Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. Texto do nosso co-editor Virgínio Briote (*):
Meu Caro Furriel Mário Dias,
Não é o Luís, sou eu, o Briote, que assumo o encargo de publicar a tua (minha também) defesa da G3, essa namorada que, tanto quanto me lembre, me foi fiel durante a minha comissão na Guiné.
Não dei muitos tiros em combate. Ainda hoje me lembro que foram 22, em toda a comissão. Só que de uma vez, logo no início da comissão, quando me encontrava ainda em Cuntima, na CCAV 489, despejei o carregador até ao fim numa emboscada entre Faquina Fula e Faquina Mandinga.
Depois nos Comandos, a minha história com a G3 quase dava um romance. Na carreira de tiro que havia lá para os lados do aeroporto (lembras-te?), esvaziei um cunhete. Há quem diga que foram cinco, não acredito. Certo é que o cano, sem tapa-chamas, rachou. E o Saraiva obrigou-me a pagar a asneira.
Achei, na altura, que ela me tinha sido ingrata, pela vergonha que me fez passar. E que o Cap Saraiva era um exagerado. Troquei-a por uma FN, também sem tapa-chamas (ainda estou para saber porque é que eu as preferia assim).
Meses depois, reconciliámos-nos, fizemos as pazes e foi a minha namorada até ao fim. Custou-me tanto a liquidação da dívida que, a partir daí, passei a ser eu a tratar dela. Como tu dizes, com as mãos na massa.
Mário, foste um dos instrutores que me ensinaste a pegar nela. A pôr os meus olhos no cano, a usá-la o estritamente necessário, a trazê-la no colo, com meiguice.
Não vou aqui falar de outras coisas que me ensinaste, que a hora é de honrar a G3. Mas é sempre tempo para publicamente reconhecer que foste um instrutor que nos deixou marcas muito positivas, nomeadamente pelo teu saber e conhecimento daquela terra e daquelas gentes que, eu sei, tanto apreciavas.
vb
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Nota de L.G.:
(*) Vd. 17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)
1 comentário:
Olá Virgínio Briote
Que bom ver-te vb. "Sodade...sodade"
Também eu gostei da minha G3. Era quase uma peça de arte, coronha de madeira polida pelo uso, ronco com mesinho na parte mais estreita, meiga e sentia-se certamente estimada. Tanto assim que respondeu sempre ao que lhe pedi.
Só para nós vb, também passaste por aqueles momentos de solidão da emboscada montada ou a ansiedade do assalto e, nesse momento, eu e ela éramos um, falava com ela, um afago, uma palmada de carinho. Nada me dizia claro mas a resposta era dada no tiro,na rajada curta ou do empurrar do dilagrama-disso talvez gostasse menos era violento e os roletes tinham maior esforço. Há aí mais que uma foto com ela. Era a minha defesa, a minha defensora. Deixei-a em Bissau com ronco e tudo. Já aqui perguntei por ela. Certamente julgaram-me louco. Não. Há amores que se não esquecem.
Volta mais vezes. Agora um abraço do T
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