farim 8H8-44, accionaram uma armadilha tendo ficado ferido um elemento do Dest B.

07JUL67

As NT atingiram Banjara pelas 05H00 após o que regressaram a quartéis. A operação terminou às l6H530.

"Resultados obtidos:

-Foi capturado armamento IN;
-Foram mortos, feridos e feitos prisioneiros elementos IN;
-Foi destruído diverso material e utensílios donéstico;
-Foram destruídos cerca de 10.000 munições e diverso material explosivo algum do qual se supõe encontrar-se enterrado, dado a violência das detonações".

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2900: Blogoterapia (54): Chorar faz bem, chorar fez-me bem, camarada Jorge Félix (A. Marques Lopes)

Guiné-Bissau > Região do Oio > 10 de Março de 2008 > Samba Culo> Passando por Samba Culo a caminho de Canjambari > Mais uma recepção entusiástica...



Guiné-Bissau > Região Oio> 10 de Março de 2008 > Picada entre Samba Culo e Canjambari> "A poeira para recordar velhos tempos das colunas"...


Fotos (e legendas): Página de Carlos Silva > Guerra da Guiné 63/74 - BCAÇ 2879 > Viagens > Guiné 2008 (com a devida vénia...)


1. Mensagem do A. Marques Lopes, dirigida ao Jorge Félix, antigo piloto de helicóptero (Guiné, BA12, 1968/70):

Caro amigo:

Chorar fez-me bem, porque alimenta esta dor que eu não consigo (nem quero) apagar. Contei-te que tive de matar uma professora em Samba Culo e, como sempre que o faço, tive de chorar.Porque nunca quiz matar, porque fui obrigado a matar. Já disse uma vez, e é verdade que tentei ao longo da minha vida banir esta mágoa, mas sem o conseguir. Muitos copos bebi para tal, mas, como viste, por mais copos que beba não consigo. Disseste-me que, como piloto de helicóptero, também matas-te com certeza. Tabém eu te disse que, nas emboscadas, se calhar tinha matado também, assim como eles mataram dos meus. Nunca sabemos. Mas esta soube. Era eu que estava à frente dela e fui eu que disparei. E não queria.

Reavivou-me a dor, mas esta catarse do nosso encontro permitiu-me manifestar esta mágoa. É bom, sempre que possível.
Obrigado.

A. Marques Lopes

_________


Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 24 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - 2879: Blogoterapia (53): Falar da Guiné e verter lágrimas, faz bem (Jorge Félix)

(2) Vd. postes de:

29 Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXX: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes)

(...) "Tenho de partir, de voltar a Portugal. Gostei muito de falar contigo, tinha mesmo necessidade de o fazer, já que, naquele dia em que nos encontrámos pela primeira vez, só eu te disse “firma lá!” e tu não me disseste nada. Percebo que nem me quizesses ouvir... E nunca mais dormi descansado até agora. (...)

"Quero pedir-te uma última coisa, que desculpes aquele meu soldado que tentou violar-te quando estavas agonizante. Conseguiste ver ainda que não o deixei fazer isso. Perdoa-lhe, era bom rapaz, um camponês minhoto que para aqui foi lançado e, sabes, é fácil perder a cabeça numa guerra de inimigos fabricados. Talvez o encontres por aí, o teu camarada Gazela matou-o em Jobel e o corpo dele por cá ficou. Deve andar, como tu, no meio desta floresta do Oio. Fala com ele agora". (...)

7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIX: Samba Culo II (A. Marques Lopes)

" (...) o que mais me impressionou nesta operação foi o seguinte: Samba Culo tinha uma escola; quando lá chegámos, vi escrito no quadro preto, em perfeito português: "Um vaso de flores". Tinha desenhado, a giz, por baixo, um vaso de flores.

"E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o Bigodes, o Armindo F. Paulino (que foi, depois, feito
prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conakri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência.

"Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida" (...).

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1899: Documentos (1): PAIGC - O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação


Guiné > PAIGC > Departamento Secretariado, Informação, Cultura e Formação de Quadros do Comité Central do PAIGC > 1966 > Capa e contracapa de O Nosso Primeiro Livro.

Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.


A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf(Hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) . Vive em Matosinhos.







1. Mensagem de A. Marques Lopes:

Caros camaradas:

Este era o livro de leitura dos primeiros anos das escolas do PAIGC durante a luta de libertação. É uma edição de 1966 do Departamento Secretariado, Informação, Cultura e Formação de Quadros do Comité Central do PAIGC. Apanhei vários destes em Samba Culo (1), mas alguém ficou com eles, depois de eu ter sido evacuado, só com a farda...Este foi-me cedido pelo nosso camarada tertuliano [António] Pimentel. Já o li. Dou-vos alguns textos a ler. Podem aprender o B-A-BA, o LHA-LHE-LHI... e ler outros textos.




Alfabetização, formação moral, cultura e... formação política, naturalmente. De acordo, aliás, com o Programa das Escolas do PAIGC. Mas este, que consegui de outra fonte, hei-de dar-vos a conhecer depois das minhas férias, que vão começar brevemente na Nazaré. Quem por lá passar dê uma apitadela (938013725).

Abraços e... adeus e até ao meu regresso!
A. Marques Lopes

2. Comentário de L.G.:

Obrigado aos dois Antónios. São pessoas com grande sensibilidade cultural e humana. Estes documentos são preciosos. Vamos reproduzir aqui, ao longo de vários posts, algumas das páginas do livrinho das escolas do PAIGC: a batalha do Komo (sic), Katungo, o Corpo Humano, a Verdade...


António Pimentel, ex- Alf Mil Rec Info, CCS BCAÇ 2851, Mansabá em Galomaro (1968/70). Vive no Porto.
Para muitos amigos e camaradas da Guiné, o livro não é novidade. Era frequente encontrá-lo noas assaltos a bases e acamapamentos... Para outros sim, até para os mais novos, os nossos filhos e netos... O livro era usado para alfabetizar tanto as crianças como os guerrilheiros. Nas matas, nas bases, acampamentos e tabancas controladas pelo PAIGG, também-se aprendia aler... em português., a pensar, a conhecer, a lutar e a amar em português.

Amílcar Cabral, inimigo não do Povo Português mas do regime político de Oliveira Salazar/Marcelo Caetano, fez mais pela língua portuguesa do que muitos portugueses que por lá passaram, com responsabilidades políticas e militares, ao longo de 500 anos de relações dos portugueses com os guineenses. Amílcar Cabral sabia que o português (para além do crioulo) era um das bases indispensáveis para a criação de uma identidade nacional...
Pessoalmente fiquei chocado, quando ao chegar a Contuboel em Junho de 1969 para fazer o IAO com os meus futuros soldados africanos da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 - fulas, velhos aliados dos portugueses... -, constatei que eles não falavam (nem muito menos escreviam) português...
______

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

29 Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXX: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes)

(...) "Tenho de partir, de voltar a Portugal. Gostei muito de falar contigo, tinha mesmo necessidade de o fazer, já que, naquele dia em que nos encontrámos pela primeira vez, só eu te disse “firma lá!” e tu não me disseste nada. Percebo que nem me quizesses ouvir... E nunca mais dormi descansado até agora. (...)

"Quero pedir-te uma última coisa, que desculpes aquele meu soldado que tentou violar-te quando estavas agonizante. Conseguiste ver ainda que não o deixei fazer isso. Perdoa-lhe, era bom rapaz, um camponês minhoto que para aqui foi lançado e, sabes, é fácil perder a cabeça numa guerra de inimigos fabricados. Talvez o encontres por aí, o teu camarada Gazela matou-o em Jobel e o corpo dele por cá ficou. Deve andar, como tu, no meio desta floresta do Oio. Fala com ele agora". (...)

7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIX: Samba Culo II (A. Marques Lopes)

" (...) o que mais me impressionou nesta operação foi o seguinte: Samba Culo tinha uma escola; quando lá chegámos, vi escrito no quadro preto, em perfeito português: "Um vaso de flores". Tinha desenhado, a giz, por baixo, um vaso de flores.

"E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o Bigodes, o Armindo F. Paulino (que foi, depois, feito prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conakri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência.

"Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida" (...).

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7813: Blogues da nossa blogosfera (42): Coisas da Guiné, de A. Marques Lopes



Coisas da Guiné, o blogue do nosso camarigo A. Marques Lopes (*)... Desde Setembro de 2010. Já lá vão cerca de 70 postes.  O que se pode ver e ler ?  "É conforme me vou lembrando, e vou também pescando algumas coisas minhas que já publiquei ou que outros publicaram em blogues existentes" (incluindo o nosso, Luís Graça & Camaradas da Guiné)... 

Recorde-se que o   A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf, CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) (1967/69)  tem uma vasta colaboração no nosso blogue, e em especial na I Série (entre Maio de 2005 e Maio de 2005). A actividade operacional das subunidades por onde ele andou (CART 1690 e CCAÇ 3) está aqui bem documentada, em texto e fotografia.


O A. Marques Lopes tem alguns dos melhores postes publicados no nosso blogue... De entre todos quero, mais uma vez,  destacar a história da professora de Samba Culô, morta por ele num ataque à aldeia sob controlo do PAIGC...  Foi uma história que o atormentou durante anos, até pelo menos a 2005, ano que voltou (de novo) à Guiné e a Samba Culo, tendo aí feito as pazes (o luto ou a catarse) consigo próprio e com a memória da guerrilheira abatida (**)...

Vou (re)negociar com o António a publicação, aqui, de uma ou outra das suas novas histórias. Para já, e para "abrir o apetite", tomo a liberdade de publicar a seguir um excerto do poste onde ele conta a sua viagem, em Dakota, de evacuação para o Hospital Militar Principal, ma sequência de graves ferimentos em combate (em 21 de Agosto de 1967, apenas 4 meses depois de ter chegado ao TO da Guiné):

Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2010 > 29-Como fui evacuado 


(...) A 21AGO67, fui ferido por uma mina no caminho de SARE BANDA  [, link quebrado,] para BANJARA (A mina da minha vida) [, link quebrado]. Estive uma semana no Hospital de Bissau (HM241) e daí saí para a Base Aérea para ser evacuado para a Metrópole. Foi num Dakota C47.




Fui só com as calças e uma camisa. Foram também outros feridos que entraram no avião. Os bancos que vêem na gravura foram ocupados por uma senhoras, não sei quem eram, nós os feridos, uns cinco ou seis, fomos esticados numas macas no corredor. Ainda disse que não estava assim tão mal e que podia ir numa cadeira. Mas que não, que devia ir numa maca. Lá fui, e quando o avião já estava alto comecei a deitar sangue pelos ouvidos (era o meu ferimento principal), por causa da descompressão. Ninguém ligou mas eu tratei de mim. 

Ao fim de cinco ou seis horas, não sei bem, chegámos ao aeroporto militar de Las Palmas [, nas Canárias,], disseram-nos. Que quem quisesse podia sair para descontrair. Saí e estava cheio de fome, não nos tinham dado nada para comer, nem as "queridas" rações de combate. Vi vários militares e olhei para uma porta que me pareceu a entrada de um bar. Fui até lá e entrei.

Olharam para mim, mas ninguém pareceu espantado, já deviam estar habituados a estas visitas. Pedi uma cerveja e uma sandes. Devorei-as, era a fome. No fim fiquei atrapalhado porque vi que não tinha dinheiro. Nem escudos, nem pesos, muito menos pesetas. Baixei a cabeça e fui-me afastando do balcão até à porta. Ninguém olhou para mim, pareceram-me distraídos. Zarpei para o dakota e estiquei-me na minha maca. Passados tempos o avião arrancou até Lisboa. Ainda agora não sei se fui eu que fui esperto ou se foram eles que me deixaram ir sem me agarrarem para pagar.

Depois de quatro ou cinco, ou cinco ou seis horas, não sei, chegámos ao Figo Maduro. Estava lá os meus pais e a minha irmã, tinham-lhes dito que eu fora ferido e vinha. Choraram e ficaram contentes por me ver de pé. Foi pouco tempo, porque me meteram numa ambulância para ir para a Estrela, o HMP. (...)


____________

Notas de L.G.:

(**) Vd. postes de: 

29 Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXX: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes) 

(...) "Tenho de partir, de voltar a Portugal. Gostei muito de falar contigo, tinha mesmo necessidade de o fazer, já que, naquele dia em que nos encontrámos pela primeira vez, só eu te disse “firma lá!” e tu não me disseste nada. Percebo que nem me quizesses ouvir... E nunca mais dormi descansado até agora. (...)

"Quero pedir-te uma última coisa, que desculpes aquele meu soldado que tentou violar-te quando estavas agonizante. Conseguiste ver ainda que não o deixei fazer isso. Perdoa-lhe, era bom rapaz, um camponês minhoto que para aqui foi lançado e, sabes, é fácil perder a cabeça numa guerra de inimigos fabricados. Talvez o encontres por aí, o teu camarada Gazela matou-o em Jobel e o corpo dele por cá ficou. Deve andar, como tu, no meio desta floresta do Oio. Fala com ele agora". (...)
7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIX: Samba Culo II (A. Marques Lopes)

" (...) o que mais me impressionou nesta operação foi o seguinte: Samba Culo tinha uma escola; quando lá chegámos, vi escrito no quadro preto, em perfeito português: "Um vaso de flores". Tinha desenhado, a giz, por baixo, um vaso de flores.

"E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o Bigodes, o Armindo F. Paulino (que foi, depois, feito 
prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conakri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência.

"Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida" (...).

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P301: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes)

Guiné-Bissau > 2005 > No tchon balanta... região de Porto Gole.

Com a devida vénia e os nossos agradecimentos ao nosso amigo Jorge Neto.

Fonte: Africanidades > 21.11.05 > Tchon balanta (região balanta).

© Jorge Neto (2005)



Caros camaradas
Estamos já em época natalícia e vou dar-vos uma de prosa, para amenizar (será?...). Tem sido uma das ideias dos meus natais.

A. Marques Lopes



Nota de L.G.:

Amigos e camaradas, esta estória comoveu-me. É a coisa mais linda que eu podia ler neste Natal. Ela foi decididamente escrita com sangue e lágrimas. É sobretudo reveladora da grandeza de alma do nosso amigo e camarada A. Marques Lopes que, em 7 de Julho de 1967, estava no sítio errado, em Samba Culo. 

Ele era alferes miliciano da CART 1690, sediada em Geba. Não creio que o luto das nossas perdas se possa fazer de uma vez por todas. Escrever e partilhar a escrita ajudam a fazer o luto de tudo aquilo que perdemos quando tínhamos vinte anos e fazíamos a guerra na Guiné... Obrigado, António.


A professor de Samba Culo

Ali estava ela, jovem e bela como a conheci há trinta anos, mas agora com um olhar calmo e um sorriso nos lábios, vi-a na expectativa do meu abraço. E abracei-a... e chorei (...).

Professora, este jovem é o Cinco, que me trouxe de jeep até aqui, e este é o Blétch Intéte, filho da siguê (1) dos balantas de Barro. O outro teu patrício, homem-grande (2), é o Cacuto Seidi, chefe da tabanca (3) de Barro. Foi ele que me disse que o Blétch Intéte tem irã (4) e que só ele podia fazer com que eu te encontrasse. A minha chegada aqui, há trinta anos, foi muito diferente, como deves calcular, e não me refiro, evidentemente, às razões de cada uma das viagens. Desta vez, assim que pisei o aeroporto Osvaldo Vieira (5), tive de levar as mãos ao peito para que o coração não me abandonasse. Por mais esforços, por mais conversas apaziguadoras, durante as quatro horas que durou a viagem, não consegui acalmá-lo nem convencê-lo de que era preciso dominar a ansiedade e moderar os desejos de ti. Perdido, cego de alegria e paixão, chegara a hora da realização do sonho de vários anos, depois de desvanecidos todos os fantasmas, é claro, porque, quando saí daqui a primeira vez, evacuado para o hospital, este coração estava enraivecido com vocês todos, que me tinham ferido e matado amigos meus. Passados nove meses, aqui voltei, para continuar na guerra, é verdade, ainda confuso mas já sem ódio e desejoso de entender o que se passava. Foi nessa minha fase, Professora, que nos conhecemos, quando dei contigo na tua escola de Samba Culo, naquela manhã de 7 de Julho (6). Da segunda vez que abandonei a Guiné e deixei a guerra, a minha vontade e empenho foi esquecê-la, varrer-vos a todos da minha memória, lavar as marcas do sangue dos meus amigos, do meu próprio, e também do vosso, banir o medo e o cansaço que se me entranhara na alma ao percorrer as matas deste chão que, agora, vê lá!, reguei com lágrimas de alegria e de saudade consolada. Para aqui chegar, frequentei bares e prostitutas, acumulei sessões contínuas no Olímpia (7), fui estudante mas nunca acabei cursos, percorri a Europa, estive em Paris, no Quartier Latin das minhas leituras, Londres, vi a Royal Guard e a rainha, Roma, não vi o Papa porque estava de férias em Castelgandolfo, e vê lá que me atrevi a passar a cortina de ferro, em Praga, Moscovo, onde namorei uma soviética na Praça Vermelha, a tchetchena Aniuska, Leninegrado e Kiev, fui activista sindical e militante político, participei em primeiros de Maio, fiz trabalhos clandestinos e levei porrada da polícia, dormi em esquadras, casei-me, fiz filhos e apanhei bebedeiras, bati nos filhos e descasei-me, conheci muitas mulheres, fiz amor por todo o lado, levei muitas negas e passei noites de solidão, dormi em bancos de jardim e debaixo de árvores, mas nunca te esqueci, não houve prazer-anfetamina que cauterizasse esta memória em carne viva nem bebida que a afogasse, cansei-me da vida, como me cansara antes para não morrer, e pensei em matar-me. Mas, olha, não consegui, não por causa de Deus, pois nesse período nunca fui à missa e nunca me confessei. Não o fiz porque tinha começado a amar-te e não queria morrer sem voltar a ver-te, sem deixar de to dizer.(...)

