1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 26 de Novembro de 2010:
Caros camarigos
Aqui vão “achas para a fogueira”!
Leio repetidamente a exaltação dos Movimentos Independentistas em armas da Guiné, Angola e Moçambique, como os grandes precursores do 25 de Abril, que levou Portugal à democracia e ao desenvolvimento.
Mais uma vez e sempre nos colocamos de cócoras e deixamos aos outros a razão da nossa História, amesquinhando-nos e fazendo dos Portugueses o povo que mais mal diz de si próprio na Europa e muito provavelmente no mundo.
Tudo nos serve para tal desígnio, até as doutas opiniões de estrangeiros, que pouco ou mal nos conhecem, ou relatórios internacionais, sempre de duvidosa imparcialidade e normalmente controlados pelas forças dominantes.
Mas o que sobre gostaria de realmente reflectir é o seguinte:
Então e se esses Movimentos não tivessem pegado em armas, obrigando o país a consumir a maior parte dos seus recursos no esforço de guerra, o que seria Portugal hoje?
Com isto não estou a colocar em causa o direito desses povos encontrarem a sua independência, o seu destino, ou pelo menos não o pretendo fazer, porque concordo que esse objectivo era e é perfeitamente legítimo e deve ser alcançado.
Sabemos que por aqueles tempos a economia portuguesa crescia sem problemas e que foi o esforço de guerra a par com alguma conjuntura internacional, (esta ultrapassável), que veio condicionar fortemente esse crescimento e desenvolvimento.
Então, se esse monumental esforço financeiro e não só, que Portugal despendeu na guerra, fosse utilizado não só no continente, mas também no, então todo Português, que país teríamos, o que seriamos hoje?
É que, acredito que com o desenvolvimento então possível, com o acesso cada vez maior à educação, proporcionado por esse desenvolvimento e pela pressão da sociedade, o regime de então iria ser substituído, mais tarde ou mais cedo, (tal como foi em Espanha), sem as consequentes convulsões, gerando uma estabilidade que hoje se reflectiria seguramente nas nossas vidas.
Pois, logicamente podemos invocar que houve a necessidade imperiosa desses povos pegarem em armas, mas também podemos tentar perceber que, se tivessem trabalhado apenas no campo político, Portugal poderia ter dado outra resposta ao desenvolvimento desses territórios, e mais tarde, por força da mudança operada no próprio país como acima refiro, para além da pressão internacional, ter realizado uma descolonização em que as estruturas do poder desses novos países estivesse garantida, não pela força das armas, mas pela força das palavras.
Sim, já sei que virão dizer que o regime nunca cederia, mas a verdade é que nenhum regime como aquele cede quando é atacado, pelo contrário fortalece-se, mas o desenvolvimento que já se estava a notar, (a par com o “cansaço” que também já tão bem se notava e a longevidade do líder), poderia por dentro, levar à mudança estruturada, que iria dar origem a um novo país, a novos países, sem que tantos tivessem morrido para que tal acontecesse.
Enfim, um exercício impossível de concretizar hoje, mas já que falamos tanto do passado, não nos fará mal nenhum pensarmos nisso.
Realmente eu devo ser um pouco masoquista, porque já adivinho a quantidade de “porrada” que vou levar se os editores quiserem publicar este texto, o que deixo inteiramente nas suas mãos.
Um abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7344: Convívios (201): 7º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves/Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7319: (Ex)citações (112): O Simples e o Erudito (na Tabanca Grande) (José Brás)