sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23953: "Una rivoluzione...fotogenica" (3): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte II: Mulheres e crianças




Guiné-Bissau > Região do Oio  > Sara > Março-abril de 1974 > Mulher fumando cachimbo enquanto cozinha / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - C 27 - Life in Sara, Guinea-Bissau - Women cooking - 1974 (Sara ficava a sudeste do Morés, a nordeste de Mansoa)


Guiné-Bissau > s/l > Março-abril de 1974 > Mulher com  criança / Foto:    ASC Leiden - Coutinho Collection - B 37 - Life in the Liberated Areas, Guinea-Bissau - Woman and child - 1974


Guiné-Bissau > s/l > Março-abril de 1974 > Mulher com  criança / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - B 29 - Life in the Liberated Areas, Guinea-Bissau - Woman with child - 1974


Guiné-Bissau > s/l > Março-abril de 1974 > Mulheres cozinhando /  Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - B 38 - Life in the Liberated Areas, Guinea-Bissau - Woman cooking - 1974
 
Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)




 

Senegal > Ziguinchor > 1973 > O dr. Roel Coutinho vacinando em massa / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - G 07 - Ziguinchor, Senegal - Vaccination - 1973.


O neerlandês Roel Coutinho era de origem portuguesa, sefardita, pelo lado do pai:  os seus ascendentes devem ter-se exilado na Holanda / Países Baixos, em meados do séc. XVII, por razões religiosas, numa época em que se intensificou a perseguição aos "cristãos-novos" em Portugal, talvez ainda no tempo dos Filipes, mas abrindo a outros portugues "marranos",  como  o nosso grande médico Ribeiro Sanches (Penamacor, 1699 - Paris, 1783), que foi continuar os seus estuods  em Leiden, em 1730).

Coutinho é autor de uma notável documentação fotográfica (mais de 700 imagens)  sobre a antiga Guiné portuguesa, onde esteve como médico cooperante ao lado do PAIGC, cerca de um anos (até abril de 1974).

Roeland Arnold (Roel) Coutinho nasceu em Laren, município da província da Holanda do Norte, Países Baixos, em 4 de abril de 1946). É um médico neerlandês, microbiologista, foi o  primeiro diretor do Centro de Controlo de Doenças Infeciosas, como parte do Instituto Nacional da Saúde Pública e do Ambiente.  Foi professor da Universidade de Amsterdão e da Universidade de Utrecht.  

Tem origem judaica portuguesa, do lado paterno (Coutinho). A mãe era de origem alemã. Casaram no início da II Guerra Mundial. Contraíram febre tifoide. Com uma declaração do serviço de saúde municipal, conseguiram o adiamento da sua deportação para a Polónia.  

Aproveitaram, entretano, para se esconder com a filha em casa de conhecidos em Laren. Depois do nascimento do Roel, já depois da guerra, a família mudou-se para Blaricum. Coutinho fez o ensino secundário em Hilversum (a 25 km a sudeste de Amsterdão e 14 km ao norte de Utrecht). Licenciou-se em medicina em Amsterdão e fez estágio no Centro de Controlo de Doenças (CCD) de Atlanta, EUA.

Em seguida, trabalhou, em 1973/74, como jovem médico de medicina tropical na Guiné-Bissau e no Senegal, ao tempo da luta do PAIGC. De volta à Holanda (1974), especializou-se em microbiologia médica. Em 1975 contribuiu para a erradicação da varíola em Bangladesh. 

Em 1977 tornou-se chefe do Departamento de Saúde Pública do Serviço de Saúde Comunitária (GGD) em Amesterdão. Empenhou-se  no combate às doenças sexualmente transmissíveis, após o vírus da imunodeficiência humana (VIH) e a síndrome da imunodeficiência (SIDA) adquirida terem sido  

Em 1984, Coutinho doutorou-se pela Universidade de Amsterdão com uma tese de dissertação sobre doenças sexualmente transmissíveis entre homens homossexuais: estudos sobre epidemiologia e prevenção,  com o professor Jan van der Noordaa (1934-2015)
 
Em 1989 tornou-se professor de epidemiologia e provenção de doenças infeciosas do Centro Médico Académico da Universidade de Amsterdão. Em 2000 foi nomeado diretor geral do GGD em Amesterdão. A 1 de fevereiro de 2005 juntou-se ao Instituto Nacional da Saúde Pública e do Ambiente como diretor de sector do Centro de Controlo das Doenças Infeciosas.

