Guiné > Ingoré > 1968 > O 1º cabo aux enf José Teixeira, da CCAÇ 2831 (1968/70), posando em cima de uma autrometralhadora Daimler, no início da sua comissão que o levaria do Cacheu (Ingoré) até ao Sul, às regiões de Quínara (Buba, Empada) e Tombali (Quebo, Mampatá, Chamarra). A Daimler tinha nome de guerra: Massiel... a fogosa cantora espanhola que vencera, em 1968, o Festival Eurovisão da Canção, interpretando a canção "La, la, la". (Lembram-se ? "Todo en la vida es como una canción / Te cantan cuando naces / Y también en el adiós"... La, la, la".)
Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados. Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
1. Já sabíamos que o nosso veteraníssimo Zé Teixeira (um histórico da Tabanca Grande, régulo da Tabanca de Matosinhos) era um excelente contador de histórias, incluindo histórias pícaras...
Ele tem uma ligação umbilical à Guiné e à sua gente. Por favor, vejam este delicioso microconto como um ato de ternura... em tempo de guerra.
Também sabemos que o exército, no nosso tempo, era púdico e forreta, nem camisinhas de Vénus distribuía ao pessoal... E muito menos Vénus em carne e osso... (Mas a verdade é que a Vénus acompanha todos os exércitos do mundo desde que a Eva e o Adão foram expulsos do paraíso e depois que o Caim matou Abel.)
Em contrapartida, sempre nos ensinaram, desde a recruta, que a tropa manda...desenrascar! Em Ingoré, em Aldeia Formosa, em Mampatá, em Empada, etc., era isso o que acontecia...
Se a Massiel não vinha à Guiné, a malta tinha uma varinha de condão e transformava um bocado de lata (uma Daimler da II Guerra Mundial) num fetiche: "erotizava-se" a viatura... A "Massiel" ajudava a "climatizar os pesadelos" da rapaziada... Aliás, a G3 era a nossa "namorada"...
Já as Marias de Empada (e havia-las um pouco por todo o lado), que nunca poderiam vencer nenhum festival da Eurovisão, essas, souberam tirar partido da situação de guerra e da economia de guerra. Puseram um anúncio na morança: "Maria tira cabaço di tuga"... E, ao que parece, não faltava procura!
Um comércio pouco honesto, perguntarão alguns ? Tão ou mais do que a guerra!, responderão outros... Claro que era ilegal... Mas a polícia de costumes assobiava para o lado. E a cama das Marias de Empada estava sempre quente!
Não sabemos o que lhes aconteceu, às Marias de Empada, a seguir à independência, mas é muito provável que tenham sido acusadas de "colaboracionismo" pelos novos senhores da guerra... "Partir catota com os tugas" era um ato contrarrevolucionário aos olhos dos "libertadores" como o 'Nino' Vieira...
Enfim, a cada um a sua moral... e a sua polícia de costumes!
Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados. Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Zé Teixeira, régulo da Tabanca de Matosinhos; foi noutra incarnação
1º cabo aux enf, CCAÇ CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)
1. Já sabíamos que o nosso veteraníssimo Zé Teixeira (um histórico da Tabanca Grande, régulo da Tabanca de Matosinhos) era um excelente contador de histórias, incluindo histórias pícaras...
Ele tem uma ligação umbilical à Guiné e à sua gente. Por favor, vejam este delicioso microconto como um ato de ternura... em tempo de guerra.
Também sabemos que o exército, no nosso tempo, era púdico e forreta, nem camisinhas de Vénus distribuía ao pessoal... E muito menos Vénus em carne e osso... (Mas a verdade é que a Vénus acompanha todos os exércitos do mundo desde que a Eva e o Adão foram expulsos do paraíso e depois que o Caim matou Abel.)
Em contrapartida, sempre nos ensinaram, desde a recruta, que a tropa manda...desenrascar! Em Ingoré, em Aldeia Formosa, em Mampatá, em Empada, etc., era isso o que acontecia...
Se a Massiel não vinha à Guiné, a malta tinha uma varinha de condão e transformava um bocado de lata (uma Daimler da II Guerra Mundial) num fetiche: "erotizava-se" a viatura... A "Massiel" ajudava a "climatizar os pesadelos" da rapaziada... Aliás, a G3 era a nossa "namorada"...