Está a ficar noite e tenho três horas para chegar a Bissau. Cinc, prépare le jeep, nous en allons tout de suite. Sabes, professora, porque é que o meu condutor se chama Cinco? Nasceu no dia 5 de Maio e é o quinto filho de sua mãe, que decidiu dar-lhe esse nome tão significativo. Não, não te preocupes que ele não percebeu nada da nossa conversa, além do crioulo só sabe francês, pois frequentou apenas uma escola em Dakar. É que, professora, nasceu há 23 anos, muito depois daquele dia em que tive de te abrir o ventre com uma rajada de G3 por te ver empunhar a kalash que tinhas pendurada no quadro da escola. Ele não estava aqui entre os teus meninos. Se tivesse estado, saberia falar e escrever português, com certeza. Sei que foste uma boa professora. Vi que escrevias no quadro as palavras com o desenho correspondente para os teus alunos identificarem bem em português os objectos do seu dia-a-dia. Vi os livros por onde aprendiam a ler, vi os cadernos de redacção e de cópias. Está descansada, não matei nenhum deles, garanto-te. Devem estar por aí, cidadãos do teu país (...).



Uma escola do PAIGC, em "região libertada"...
Tal e qual como a que as forças da CART 1690 destruiram na Op Inquietar II (4 a 7 de Julho de 1967) e em que morreu a jovem professora, aqui evocada pelo autor.

© Agência de Notícias Xinhua (1972)

Tenho de partir, de voltar a Portugal. Gostei muito de falar contigo, tinha mesmo necessidade de o fazer, já que, naquele dia em que nos encontrámos pela primeira vez, só eu te disse “firma lá!” (8) e tu não me disseste nada. Percebo que nem me quizesses ouvir... E nunca mais dormi descansado até agora. (...) Quero pedir-te uma última coisa, que desculpes aquele meu soldado que tentou violar-te quando estavas agonizante. Conseguiste ver ainda que não o deixei fazer isso. Perdoa-lhe, era bom rapaz, um camponês minhoto que para aqui foi lançado e, sabes, é fácil perder a cabeça numa guerra de inimigos fabricados. Talvez o encontres por aí, o teu camarada Gazela matou-o em Jobel e o corpo dele por cá ficou. Deve andar, como tu, no meio desta floresta do Oio. Fala com ele agora. (...)

© A. Marques Lopes (2005)
______

(1) Feiticeira tribal

(2) Homem idoso, respeitável, aceite como autoridade pelos mais novos da povoação.

(3) Povoação.

(4) Irã, entre os balantas, que são animistas, é qualquer ser da natureza, árvore ou animal, ou qualquer objecto a que é atribuído poder mágico. «Tem irã» significa ter poder sobrenatural que é preciso respeitar e temer.

(5) Aeroporto de Bissau, a que foi dado o nome de Osvaldo Vieira, herói do PAIGC, morto durante a guerra de libertação.

(6) vd. post de A. Marques Lopes, de 7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIX: Samba Culo II :

" (...) o que mais me impressionou nesta operação foi o seguinte: Samba Culo tinha uma escola; quando lá chegámos, vi escrito no quadro preto, em perfeito português: "Um vaso de flores". Tinha desenhado, a giz, por baixo, um vaso de flores.E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o Bigodes, o Armindo F. Paulino (que foi, depois, feito prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conakri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência. Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida".

(7) Cinema popular na Rua dos Condes, em Lisboa.

(8) Está quieta aí!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25099: O nosso blogue em números (95): Faltam-nos 17 nomes para chegar aos 900 grão-tabanqueiros, dois batalhões (meta atingir no final deste ano em que comemoramos os 20 anos do nosso blogue)




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Foto de família no ano em que fizemos o pleno (200 inscrições)... Infelizmente, vários dos camarada que lá estiveram, já não estão entre nós.. Cito alguns, de memória ( o Carlos Vinhal pode comfirmar, pela lista de presenças): António Estácio, Carlos Cruz, João Manuel Rebola, Joaquim Peixoto, Jorge Cabral ("alfero Cabra"), Jorge Rosales, Jorge Teixeira (Portojo), José Eduardo Oliveira ("Jero"), José Manuel Matos Dinis, Lúcio Vieira, Xico Allen... 

TABANCA GRANDE - LISTA ALFABÉTICA DOS 883 AMIGOS & CAMARADAS DA GUINÉ

(A / Ant)

A. Marques Lopes, Abel Maria Rodrigues, Abel Rei, Abel Santos, Abílio Delgado, Abílio Duarte, Abílio Machado, Abílio Magro, Acácio Correia, Acácio Mares, Adão Cruz, Adelaide Barata Carrêlo, Adelaide Gramunha Marques (ou Adelaide Crestejo), Adelino Capinha, Adélio Monteiro, Adolfo Cruz, Adriano Lima, Adriano Moreira, Adriano Neto, Afonso de Melo, Afonso M.F. Sousa, Agostinho Gaspar, Aires Ferreira, Albano Costa, Albano Gomes, Albano Mendes de Matos, Albertino Ferreira, Alberto Antunes, Alberto Branquinho, Alberto Grácio, Alberto Nascimento, Alberto Pires ("Teco"), Alberto Sardinha, Alberto Sousa Silva, Albino Silva, Alcides Silva, Alexandre Cardoso, Alexandre Margarido, Alfredo Fernandes, Alfredo Reis, Alice Carneiro, Almeida Campos, Almiro Gonçalves, Altamiro Claro, Álvaro Basto, Álvaro Carvalho, Álvaro Magro, Álvaro Mendonça, Álvaro Vasconcelos, Amaral Bernardo, Amaro Munhoz Samúdio, Américo Estanqueiro, Américo Russa, Amílcar Mendes, Amílcar Ramos, Ana Duarte, Ana Ferreira (ou Ana Paula Ferreira), Ana Maria Gala, Ana Romero, Anabela Pires, Aníbal Magalhães, Anselmo Garvoa, Antero F. C. Santos (n=63)

(António / António G)

António Abrantes, António Acílio Azevedo, António Agreira, António Alberto Alves, António Almeida, António Alves da Cruz, António Azevedo Rodrigues, António Baia, António Baldé, António Baltazar Pinto, António Barbosa, António Barroso, António Bartolomeu, António Bastos, António Bonito, António (ou Tony) Borié, António Branco, António Brum, António C. Morais da Silva, António Camilo, António Campos, António Carvalho, António Castro, António Clemente, António Correia Rodrigues, António Cunha (Passa), António da Costa Maria, 
António Dâmaso, António Delmar Pereira, António Dias, António Duarte, António Eduardo Carvalho, António Faneco, António Figueiredo, António Figuinha, António G. Carvalho, António Garcia Matos (ou António Matos), António Gomes da Cunha, António Graça de Abreu  (n=39)

(António  I / António V)

António Inverno, António J. Pereira da Costa, António J. Serradas Pereira, António Joaquim Alves, António Joaquim Oliveira, António (ou Tony) Levezinho, António Lopes Pereira, António Manuel Conceição Santos, António Manuel Oliveira, António Manuel Salvador, António Marques, António Marques Barbosa, António Marquês, António Marreiros, António Martins de Matos, António Mateus, António Medina, António Melo, António Melo de Carvalho, António Moreira, António Murta, António Nobre, António Osório, António P. Almeida, António Paiva, António Pimentel, António Pinto, António Ramalho, António Reis, António Rocha Costa, António Rodrigues, António Rodrigues Pereira, António Rosinha, António Sá Fernandes, António Salvada, António Sampaio, António Santos, António Santos Almeida, António Santos Dias, António Tavares, António Teixeira Mota, António Varela (n=41)


(Arl / Aura)

Arlindo Roda, Armandino Oliveira, Armandino Santos, Armando Costa, Armando Faria, Armando Ferreira, Armando Ferreira Gomes, Armando Fonseca, Armando Gonçalves, Armando Pires, , Arménio Estorninho, Arménio Santos, Armindo Batata, Armor Pires Mota, Arnaldo Guerreiro, Arnaldo Sousa, Arsénio Puim, Artur Conceição, Artur José Ferreira, Artur Ramos, Artur Soares, Augusto Baptista, Augusto Mota, Augusto Silva Santos, Augusto Vilaça, Aura Rico Teles (n=27)

(B)

Belarmino Sardinha, Belmiro Tavares, Belmiro Vaqueiro, Benito Neves, Benjamim Durães, Benvindo Gonçalves, Bernardino Cardoso, Bernardino Parreira, Braima Djaura, Braima Galissá (n=10)

(Cam / Carlos)

Campelo de Sousa, Cândido Morais, Carlos Afeitos, Carlos Alberto de Jesus Pinto, Carlos Alexandre, Carlos Américo Cardoso, Carlos Arnaut, Carlos Ayala Botto, Carlos Azevedo, Carlos Baptista, Carlos Barros, Carlos Carvalho, Carlos Farinha, Carlos Fernandes, Carlos Filipe Gonçalves, Carlos Fortunato, Carlos Fraga, Carlos Guedes, Carlos Jorge Pereira, Carlos Marques de Oliveira, Carlos Mendes, Carlos Milheirão, Carlos Moreno, Carlos Nery Gomes de Araújo, Carlos Órfão, Carlos Pedreño Ferreira, Carlos Pinheiro, Carlos Pinto, Carlos Prata, Carlos Ricardo, Carlos Rios, Carlos Silva, Carlos Silvério, Carlos Soares, Carlos Sousa, Carlos Valente, Carlos Valentim, Carlos Vieira, Carlos Vinhal (n=39)

(Carm / Crist)

Carmelino Cardoso, Carvalhido da Ponte, Casimiro Vieira da Silva, Cátia Félix, Célia Dinis, César Dias, Cherno Baldé, Cláudio Brito, Conceição Alves, Conceição Brazão, Conceição Salgado, Constantino Costa, Constantino Ferreira d'Alva, Constantino (ou Tino) Neves, Cristina Silva (n=15)

(D)

Daniel Jacob Pestana, Daniel Vieira, David Guimarães, David Peixoto, Delfim Rodrigues, Diamantino Monteiro (ou Diamantino Pereira Monteiro), Diana Andringa, Dina Vinhal, Domingos Fonseca, Domingos Gonçalves, Domingos Maçarico, Domingos Robalo, Domingos Santos, Duarte Cunha, Durval Faria (n=15)

(E)

Edgar Soares, Eduardo Ablu, Eduardo Campos, Eduardo Costa Dias, Eduardo Estevens, Eduardo Estrela, Eduardo J. Magalhães Ribeiro, Eduardo Moutinho Santos, Eduardo Santos, Egídio Lopes (Ten Pilav), Ernestino Caniço, Ernesto Duarte, Ernesto Ribeiro, Estêvão A. Henriques, Evaristo Reis (n=15) 
 

(F)

Felismina Costa, Fernandino Leite, Fernandino Vigário, Fernando Almeida, Fernando Andrade Sousa, Fernando Araújo, Fernando Barata, Fernando Calado, Fernando Cepa, Fernando Chapouto, Fernando de Jesus Sousa, Fernando de Sousa Ribeiro, Fernando Gomes de Carvalho, Fernando Gouveia, Fernando Hipólito, Fernando Inácio, Fernando José Estrela Soares, Fernando Loureiro, Fernando Macedo, Fernando Manuel Belo, Fernando Moita, Fernando Oliveira, Fernando Oliveira (Brasinha), Fernando Santos, Fernando Sucio, Fernando Tabanez Ribeiro, Fernando Teixeira, Ferreira da Silva, Ferreira Neto, Filomena Sampaio, Florimundo Rocha, Fradique Morujão, Francisco Baptista, Francisco Feijão, Francisco Gamelas, Francisco Godinho, Francisco Gomes, Francisco Henriques da Silva, Francisco Mendonça, Francisco Monteiro Galveia, Francisco Palma, Francisco Santiago, Francisco Santos, Francisco Silva (n=44)

(G)

Gabriel Gonçalves, Garcez Costa, George Freire, Germano Penha, Germano Santos, Gil Moutinho, Gilda Pinho Brandão (ou Gilda Brás), Gina [Virgínia] Marques, Giselda Antunes Pessoa, Gonçalo Inocentes, Graciela Santos, Gualberto Passos Marques, Guilherme Ganança, Gumerzindo Silva, Gustavo Vasques (n=15)

(H)

Hélder Sousa, Henrique Cabral, Henrique Cerqueira, Henrique Martins de Castro, Henrique Matos, Henrique Pinto, Herlânder Simões, Hernâni Acácio Figueiredo, Hilário Peixeiro, Horácio Fernandes, Hugo Costa, Hugo Guerra, Hugo Moura Ferreira, Humberto Nunes, Humberto Reis (n=15)

(I/João)

Idálio Reis, Ildeberto Medeiros, Inácio Silva, Inês Allen, Isabel Levy Ribeiro, Ismael Augusto, J. Armando F. Almeida, J. C. Mussá Biai, J. F. Santos Ribeiro, J. L. Mendes Gomes, J. L. Vacas de Carvalho, J. M. Pereira da Costa, Jacinto Cristina, Jaime Bonifácio Marques da Silva, Jaime da Silva Mendes, Jaime Machado, Jean Soares, Jéssica Nascimento, João Afonso Bento Soares, João Alberto Coelho, João Alves, João Bonifácio, João Carlos Silva, João Carreiro Martins, João Carvalho, João Cerina, João Crisóstomo, João Dias da Silva, João Graça, João Lourenço, João M. Félix Dias, João Martel, João Martins, João Meneses, João Melo, João Miranda, João Moreira, João Nunes, João Paulo Diniz, João Pereira da Costa, João Rodrigues Lobo, João Rosa, João Ruivo Fernandes, João S. Parreira, João Sacôto, João Santos, João Santiago, João Schwarz, João Seabra, João Varanda, João Vaz (n=51) 

(Joaquim / Jochen)

Joaquim Ascenção, Joaquim Cardoso, Joaquim Costa, Joaquim Cruz, Joaquim Fernandes, Joaquim Fernandes Alves, Joaquim Gomes de Almeida (o "Custóias"), Joaquim Guimarães, Joaquim Jorge, Joaquim Luís Fernandes, Joaquim Macau, Joaquim Martins, Joaquim Mexia Alves, Joaquim Nogueira Alves, Joaquim Pinheiro, Joaquim Pinto Carvalho, Joaquim Rodero, Joaquim Ruivo, Joaquim Sabido, Joaquim Sequeira, Joaquim Soares, Jochen Steffen Arndt (n=22)

(Jorge)

Jorge Araújo, Jorge Caiano, Jorge Canhão, Jorge Coutinho, Jorge Félix, Jorge Ferreira, Jorge Lobo, Jorge Narciso, Jorge Picado, Jorge Pinto, Jorge Rijo, Jorge Rosmaninho, Jorge Santos, Jorge Silva, Jorge Simão, Jorge Tavares, Jorge Teixeira (n=17)

(José)


José Afonso, José Albino, José Almeida, José António Sousa, José António Viegas, José Barbosa, José Barros, José Bastos, José Belo, José Brás, José Carlos Ferreira, José Carlos Gabriel, José Carlos Lopes, José Carlos Neves, José Carlos Pimentel, José Carlos Silva, José Carmino Azevedo, José Carvalho, José Casimiro Carvalho, José Claudino da Silva, José Colaço, José Corceiro, José Cortes, José Crisóstomo Lucas, José da Câmara, José Diniz de Souza Faro, José Emídio Marques, José Fernando de Andrade Rodrigues, José Fernando Estima, José Ferraz de Carvalho, José Ferreira da Silva, José Fialho, José Figueiral, José Firmino, José Francisco Robalo Borrego, José Gonçalves, José Horácio Dantas, José Jerónimo, José João Braga Domingos, José Lima da Silva, José Lino Oliveira, José Luís Vieira de Sousa, José Macedo, José Manuel Alves, José Manuel Cancela, José Manuel Carvalho, José Manuel Lopes (Josema), José Manuel Pechorro, José Manuel Samouco, José Manuel Sarrico Cunté, José Maria Claro, José Maria Monteiro, José Maria Pinela, José Marques Ferreira, José Martins, José Martins Rodrigues, José Matos, José Melo, José Moreira Neves, José Nascimento, José Nunes, José Paracana, José Parente Dacosta, José Pedro Neves, José Pedrosa, José Peixoto, José Pereira, José Pinho da Costa, José Quintino Romão, José Ramos, José Ramos (STM), José Rocha (ou José Barros Rocha), José Rodrigues, José Rosa da Silva Neto, José Rosário, José Salvado, José Santos, José Saúde, José Sousa (JMSF), José Sousa Pinto, José (ou Zé) Teixeira, José Torres Neves (Padre), José Vargues, José Vermelho, José Zeferino (n=84) 

(Jov/Juv)


Joviano Teixeira, Júlia Neto, Júlio Abreu, Júlio Benavente, Júlio César, Júlio Faria, Júlio Madaleno, Juvenal Amado, Juvenal Candeias, Juvenal Danado (n=10)

(L)

Lázaro Ferreira, Leão Varela, Leonel Teixeira, Leopoldo Correia, Lia Medina, Libério Lopes, Lígia Guimarães, Luciana Saraiva Guerra, Luciano de Jesus, Lucinda Aranha, Luís Branquinho Crespo, Luís Camões, Luís Camolas, Luís Candeias, Luís Carvalhido, Luís de Sousa, Luís Dias, Luís Fonseca, Luís Gonçalves Vaz, Luís Graça [Henriques], Luís Guerreiro, Luís Jales, Luís Marcelino, Luís Miguel da Silva Malú, Luís Mourato Oliveira, Luís Nascimento, Luís Paiva, Luís Paulino, Luís R. Moreira, Luís Rainha, Luiz Farinha, Luiz Figueiredo (n=32)