Roel Coutinho também foi responsável pela Equipa de Gestão de Surtos Epidémicos, órgão consultivo das autoridades de saúde do seu país, orientada para a prevenção e o combate de epidemias. Ele aconselhou, entre outras coisas, sobre a pandemia de gripe A (H1N1) que eclodiu em março de 2009. Coutinho foi visto e ouvido nos órgãos de comunicação social várias vezes após o surto epidémico.

Em 15 de agosto de 2013, ele foi sucedido por Jaap van Dissel, chefe do Departamento de Doenças Infecciosas do Centro Médico da Universidade de Leiden.

Entre 2011 a 2018, Roel Coutinho foi professor de Ciências da Vida na Universidade de Utrecht. Em 2018 aposentou-se. Mas continuiy a trabalha para a Fundação PharmAccess para melhorar a saúde na África. 

Nos anos 1997-2015, enquanto professor da Universidade de Amesterdão, Coutinho orientou cerca de 49 alunos de doutoramento no Academic Medical Center Amsterdam.  As teses investigaram várias doenças infecciosas, incluindo doença do legionário, hepatite A e hepatite C, e doenças venéreas, como gonorréia, mas especialmente HIV. 

Na Universidade de Utrecht, mais quatro invstigadores de Coutinho obtiveram o grau de doutoramento em infecção por transfusão de sangue, febre Q, doença de Lyme e gastroenterite,  em 2016-2019. 

Durante a crise pandémica  nos Países Baixos,  Cuntinho apareceu regularmente como especialista em programas televisivos, como o "talk show" OP1 da NPO1.  

Fonte: adapt. de  Wikipedia > Roel Coutinho (em neerlandês)
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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23949: "Una rivoluzione...fotogenica" (2): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte I: aspetos da vida quotidiana

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E bom que se perceba que o dr. Roel Coutinho, jivem médico (então com 26/27 anos) não é um "tipo qualquer" que foi para as "zonas libertadas" (sic) do PAIGC para fazer descarada propaganda contra o colonialismo português. Ainda não sei quanto tempo andou por lá, mas há fotos de março de 1973 e fotos de março/abril de 1974... E o enfoque do "fotógrafo" (que era amador) é mais sobre o quotidiano nas tabancas e "bases" por onde passou (no Norte, junto à fronteira com o Senegal)... Não há muitas fotos da guerrilha e do seu armamenento, há alguns fotos (notáveis) sobre cirurgia ambulante, no mato, efectuada por pessoal cubano (médicos e enfermeiros)... Mas ele também só pode fotografar o que lhe mostraram... Não creio que não esteve no sul (Boé, Cantanhez...).

O Dr. Roel Coutinho, hoje reformado, é uma figura muitio respeitada da medicina e da saúde pública dos Países Baixos, e é bem conhecido do público da sua terra pelas suas intervenções na televisão...

Valdemar Silva disse...

Fotografia "Mulher fumando cachimbo".
Tenho um cachimbo daqueles, que por azar partiu-se o fornilho que teve de ser colado.
Aquele cachimbo deve ser o mais barato do mundo. Comprei em Nova Lamego o fornilho feito de barro e o Demba Jau, soldado da bazuka do meu pelotão, arranjou no mato uma raiz de (?) que depois de seca é perfurado/empurrado o miolo ficando um tubo que se adapta ao fornilho para aspirar o fumo do tabaco em combustão no fornilho.
O tabaco chegou à Europa no séc. XVI e o uso do cachimbo para ser fumado também.
O nome cachimbo, de origem obscura, assim chamado em português julga-se derivar do quimbundo kixima talvez por via de escravos africanos, já que em tupi tabaco é petyma e em crioulo brasileiro* fumar é pitar e daí cachimbo se chamar pito no Brasil

Maldito
tabaco (nicotiana tabacum), planta herbácea sul-americana, aromática, da família das Solanáceas, tem raiz larga e fibrosa, caule ereto que pode atingir mais de um metro de altura, folhas alternas, grandes e viscosas, de formato ovado a lanceolado e flores de cálice tubular com coloração rósea ou amarelada, sendo cultivada pelas suas propriedades estimulantes e, sobretudo, para a produção de cigarros, charutos, etc. e até lhe chamam erva-santa,
que me deu cabo da saúde.
(utilizado consulta a Wikipedia)

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

*O crioulo brasileiro é muito diferente do crioulo da Guiné que foi colonizada por portugueses com pouca instrução.
A transferência da Corte de Portugal para o Brasil em 1808, devido às invasões francesas,
levou gente culta que durante vinte anos foi ensinando/habituando a falar português, que acabou por se sobrepor ao português dos colonos já misturado com o tupi dos índios e os idiomas dos escravos africanos.
Julga-se que a sintaxe do português do Brasil é devido ao antigo ensino ser mais compreensível ou ser assim usado na época, e assim ficou.
'Você me diga' é mais compreensível que 'diga-me você'.