Já as Marias de Empada (e havia-las um pouco por todo o lado), que nunca poderiam vencer nenhum festival da Eurovisão, essas, souberam tirar partido da situação de guerra e da economia de guerra. Puseram um anúncio na morança: "Maria tira cabaço di tuga"... E, ao que parece, não faltava procura!
Um comércio pouco honesto, perguntarão alguns ? Tão ou mais do que a guerra!, responderão outros... Claro que era ilegal... Mas a polícia de costumes assobiava para o lado. E a cama das Marias de Empada estava sempre quente!
Não sabemos o que lhes aconteceu, às Marias de Empada, a seguir à independência, mas é muito provável que tenham sido acusadas de "colaboracionismo" pelos novos senhores da guerra... "Partir catota com os tugas" era um ato contrarrevolucionário aos olhos dos "libertadores" como o 'Nino' Vieira...
Enfim, a cada um a sua moral... e a sua polícia de costumes!
Humor de caserna > A Maria tira cabaço di brancu por Zé Teixeira |
Quando chegamos a Empada, lá aparece a Maria, mais a irmã, a dar-nos as boas vindas. Rapidamente se soube da sua arte e mestria em tirar cabaço a branco e satisfazer as necessidades a quem já sabia da poda, para desgraça da nossa jorna, já de si tão pequena e que se esvaía na cerveja e agora tínhamos a Maria.
Um alferes, a quem não foi contada a história da pequena, tenta o engate e, zás!, arranjou namorada que até ia ao quartel, durante o dia, prestando-se para todo o serviço.
Um alferes, a quem não foi contada a história da pequena, tenta o engate e, zás!, arranjou namorada que até ia ao quartel, durante o dia, prestando-se para todo o serviço.
Ninguém lhe podia tocar, era a namorada do alferes, durante o dia, mas, à noite, zumba que zumba com toda a gente que tivesse uns patacõezitos para gastar. Até faziam fila e a irmã dava uma ajuda.
Houve cenas engraçadas com a Maria-tira-cabaço. Um camarada e amigo, encabaçado, tinha vontade e.… inexperiência, vergonha, medo, falta de jeito, etc. Então foi meter uma cunha a outro companheiro para pedir à Maria para o atender bem. Este foi, meteu a cunha e gozou... de borla. O outro pagou a dobrar, isso de tirar cabaço a branco tinha de ser bem pago!
Tanto quanto pude apreciar até o 'Nino' sabia da sua vida, pois num célebre ataque ao cair da noite, as primeiras canhoadas foram para a casa da Maria, só que os brancos que lá estavam eram velhinhos e voaram ao sentirem o som das saídas do canhão.
O pobre do alferes é que, quando soube, rebentou de raiva. E foi uns dias depois, quando foi à sua procura na morança, um dia ao fim da tarde (talvez a fosse convidar para jantar): encontrou o lugar ocupado e gente à espera...
Houve cenas engraçadas com a Maria-tira-cabaço. Um camarada e amigo, encabaçado, tinha vontade e.… inexperiência, vergonha, medo, falta de jeito, etc. Então foi meter uma cunha a outro companheiro para pedir à Maria para o atender bem. Este foi, meteu a cunha e gozou... de borla. O outro pagou a dobrar, isso de tirar cabaço a branco tinha de ser bem pago!
Tanto quanto pude apreciar até o 'Nino' sabia da sua vida, pois num célebre ataque ao cair da noite, as primeiras canhoadas foram para a casa da Maria, só que os brancos que lá estavam eram velhinhos e voaram ao sentirem o som das saídas do canhão.
O pobre do alferes é que, quando soube, rebentou de raiva. E foi uns dias depois, quando foi à sua procura na morança, um dia ao fim da tarde (talvez a fosse convidar para jantar): encontrou o lugar ocupado e gente à espera...
(Revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do editor LG:
Último poste da série > 20 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27135: Humor de caserna (210): Fugir com o cu (ou melhor, com o pé) à seringa (José Teixeira, "fermero", que "firma"na Tabanca de Matosinhos)
5 comentários:
Zé: a tua história pícara da Maria-Tira-Cabaço é de antologia...Olha, ri tanto, com meia-cara, que até me esqueci das dores da anca (continuo na lista da espera para ser operado...).
Por outro lado, acho que é um microconto ternurento. Como só sabes ser ternurento com a "nossa gente"... Enfim, é para ler (e comentar) em fim de verão (amanhã vou para as vindimas...)... Gostava que a malta, generosamente, pudesse pôr uns "likes" na caixa de comentários...