(Mam/Manuela)


Mamadu Baio, Manuel Abelha Carvalho, Manuel Amante, Manuel Amaro, Manuel Antunes, Manuel Barros Castro, Manuel Bastos Soares, Manuel Bento, Manuel Calhandra Leitão ("Mafra"), Manuel Carmelita, Manuel Carvalhido, Manuel Carvalho, Manuel Carvalho Passos, Manuel Castro, Manuel Cibrão Guimarães, Manuel Coelho, Manuel Correia Bastos, Manuel Cruz, Manuel Domingos Ribeiro, Manuel Domingues, Manuel Freitas, Manuel G. Ferreira, Manuel Gomes, Manuel Gonçalves, Manuel Henrique Quintas de Pinho, Manuel Inácio, Manuel João Coelho, Manuel Joaquim, Manuel José Janes, Manuel Lima Santos, Manuel Luís de Sousa, Manuel Luís Lomba, Manuel Macias, Manuel Maia, Manuel Mata, Manuel Melo, Manuel Oliveira, Manuel Oliveira Pereira, Manuel Palma, Manuel Peredo, Manuel Rebocho, Manuel Rei Vilar, Manuel Reis, Manuel Resende, Manuel Rodrigues, Manuel Salada, Manuel Santos, Manuel Seleiro, Manuel Serôdio, Manuel Sousa, Manuel Tavares Oliveira, Manuel Traquina, Manuel Vaz, Manuel Viegas (n=54)

(Mar / Mig)

Margarida Peixoto, Maria Arminda Santos, Maria Clarinda Gonçalves, Maria de Fátima Santos, Maria Helena Carvalho (ou Helena do Enxalé), Maria Joana Ferreira da Silva, Maria Teresa Almeida, Mário Arada Pinheiro, Mário Armas de Sousa, Mário Beja Santos (ou Beja Santos), Mário Bravo, Mário Cláudio [pseudónimo de Rui Barbot Costa], Mário Cruz ("Shemeiks"), Mário de Azevedo, , Mário Dias (ou Mário Roseira Dias), Mário Fitas (ou Mário Vicente), Mário Gaspar, Mário Leitão, Mário Lourenço, Mário Magalhães, Mário Migueis, Mário Oliveira (Capelão do BCAÇ 2930), Mário Santos, Mário Serra de Oliveira, Marisa Tavares, Marta Ceitil, Martins Julião, Maurício Nunes Vieira, Maximino Alves, Melo Silva, Miguel Pessoa, Miguel Ribeiro de Almeida, Miguel Ritto, Miguel Rocha, Miguel Vareta (n=36)

(N)

Natalino da Silva Batista, Nelson Cerveira, Nelson Domingues, Nelson Herbert, NI (Maria Dulcinea), Norberto Gomes da Costa, Norberto Tavares de Carvalho, Nunes Ferreira, Nuno Almeida, Nuno Dempster, Nuno Nazareth Fernandes (n=11)

(O/P/Q)

Orlando Figueiredo, Orlando Pinela, Osvaldo Cruz, Osvaldo Pimenta, Pacífico dos Reis, Patrício Ribeiro, Paula Salgado, Paulo Lage Raposo (ou Paulo Raposo), Paulo Reis, Paulo Salgado, Paulo Santiago, Pedro Cruz, Pedro Lauret (n=13)

(R)

Ramiro Figueira, Ramiro Jesus, Raul Azevedo, Raul Brás, Raul Castanha, Regina Gouveia, Ribeiro Agostinho, Ricardo Almeida, Ricardo Figueiredo, Ricardo Sousa, Ricardo Teixeira, Rogé Guerreiro, Rogério Cardoso, Rogério Chambel, Rogério Ferreira, Rogério Freire, Rogério Paupério, Rosa Serra, Rui A. Santos, Rui Baptista, Rui Esteves, Rui Felício, Rui Fernandes, Rui G. Santos, Rui Gonçalves, Rui Pedro Silva, Rui Silva, Rui Vieira Coelho (n=28)

(S/T)

Sadibo Dabo, Santos Oliveira, Sebastião Ramalho Lavado, Sérgio Pereira, Sérgio Sousa, Serra Vaz, Silvério Dias, Silvério Lobo, Sílvia Torres, Sílvio Abrantes (Hoss), Souleimane Silá, Sousa de Castro, Susana Rocha, Tibério Borges, Tina Kramer, Tomané Camará, Tomás Carneiro, Tomás Oliveira, Tony Grilo, Tony Tavares (n=20)

(V/X/W/Z)

Valdemar Queiroz, Valente Fernandes, Valentim Oliveira, Vasco da Gama, Vasco Ferreira, Vasco Joaquim, Vasco Santos,Victor Alfaiate, Victor Costa, Victor David, Victor Garcia, Victor Tavares, Virgílio Teixeira, Virgílio Valente, Virgínio Briote, Vitor Caseiro, Vítor Cordeiro, Vitor Ferreira, Vítor Junqueira, Vítor Oliveira, Vítor Raposeiro, Vítor Silva, Zé Carioca (ou José António Carioca) (n=23)


Lista dos amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando (n=143):

A

Agostinho Jesus (1950-2016) | Alberto Bastos (1948-2022) | Alcídio Marinho (1940-2021) | Alfredo Dinis Tapado (1949-2010) | Amadu Bailo Jaló (1940-2015) | Américo Marques (1951-2019) | António Branquinho (1947-2023) | António Cunha ("Tony") (c.1950 - c. 2022) | António Eduardo Ferreira (1950 - 2023) | António da Silva Batista (1950-2016) | António Dias das Neves (1947-2001) | António Domingos Rodrigues (1947-2010) | António Estácio (1947-2022) | António Manuel Carlão (1947-2018) | António Manuel Martins Branquinho (1947-2013) | António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018) | | António Rebelo (1950-2014) | António Teixeira (1948-2013) | António Vaz (1936-2015) | Armandino Alves (1944-2014) | Armando Tavares da Silva (1939-2023) | Armando Teixeira da Silva (1944-2018) | Augusto Lenine Gonçalves Abreu (1933-2012) | Aurélio Duarte (1947-2017) | (n=24)

C

Carlos Alberto Cruz (1941-2023) | Carlos Azeredo (1930-2021) | Carlos Cordeiro (1946-2018) | Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai) (1929-2021) | Carlos Filipe Coelho (1950-2017) | Carlos Geraldes (1941-2012)  | Carlos Marques dos Santos (1943-2019) | Carlos Rebelo (1948-2009) | Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2012) | Carronda Rodrigues (1948-2023) | Celestino Bandeira (1946-2021)  | Clara Schwarz da Silva (1915-2016) |  Cláudio Ferreira (1950-2021) | Coutinho e Lima (1935-2022) | Cristina Allen (1943-2021) | Cristóvão de Aguiar (1940-2021) | Cunha Ribeiro (1936-2023) | Celestino Bandeira (1946-2021) | Clara Schwarz da Silva (1915-2016) | (n=19)


D/E/FG/H/I

Daniel Matos (1949-2011) | Domingos Fernandes (1946-2020) | Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) | Ernesto Marques (1949-2021) | Fernando Brito (1932-2014) | Fernando Costa (1951-2018) | Fernando [de Sousa] Henriques (1949-2011) | Fernando Magro (1936 - 2023) | Fernando Rodrigues (1933-2013) | Francisco Parreira (1948-2012) | Francisco Pinho da Costa (1937-2022) | França Soares (1949-2009) | Gertrudes da Silva (1943-2018) | Humberto Duarte (1951-2010) |  Inácio J. Carola Figueira (1950-2017) | Isabel Levezinho (1953-2020) | Ivo da Silva Correia (.c 1974-2017) | (n=17)

J
 João Barge (1945-2010) | João Cupido (1936-2021) | João Caramba (1950-2013) | João Diniz (1941-2021) | João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014) | João Rebola (1945-2018) | João Rocha (1944-2018) | João Silva (1950-2022) | Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010) | Joaquim da Silva Correia (1946-2021) | Joaquim Peixoto (1949-2018) | Joaquim Vicente Silva (1951-2011) | Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015) | Jorge Cabral (1944-2021) | Jorge Rosales (1939-2019) | Jorge Teixeira (Portojo)  (1945-2017) | José António Almeida Rodrigues (1950-2016) | José António Paradela (1937-2023) | José Augusto Ribeiro (1939-2020) José Barreto Pires (1945-2020) |  José Carlos Suleimane Baldé (c.1951-2022) |  José Ceitil (1947-2020) | José Eduardo Alves (1950-2016) | José Eduardo Oliveira (JERO) (1940-2021) | José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014) | José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017) | José Manuel Dinis (1948-2021) | José Manuel P. Quadrado (1947-2016) |  José Marcelino Sousa (1949 - 2023) |  José Martins Rosado Piça (1933-2021) | José Maria da Silva Valente (1946-2020) | José Marques Alves (1947-2013) | José Moreira (1943-2016) | José (ou Zé) Neto (1929-2007)|  José Pardete Ferreira (1941-2021) | Júlio Martins Pereira (1944-2022) (n=36)

L/M/N

Leopoldo Amado (1960-2021) |  Libório Tavares (Padre) (1933-2020) | Lúcio Vieira (1943-2020) | Luís Borrega (1948-2013) | Luís Encarnação (1948-2018)|  Luís Faria (1948-2013) | Luís F. Moreira (1948-2013) |  Luís Henriques (1920-2012) | Luís Rosa (1939-2020) | Mamadu Camará (c. 1940-2021) | Manuel Amaral Campos (1945-2021) | Manuel Carneiro (1952-2018) | Manuel Castro Sampaio (1949-2006) | Manuel Dias Sequeira (1944-2008) |  Manuel Marinho (1950-2022) | Manuel Martins (1950-2013) | Manuel Moreira (1945-2014)  | Manuel Moreira de Castro (1946-2015) | Manuel Varanda Lucas (1942-2010) | Manuel Gonçalves (Nela (1946-2019 |  Marcelino da Mata (1940-2021) | Maria da Piedade Gouveia (1939-2011) |  Maria Ivone Reis (1929-2022) | Maria Manuela Pinheiro (1950-2014) | Mário de Oliveira (Padre) (1937-2022) | Mário Gualter Pinto (1945-2019) | Mário Vasconcelos (1945-2017) | Nelson Batalha (1948-2017) | Nuno Rubim (1938 - 2023)  (n=29)


O/P/Q/R/S/TU/V/X/Z

Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021) | Paulo Fragoso (c.1947-2021) | Queta Baldé (1943-2021) | Raul Albino (1945-2020) | Renato Monteiro (1946-2021) | Rogério da Silva Leitão (1935-2010) | Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022) | Teresa Reis (1947-2011) | Torcato Mendonça (1944-2021) | Umaru Baldé (1953-2004) | Vasco Pires (1948-2016) | Veríssimo Ferreira (1942-2022) | Victor Alves (1949-2016) | Victor Barata (1951-2021) | Victor Condeço (1943-2010) | Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014) |  Xico Allen (1950-2022) | Zélia Neno (1953 - 2023) (n=18)

Total de grão-tabanqueiros em 6/1/2024 = 883
 

Últimas dez entradas (da mais recente para a menos recente; entre parênteses, o nº de grão-tabanqueiro):

Alberto Pires ("Teco") (883), António Reis (882), Souleimane Silá (881), António A
lves da Cruz (880), Cunha Ribeiro (879), João Moreira (878), José Marcelino Sousa (877), Carronda Rodrigues (876), Inês Allen (875), Rogério Paupério (874)    (**)
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domingo, 13 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida (26)? A situação político-militar na Guiné. A. Marques Lopes.

Não entro nessa polémica... (II)



A. Marques Lopes (1)

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A situação na Guiné (alguns dados)


1962
Avanço das acções do PAIGC no terreno






Março – Foram presos em Bissau o Presidente do Comité Central do PAIGC, Rafael Barbosa, e outros elementos responsáveis do "Bureau Político de Bissau", tendo sido ainda apreendida propaganda e variada documentação, incluindo o planeamento de acções em pontos importantes de Bissau.

25 de Junho – A jangada de Bedanda apareceu destruída e correram notícias de cortes de estradas e fios telefónicos.

Julho – Neste mês e no seguinte foram desmanteladas várias redes do PAIGC espalhadas por toda a Província: Binar, Teixeira Pinto (Cachungo), Calequisse, Pelundo, Pecixe, Cacheu, S. Domingos, Suzana, Sedengal, Bafatá, Geba, Nova Lamego (Gabú), Contuboel, Sonaco, Empada, Darsalame, Fulacunda, Bolama e Arquipélago dos Bijagós. Além da captura de activistas e suspeitos, foi apreendida numerosa documentação, armas e munições.

Outubro – Referenciados os primeiros sobrevoos suspeitos, em especial de helicópteros. Elementos do PAIGC recebem instrução de guerra de guerrilha na Checoslováquia, no Gana, em Marrocos, no Mali e em Conakry, onde um grupo de instrutores argelinos (FLN) se encontrava desde Maio.

1963

23 de Janeiro – Início "oficial" da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite pelo PAIGC.

24 de Janeiro – Fulacunda foi flagelada por Arafan Mané.

Março – Captura por guerrilheiros do PAIGC, dos navios Mirandela e Arouca perto de Cacine, que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material na Guiné-Conacri.

10 de Março – Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade do PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial.

9 de Abril – Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU.

Maio – François Mendy, presidente da Frente de Luta pela Independência da Guiné (FLING), preconiza uma conferência para o reagrupamento de todos os movimentos nacionalistas das colónias portuguesas. Abatidos os dois primeiros aviões T6 Harvard, tendo morrido um piloto e sido feito prisioneiro o piloto do outro, o Sargento Lobato.

30 de Maio – Passagem das acções do PAIGC para norte do rio Geba.

Junho – Referenciadas actividades da guerrilha no Sector Leste, em especial na área de Xime.

Julho – Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal, com proibição de circulação de pessoas e mercadorias na fronteira com a Guiné. Notícia do Le Monde sobre um contacto de Benjamim Pinto Bull, secretário-geral da União dos Naturais da Guiné (UNGP), com as autoridades portuguesas para a criação de um regime de autonomia interna. Abertura de frentes de combate a norte.

16 de Julho – Encontro de Salazar com Benjamim Pinto Bull, dirigente de uma das facções da FLING.

Agosto – Registam-se as primeiras acções violentas no Sector Oeste (Oio) e rebentou a primeira mina anticarro no Sector Sul (S. João).

23 de Agosto – Interdição do espaço aéreo do Senegal a aviões procedentes ou destinados a Portugal e à África do Sul.

16 de Setembro – Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU.

3 de Outubro – Posse em Bissau, do novo secretário-geral da província da Guiné, James Pinto Bull.

1964
Avanço das acções do PAIGC no terreno



14 de Janeiro – Início da operação Tridente na Ilha do Como. O estratego militar chinês Sun Tzu terá dito (cito de memória) que uma táctica com ausência de estratégia é apenas barulho antes da derrota. Acho que foi isso, a Operação Tridente. Com toda a admiração e respeito por todos os que nela participaram, nomeadamente os camaradas do blogueforanada. Não são eles que estão em causa. A Operação Tridente teve como objectivo a ocupação das ilhas do Como, Caiar e Catunco, que estavam controladas pelo PAIGC desde 1963, e desenrolou-se em três fases: uma, a partir de 15 de Janeiro de 1964, com o desembarque sob a protecção dos T6 (um foi atingido) e da artilharia de Catió; outra, de 17 a 24 de Janeiro, consistiu no patrulhamento das ilhas; e na terceira fase, de 24 de Janeiro a 24 de Março, os esforços foram concentrados na ilha de Como, onde houve vários combates (um, em Uncomené e Cachil, durou 10 horas, tendo os guerrilheiros sofrido 40 baixas).

Em números foi isto:

Dias de operação...................................71
Mortos portugueses................................. 9
Feridos portugueses............................... 47
Militares Portugueses evacuados por doença... 193 (132 só de uma companhia)
Guerrilheiros mortos..............................76
Guerrilheiros feridos..............................15
Prisioneiros............................................. 9

Munições gastas:
7,62mm................................124 000
Granadas de artilharia 8,8..............1 200
Granadas de morteiro 81 mm.......... 550
Intendência:
Rações colectivas de combate..... 8 900
Rações individuais de combate.... 4 000
Vinho............................................ 22 900 Litros
Cerveja......................................... 15 500 Unidades
Tabaco.......................................... 10 100 Maços

Meios navais:
1 Fragata
4 Lanchas de fiscalização
4 Lanchas de desembarque pequenas (LDP)
2 Lanchas de desembarque médias (LDM)

Meios aéreos:
Missões tácticas.................... 851
Saídas por tipo de aeronave
F-86...................................73
T-6.............................….....141
DO-27.....................…........180
Auster...................................46
Helicóptero.........................323
P2V5....................................16
C-47 (Dakota).........................2
Total das saídas.................781
Horas de voo...................1 105
Pessoal transportado.......1 477
Pessoal evacuado..............134
Munições de avião
Bombas...............326
Foguetes.............719
Aviões atingidos..........6
Aviões abatidos...........1

Mas, como disse o mesmo Sun Tzu, a conquista do terreno raramente é definitiva e, menos ainda, decisiva. E, de facto, os guerrilheiros voltaram ao Como logo após aqueles dias de ocupação. E mais: foram ocupando progressivamente o Cantanhez e o Quitafine, cercando os aquartelamento de Catió e Bedanda.