Nota: este ponto de vista é de minha autoria, incluindo o termo 'crioulo brasileiro', que vendo bem as coisas e fora as ênclises.... vai lá vai. Repare-se no sotaque quase incompreensível de S. Paulo, que parecem sopinhas de massa a falar.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, tu que tens um filho a viver nos Países Baixos, casado coma uma neerlandesa, e tens netos luso-neerlandeses, vê se consegues saber algo mais sobre o "nosso" Roel Coutinho, com ascendente de "tugas", como muitos outros "neerlandeses"...

Vês se consegues saber algo mais sobre a estadia dele na Guiné-Bissau e no Senegal em 1973/74... Só entendo o neerlandês a partir de traduções do Google para o inglês e o português... Tenho uma entrevista dele, de que vou reproduzir alguns excertos (são 3 páginas, a 2 colunas), dada à revista "Benjamin", ligada à comunidade judaica, de que te posso mandar cópia em pdf, com traduções feitas pelo Google Tradutor em inglês e português (Uma trabalheira, o tradutoror automático só aceita menos de 4 mil palavras, e é preciso cotejar as versões em inglês e português...).

Quando foi à Guiné, com 26/27 anos, ele já sabia há muito que era de origem judaica, e do lado do pai, sefardita, português... Não sei se a mãe, alemã, era também de origem jaudaica. Escaparam por pouco de ir parar a um campo de deportação na Polónia. Tiveram que se esconder (o pai, a mãe e a irmã) em casas de amigos e conhecidos, na província da Holanda do Norte. Na infância e adolescência, o Coutinho conheceu o antissemitismo, o racismo, de famílias de colegas e amigos....Estamos a falar do pós-guerra...

Um bom, um melhor, Novo Ano de 2023 para ti e os teus. Luís

Valdemar Silva disse...

Luís, antes de mais as tuas melhoras e Bom Ano 2023 para a família.
Os judeus neerlandeses esconderam-se quando os nazis ocuparam os Países Baixos ao tempo da 2ª. guerra mundial.
A grande maioria utilizou esconderijos feitos no interior dos prédios dos seus andares, com outras divisões acrescentadas e isoladas das restantes com umas portas secretas. Assim aconteceu com a família da Anne Frank, que tinha fugido da Alemanha e feito um esconderijo no seu prédio.
Mas, os nazis não conseguindo que as autoridades lhes entregassem judeus e sabendo haver por parte dos neerlandeses, incluindo judeus, um certo jeito de negociantes, resolveram pagar uma certa quantia por cada judeu denunciado. Assim aconteceu com a família Frank que se diz ter sido o pai da Anne o delator, por ele ter regressado do campo de concentração.
Quanto a Roel Coutinho vou comunicar com o meu filho para ele dizer o que souber sobre ele.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Valdemar...É uma história fascinante, de determinação e de coragem, a destes portugueses, "emigrantes de luxo" (em bioa verdade, refugiados...) que, no século de ouro da Holanda, faziam parte da elite daquele país... Vou publicar um texto sobre a sinagoga portuguesa de Amsterdão, a "esnoga", que eu já tive o privilégio de visitar no início dos anos 90 do século passado... Trouxe uma brochura, que deve estar por aí na minha biblioteca... Tenho que a encontrar...

Fernando Ribeiro disse...

Caro Valdemar,

É preciso ser muito mauzinho para chamar "crioulo" ao idioma de Machado de Assis, Jorge Amado, Vinicius de Moraes, Chico Buarque e muitos outros. :-)

Se quiseres encontrar um crioulo de verdade no outro lado do Atlântico, podes ir às ilhas holandesas de Curaçao, Aruba e Bonaire, nas Antilhas, além de mais uns calhaus espalhados por aqueles mares. Este crioulo chama-se "papiamento".

https://pt.wikipedia.org/wiki/Papiamento

Há pelo menos mais um crioulo no lado de lá do Atlântico onde se nota uma forte influência portuguesa. Chama-se "saramacano" e é falado na Guiana e no Suriname.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Saramacano

Um abraço e desejos de um ano novo cheio de bons ares

Fernando de Sousa Ribeiro

Valdemar Silva disse...

