Fui colega do David Costa na CART 1660, em Mansoa, e assisti ao vivo e a cores ao incidente que levou o rapaz a desertar do quartel e, bem assim, acompanhei o caso até ao meu embarque para a metrópole, tendo mesmo escoltado [ o David Costa] e assistido ao vivo ao seu julgamento no Tribunal Militar de Bissau.
Tudo começou na caserna. O cabo enfermeiro Chantre vinha-se queixando não ter recebido duas cartas de datas diferentes, ambas com foto da namorada.
Quem por norma trazia o correio era o David Costa, mas, naquele dia (trágico para o David), não tinha sido ele a ir a Bissau trazer o correio onde, mais uma vez, a namorada enviava ao Chantre uma 3ª foto sua dentro da carta.
Desta vez, então, o Chantre recebeu a carta e feliz com a foto, mostrava-a aos colegas de caserna.
Porém, uns dias antes, o David... tinha mostrado a um dos colegas uma foto igualzinha à que o Chantre acabava de receber e mostrava a esse mesmo colega que já tinha visto a outra foto nas mãos do David.
Daí até se descobrir que tinha sido o David quem violou as cartas com as fotos anteriores, foi um pequeno passo. Ao ver-se descoberto, o David desapareceu do quartel e, a partir daí, só ele mesmo sabe o que se passou.
Depois dele ter regressado, três meses depois do início da sua odisseia, contou-nos lá em Mansoa a versão da sua aventura de forma diferente, a uns e a outros dos colegas. (Isto já em prisão, claro).
Sinceramente, eu passei a desacreditá-lo e mais descrédito [me inspira] hoje em dia, depois de ler em diversos blogues da Internet versões diferentes, segundo parece deixadas por si ou com o seu conhecimento.
Há coisas que não coincidem. Nuns lados ele diz que passou por uns locais e noutros porém fala em outros bem diferentes... Num lado diz que dormitava quando foi capturado pelo IN, e noutras ele diz ter-se esbarrado de frente com os guerrilheiros do PAIGC.
Também me parece estranho como é que ele foi parar a Morés, quando ele tinha dito que, ao sair de Mansoa, tinha entrado na estrada de Bissorã a qual o levaria a um destino bem diferente de Morés.
Estas e outras contradições tornaram o seu livro pouco credível. [Vila Nova de Gaia, Editora Ausência, 2004].(*) (**)
2. Julgo que é o mesmo Jorge, Jorge Lobo, ex-1º Cabo da CART 1660, que tinha dirigido, um dia antes, a seguinte mensagem ao David Costa [, David Ferreira de Jesus Costa, natural de Fânzeres, Gondomar: incorporado em Julho de 1966, regressaria a casa só em finais de Agosto de 1971] (**):
Caro David Costa, sou o 1º Cabo Lobo, da Cart 1660, e presenciei toda a cena da carta com a fotografia da namorada do Chantre, isto na caserna da Cart 1660 em Mansoa. Sabia vagamente o que te aconteceu mas não com todos esses pormenores. Em Bissau quando de cabo de dia antes da partida para a Metropole, cheguei a levar-te as refeições ao presidio.
Desejo do coração que tenhas já esquecido a pior parte dessa tua odisseia e que sejas muito feliz na companhia dos teus. (***)
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3371: Bibliografia de uma guerra (35): Desertor ou Patriota, de David Costa: da brincadeira ao pesadelo... (V. Briote)
(**) Vd. poste de 23 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6776: Notas de leitura (133): Desertor ou Patriota, de David Costa (Mário Beja Santos)
1 comentário:
eu nao estive na guiné mas estive em angola mas aquilo que li acho que esse sr fugiu nao era um bom militar nao a época só sei que a partir de final de 1967 as tropas portuguesas ficaram muito sem animo será verdade mas acredito que sim foram afrouxendo o in deu conta ai nao perdoaram que o in sabia a onde nós estavamos e sabiam por onde a gente passava todo o santo dia nós sim nao sabiamos a onde eles estavam nem a onde ia acontecer a emboscada eles tinham tudo a favor mas eu acho que eles muito mal trinados porque nós prendemos muitos e nunca vimos nenhum fardado vi sim sem camisa com um chorte todo rasgado e descalço e de sao salvador do congo aos dembos era longe e muito longe eu acho que saiam 100 e só chegavam 10 o resto ficava pelo caminho minha openiao e saúde a todos
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