Fevereiro – Na Guiné a FLING, dirigida por François Mendy e a UNGT dirigida por Pinto Bull, tentam a aproximação embora alguns elementos prefiram o entendimento com Amílcar Cabral.

13 de Fevereiro – Inicio do I Congresso do PAIGC, realizado em Cassacá no Sul da Guiné. Neste Congresso foi feita a separação entre poderes civis e militares, definindo o conceito de território nacional e criados os comandos militares inter-regionais.

Abril – Uma força tentou chegar a Cassacá, precedida de trinta minutos de bombardeamentos dos obuses de Catió, das bombas de um PV25 e de dois F-86. Tentou entrar na mata do Cachil com o apoio de dois T-6. Mas encontrou a guerrilha bem instalada, sofre uma dezena de feridos e foi obrigada a recuar. Utilização, pelo PAIGC, da mina A/P POMZ-2 e do Morteiro 82.

Maio – O PAIGC procura criar condições favoráveis ao seu reconhecimento pela OUA como único partido nacionalista da Guiné através de uma intensa actividade diplomática e de propaganda.

8 de Maio – O Brigadeiro Arnaldo Schulz é noeado governador-geral e comandante-chefe da Guiné.

Julho – Manuel Lopes da Silva, secretário-geral da FLING na Guiné. O PAIGC utiliza a metralhadora pesada Bren (apreendida em 1963) e a metralhadora Borsig.

Setembro – O PAIGC utiliza o seguinte armamento: metralhadora 7.62 Guryumov m/944 com reparo, carabina Mosin-Nagant, pistola-metralhadora PPSH, espingarda Mauser 7.9, pistola-metralhadora Thompson 11.4 e minas A/C TM 46.

Outubro – O PAIGC e a FLING, de Henry Labery e Lopes da Silva, efectuam contactos com vista à aproximação.

Novembro – Estabelecimento de contactos entre as autoridades portuguesas, tanto de Lisboa como de Bissau, com a FLNG (Front de Libération National Guinéen), oposição a Sekou Turé.

28 de Novembro – Um Unimog com 10 elementos de um Gr Cmds, accionou uma mina A/C na estrada de Madina do Boé para Contabane. Do rebentamento e do incêndio que se seguiu morreram todos os elementos que seguiam na viatura. No mesmo dia, não muito longe dali, em Guileje, um numeroso grupo da guerrilha ataca violentamente o aquartelamento e a povoação, causando mortos e feridos entre a população e militares e destruindo as instalações.

Dezembro – Início da constituição das milícias na Guiné. O PAIGC utiliza o seguinte armamento: metralhadora ligeira Degtyarev, espingarda automática Kalashnikov 7.62, espingarda automática Simonov, morteiro 60 e pistola Ceska. O Serviço de Informação Pública das Forças Armadas refere que desde o início da guerra, de 1961 até Dezembro de 1964, o Exército Português sofreu 433 baixas mortais em Angola, 113 na Guiné e 3 em Moçambique.

1965

Avanço das acções do PAIGC no terreno



A população de Cutia, organizada em auto-defesa e reforçada com alguns militares metropolitanos, repeliu um ataque da guerrilha, que chegou a introduzir elementos dentro da povoação. Na precipitação da fuga deixaram para trás 5 mortos dentro do arame farpado, 1 LGF e munições. Chegam informações de que as tabancas de Soncocemba e Cambajú estão a ser flageladas.

Algumas acções levadas a efeito pelas tropas portuguesas: a norte de Piche, um golpe de mão a um acampamento da guerrilha causa várias baixas e apreende munições, entre as quais várias granadas de LGF. Na exploração de uma notícia é lançado um golpe de mão sobre uma base da guerrilha na região do Enxalé (oeste de Bambadinca), que resulta na apreensão de 3 PM, 13 espingardas, 15 GM, munições e documentos. Em Canquelifá, a guerrilha perde dois homens e respectivo armamento e em Cufar as tropas portuguesas referem ter sofrido a primeira baixa provocada por fogo de morteiro. Nesta mesma zona, um GrCmds apreende 4 espingardas semi-automáticas m/52,1 (as primeiras deste tipo capturadas), 1 Mauser, munições e equipamento.

Panfletos em Cabo Verde apelam à revolta da população contra a presença dos portugueses. Fradique Castro, Presidente do "Movimento de Libertação para as Ilhas de Cabo Verde" (partido que diz existir há dois anos, mas só agora dá sinais públicos da existência), em conferência de imprensa em Dakar, declarou a intenção de fazer a guerra contra os portugueses em Cabo Verde com o objectivo de alcançar a independência. Senghor recebeu uma delegação da FLING, chefiada por Jonas Mário Fernandes, o qual após a audiência reclamou ter garantias do Presidente Senegalês na continuação da ajuda ao seu partido. Uma delegação da OUA, chefiada por um ministro tanzaniano, conferenciou em Dakar com dirigentes da FLING. Estes apresentaram um relatório dos "combates do partido travados em todas as frentes (militares e diplomáticas) para a conquista da Independência da Guiné-Bissau". Amílcar Cabral anuncia, em Argel, estar para breve a extensão da luta armada a Cabo Verde, que considera fazer parte do território da Guiné, e o Conselho de Ministros da OUA reunido em Nairobi decidiu reconhecer o PAIGC como o único movimento de libertação da Guiné e que a FLING estava definitivamente riscada da lista dos movimentos nacionalistas a ajudar.

Janeiro – O SIPFA (Serviço de Informação Pública das Forças Armadas Portuguesas) refere que, enquanto em Dezembro do ano anterior a actividade da guerrilha se manteve reduzida em todo o território, neste mês de Janeiro se tinha verificado a intensificação das suas acções, nomeadamente na zona à volta de Bissorã e no NE, especialmente ao longo do itinerário Buruntuma, Piche e Canquelifá. As povoações de Guidage e Cutia (aqui por um grupo estimado em cerca de 150 elementos fardados de caqui) são atacadas com morteiros e LGF. No sul é Cufar que fica debaixo do fogo de LGF e morteiro. O SIPFA informa que nos meses de Dezembro do ano passado e Janeiro deste ano as tropas portuguesas sofreram 15 mortos em combate.

7 de Janeiro – Primeira emissão de uma emissora de rádio do PAIGC. A FLING, distribuiu em Dakar um comunicado, largamente difundido pela "Tass", "Reuters" e outras agências, em que diz ter sido destruído o aeródromo de Barro, depois de três noites de violentos combates, tendo abatido ainda nestas acções 27 militares portugueses.

23 de Março – O diário francês Le Monde relata uma conferência de imprensa, dada por Amílcar Cabral, em que este dirigente se refere aos sucessos do PAIGC, como foi exemplo, diz, a batalha do Como, onde, segundo as suas palavras, a guerrilha causou mais de 600 mortos ao Exército Português. Para contrabalançar esta afirmação, o EME (Português) declara que em dois anos de incidentes na Província da Guiné, morreram em combate 136 militares.

Abril – Entrevista de Amílcar Cabral ao Le Monde, confirmando que pretende preservar as oportunidades de uma futura colaboração com o Estado Português não colonialista, não escondendo as dificuldades da luta na Guiné. A sul de Cuntima, um contacto entre a tropa e a guerrilha termina com 11 mortos destes, segundo escreveu no relatório da missão o Cmdt da unidade portuguesa. Na mesma zona, uma pequena coluna de guerrilheiros caiu numa emboscada, deixando no terreno 4 mortos e duas espingardas de origem soviética. A norte do Olossato, o Boletim nº 5 do EME relata que as tropas levaram a efeito um golpe de mão sobre um acampamento do PAIGC, capturando 6 minas A/P, 1 mina A/C, 1 ML Borsig, 3 PM Thompson, 1 PM, 2 Mausers, 5 P, 15 carregadores de PM, 15 GM, munições em quantidade e documentação. Em Buba, um grupo do PAIGC causou 3 mortos e 11 feridos entre as tropas portuguesas (flageladas com 22 morteiradas) e deixou no campo da batalha 5 mortos.

Há relatos de raptos, roubos, violações na área a oeste de Barro, admitindo-se em Bissau que tenham sido realizadas por pessoal da FLING. Canjambari, um GrCmds no decurso de uma emboscada capturou 3 espingardas, um cunhete de munições 7,62 e várias GM. Outro GrCmds, na zona de Tite assaltou um acampamento e apreendeu 5 Mausers, 3 Mosin Nagant, 1 PM e 8 GM. Flagelação com rockets e morteiros por um grupo estimado em 100 elementos do PAIGC (relatório do Cmdt) a Bissorã, sem consequências. Na mesma zona, as tropas retaliam, atacando a base de Biambi (Biambe?). Com base no relatório, lê-se: "foram detectados, a cerca de 200 metros da base, cerca de 100 elementos INs fardados e instalados em abrigos. Como os bandoleiros dispusessem de armamento em quantidade (morteiros 82 e 60, LGF, metralhadoras e espingardas) travou-se rijo e demorado combate ao fim do qual o IN, que opôs forte resistência, foi desalojado das suas posições e posto em fuga. As NT lançaram-se na perseguição e fizeram 1 prisioneiro (...) entre o material capturado, destacam-se 3 espingardas, 3 pistolas, 2 canos de ML, um cunhete metálico com fitas carregadas para ML, 1 cunhete de GM e mais 24 GM, carregadores de vários tipos...e uma bandeira do PAIGC". O acampamento destruído era constituído por 30 barracas, refeitório, escola e enfermaria com o respectivo material e mobiliário. No decorrer da acção as tropas atacantes sofreram 3 feridos.

Relativamente perto de Bissorã, uma base do PAIG foi atacada de surpresa pelas tropas que recolheram uma apreciável quantidade de material: 2 ML Bren, 7 PM Thompson, 1 Esp Aut, 1 Mauser, 3 Pistolas Seska, minas A/C e A/P, etc. Continuava acesa a luta por Canjambari, uma pequena povoação na margem direita do rio com o mesmo nome. Cerca de 100 guerrilheiros, bem armados, fardados e guarnecidos com capacetes foram emboscados por tropa do BCav 490. Embora surpreendidos reagiram fortemente, tendo o confronto durado cerca de meia-hora. Quando a tropa se preparava para recolher o material abandonado, outro grupo de guerrilheiros, instalado na margem esquerda, varreu a zona com morteiradas e rajadas de armas automáticas, obrigando a tropa a desistir e a abandonar o local com 3 feridos graves. Estas unidades militares ocuparam posteriormente a povoação, ocupação esta que durante muito tempo passou a ser diariamente assinalada, mais que uma vez por dia, com flagelações de morteiro e LGF. Numa dessas flagelações, o edifício do comando e uma viatura foram pelos ares, atingidos em cheio por granadas de morteiro.

Enxalé, a W de Bambadinca, 6 guerrilheiros aprisionados; Bigene e Barro, confrontos quase diários, com a retirada dos atacantes para o Senegal; mais 20 guerrilheiros aprisionados na zona do Enxalé, devido a informações obtidas junto dos capturados anteriormente; área de Cacine, junto à fronteira leste, montagem de emboscadas sucessivas causam baixas nos grupos da guerrilha que tentavam penetrar no território; estrada Barro-Bigene, uma mina conjugada com uma emboscada causa 4 mortos e 14 feridos numa coluna militar. Nos meses de Fevereiro e Março, as tropas portuguesas somavam mais 20 mortos em combate.

14 de Abril – Um domingo cheio de sol em Farim. Granadas de morteiro 82 lançadas da outra margem do rio Cacheu, explodem junto às instalações militares do BCav 490, causando 1 ferido.

Maio – Ataque do PAIGC ao aquartelamento de Beli, durante cerca de três horas, com utilização de morteiros, lança-granadas-foguete e metralhadoras. Acção das forças portuguesas na região de Morés, Guiné, com captura de diverso material de guerra, incluindo metralhadoras Borsig, Bren e M52, minas A/C TM-46, granadas-foguete, granadas de mão, etc. Captura pelas tropas portuguesas em Morés (Oio) de metralhadoras Borsig, Bren e M 52, minas A/C e granadas foguete.

7 de Maio – No decorrer de um golpe de mão a um acampamento do PAIGC situado na zona de Cameconde (Sul), chefiado pelo lendário Pansau Na Isna, um GrCmds constituído por 20 elementos sofreu um morto e nove feridos. Os restantes carregaram com o morto e os feridos até Cameconde trazendo ainda o material que capturaram: 8 armas, cunhetes de munições, granadas, petardos, equipamentos, minas, fardas, e documentos com elementos importantes da Ordem de Batalha do PAIGC.

Junho – Ataque do PAIGC a Canjambari, desenvolvido em duas fases, com utilização de grande poder de fogo de morteiros, lança-granadas-foguete e armas automáticas. Acção das forças portuguesas na região de Tite, Guiné, com destruição de um acampamento e captura de diverso material de guerra, incluindo espingardas Mauser e Mosin-Nagant., pistola-metralhadora M-25, metralhadora Goryunov, etc.

Agosto – Visita de uma missão militar da OUA às regiões controladas pelo PAIGC
15 de Setembro – Arnaldo Schulz, de visita a Lisboa, afirma que "a Guiné jamais deixará de ser portuguesa".
Outubro – Região de Fulacunda, sector de Tite: uma emboscada montada por um grupo da guerrilha desarticula uma companhia do Exército Português. Seis homens ficam isolados, enquanto o grosso da companhia retira desordenadamente rumo ao aquartelamento, onde vão chegando em pequenos grupos. Os seis foram esgotando as munições, batiam-se pela sobrevivência, esperançados numa ajuda que nunca chegou. No segundo dia, um foi abatido. A guerrilha, em vantagem, não desarmava. Ao terceiro dia caiu o segundo. No último dia em que tudo se consumou, um dos sobreviventes deu um tiro na cabeça, enquanto outro tentou passar o rio para nunca mais ser visto. O alferes foi o último a ser abatido e o último dos seis entregou a arma. Transportado para Conakry, em frente de Amílcar Cabral, o Soldado Lauro negou-se a ler a declaração que lhe foi apresentada para ler na Rádio Libertação, repudiando a guerra e convidando a tropa a desertar (em "Rumo a Fulacunda", livro do Ten Cor Rui A. Ferreira. Nota do editor).

1 de Novembro – Cerca das 20 horas, foi lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim (Sector então a cargo do BArt 733. A explosão terá provocado 63 mortos e um número indeterminado de feridos, na sua maioria mulheres e crianças. Na sequência, a PIDE deteve meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir alguns militares. Para o fazer teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.

Dezembro – Inaugurado em Dezembro o Hospital de Boké com a designação de Dispensário Sanitário do Partido, passando no início do ano seguinte a ser designado por Hospital Militar de Boké, destinando-se ao tratamento dos feridos de guerra, especialmente dos combatentes da Inter-Região Sul. Dispõe de uma enfermaria dividida em duas secções (homens e mulheres), uma sala de operações, um gabinete para consultas e tratamentos, uma secção de radiologia e uma farmácia. O hospital está apetrechado com moderno material cirúrgico e de Raio X.

1 de Dezembro – Um GrCmds acercou-se da base de Sano (Barro/Bigene), tendo permanecido no local cerca de uma hora. Com a base/aldeamento à vista, bem dentro do território do Senegal, foi decidido não atacar.

31 de Dezembro – Obuses de Cufar flagelam Cabolol, Cobumba e Caboxanque. Um P2V5 larga bombas sobre a mata do Cantanhez. As antiaéreas do PAIGC rasgam o céu com balas tracejantes.

1966

Janeiro – Começou a ser publicado o "Blufo", órgão dos pioneiros do PAIGC, assumindo-se como "a voz da Juventude que se lançou corajosamente na luta de libertação nacional do nosso povo, na Guiné e em Cabo Verde".
Chega a Conakry o primeiro contingente cubano, formado por instrutores, artilheiros e médicos para participarem na luta contra o Exército Português.

3 de Janeiro – Lançada uma ofensiva sobre o Cantanhez. Dois destacamentos de Fuzileiros, uma companhia de Páras e quatro companhias do Exército combatem a guerrilha na região de Darsalame e Cafal onde se encontra uma importante base do PAIGC na zona Sul.

Fevereiro – Armamento utilizado pelo PAIGC: espingarda Lee Enfield Mark III 7.7, espingarda Mauser 7.9 m/1948, espingarda automática Browning m/1918, espingarda Mas m/1936 (França), mina A/P PMA-1, pistola-metralhadora Beretta (Itália), pistola-metralhadora Thompson (EUA), LG P-27 (Checa), mina A/C Mark 7 (Reino Unido).

6 de Março – Operação Hermínia. Tropas comandos efectuam na zona de Jabadá a 1ª heliportagem de assalto a uma base da guerrilha. Saldou-se por um elevado número de baixas entre a guerrilha, a população que albergava e as tropas assaltantes.

21 de Março – Celebração de um protocolo entre o Senegal e o PAIGC que estabelecia as modalidades de cooperação entre as respectivas autoridades.

28 de Março – Entre Faquina Fula e Faquina Mandinga, zona de Cuntima. 30 Elementos de um Gr Cmds helitransportados para a fronteira para uma acção de nomadização que se previa durar quarenta e oito horas, depararam com um grupo da guerrilha a limpar as armas dentro do acampamento. Do ataque resultou a captura de 2 ML Degtyarev, 2 Simonovs, 1 PM Thompson, 1 PM Shpagim, 1 PM Beretta, 1 esp. Mauser e granadas de mão e de RPG.