Meu caro Fernando Ribeiro.
Não fui verdadeiramente mauzinho, antes faltou explicar para perceberem.
No Brasil, julgo até cerca de 1750, falava-se uma língua entre os colonos, outra entre os escravos e os índios e outra uma mistura do português dos colonos com africano dos escravos e do tupi dos índios. O que seria absolutamente normal, assim como o nascimento de novas palavras devido a essa mistura. A partir de cerca de 1760 foi proibido falar em público sem ser em português e ficaram algumas palavras aportuguesadas tanto do tupi como de dialetos africanos.
Ao que eu chamo crioulo brasileiro é o português que começou a ser falado a partir da chegada da Corte de D. João VI, com muitas palavras crioulas mas sem serem com base lexical do português como em Cabo Verde ou na Guiné. Assim como, também, chamo crioulo brasileiro ao português do Brasil devido ao AO90.

Quanto ao crioulo de origem portuguesa, que se espalhou pela América do Sul e Central deveu-se ao facto da expulsão dos colonos judeus de origem portugueses do norte do Brasil, e que foram para as Antilhas. As Antilhas para onde se refugiaram tiveram vários "donos" desde espanhóis, franceses, ingleses e neerlandeses.
Nessas comunidades apareceram grandes misturas de línguas e de crioulos dos escravos que passaram a fazer parte do respectivo dialecto de cada ilha.
Em Curaçau há um crioulo/papiamento que é escrito com base na fonética de palavras com léxico do espanhol, mas mistura de palavras de origem portuguesa, indígena e diversas línguas africanas.
p.ex.: um cartaz aviso de embarque escrito em três línguas: papiamento, inglês e neerlandês
PORFABOR TENE BO RESIBU NA MAN - PLEASE KEEP YOUR RECEIPT AT HAND - HOUD UW KASSABON BIJ DE HAND
Repare-se que em papiamento não é nem em português nem em espanhol, ou melhor dizendo é em português dito em espanhol: o verdadeiro portunhol.
E o mesmo acontece com muitas palavras, como p.ex.: galiña, que não é galinha, gallina ou pollo.

Bom Ano 2023 e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Caro Valdemar,

Para os brasileiros, a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal teve o próprio Brasil como motivo. Os jesuítas estariam a preparar metodicamente, passo a passo, uma independência do Brasil no sentido de o tornar uma república de base índia, à semelhança do que terão feito no Paraguai, tirando partido do povoamento relativamente fraco (naquela época) pelos colonos.

Ora os índios brasileiros falavam e falam muitas línguas, pertencentes a várias famílias linguísticas sem qualquer relação entre si. Os jesuítas, então, decidiram criar, de raíz, uma língua única, que fosse falada em todo o Brasil. Como a maior parte das línguas indígenas brasileiras pertence ao ramo tupi da grande família linguística tupi-guarani, os jesuítas criaram uma língua baseada nos idiomas tupis, ainda que também incluísse palavras e expressões de outras línguas índias.

Assim, os jesuítas criaram uma gramática (baseada nas dos idiomas tupis), desenvolveram um vocabulário (maioritariamente tupi) e chamaram "língua geral" a essa nova língua. Quando o Marquês de Pombal subiu ao poder, o uso da "língua geral" estava já de tal maneira disseminado pelo território brasileiro, que ultrapassava em muito o da língua portuguesa. Foi então que o Marquês interveio, expulsando os jesuítas e impondo o uso do português no Brasil.

A "língua geral" dos jesuítas não desapareceu por completo e recentemente, inclusive, tem tido um aumento do seu uso. Já não é chamada "língua geral", mas sim "novo tupi", "tupi moderno", simplesmente "tupi" ou um nome índio de sonoridade estranha. Até um município do estado do Amazonas, chamado S. Gabriel da Cachoeira, cuja população é maioritariamente índia, declarou-a língua oficial do município, a par do português.

Um forte abraço

Fernando de Sousa Ribeiro

Valdemar Silva disse...

Fernando Ribeiro, então foi da "guerra" Marquês/jesuítas a questão da obrigatoriedade de falar português, a partir do último quartel do séc. XVIII, no Brasil.
Aprender, aprender sempre.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz