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segunda-feira, 16 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26926: (De) Caras (234): o nosso Raul Solnado da Guiné... o Abílio, Valente e Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/7)



1. Comentário do nosso editor LG, ao poste P26923 (*)


Abílio: já em tempos aqui escrevemos que os "tugas" podem ter muitos defeitos, como todos gajos, "cagões", que habitam o planeta... Mas têm uma virtude: sabem rir-se de si próprios.. Talvez os italianos não saibam, nem os alemães, ou os "amaricanos"...Muito menos os russos, os chineses, e outros povos "imperiais",,, Mas os "tugas", desde o berço da nacionalidade até, pelo menos, às "campanhas de pacificação" nos Algarves d'aquém e d'além-mar em África, depressa aprenderam que:

(i) chorar no molhado não adiantava nada;

(ii) dar de beber à dor podia ajudar;

(iii) cantar o fado fazia bem à alma;

(iv) pedir aos santos dava jeito mas nem sempre resultava ("quando Deus não quer, os santos não ajudam");

(v) mas nada melhor, afinal,  do que uma boa anedota "para desenrascar a coisa", "desopilar"...


Uma anedota, uma "estória", não sobre o vizinho espanhol mas sobre si próprio (o alentejano, o alfacinha, o tripeiro, o marafado, o bimbo, o ilhéu...). Nada como uma boa história, de preferência, pirosa, galhofeira, brejeira, pícara... Às vezes misturada com uma lágrima quente...

Abílio, sei que não estás nos melhores dias...("A doença vem a cavalo, e vai a pé".) Mas és um rapaz do Norte, e já aqui escreveste, no blogue, algumas peças de antologia do nosso bom humor de caserna, na tua série "Um amanuense em terras de Kako Baldé"... Bom humor, já que o mau humor, de gente ressabiada, não nos interessa, dispensamo-lo, não ajuda o moral da tropa quando está enrascada, atolada na bolanha ou no tarrafe....

Tu, "mano" Abílio Magro, já não precisa de apresentações: fostes fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74), foste um dos últimos soldados do império... Entraste para a Tabanca Grande em 2013 e tem seis dezenas e meia de referências no blogue... 

Ganda pintarola!

Seguramente és um caso único na história das nossas "guerras da descolonização" (como dizem agora os senhores historiadores...), és proveniente de uma grande família de combatentes, pois, de 8 irmãos (6 rapazes e 2 raparigas) todos os machos foram dar com os costados nos vários TO (Angola, Moçambique e Guiné), chegando a estar 5 irmãos (todos milicianos) ao mesmo tempo, a cumprir serviço militar, dos quais 4 no Ultramar... 

Ainda não explicaste por que é que as manas não foram para enfermeiras paraquedistas. (A tua mãe teve juízo em travar o ímpeto guerreiro da família... Afinal, alguém tinha que ficar em casa para receber e ler o correio!).

Dos 8 irmãos tu eras (e és, felizmente estás vivo) "o mais novo", o caçula, e regressaste da Guiné em setembro de 1974, com a Guiné já independente e com os "turras" do PAIGC (perdoados e reabilitados, promovidos à categoria de "combatentes da liberdade da pátria") a fazerem patrulhas em Bissau, em conjunto com a nossa PM (sic)... (Fizemos a gurra e a paz, mas ainda não o luto, um pequeno pormenor importante para a história, e sobretudo para a nossa saúde mental.)

Não tens nenhuma cruz de guerra (foram todas vendidas em saldo, antes de chegar a tua vez), mas podes gabar-te de ter honrado a tua família, e os seus pergaminhos, como Valente e Magro que é...

As tuas histórias da guerra (antes da água do Geba, já tinhas provado a água do Cacine!) merecem figurar ao lado das histórias que o Raul Solnado que, se fosse vivo e tivesse tido o privilégio de te ter conhecido, a ti e à nossa Guinézinha, adoraria por certo (re)contá-las...

Abílio, aceita um chicoração fraterno deste teu "mano mouro"... Põe-te fino! Luís Graça (e Carlos Vinhal, teu "mano visigodo" de Leça da Palmeira).(**)

________________

Notas do editor:


´(*) Vd. poste de 16 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26923: Humor de caserna (200): "Bomba" no Clube de Oficiais, em Santa Luzia, Bissau, em plena sessão de cinema ao ar livre (Abílio Magro, ex-fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74) 

2 comentários:

Anónimo disse...


Aníbal Silva (by email)
segunda, 16/06/2025, 21:56

Caro Luís Graça (c/c Abílio Magro)

Ao tomar conhecimento do curriculum do camarada Abílio, que será Valente e Magro, pergunto a este se é irmão do Rogério Valente Magro e do Dálio Valente Magro. Sei que o Rogério esteve em Angola e creio que o Dálio esteve em Moçambique. Estou em crer que fazem parte da família, que, generosamente, contribuiu com seis mancebos para a Guerra Colonial.

Sendo assim, tenho a dizer ao Abílio que conheço muito bem o Rogério e o Dálio, este, infelizmente falecido há poucos anos, talvez quatro, das lides mesotenistas dos campeonatos do Inatel. Durante vários anos, os manos foram meus adversários, jogando eles na atarracada sala do CPT de Lordelo do Ouro, no Porto e eu na equipa do Sindicato de Seguros. Eram dois excelentes praticantes da modalidade, cada um com caracteristícas diferentes e nos confrontos com eles, normalmente eu saía como digno vencido, embora dando boas réplicas. Só por duas vezes consegui ganhar ao Dálio, numa altura em que ele, tal como eu, sendo Profissional de Seguros, durante duas épocas jogou na minha equipa (Sindicato de Seguros) e eu era o Uber que o ia buscar e levar ao Candal.

Vou contar uma história curiosa em que os manos estiveram presentes e o Rogério foi preponderante. O Sindicato de Seguros tinha um minibus para transporte das crianças para o Infantário de Seguros e quando íamos jogar, por exemplo a Seia, Guarda e Covilhã, davamos boleia a outras equipas do Porto, nomeadamente o Lordelo do Ouro e Telefones. Numa viagem de regresso ao Porto, parámos em Viseu e fomos todos almoçar ao restaurante Cortiço do Dom Zeferino. Depois de bem comidos e bem bebidos, com sobremesas, digestivos e tudo, alguém que estava a fazer a cobrança da despesa efetuada, lançou para o ar a seguinte pergunta: e agora, não se come mais nada?.

Suavemente o Rogério disse, só se for umas tripinhas. E não é que veio mesmo para a mesa uma dose de tripas e uns pratinhos para o pessoal pesticar ?!...

Se bem me lembro, o resto da viagem para o Porto foi feita a dormir profundamente.

Um forte abraço ao Luís e ao Abílio

Aníbal Silva

Abílio Magro disse...

Boa tarde camarada Aníbal Silva!
Espero que aí pelo meio não exista nenhum "Cavaco"!
Sim, eu sou o irmão mais novo (caçula) dos manos tenistas de mesa (com tripas) Rogério e Dálio e adorei esse episódio das tripinhas, cujo 'incitador' compreendo bem e já encaminhei o assunto para este que é bem capaz de responder: "se parassem alguns km mais à frente, apostava num bom cozidinho à portuguesa!".
Forte abraço.