28 de Abril – Os pára-quedistas montaram uma emboscada no "corredor de Guiledje" (Operação Grifo). Às dez da manhã houve o contacto com uma coluna de guerrilheiros. Diz o relatório da operação (citado no livro “Guerra Colonial”, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes) que a reacção do inimigo foi incrivelmente rápida e com grande potencial de fogo em tiro rasante. Um dos três guerrilheiros sobreviventes da zona de morte abriu fogo, atingindo o capitão Tinoco de Faria. Alguns segundos depois, foram abatidos três guerrilheiros que tentavam fugir, mas os restantes tinham-se instalado junto à mata ocupada peias forças portuguesas, desencadeando violento ataque com metralhadoras pesadas. Numa pausa, o pelotão tentou transportar o ferido para local onde fosse possível a sua evacuação, pois inspirava sérios cuidados. O inimigo mudou de táctica, seguindo as tropas e flagelando-as à distância. Ao chegar à margem do rio Tenhege, o pelotão sofreu novo ataque de elementos emboscados no interior da mata. Entretanto, o estado de saúde do capitão agravou-se de forma irrecuperável, tendo morrido cerca do meio-dia.

29 de Abril – Cabral reuniu-se com os seis primeiros cubanos que chegaram à Guiné-Bissau, três deles médicos, Labarrere, Rómulo e Domingo, e 3 artilheiros, Aldo, Verdecia e Salabarria, conhecido por Horacio "o homenzarrão". Participam em 1 de Maio no primeiro combate.

28 de Junho – Um GrCmds capturou 4 pessoas nas imediações da base de Uália, na zona do Oio. Do assalto resultou a destruição de 10 casas de mato ocupadas pela guerrilha e de 25 casas que serviam de abrigo à população sob o controle do PAIGC. No decorrer da acção foi encontrada a enfermaria da zona e capturada a enfermeira responsável pela base, que, por documentos encontrados, se veio a saber ser a mulher de Pedro Ramos, na altura responsável pela instalação de meios rádio do PAIGC.

10 de Julho – Em Jumbembem, sector de Farim, o Capitão Rui António Nunes Romero, do Exército Português, suicida-se.

Outubro - O comando português tem notícia dos primeiros cubanos na Guiné.

20 de Outubro – Criação do Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas nº 12 (BCP 12) na Guiné.

Dezembro – Confirmação pelas autoridades portuguesas, da primeira utilização de meios rádio pelo PAIGC. 28 de Dezembro – Capturado ao PAIGC um emissor-receptor P104M (soviético)

1967

Avanço das acções do PAIGC no terreno





Fevereiro – Operação "Tauro", zona norte, fuzileiros ao desembarcarem em lancha na margem sul do rio Cacheu são recebidos à bazucada e obrigados a recuar. Para trás ficaram quatro homens atolados no lodo. Recuperados à 2ª tentativa de desembarque, juntaram-se aos camaradas no assalto à base de Matar onde apreenderam armamento.

10 de Fevereiro – Utilização, pela primeira vez, por parte do PAIGC, de cocktails Molotov em operações.

22 de Fevereiro – Fiat G-91 da FAP, pilotado pelo major Santos Moreira, destruído por explosão prematura de uma bomba de 110 lbs.

Março – Na ilha de Caiar, arquipélago do Komo, capturados 20 guerrilheiros.

Abril – Ataque do PAIGC ao quartel de Encheia com grande potencial de fogo, causando cinco mortos e oito feridos às tropas portuguesas. Artigo do jornal "Horoya", publicado na Guiné-Conacri sobre "Uma consciência politica sólida na base de uma economia florescente na zona libertada" onde são postas em destaque as actividades económicas nas zonas do PAIGC.

6 de Abril – No rio Armada, afluente do rio Cacheu, dá-se o primeiro rebentamento de uma mina aquática numa LDM, sem consequências de maior.

Julho – Contactos da PIDE com elementos da oposição a Sekou Turé.

2 de Julho – durante o ataque a um aquartelamento morre em combate Félix Barriento Laporte, o primeiro cubano a ser morto na guerra da Guiné.

3 de Julho – No decorrer de um jogo de andebol entre o ASA e a UDIB, rebentaram violentos incidentes entre páras e fuzos (cerca de 400 assistentes), os primeiros apoiantes do ASA e a UDIB apoiada pelos fuzos. Estes não satisfeitos com o desenrolar dos combates a murro recorreram às G-3 e às granadas de mão. Dois páras morreram nos incidentes.

17 de Julho – Primeira emissão da Rádio Libertação, emissora do PAIGC em Conacri, com programas em português e crioulo.

28 de Julho – Nota Circular do EME: "Tem vindo a verificar-se que os diversos partidos emancipalistas desenvolvem as mais variadas manobras no sentido de passarem a ser considerados como beligerantes, oficializando assim a luta que se trava no Ultramar. Um dos processos mais frequentemente usados tem sido o de solicitar para os terroristas capturados pelas nossas tropas as regalias que a Convenção de Genebra concede aos prisioneiros de guerra. Por outro lado, e com o mesmo objectivo, esses partidos começaram a usar para com os militares portugueses em seu poder a designação de prisioneiros de guerra, ao mesmo tempo que os seus órgãos de propaganda afirmam que lhes serão concedidas as garantias da mesma Convenção, como contrapartida. O ministro da Defesa Nacional, por despacho de 28 Junho de 67, determinou que passassem apenas a ser usadas as designações que se seguem quer para elementos terroristas, quer para militares nacionais:

a. Terroristas caídos em poder das nossas tropas:
1) Acção — captura
2) Situação — sob prisão
3) Designação — preso

b. Militares portugueses em poder de elementos terroristas:
1) Acção — retenção
2) Situação — situação de retido
3) Designação individual — retido pelo inimigo».

Assinava o general Sá Viana Rebelo, vice-chefe do Estado-Maior do Exército. Curiosamente, esta circular era complementada com normas relativas ao "Procedimento a tomar no caso de ser retido", onde se afirmava no ponto d):

"Quando interrogado, o militar português apenas deve fornecer os dados a que é obrigado pela Convenção de Genebra: nome completo, posto, número e data do nascimento". O primeiro militar português feito prisioneiro foi o primeiro-sargento piloto António Lourenço de Sousa Lobato, cujo avião caiu na Guiné-Bissau e que foi considerado na situação de "retido" desde 22 de Maio de 1963.
Até finais de 1970 estavam “retidos” pelo PAIGC:

Oficiais......................................... 1 (alferes)
Sargentos.....................................2 (um sargento-piloto da Força Aérea, o Lobato, e um furriel miliciano, o João Neto Vaz, da CART1690)
Cabos.......................................... 4 (dois eram o José da Silva Morais e o José Manuel Moreira Duarte, da CART1690)
Soldados ................................... 15 (8 eram da CART1690)
Total............................................22

Estes militares estiveram presos nos quartéis de Alfa Yaya e de Kindia, devendo-se-lhes acrescentar um outro que foi colocado em Argel (Francisco Gomes da Silva, da CART1690). Um soldado prisioneiro morreu em Conakry, tendo a sua morte sido comunicada directamente à família por Carlos Correia, membro do Bureau Político do PAIGC, juntamente com uma fotografia do funeral (era o Luís dos Santos Marques, da CART1690).

21 de Agosto – Morte do capitão Manuel Carlos da Conceição Guimarães e do soldado António Domingos Ramos na estrada de Geba para Banjara por acção de uma mina anti-carro. Ficou ferido o alferes miliciano A Marques Lopes.

Setembro – Emissão da Rádio Libertação do PAIGC com uma exortação ao soldado português, incitando-o à resistência e à revolta. Inicio dos contactos da PIDE com sectores da oposição ao regime da Guiné-Conacri.

16 de Setembro – Em 16 de Setembro de 1967, na operação Jacaré, perto de Cheuel, na zona de Geba, 8 feridos (entre eles os alferes Alfredo Reis e Domingos Maçarico) no rebentamento de uma mina anti-carro.

Outubro – Na embaixada de Cuba na Guiné-Conakry, o bureau político do PAIGC, liderado por Amílcar e Aristides Pereira, decidiu, em memória de Guevara (morto na Bolívia), atacar todos os quartéis durante 15 dias, uma operação a que deu o nome de "O Che não morreu".

16 de Outubro – Na operação "Imparável", num ataque à base do PAIGC em Sinchã Jobel, morreu o soldado Agostinho Câmara.

Novembro – Nino Vieira, comandante do PAIGC na zona de Catió, acumula com o comando militar da zona leste (Madina do Boé).

Dezembro – Grande operação das forças portuguesas a norte de Bigene, com apreensão de variado material de guerra. Utilização pela primeira vez, de granadas de fumo, pelo PAIGC, na zona de Poindom, entre Xime e Bambadinca. Reunião do Bureau Politico do PAIGC, em que se decide reorganizar as FARP, donde é excluída a milícia popular, contando apenas com os grupos de guerrilha e o exército popular.

2 de Dezembro – Inauguração do campo militar de Ziguinchor, no Senegal, utilizado pelo PAIGC.

19 de Dezembro – Ataque à base do PAIGC em Sinchã Jobel, operação "Invisível", tendo morrido o alferes Fernando da Costa Fernandes e os soldados Vito da Silva Gonçalves e Armindo Correia Paulino e o 1.º cabo Sousa. Foi aprisionado pelo PAIGC, durante esta operação, o soldado Manuel Fragata Francisco.

22 de Dezembro – Um Destacamento de Fuzileiros partiu de Catió em helis rumo à base de Cansalá, Cantanhez, onde se julgava estar Nino Vieira. Perante fraca resistência, os fuzileiros capturaram cerca de duas toneladas de armamento (operação Eridanus).


1968
Avanço das acções do PAIGC no terreno


Janeiro – O ano começou no sul com o abandono do destacamento de Mejo, pertencente a Guilege, depois de destruído e armadilhado pelas tropas portuguesas.

13 de Janeiro – A norte, a "Lira", uma lancha de fiscalização grande, em missão de escolta à "Alfange" (lancha de desembarque grande que tinha acabado de transportar tropas de S. Vicente para Binta), foi atingida das margens, tendo a tripulação sofrido 1 morto e 8 feridos, alguns gravemente.

2 de Fevereiro – Visita de Américo Tomás a Cabo Verde e Guiné.

3 de Fevereiro – Um comunicado do PAIGC assinala a captura de militares portugueses: (…) "Na área de Quínara (Frente Sul), no dia 3 de Fevereiro, no decurso de um ataque a uma unidade colonialista que se instalara na tabanca de Bissássema, as nossas forças, comandadas pelos camaradas Fokna Na Santchu e Mamadu Mané, fizeram prisioneiros três militares dos quais um alferes (dava nota dos nomes, um deles era o alferes António Júlio Rosa), todos de uma companhia estacionada em Tite". Referia ainda: "Nesta acção foram ainda postos fora de combate 16 soldados colonialistas (nota do editor: este nº não consta de qualquer relatório militar). O restante da tropa inimiga fugiu para o campo fortificado de Tite, abandonando no terreno uma importante quantidade de material, entre os quais se contam 6 rádios de campanha de fabricação britânica. De acordo com as normas do Partido, estes novos prisioneiros portugueses receberão o tratamento humano que lhes é garantido pelas convenções internacionais (...)".

19 de Fevereiro – Ataque do PAIGC ao aeroporto de Bissau, comandado por André Gomes
Março – Luís Cabral secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, membro do Bureau Politico do PAIGC.

15 de Março – Entrega à Cruz Vermelha Senegalesa, pelo PAIGC, de três militares portugueses feitos prisioneiros (um deles foi o Manuel Fragata Francisco), com declarações de Amílcar Cabral sobre a disposição do PAIGC de parar o combate com a condição do reconhecimento do direito à independência da Guiné.

27 de Março – Apreensão de um avião da Guiné-Conacry, que aterrou em Bissau, vindo a ser proposta a sua troca por cinco prisioneiros portugueses em posse do PAIGC.

Abril – Ataque a uma coluna portuguesa por um grupo do PAIGC no itinerário Gadamael-Gandembel, por repetidas vezes, com metralhadoras pesadas, lança-granadas-foguete, morteiros, armas automáticas e rebentamento de fornilhos.

10 de Abril – Cerca da meia-noite, ataque do PAIGC ao quartel de Cantacunda, causando um morto e fazendo 11 prisioneiros. Os outros, nove, foram obrigados a abandonar o destacamento. O ataque foi conduzido pelo comandante Braima Bangura (fuzilado em 12 de Julho de 1986, juntamente com Paulo Correia e outros, por ordem de Nino Vieira, sob acusação de tentativa de golpe de Estado em 17 de Outubro de 1985) e teve a conivência do régulo Braima Candé e da população.

Maio – Flagelação de Gandembel, no sul da Guiné, pelo PAIGC, por várias vezes consecutivas, com canhões s/r, metralhadoras-pesadas, lança-granadas-foguete e morteiros.

2 de Maio – Nomeação de António de Spínola para os cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné.

20 de Maio – Posse do Brigadeiro António de Spínola.

8 de Junho – Directiva do Comando-Chefe da Guiné para a transferência da unidade estacionada em Madina do Boé.

18 de Junho – Aprisionamento de um sargento e sete soldados portugueses pelo PAIGC.

19 de Junho – Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre a defesa da Ilha de Bissau.

15 de Julho – Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre a remodelação do dispositivo.

24 de Julho – O destacamento de Banjara, no Oio, foi atacado por um bi-grupo reforçado, tendo morrido o soldado Jaime Maria Nunes Estêvão.

28 de Julho – Fiat G-91 da FAP, pilotado pelo ten cor Costa Gomes, atingido por fogo de antiaérea de .50 polegadas (12,7), disparado da fronteira da Guiné-Conakry.

Agosto – Primeira utilização pelo PAIGC, do morteiro de 120 mm, em Gandembel.

12 de Agosto – Ataque do PAIGC a Sare Ganá, tendo entrado na povoação, que se encontrava em autodefesa. Foi expulso com a chegada da tropa de Geba.

19 de Agosto – Mampatá, Aldeia Formosa, pelas 20 horas, segunda flagelação do dia: mais de uma centena de granadas de canhão sem recuo em pouco mais de 10 minutos.

23 de Agosto – Em Mampatá, uma coluna para Gandembel levanta 57 minas anti-pessoal e quatro fornilhos. No mesmo trajecto a mesma coluna sofre cinco feridos em emboscada.

27 de Agosto – Pára-quedistas entram num trilho na zona de Gandembel e esbarram com um acampamento da guerrilha. Apanhados de surpresa, sofrem cerca de duas dezenas de mortos e causam dois feridos aos páras. Flagelações de Aldeia Formosa, Gandembel, Guileje e Buba. São suspensas de Mampatá as colunas para Buba e Gandembel: a picada, as margens e algumas zonas da mata encontram-se semeadas de minas de todo o tipo. Incapacidade em reabastecer Gandembel e Ponte Balana, depois de na primeira tentativa as tropas estacionadas em Gandembel terem sofrido seis mortos e um desaparecido e na segunda ter rebentado uma anti-pessoal causando ferimentos graves a um militar.

Setembro – Flagelação de Gandembel por forças do PAIGC com centenas de rebentamentos, com destaque para a utilização de canhões sem recuo e morteiros de 120 e 82.

8 de Setembro – Cerca de 100 elementos do PAIGC atacam o destacamento de Sare Banda, na zona de Geba, durante uma hora e meia, causando a morte do alferes Carlos Alberto Trindade Peixoto e do furriel Raul Canadas Ferreira e três feridos graves.

30 de Setembro – Directiva do Comando-Chefe da Guiné para o reordenamento de populações e sua organização em autodefesa.

Outubro – Spínola em documento oficial sobre o problema militar da Guiné, declara: "Não hesitamos em considerar como uma triste realidade a situação que hoje se vive na Guiné, situação que abrange o aspecto económico-social e o aspecto militar".Decisão do Governo do Senegal dificulta a permanência de elementos do PAIGC no seu território.

28 de Dezembro – Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre operações psicológicas e estabelecimento do slogan "Uma Guiné Melhor".
Spínola, após a sua chegada à Guiné, em Maio de 1968, procurou definir uma estratégia, a que ele julgou adequada: "O plano geral da luta não se projecta, como hoje já ninguém ignora, no campo exclusivo da missão das forças armadas, mas é indispensável que estas retomem a iniciativa das operações de modo a impor a sua vontade ao inimigo. (...) não é viável pensar em acabar, a curto prazo, com a guerra na Guiné, mas sim e apenas garantir o controlo efectivo de áreas fundamentais".

E em 1969 cria os comandos de agrupamento operacional (CAOP), correspondendo aos sectores, e os comandos operacionais (COP), correspondendo às zonas de acção dos batalhões, promovendo, assim, a alteração do dispositivo das forças. Estes comandos situavam-se em áreas críticas, tinham uma estrutura mais leve e flexível que os batalhões, sobretudo na área logística, e controlavam as unidades em quadrícula e as unidades de intervenção.

Criou também zonas de intervenção do comando-chefe nas áreas de forte implantação do PAIGC, para operações de curta duração e grande violência das forças especiais, apoiadas pela aviação e pela artilharia, e sob o seu comando directo. O objectivo era conseguir a destruição das forças inimigas, evidentemente, mas também queria demonstrar às populações a nossa superioridade militar e ganhá-las a nosso favor.

As operações especiais fora das fronteiras perspectivou-as para o Batalhão de Comandos. Assim, e com a criação de várias companhias de caçadores africanos, queria pôr em prática a sua ideia da africanização da guerra – os pró-Portugal contra os independentistas. Ao mesmo tempo economizava forças, perante a impossibilidade de receber reforços da metrópole.

Procurou isolar o teatro de operações, cortando a norte os corredores de reabastecimento dos guerrilheiros com as guarnições de Bigene, Barro e Guidage (corredores de Sambuiá, Lamel e Sitató) e controlando a sul os eixos de Guiledje e Madina, tentou subtrair as populações ao controlo do PAIGC incentivando os reordenamentos e procurando criar à guerrilha instabilidade nas zonas libertadas, atacando-a com aviação e forças especiais.