Eu sei que a "reentrée", como dizem os franceses, é depressiva: o verão, as férias, as festas... nunca deviam acabar... Mas é preciso levar as criancinhas à escola (confesso, que já nem sei para quê, com a IA a substituir-nos a todos, pais, alunos, professores, médicos, combatentes, novos e velhos...).
Bom regresso a casa (e ao trabalho...). Um chicoração. Lui
João Crisóstomo, Nova Iorque
O Luis Graca sugere uns "likes" a este comentário. Por muitos que sejam serão sempre poucos... merece-os bem e apenas as "circunstancias" que todos temos de aguentar, explicam que este e muitos outros posts não recebam os comentários de que são credores. O facto de não receberem esses "likes" não quer dizer que não recebam atenção. Eu que raramente passo um dia sem visitar o nosso blogue e nunca perco os comentários sou o primeiro a "bater no peito". Permito-me secundar o apelo do Luís Graca . No meu caso, ao contrário dele, tenho de juntar: "Façam o que eu digo mas não ƒaçam o que eu faço". Os comentários são as melhores vitaminas que alimentam e provam o interesse e a vitalidade do nosso blogue.
João Crisóstomo, Nova Iorque
Jose Teixeira (by email)
28 ago 2025 16:51
Olá, Luis e Alice.
Estou feliz por saber que vindes por aí acima. Sei quanto gosto tendes em vir às vindimas. É um tempo de trabalho, e de carregar baterias.
Gostava de estar por perto para vos dar um abraço.
Nunca mais chega a hora de fazeres o raio da operação que te liberte das dores, e te dê pernas para andar. Espero que esteja para breve. Entretanto, tem cuidado.
Sobre a historieta que escrevi. Ela é 100% verdadeira. O felizardo que foi fazer o teste da virgindade, além de pagar a dobrar, deve ter andado uns meses a fazer penitência, para se safar do inferno e não deve ter voltado àquela missa.
Ainda está entre nós e todos os anos encontramo-nos no convívio da Cª. Um casal muito giro e amigo, mas este assunto é tabu. A história foi-me contada pelo camarada que o levou à Maria, que apesar de ser casado e com um filho tinha ali o seu escape.
O alferes, creio que meteu o xico e foi para a GNR. Nunca mais deu sinal de vida.
Sobre a IA e os seus efeitos, até me apetece deixar de escrever poesia. O computador já escreve melhor que eu, basta dar-lhe o tema. Quem gostar de poesia nota logo que não tem estilo que o identifique, mas cai bem no ouvido. Enfim! Fosse o seu pior mal, mas infelizmente, o que nos traz de bom é abafado pelo que pode fazer de mal.
Boas vindimas, mano.
Um chicoração do Zé Teixeira
Ora bem, após vários tempos de ausência, aqui estou também, desta vez, a fazer um pequeno comentário.
Não posso deixar de secundar o que o João Crisóstomo refere, quanto à ausência ou diminuição de comentários, pelo que subscrevo as suas observações.
Quanto ao nosso Zé Teixeira pouco se pode acrescentar ao que de bom, de positivo, já se tem escrito, ressaltando o seu humanismo e a capacidade de criar empatias.
A propósito disso, de ter capacidade para influenciar a tomada de decisões por parte de outros e lembrando-me que ele desenvolveu atividade nos Escoteiros onde, creio, terá sido alcunhado de "esquilo sorridente", tomei conhecimento, por acaso, de um episódio que se passou com ele.
Em determinado momento em que "tomava conta" de alguns jovens, durante um acampamento foi conversando com eles e houve um, que procurava um sentido mais profundo para a sua (dele) vida, sendo que até já tinha participado em atividades das "jotas do bloco central" que foi "tocado" pelas suas palavras e tomou ali uma decisão que modificou a sua vida. Hoje é Cardeal.
E em conversa comigo, quando lhe falei do "nosso Zé Teixeira", sempre me disse:
- Conheço sim, é por causa desse "malandro" que estou aqui!
Quem diria, hein!
Hélder Sousa
Fabulosa e bem contada.Parabéns. Fez-me lembrar os tempos em Gampará e o negócio do régulo de então!
Grande aabraço para todos.
Virgílio Valente
Tabanca em Macau
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