1969

Avanço das acções do PAIGC no terreno







Janeiro – Operação conjunta das forças portuguesas na zona de Bigene, a norte, com "assinaláveis resultados". Em Guileje, o PAIGC lança para dentro do perímetro do aquartelamento mais de duas centenas de granadas, causando dois mortos.

As autoridades militares em Bissau tomam conhecimento que a Guiné-Conakry havia recebido da URSS três vedetas-torpedeiras da classe "Komar" e o PAIGC quatro vedetas-torpedeiras da classe "P6". As primeiras, navios de 75 toneladas, estavam armadas com duas peças AA (antiaérea) de 25 mm e dois mísseis superfície-superfície; as segundas, navios de 66 toneladas, vinham armadas com duas peças AA de 25 rnm e dois tubos lança-torpedos. Umas e outras podiam atingir uma velocidade superior a 40 nós.

23 de Janeiro – Em Aldeia Formosa foi lançada uma granada de mão para a messe dos sargentos, causando a morte de dois soldados e ferindo dez furriéis, alguns com gravidade. Nunca se soube quem foi o autor.

Fevereiro – Acção das forças portuguesas na região a leste de Bigene, com captura de um canhão S/R, um morteiro 82, metralhadoras pesadas e ligeiras, lança-granadas foguete, espingardas automáticas e de repetição, minas e munições.

Flagelação de Guilege com utilização de canhões S/R e morteiros, colocando cerca de 200 rebentamentos no interior do quartel e causando 2 mortos.

Plano de Paz de Léopold Senghor para a Guiné propõe a independência no quadro de uma comunidade luso-africana.

8 de Fevereiro – Evacuação de Madina do Boé pelas forças portuguesas aí estacionadas, durante a qual se registou um grave acidente na travessia do rio Corubal, com a morte de 47 militares.

9 de Fevereiro – Após a retirada da guarnição portuguesa, o PAIGC ocupa Madina do Boé, no Leste da Guiné.

Ataque do PAIGC ao quartel de Cambaju durante cerca de duas horas causa vários mortos e feridos; durante o ataque elementos da guerrilha entram no perímetro defensivo.

26 de Fevereiro – Ataque do PAIGC a duas lanchas no rio Buba, sendo a acção dirigida por Mário de Sousa Delgado e Mamadú Indjai.

2 de Março – Uma mina aquática é descoberta a tempo no Rio Cobade, sul, e destruída a tiro.

5 de Março – Dissolução da FLING, após uma reunião em Zinguinchor, Senegal, presidida por Pinto Bull (natural, depois da retirada de apoio da OUA em 1965; vê-se que não faz sentido que a FLING tivesse alguma influência aquando do reconhecimento da independência da Guiné-Bissau em 1974...). Curioso ter-se dado a dissolução numa altura em que se dava a intensificação dos contactos, iniciados ainda em 1964, entre as autoridades de Bissau e a FLNG da Guiné-Conakry. Spínola tinha a intenção de autorizar a FLNG a estabelecer bases de guerrilha no território da Guiné-Bissau, junto à fronteira, com o objectivo de criar instabilidade no interior da Guiné-Conakry e levar à destituição de Sekou Touré e à consequente instauração de um regime que proibisse as actividades militares do PAIGC dentro da Guiné-Conakry.

7 de Março – Início da Operação "Vulcano", no Sul da Guiné. Forças pára-quedistas tentaram assaltar posições de artilharia do PAIGC (antiaéreas ZPU-4, quádruplas, de calibre 14,5mm e cadência de 600 tiros por minuto e por cano). Os 7 aviões Fiat G-91 iniciaram o ataque com bombardeamentos e destruíram uma ZPU com uma bomba de 200 quilos. Parecia tudo a correr bem e seguem os helicópteros AL-III que despejam uma vaga das duas companhias de pára-quedistas destacadas para a acção. Mas foram batidos pelo fogo e descobriram que ainda havia 3 ZPU, tendo elas atingido um Fiat e uma DO-27, que tiveram de regressar à base. Retidos pelo fogo do PAIGC, os páras nada puderam evitar nem podiam progredir. A utilização de helicópteros era inviável naquelas circunstâncias, tornando difícil a recuperação dos pára-quedistas. O dia avançava e o próprio comandante escreveria mais tarde: "Torna-se urgente tomar uma decisão perante a eminência do desastre" (citado no livro “Guerra Colonial” de Aniceto Afonso e Matos Gomes). E as opções eram: assalto às posições mais fortes dos guerrilheiros, com grandes custos em baixas; manter os homens ali, ficando a pernoitar, e estando sujeitos a ataques nocturnos com morteiros e artilharia; ou retirar.

Foi esta última opção que foi tomada a meio da tarde. As forças portuguesas abandonaram o Quitafine sem sucesso. O PAIGC demonstrou, pela primeira vez, capacidade para se manter no terreno, numa defesa a todo o custo. E também tirou a lição de que necessitava de armas antiaéreas mais flexíveis, de fácil transporte e dissimulação. Vieram depois, em 1973, os SA-7 (Grail Strella).

Abril – Acção das forças portuguesas na região de Bula, Sector Oeste, Guiné, com vários contactos com forças do PAIGC.

8 de Abril – Inicio de uma visita de Marcelo Caetano à Guiné, Angola e Moçambique.

10 de Abril – Um grupo de comandos, saídos de Buba em patrulhamento, depararam-se com um grupo da guerrilha, internaram-se na mata, deixaram que o bi-grupo se aproximasse e atacaram, provocando 11 mortos, apreendendo 21 armas e trazendo dois feridos ligeiros. Pedida a evacuação, regressam a Buba e caem num campo de minas, tendo rebentado uma bailarina que corta em dois um furriel, enquanto outra arranca um pé a um soldado.

15 de Abril – Implantação de uma mina aquática no rio Cobade, no Sector Sul, Guiné, por parte do PAIGC, accionada pelo batelão "Guadiana".

5 de Maio – Na zona de Nhala, uma coluna detecta três minas A/P. Abrigaram-se enquanto um militar se preparou para as levantar. Um dos militares, curioso, decidiu avançar um pouco. Calcou uma terceira que estava junto a um tronco de palmeira. A guerrilha emboscada no local, a assistir ao levantamento da mina, aproveitou a ocasião e abriu fogo. Evacuado o militar, a coluna prosseguiu o seu destino ao encontro de mais duas minas e uma com arame de tropeçar. Antes de atingido o destino ainda leram escritos da guerrilha, recomendando-lhe o regresso a Lisboa e que deixassem o povo da Guiné gerir o seu destino. No local da armadilha, a guerrilha desenhou um cemitério com terra e campas de mortos encimadas por um dístico: Branco vai para a tua terra. A tropa ainda ficou no local, entretida a levantar cerca de quatro dezenas de minas anti-pessoal.

27 de Maio – No rio Cobade, junto à cambança do Brandão, o batelão "Guadiana", carregado com bidões de gasolina, explodiu e incendiou-se ao colidir com uma mina aquática. Da explosão resultaram 5 mortos e 8 feridos entre os passageiros, além do posterior afundamento por incapacidade de recuperação. A partir deste incidente, passou a incluir-se uma patrulha avançada de botes para detecção visual de eventuais dispositivos flutuantes.

Junho – Deslocamento das populações da área de Piche para zonas mais seguras, incluindo a saída para o Senegal, em virtude dos últimos ataques do PAIGC.

Julho – Ataque da guerrilha a Quirafo, leste, durante três horas, com grande poder de fogo, de que resultou a destruição completa do aquartelamento.

Início da preparação da Operação "Mar Verde", destinada a derrubar o regime de Sekou Touré da Guiné-Conacri.

Agosto – Accionamento de uma mina anti-carro por uma coluna nas proximidades de Fulacunda, Sector Sul, Guiné, de que resultaram 5 mortos e 10 feridos entre as tropas.

2 de Agosto – Libertação de 92 ex-militares do PAIGC pelas autoridades portuguesas da Guiné, entre os quais Rafael Barbosa.

9 de Agosto – Mais um ataque a Jabadá.

12 de Agosto – A guerrilha sofreu um forte revés no Senegal. Durante um reconhecimento aéreo da FAP, foi detectada uma viatura de carga (FF556CN) pertencente ao PAIGC, na região de Faquina Mandinga, junto à fronteira norte. Na sequência da informação, tropas helitransportadas recolheram cerca de vinte e quatro toneladas de material de guerra. No sul, nas proximidades de Fulacunda, cinco mortos e dez feridos das tropas portuguesas no rebentamento de uma mina A/C.

18 de Agosto – Apresentação feita por Amílcar Cabral, em Argel, de cinco desertores portugueses.

21 de Agosto – Na zona de Mansambo, uma mina anti-carro rebentou quando era transportada na cabeça de um carregador nativo.

Outubro – Instalação na Guiné de um ramo militar da oposição ao regime de Conacri com o apoio das autoridades portuguesas. Estabelecimento de contactos de Senghor com o Governo português para exploração da possibilidade de conversações com os movimentos de libertação para a solução pacifica do problema colonial.

10 de Outubro – Ataque ao quartel de Buba.

17 de Outubro – Uma força militar do BCav 2868 acompanhada por uma equipa da televisão francesa e de jornalistas do "Paris-Match" caiu numa emboscada da qual resultou a morte filmada de dois soldados e de vários feridos. A op. com o nome de "Ostra Amarga" ficou mais conhecida por op "Paris-Match" (Cenas contidas no documentário “Duas Guerras”, de Diana Andringa e Flora Gomes).

Novembro – Utilização pelo PAIGC, dos foguetões de 122 mm, contra Bolama
16 de Novembro – Início da Operação Jove, no Sul da Guiné, "corredor de Guilege", por forças pára -quedistas, em resposta a informações sobre a passagem de uma coluna militar do PAIGC onde seguiria Nino Vieira. Na sequência, em 18 de Novembro, é capturado o capitão cubano Pedro Peralta, a quem foram apreendidos documentos que descrevem os ataques do PAIGC aos quartéis de Buba, Bedanda e Jabadá.

19 de Novembro – Inicio de um seminário de quadros do PAIGC em Conacri, em que Amílcar Cabral aborda os seguintes aspectos: duração da guerra e renovação dos quadros, aspectos económicos da guerra, doutrina portuguesa de unificação cultural e papel da luta armada.

1970

Avanço das acções do PAIGC no terreno




Janeiro – Estabelecimento dos primeiros contactos de militares portugueses do Estado-Maior de Spínola com chefes militares do PAIGC, numa tentativa de aliciamento para estes fazerem parte da futura força africana da Guiné, que se integrava na sua maneira política.
Estabelecimento de uma base de apoio para a Operação "Mar Verde" na ilha de Soga, Bijagós, onde foram reunidos e treinados militares portugueses e elementos da oposição da Guiné-Conacri. Grande ofensiva militar do PAIGC contra as posições portuguesas de Guilege, Guidage, São Domingos e Gadamael.

28 de Janeiro – Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar "não letal".

Fevereiro – Conversações secretas em Dacar entre delegações de Portugal e do Senegal, com vista a um cessar-fogo na Guiné.

Março – Reorganização das forças do PAIGC, com formação do corpo de exército de Nhacra – Enxalé, numa nova divisão territorial correspondente a novo patamar do seu processo evolutivo previsto por Amílcar Cabral. Confirmada a existência de uma unidade de artilharia do PAIGC equipada com foguetões GRAB-1, 122 mm.
Abril – Referência num discurso em Mansoa, feito por Spínola diante do ministro do Ultramar, Silva Cunha, ao facto de a Guiné estar a viver um grande momento, por se aproximar o fim da guerra.
O Hospital de Koundara aumenta a capacidade, até então de 60 camas, e equipa-se com sala de radiologia e energia eléctrica. Passa a apoiar a Inter-Região Norte, evitando as evacuações para Boké. É para Koundara que são levados os feridos e doentes de toda a Inter-Região Norte. Neste hospital trabalham médicos cubanos, um cabo-verdiano e um norte-vietnamita.
20 de Abril – Morte dos majores Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório, do alferes Joaquim Mosca e de dois civis, na Zona de Teixeira Pinto, na Guiné, durante uma acção de contacto com elementos do PAIGC.

Maio – Visita de Léopold Senghor aos países escandinavos, declarando em Estocolmo que "tinha proposto um plano de paz aceite por Amílcar Cabral, residindo a dificuldade da sua aplicação na obtenção do acordo dos portugueses".
23 de Maio – Ataque do PAIGC ao navio "Alvor" no rio Cacheu, com lança-granadas-foguete.

25 de Julho – Queda de um Allouette III no rio Mansoa (?), de que resultou a morte dos deputados José Pinto Leite, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu e Pinto Bull.

Em Agosto, os presidentes da Zâmbia e do Senegal declaram a sua disposição de contribuírem para a resolução do problema colonial português. Confirmação da existência de conselheiros cubanos junto do PAIGC pelos comandos militares portugueses.

11 de Agosto – Ataque do PAIGC à lancha "Sagitário", o 13º efectuado a unidades navais ao longo do ano, facto que leva o comandante da Defesa Marítima a salientar a liberdade de movimentos que o inimigo goza na margem sul do Cacheu e a notar a melhoria da eficiência do ataque.

19 de Agosto – Assalto ao navio "Pérola do Oceano", em Cabo Verde, por um grupo de militantes políticos que pretendiam dirigir-se a Dacar.

Setembro – Artigo de Aquino de Bragança na revista "Afrique-Asie" intitulado "Dacar face a Lisboa" analisando as relações entre Portugal e o Senegal na sequência dos acontecimentos nas fronteiras e do plano de Senghor para a solução pacifica da questão colonial.

12 de Outubro – Dois grupos da guerrilha (cerca de 50 elementos cada), um vindo de Sansabato (armas pesadas) e o outro de Queré, utilizando Mort, RPGs e Arm Aut, emboscou uma coluna que se dirigia a Infandre, na região de Mansoa. A emboscada, de rara violência (combateu-se corpo a corpo) causou às tropas 10 mortos, 9 feridos graves, 8 feridos ligeiros e capturou um soldado. Os géneros foram saqueados e foram ainda raptados vários elementos da população. Foi provavelmente o mesmo grupo da guerrilha que às 19H00 desse mesmo dia flagelou Mansoa com 22 tiros de canhão sem recuo.

12 de Novembro – Pedido de Spínola para uma operação na Guiné-Conacri.

17 de Novembro – Aprovação da Operação "Mar Verde" por Marcelo Caetano.

19 de Novembro – Seminário de quadros do PAIGC em Conacry presidido por Amílcar Cabral, onde este declara: "É mais fácil, ou menos difícil, para nós ganhar a guerra de libertação nacional do que garantir ao nosso povo uma vida de trabalho, dignidade e justiça".

22 de Novembro – Início da Operação "Mar Verde", envolvendo um efectivo de 350 homens com 25 objectivos na área da cidade e porto de Conacri, cujo único resultado foi a libertação de militares portugueses prisioneiros. Lembro-me de algumas figuras desta operação – Guilherme Almor de Alpoim Calvão, Alberto Rebordão de Brito, Marcelino da Mata e Zacarias Saiegh – pela participação noutras situações. O Marcelino da Mata (que, segundo consta, se dedicou durante a operação a roubar os relógios dos turistas que se encontravam numa praia da Guiné-Conakry) assinou, juntamente com Rebordão de Brito, um telegrama contra o Congresso dos Combatentes promovido pelo regime de 1 a 3 de Junho de 1973. (Depois do 25 de Abril, Rebordão de Brito e Alpoim Calvão, juntamente com Manuel Carlos Bulhosa, deram o seu apoio à formação, em Espanha, do MDLP. Eles mesmos, mais José Carlos Vilardebó Sommer Champalimaud, Miguel Vilardebó Champalimaud, o primeiro-tenente Nuno Manuel Osório Castro Barbieri, o tenente-coronel António da Silva Osório Soares Carneiro, vários elementos da GNR e outros, estiveram implicados na tentativa de golpe contra-revolucionário de 11 e Março de 1975, in Jornal Movimento 25 de Abril, Boletim Informativo das Forças Armadas, Edição Especial N.º 16 de 23 de Abril de 1976. O então capitão da 1.ª Companhia de Comandos Africanos Zacarias Saiegh, disse-me quem sabe, comandou uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau a mando de Spínola, após o 25 de Abril. Interrogo-me se isso não terá tido alguma influência no fuzilamento dos comandos africanos).

29 de Novembro – Comunicado do Comando-Chefe da Guiné a anunciar terem-se apresentado na fronteira os militares portugueses "retidos" na Guiné-Conacry, por se terem conseguido evadir. Na realidade, eram os militares postos em liberdade pela Operação "Mar Verde".

Dezembro – Primeiras notícias da possível aquisição, por parte do PAIGC, de mísseis terra-ar. Conferência do PAIGC, de alto nível, em Zinguichor, em cujo comunicado se refere que durante a luta se evitaria "molestar as populações, incluindo as que vivem sob controlo das forças portuguesas".

1971
Avanço das acções do PAIGC no terreno


Os combatentes do PAIGC, em 1971 tinham que enfrentar 44.505 soldados portugueses. Para além de meios navais e aéreos, destacamos estes últimos:

T-6: 11 aviões
DO-27: 14 aviões
C-47 (Dakota): 2 aviões
G-91 (Fiat): 10 aviões
AL-III: 18 helicópteros
Nord-Atlas: 2 aviões

As forças do PAIGC em 1971 eram as seguintes:
Efectivos por unidade:
- Bigrupo: 38/44 unidades
- Bigrupo reforçado: 70 unidades
- Grupo de artilharia: 50 unidades
- Grupo de canhões/morteiros: 23 unidades
- Grupo de foguetões/antiaéreos: 16 unidades

Efectivos por regiões:

Inter-Região Norte:
- Frente S. Domingos/Sambuiá: 630 unidades
- Frente CanchungoBiambe: 760 unidades
- Frente Morés/Nhacra: 680 unidades
- Frente Bafatá/Gabu Norte: 730 unidades

Inter-Região Sul:
- Frente Bafatá/Gabu Sul: 200 unidades
- Frente Bafatá/Xitole: 160 unidades
- Frente Buba/ Quitafíne: 1230 unidades
- Frente do Quinara: 560 unidades
- Frente de Catió: 370 unidades.

Além destes efectivos, que totalizavam 5500 elementos para o Exército Popular, há que acrescentar cerca de 2000 milícias, 900 a 1000 em cada inter-região, ou seja, o PAIGC não teria mais do que 7500 homens em armas.

Minas:



Janeiro – Primeiras notícias do fornecimento ao PAIGC, pela União Soviética de um míssil terra-ar do tipo Red-eye.
Pirada, Aldeia Formosa (Quebo) e Catió bombardeadas com foguetões 122mm. Bissau e Bafatá debaixo do fogo dos foguetões do PAIGC. Forças do PAIGC misturadas com a população de Casamansa, no Senegal, atacadas pela FAP. A capacidade do hospital de Boké aumentou para 100 camas e foi-lhe acrescentado um pequeno centro de reabilitação para diminuídos físicos e uma maternidade. Do corpo médico fazem parte médicos cabo-verdianos, jugoslavos, soviéticos e cubanos.

Este ano fica marcado por um incidente que veio a ter sérias repercussões na vida do PAIC. No decorrer da reunião anual do Conselho Superior de Luta (CSL), Inocêncio Kani (futuro assassino de Cabral) foi expulso da direcção.

Fevereiro – Participação do PAIGC na conferência ministerial para África do Conselho Económico e Social da ONU.

31 de Março – O Comando-Chefe da Guiné, em documento oficial, declara que "A situação continua caminhando para novo e rápido agravamento face à crescente pressão militar do inimigo, passível de suplantar a nossa capacidade de defesa das populações".

9 de Junho, Bissau flagelada pelo PAIGC.

Outubro – Actividade operacional do PAIGC na zona de Duas Fontes, no Leste da Guiné, com emboscadas e minas, causa 5 mortos e 4 feridos às tropas portuguesas.

Operação "Com Raça" das forças portuguesas na Zona de Caboiana / Churo, Oeste da Guiné, CAOP 1, com resultados significativos. Operação "Novidade" das forças portuguesas, na zona de Tite, no Sul da Guiné, com captura do chefe das populações balantas do Quinara, de nome Manquiante. Operação "Diamante Pardo" executada por duas companhias de comandos africanos na zona de Nhaga, Oeste da Guiné, com estabelecimento de vários contactos com forças do PAIGC. Emboscadas e minas no leste causam 5 mortos e 4 feridos entre as tropas portuguesas.

Outubro: Amílcar Cabral, recebido em Londres pelo líder do Partido Trabalhista britânico, reafirma a vontade de solucionar o conflito sem condições prévias.
Novembro – Acção de duas companhias de comandos africanos, na zona de Campará, no sul da Guiné.

Dezembro – Amílcar Cabral, em visita a Moscovo, obteve dos soviéticos a promessa do fornecimento de mísseis terra-ar Sam-7, para o 1º trimestre do ano seguinte. No regresso a Conakry, escolheu a equipa que os ia manusear, que seguiu de imediato para Moscovo a fim de receber a indispensável formação.

Em Dezembro estavam registadas 46 tabancas organizadas em auto-defesa, 341 com armamento distribuído e 26 em que os seus elementos colaboravam com as tropas portuguesas, perfazendo um total de 11.163 armas distribuídas à população (Com.Che. das FA da Guiné, Relatório de Comando, Secreto, 1971). Ainda segundo este relatório, a administração portuguesa controlava 487.448 indivíduos e o PAIGC 107.200, distribuídos pelo Senegal (60.000), Gâmbia e República da Guiné-Conakry (20.000) e 27.200 dentro do território. Calculava-se que, relativamente ao total da população da Guiné, cerca de 13% estava refugiada nos países limítrofes.

12 de Dezembro – Às 09h00, uma companhia do Exército desembarca da LDG "Bombarda" em Cadique (Cantanhez), na península dos rios Cumbijã e Cacine. Apoiados pela aviação, na presença do General Spínola, dão início à operação "Grande Empresa" que tinha por objectivo ocupar algumas posições na mata até então praticamente nas mãos da guerrilha.

20 de Dezembro – Operação "Safira Solitária" realizada por duas companhias de comandos africanos na zona de Morés, Oeste da Guiné, com vários contactos com forças do PAIGC. Disse o Comunicado Especial do Comando-Chefe: "...Montada a operação, denominada 'Safira Solitária', foi esta levada a efeito por unidades da força africana e teve início ao alvorecer do dia 20 prolongando-se até à tarde de 26, tendo as nossas forças sido guiadas na floresta por elementos das populações da área pertencentes à nossa rede de informações que conhecia a localização precisa das posições inimigas. Apesar de colhido de surpresa o inimigo estimado em 6 bigrupos, 2 grupos armados de armas pesadas instalados em posições fortificadas e cerca de 333 elementos armados da milícia popular, opôs durante os três primeiros dias tenaz resistência acabando todavia por ser desarticulado e aniquilado, tendo sofrido 215 mortos confirmados, entre os quais três cubanos, e alguns mercenários estrangeiros africanos, 28 capturados, além de apreciável número de feridos. Segundo declarações dos capturados, encontravam-se na área pelo menos mais 4 elementos cubanos. Verificou-se que o inimigo estava implantando no Morés um sistema de fortificação de campanha do qual se destacavam espaldões para armas pesadas e abrigos subterrâneos para pessoal. Os grupos de guerrilha, pela resistência que ofereceram revelaram uma sensível melhoria de enquadramento e uma técnica mais avançada de guerra de posição. No decurso da operação foi capturado o seguinte material: 1 canhão sem recuo B-10, 2 morteiros de 82 mm, 2 morteiros de 60mm, 3 metralhadoras pesadas Goryonov, 7 lança-granadas RPG-7, 14 espingardas automáticas Kalashnikov, 38 espingardas semi-automáticas Simonov, 8 espingardas Mosin Nagant, 14 pistolas metralhadoras PPSH, além de avultado número de armas de repetição, de cunhetes de munições, fitas e carregadores, destruídos no local por desnecessários. As nossas forças sofreram 8 mortos, 12 feridos graves e 41 feridos ligeiros."

Amadu Bailó Djaló, alferes da 1ª Companhia de Comandos Africanos, conta que o seu grupo não participou no inicio da operação, e quando se juntou aos restantes comandos, estes estavam concentrados na zona dos cajueiros do Morés, que era perto da barraca central. Quando lá chegou começava a anoitecer, e apercebeu-se que já estavam ali desde o meio-dia, pelo que alertou para o perigo que isso representava, mas responderam-lhe, que se atacassem era bom, era a maneira como lhe apanhavámos todas as armas, pois estavam ali 200 comandos. Quando a noite caiu, o PAIGC atacou, um violento e certeiro bombardeamento de morteiros, provocou de imediato muitos feridos, e uma fuga precipitada para outra posição, lançando a confusão.
Tivemos que fugir rapidamente para outra posição, pois as granadas caíram mesmo em cima de nós. Mas depois regressei novamente ao local onde tinha estado, dado ter deixado lá a minha arma. Quando procurava a arma, uma voz chamou-o, era um soldado ferido, disse-lhe que estava ferido nos pés, como estava muito escuro, apalpou-lhe os pés para ver como estavam, eram uma massa de sangue, foi chamar o enfermeiro. O enfermeiro chamou-o à parte e disse-lhe que não havia nada a fazer, ele iria morrer durante a noite, pois iria esvaziar-se em sangue até de manhã, altura em que poderia ser evacuado. Amadu voltou para se juntar ao grupo, mas no caminho chamaram-no novamente, era outro soldado ferido numa perna, parecia que tinha um tendão cortado, mas não teve tempo para o ajudar. A resposta dos comandos ao poder de fogo do PAIGC revelava-se insuficiente, e o IN avançava rapidamente no terreno, ao assalto às posições dos comandos, pelo que lhe disse que voltaria para o vir buscar (quando lá voltou tinha sido morto pelo PAIGC com um tiro na cabeça).

Amadu juntou-se ao seu grupo, e recuaram novamente, inicialmente queriam recuar para a zona das bananeiras, que era um local escuro e que dava alguma protecção, mas a Amadu pareceu-lhe demasiado óbvio, e disse para recuarem para o meio do capim, local com pouca protecção.

O PAIGC bombardeou com morteiros a zona das bananeiras, suspeitando que nós estávamos lá, e passou perto de nós da zona do capim, gritavam: Cú, Cú...Comando. Aparece se és homem, mas ficamos calados - comenta Amadu. Os confrontos pararam, pois conseguiram não ser detectados, e ao amanhecer deslocaram-se para uma zona, onde pudessem evacuar os feridos, mas ai receberam ordem para regressar, e o assalto à barraca central nunca se efectuou.

Quebá Sedi combateu desde 1963 até 1974, foi chefe de um bi-grupo no Morés, e lembra-se bem da operação ocorrida em Dezembro de 1971, em que a tropa veio passar o natal com os combatentes pela liberdade da pátria. Segundo as suas palavras, o que se passou foi o seguinte: Primeiro veio uma avioneta que andou a sobrevoar a mata, depois durante 13 dias, bombardeiros, helicópteros, e os canhões do Olossato, Bissorã, Cutia e Mansabá, bombardearam de dia e de noite o Morés. No fim dos bombardeamentos, devem ter pensado que estava tudo morto, e helicópteros trouxeram as tropas, que largaram em várias zonas, à volta do Morés. Os combatentes fizeram-lhes duas emboscadas, mas depois perderam-lhes o rasto, muita gente pensou que se tivessem ido embora, pois não se ouvia nada. As tropas tinham-se reunido no Morés, na zona dos cajueiros, muito perto da barraca grande do Morés, era véspera de Natal, e era sua intenção atacar a barraca grande do Morés, no dia seguinte, pelo que passaram aqui a noite. Um homem grande detectou o brilho de um cigarro, de um soldado que estava de pé a fumar, com a arma ao lado, e foi avisar os combatentes da barraca grande. O comandante da barraca grande era Abu Ladja, mas existiam ali outros comandantes como Lamam Sisse, Dique Daringue, e outros. Gerou-se alguma discussão se era mesmo tropa que estava ali, pois não queriam ir bombardear a população, uns diziam "É tuga", outros "É cá tuga"! Dique Daringue foi encarregado de investigar, e os combatentes levaram 2 morteiros 60 e 2 morteiros 82. Dique Daringue para ter a certeza de que era tropa mandou disparar uma rajada, em resposta ouviu-se falar português, eram tugas, e abriu-se fogo. As tropas tiveram muitos mortos e feridos, foram apanhadas muitas armas e um rádio. As tropas também conseguiram apanhar algumas armas, pois dias antes tinham encontrado em Bongontom uma arrecadação com armas velhas, e outra com armas novas no Morés. (Publicado em 21/05/2006, e revisto em 1/08/2007 por Carlos Fortunato)

1972
Minas:


24 de Janeiro – Golpe de mão de guerrilheiros do PAIGC, comandados por Queba Sambu, a Catió, no Sul da Guiné, durante o qual foram feitos prisioneiros dois militares portugueses.

27 de Janeiro – Convite do PAIGC ao Conselho de Segurança da ONU para enviar uma delegação às "áreas libertadas da Guiné-Bissau".

1 de Fevereiro – Amílcar Cabral discursa no Conselho de Segurança da ONU, reunido em Adis Abeba, facto que ocorre pela primeira vez.

4 de Fevereiro – Resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza o envio de uma missão de visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau.

Março – Alerta de Amílcar Cabral contra um plano para liquidar o partido e o seu secretário-geral. Encontros secretos entre delegações de Portugal e do Senegal para a criação de uma comissão mista para controlo das fronteiras.

9 de Março – Ataque do PAIGC ao aeroporto de Bissalanca, próximo de Bissau.

27 de Março – Concessão pelo Governo norueguês, de um subsidio ao PAIGC.

2 de Abril – Início de uma visita efectuada por uma missão especial das Nações Unidas às zonas da Guiné-Bissau controladas pelo PAIGC.


17 de Abril – Carta de Spínola a Marcelo Caetano em que considera que "não ganharemos esta guerra pela força das armas". Será que Spínola não tinha conhecimento das nossas capacidades e meios para ganhar a guerra? Na região do Quirafo (Contabane), uma coluna do Exército Português (da CCaç 3490, Saltinho) foi emboscada por uma força do PAIGC, comandada por Paulo Malú, armada de canhão sem recuo, RPG 7 e armas automáticas. Desbaratada e posta em fuga a coluna sofreu 12 mortos, 6 feridos e um desaparecido, o soldado António Baptista. A guerrilha encontrou-o, fingindo-se de morto. Levado para a fronteira nesse mesmo dia, à noite, um camião vindo de Boké transportou-os para Conakry onde chegaram (o prisioneiro e ele, Malu) de manhã cedo. Foi libertado em 14 de Setembro de 1974, perante a estupefacção dos que o julgavam morto. De facto, o funeral, com honras militares, do soldado Baptista tinha sido feito, encontrando-se ainda há pouco tempo um corpo (presume-se ser o do soldado António Oliveira Azevedo) no lugar do dele, no cemitério de Moreira da Maia.

25 de Abril – Visita dos adidos militares dos Estados Unidos, Inglaterra, Venezuela e África do Sul à Guiné.

18 de Maio – Encontro de Spínola, acompanhado do director da Pide em Bissau (Fragoso Allas, grande amigo de Spínola, e a quem este prometeu, após o 25 de Abril, que libertaria os pides, menos os altos dirigentes) e do major Hugo Rocha, com Leopold Senghor, próximo da fronteira com a Guiné (em Cap Skiring), no sentido de explorar as possibilidades de mediação entre as partes em conflito.

19 de Maio – Recondução de Spínola nos cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné.

26 de Maio – Encontro de Marcelo Caetano com Spínola, a quem este transmite os resultados do seu encontro com Senghor. Sobre este encontro escreveu Marcelo Caetano: "Passado tempo, Senghor começava a fazer saber ao general Spínola que gostaria de falar com ele. Ciente do facto, o Governo autorizou o general a encontrar-se com o presidente do Senegal, o que teve lugar numa povoação senegalesa, Cap Skiring, próxima da fronteira portuguesa, em meados de 1972. O general Spínola veio depois, num salto, a Lisboa dar conta do que se passara.

Na entrevista surgira a hipótese de um encontro Spínola – Amílcar Cabral para se negociar um cessar-fogo preliminar do acordo pelo qual se esperava que o PAIGC passaria a colaborar com os portugueses no Governo do território.

Observei ao general que por muito grande que fosse o seu prestígio na Guiné – e eu sabia que era enorme – ao sentar-se à mesa das negociações com Amílcar Cabral ele não teria na frente um banal chefe guerrilheiro, e sim o homem que representava todo o movimento anti-português, apoiado pelas Nações Unidas, pela Organização da Unidade Africana, pela imprensa do mundo inteiro. Assim, ia-se reconhecer oficialmente o Partido que ele chefiava como sendo uma força beligerante e reconhecia-se mais, que essa força possuía importante domínio territorial, uma vez que aceitávamos negociar com ela um armistício (ou cessar-fogo) como preliminar de um acordo. (...).
A dificuldade do problema da Guiné estava nisto: em fazer parte de um problema global mais amplo, que tinha de ser considerado e conduzido como um todo, mantendo a coerência dos princípios jurídicos e da política que se adoptasse.

E foi aqui que, no decurso da conversa, fiz a afirmação chocante para a sensibilidade do general, dizendo mais ou menos isto:

– Para a defesa global do Ultramar é preferível sair da Guiné por uma derrota militar com honra do que por um acordo negociado com os terroristas, abrindo o caminho a outras negociações.
– Pois V. Exa. preferia uma derrota militar na Guiné? – Exclamou escandalizado o general.
– Os exércitos fizeram-se para lutar e devem lutar para vencer, mas não é forçoso que vençam. Se o exército português for derrotado na Guiné depois de ter combatido dentro das suas possibilidades, essa derrota deixar-nos-ia intactas as possibilidades jurídico-políticas de continuar a defender o resto do Ultramar. E o dever do Governo é defender todo o Ultramar. É isso que eu quero dizer." In Depoimento, Rio de Janeiro, Record, 1974, p. 189.
Estava visto que o poder político já aceitava que houvesse uma derrota na Guiné. E é a partir dessa data que Senghor, sabendo da recusa de Marcelo Caetano em autorizar o prosseguimento da via que ele e Spínola haviam tentado, disponibiliza abertamente os seus territórios ao PAIGC e dá-lhe total apoio.

28 de Julho – Agravamento pelo Supremo Tribunal Militar, para dez anos de prisão da pena do capitão cubano Pedro Peralta.

Agosto – Criação pelo Estado-Maior-General de uma rede de informações para actuar em diversos países africanos, chefiada por Alpoim Calvão.

Setembro – No plenário da ONU, Amílcar Cabral anunciou para muito breve a declaração unilateral da Independência da Guiné.

21 de Setembro – Estado de sítio na cidade da Praia, Cabo Verde, após confrontos entre populares e forças militares.

24 de Outubro – Carta de Spínola a Marcelo Caetano, solicitando autorização para se encontrar com Amílcar Cabral, que foi negada.

18 de Dezembro – Um comandante do PAIGC refere, numa reunião com populações do interior, a utilização de uma nova arma contra as forças portuguesas na região do Cantanhez, anunciando a entrada em acção do míssil terra-ar.

31 de Dezembro – Em documento oficial o comando militar português na Guiné prevê a utilização, pelo PAIGC, de canhões antiaéreos, lançadores múltiplos de foguetões, viaturas anfíbias, PT-76 e BTR-40 e carros de combate T-34, aumentando o seu potencial bélico.

Até 1972 as forças portuguesas alternaram êxitos com fracassos. Os maiores êxitos foram a construção de estradas alcatroadas nos limites de zonas libertadas pelo PAIGC, a estrada Bula-Có-Pelundo-Teixeira Pinto-Cacheu, junto à Coboiana, a estrada Mansoa-Mansabá-K3-Farim, que toca no sul do Mores, e a estrada do Leste, que liga a cidade de Bafatá ao rio Geba/Corubal e às fronteiras com o Senegal e Guiné-Conacry. No Sul, mantêm-se abertas as vias que ligam Buba a Aldeia Formosa.

As guarnições da fronteira norte resistem, mas Madina do Boé e o destacamento de Béli tinham sido abandonadas, deixando vazio um vasto espaço entre o rio Corubal e a fronteira. Também a posição de Gandembel deixa de fazer parte do dispositivo territorial. Nesse ano de 1972, o PAIGC realizou 765 acções de sua iniciativa, contra 708 em 1971.

1973

Segundo o Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, as tropas portuguesas registaram 210 mortos na Guiné durante o de 1973. No final deste ano contavam-se 550 Kms de estradas alcatroadas no território.

8 de Janeiro – Amílcar Cabral anuncia que o Estado da Guiné-Bissau será proclamado em 1973.

20 de Janeiro – Assassínio de Amílcar Cabral.

27 de Janeiro – Mensagem de exortação dos dirigentes do PAIGC aos combatentes na sequência da morte de Amílcar Cabral, assinada por Aristides Pereira, Luís Cabral, Chico Mendes, Victor Saúde Maria, Silvino da Luz e Paulo Correia.

1 de Fevereiro – Simpósio dedicado à memória de Amílcar Cabral em Conacri, com a presença de 680 delegados de vários países e organizações de todo o mundo.

20 de Fevereiro – Durante um patrulhamento na mata do Cantanhez, um grupo da Companhia estacionada em Cadique deitou a mão a 24 granadas de canhão s/recuo e a 1 de RPG 2.

Março – A tropa do Saltinho recolheu um militar que conseguiu escapulir-se da guerrilha que o mantinha prisioneiro. Era um soldado de uma Companhia de Cancolim que tinha sido capturado pelo PAIGC quando se dirigia sozinho em direcção ao seu pelotão que tinha saído para um patrulhamento nocturno. Recusara-se a sair e, cerca de uma hora depois decidiu ir ao encontro dos seus camaradas. Teve um mau encontro, deu de caras com tropas do PAIGC que se preparavam para atacar o destacamento e foi capturado. No dia seguinte, a tropa encontrou munições de G-3 que presumivelmente lhe pertenceriam e deu-o como desaparecido.

6 de Março – Carta de António de Spínola a Marcelo Caetano sobre a evolução da situação na Guiné e a necessidade de medidas de natureza politica.

20 de Março – O Ten Cor Almeida Brito e o Maj Pessoa, aos comandos de uma parelha de Fiats G-91 da FAP avistaram um míssil em Campada.

22 de Março – O Furriel Moreira num T-6 vê passar-lhe ao lado um projéctil que admitiu ser um míssil.

25 de Março – Primeira utilização dos mísseis terra-ar Strella pelo PAIGC, responsáveis pela queda de um Fiat G-91 pilotado pelo tenente Pessoa.

6 de Abril – Um Do-27 pilotado pelo Furriel Baltazar é atingido e despenha-se, morrendo o piloto. Outro Do-27 pilotado pelo Furr Carvalho Ferreira, em viagem de Farim para Bigene, desapareceu com quatro passageiros a bordo. O Major Mantovani morre aos comandos de um T-6. O outro piloto que "ia em asa", o Alf Henriques, viu um rastro de fumo vindo do solo.

25 de Abril – Coube a vez ao Ten Pessoa, que se conseguiu ejectar, sendo recuperado no dia seguinte por um Gr Cmds.

28 de Abril – O Ten Cor Almeida Brito aos comandos do Fiat G-91 morre ao despenhar-se com a aeronave abatida por um SAM-7 "Grail".

Maio – O PAIGC desencadeou 220 acções militares neste mês.

8 de Maio – Início do ataque do PAIGC ao quartel de Guidage, no Norte da Guiné.
Todos os acessos a essa povoação foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Em termos de efectivos, a guarnição portuguesa teria cerca de 200 homens, na maioria do recrutamento da província, com as suas famílias, existindo em redor do quartel uma pequena aldeia com cada vez menos habitantes. Do lado do PAIGC estimavam-se em cerca de 650 a 700 os efectivos que empenhou nesta operação, comandados por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo comissário político Manuel dos Santos( Manecas), que era o responsável pelos mísseis em todo o território.

Minas, emboscadas, abates de Fiats G-91, Dorniers, helis, houve de tudo naquele interminável mês (a acção durou desde 8 de Maio a 8 de Junho). Na zona de Guidage estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors Matos Gomes e Aniceto Afonso. Em 20 dias de cerco, Guidage sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros. 39 mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas, três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27) foi o saldo negativo para as forças portuguesas.

15 de Maio – Reunião de comandos militares em Bissau, durante a qual Spínola declara "Encontramo-nos indiscutivelmente na entrada de um novo patamar da guerra, o que necessariamente impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios".

17 de Maio – Início da Operação "Ametista Real", em que o Batalhão de Comandos da Guiné assalta a base de Kumbamori, do PAIGC, situada em território do Senegal. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da op "Ametista Real", as tropas portuguesas reclamaram a destruição de mais de quatro centenas de armas automáticas, mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc. No decorrer da operação o BCmds sofreu catorze mortos e vinte e três feridos graves.

O PAIGC dispunha, concentradas, as seguintes forças na região de Kumbamori: Corpo de Exército (CE) 199/B/70, com quatro bigrupos de infantaria e uma bateria de artilharia; Corpo de Exército (CE) 199/C/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bateria de artilharia; Grupo de Foguetes da Frente Norte, com quatro rampas; Três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bateria de artilharia do CE 199/A/70, deslocadas de Sare Lali (Zona Leste). Foram ainda referenciados em Kumbamori, um pelotão de morteiros de 120 mm, um grupo especial de sapadores e diversos elementos recém-chegados do estrangeiro.

18 de Maio – Início da Operação "Amílcar Cabral" realizada por forças do PAIGC contra o quartel de Guilege, no sul da Guiné. Este ataque foi conjugado com o de Guidage, pretendendo o PAIGC isolar as guarnições de fronteira. Cinco dias depois, o comandante português, o Maj Artª Coutinho e Lima, contrariando as ordens de Spínola, decidiu abandonar a praça forte na zona sul do território. Elementos da população ofereceram alguma resistência mas, face à decisão inabalável de Coutinho e Lima, decidiram-se por seguir com a tropa. No local, as tropas portuguesas deixaram para trás três peças de artilharia e documentos sobre a disposição das forças em todo o território da Guiné. Peças e documentos que muito jeito deram às forças de guerrilha, segundo vieram a dizer mais tarde dirigentes do PAIGC. O major Coutinho e Lima, para justificar o seu acto, diz ter tido a preocupação de poupar as 600 vidas que lhe estavam confiadas. Outros militares, embora se recusem a condenar publicamente um camarada, atribuem-lhe o único abandono em treze anos de guerra de um aquartelamento português e alguns interrogam-se do que teria acontecido a Guidage, se em vez do Coronel Correia de Campos tivesse sido Coutinho e Lima o comandante. As consequências do abandono de Guileje tiveram enorme repercussão. Pela primeira vez, pelo menos de uma forma tão pública e que o PAIGC aproveitou em todos os palcos internacionais, o Exército Português mostrava fracturas tão assinaláveis. Na sequência, tentando aproveitar o "efeito dominó", as tropas do PAIGC deslocaram todo o esforço para o aquartelamento vizinho, Gadamael, que passou a ser atacado do território da Guiné-Conakry várias vezes ao dia, com enorme violência (morteiros 82 e 120, foguetões de 122mm, conhecidos pelos jactos do Povo e bocas de Artª de 130 mm, com alcance até trinta quilómetros). A guarnição, tal como a de Guidage, embora com custos elevados (38 mortos e 55 feridos entre 13 e 27 de Maio), manteve-se estoicamente. No seu livro "Gadamael", o Sargento pára-quedista Carmo Vicente escreveu: "tombaram para sempre, quase cinquenta irmãos nossos, que não queriam combater e que abominavam a guerra. Quase cinquenta homens que se o pudessem ter feito, teriam gritado antes de morrer: entreguem a Guiné aos Guineenses".

22 de Maio – Retirada da guarnição portuguesa do quartel de Guilege, no sul da Guiné, para Gadamael-Porto.

25 de Maio – Visita à Guiné de Costa Gomes, chefe do Estado-Maior-General.

31 de Maio – Agravamento da situação em Gadamael-Porto, em consequência da pressão militar do PAIGC e da retirada da guarnição de Guilege.
Durante o mês de Maio, o PAIGC realizou 220 acções militares de sua iniciativa, o valor mais elevado desde o início da guerra.

18 de Julho – Início do II Congresso do PAIGC no interior da Guiné, em que Aristides Pereira é eleito novo secretário-geral do partido e feita a convocação da primeira sessão da Assembleia Nacional Popular que deverá proclamar a independência da Guine-Bissau.

31 de Julho – Aristides Pereira anuncia que cinco indivíduos, julgados pelo assassínio de Amílcar Cabral, foram fuzilados.

6 de Agosto – Regresso de António de Spínola a Portugal, vindo a ser substituído nos cargos que desempenhava na Guiné.

18 de Agosto – Reunião de duas dezenas de capitães na sala de jogos do Clube Militar, em Bissau. Analisa-se a legislação considerada afrontosa (Decreto-Lei 353/73), ética e materialmente, para a maioria dos capitães do QP. Discute-se a atitude a tomar e escolhe-se uma comissão para elaborar um projecto de carta a enviar às mais altas entidades das Forças Armadas e do Exército e ainda ao Ministro da Educação.

21 de Agosto – Reunião de oficiais em Bissau, em que é aprovado o texto de uma exposição a enviar às altas entidades militares e políticas sobre as novas disposições acerca das carreiras militares.

25 de Agosto – Leitura e discussão final do documento que recolheu 51 assinaturas. Foi constituída uma Comissão do Movimento dos Capitães, integrada pelo major Almeida Coimbra e capitães Matos Gomes, Duran Clemente e António Caetano. Substituição de António de Spínola por Bettencourt Rodrigues, que tomará posse em Setembro dos cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné.

1 de Setembro – Mais um Fiat G-91 (Cap. Carlos Wanzeller) da FAP foi atingido por fogo antiaéreo de.50 polegadas (12,7).

5 de Setembro – Envio de uma exposição colectiva às altas entidades, assinada por 51 oficiais em serviço na Guiné.

13 de Setembro – Otelo Saraiva de Carvalho, em fim de comissão, reúne pela última vez numa sala do Grupo de Artilharia de Campanha de Bissau, recebendo a incumbência de, em Lisboa, se integrar no Movimento, sendo porta-voz das preocupações dos seus camaradas.

24 de Setembro – Proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau feita pelo PAIGC, em Madina do Boé, no interior do território.

4 de Outubro – Coube a vez de ser atingido por mais um Strella o Fiat G-91 pilotado pelo Cap Roxo da Cruz.

18 de Outubro – Reunião do Movimento dos Capitães em Bissau e Luanda, decidindo-se, em ambos os lados, prosseguir a mobilização dos oficiais, apesar da suspensão dos decretos.

1974

Janeiro – Em meados do mês, o BCmds Africanos efectuou a op "Neve Gelada", na zona de Canquelifá, com o objectivo de aliviar a pressão do PAIGC sobre aquela povoação fronteiriça (sem reabastecimentos há cerca de um mês). Com duas CCmds, saídas há cerca de duas horas em direcção aos objectivos do PAIGC (bases de fogos de Artª e foguetões) localizados no interior da Guiné-Conakry a dois ou três kms da fronteira, recomeçaram os bombardeamentos ao quartel. Referenciada a base de fogo, uma CCmds atacou do interior da Guiné-Conakry para a fronteira, apanhando assim o IN pela retaguarda, o que obrigou este a debandar, abandonando 5 morteiros e centenas de granadas.

21 de Janeiro – Primeira acção do PAIGC na cidade de Bissau, com lançamento de engenhos explosivos contra autocarros da Força Aérea, seguidos uma semana depois, de dois outros engenhos do mesmo tipo num café da mesma cidade, frequentado por militares portugueses.

31 de Janeiro – Mais um Fiat G-91 (Ten. Castro Gil) da FAP abatido por um Strella.

14 de Fevereiro – Carta do Movimento dos Capitães da Guiné sobre a situação geral e a necessidade de ser passar à acção contra o regime.

22 de Fevereiro – Rebentamento de uma carga explosiva no Quartel-General do Exército de Bissau, tendo ficado ferido o segundo-comandante, acção reivindicada pelas Brigadas Revolucionárias.

Março – Neste mês, algumas unidades dispersas pelo território receberam uma mensagem assinada pelo Ten Cor Banazol, em nome do "Movimento de Resistência das Forças Armadas", apelando à rebelião e programando uma operação de retracção do dispositivo militar para o mês de Maio próximo.
Comparativamente aos dados de 1971 (já referidos) era esta a situação dos meios aéreos:

Disponíveis
(1971/Março 1974)

T-6..........................11 .....................6
DO-27.................... 14 ...................12
C-47 (Dakcota)...... .2..................... 3
G-91 [Fiat).............10.................... 8
AL-III.....................18...... ............15
Nord-Atlas.............. 2.................... 2

Os T6 foram reduzidos por não poderem ser substituídos os abatidos ou acidentados, além de não se mostrarem adequados para este tipo de guerra, nomeadamente após o aparecimento dos Strella. Os Fiat também não puderam ser substituídos, nem os AL-III, e também por dificuldades de manutenção.

Efectivos - Pilotos
1971/Março 1974

Colocados ....................49 ............48
Prontos para voo .......44 ............35

31 de Março – Violento ataque do PAIGC à guarnição militar portuguesa de Bedanda, com utilização de viaturas blindadas.

13 de Abril – Informação do movimento de oficiais da Guiné à comissão de Lisboa de que está preparada para assumir a iniciativa do movimento, caso seja necessário.

20 de Abril – Morre em combate na estrada Teixeira Pinto-Cacheu, em 20 de Abril, Saco Vaz, Comandante do PAICG.

25 de Abril – As unidades militares dispersas pelo território recebem uma mensagem "relâmpago" emitida do Comando-Chefe em Bissau, às 22h45, com a informação de que agências noticiosas estavam a noticiar o derrube do governo de Lisboa. A mesma mensagem incitava os comandos das unidades a estarem prevenidas para um eventual aproveitamento do PAIGC, para manterem a vigilância e garantirem pronta capacidade de reacção, terminando com um alerta: respeitarem apenas ordens depois de devidamente autenticadas. Destituição do Governador da Guiné, Brigadeiro Bettencourt Rodrigues, substituído interinamente pelo Ten Cor Mateus da Silva.

7 de Maio – A Junta de Salvação Nacional nomeia seu delegado com funções de encarregado do governo o Ten Cor Carlos Fabião.

14 de Maio – Aristides Pereira, secretário-geral do PAIGC, apela à união dos guineenses e cabo-verdianos para a luta pela independência total.

15 de Maio – Na zona do Xitole, quando faziam segurança a uma coluna que transportava materiais de construção, tropas portuguesas foram emboscadas, tendo sofrido dois mortos e alguns feridos.

16 de Maio – A República da Guiné-Bissau é admitida na Organização Mundial de Saúde.

17 de Maio – Mário Soares, MNE, iniciou negociações para o cessar-fogo, em Dacar.

24 de Maio – Em Londres, Mário Soares reúne com uma delegação do PAIGC, ficando acordada a paragem dos combates.

5 de Junho – À noite, o quartel do Xitole foi alvo de tentativas de infiltração, tendo sido abatido um elemento atacante.

15 de Junho – Tropas portuguesas em patrulhamento na Ponte dos Fulas (ainda na zona do Xitole) depararam com uma carta, um maço de tabaco "Nô Pintcha" e um isqueiro, dependurados numa árvore em local bem visível. A carta convidava o comandante português para uma reunião nesse mesmo dia e local com elementos do PAIGC.

27 de Julho – Spínola reconhece o direito do povo da Guiné à independência.

26 de Agosto – Em Argel, Portugal e o PAIGC chegam a acordo com vista ao reconhecimento da República da Guiné-Bissau, a acontecer no dia 10 de Setembro de 1974.

Novembro – Embarcou no Uíge o BCaç 4612, a última unidade militar portuguesa ainda presente no território, ficando durante algum tempo na Guiné apenas um pequeno destacamento da Marinha de Guerra Portuguesa.

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Notas de vb:
1. A. Marques Lopes, ex- Alf Mil Inf ( hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro
2. Adapatação do texto da responsabilidade de vb;
3. artigos relacionados em:
12 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3050: A Guerra estava militarmente perdida? (25). Vou pensando em voz alta (I). A. Marques Lopes.