quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7329: Kalashnikovmania (3): A minha namorada, a G3, que me foi fiel durante toda a comissão (Virgínio Briote)





Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Fotos do álbum do Jacinto Cristina... Os nossos soldados tratavam a G3 como uma verdadeira "namorada"... Neste álbum fotográfico há meia dúzia de fotos destas... Não sei se as namoradas, de carne e osso, que ficaram para trás, não teriam ciúmes da G3... 


Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Texto do nosso co-editor Virgínio Briote (*):

Meu Caro Furriel Mário Dias,

Não é o Luís, sou eu, o Briote,  que assumo o encargo de publicar a tua (minha também) defesa da G3, essa namorada que, tanto quanto me lembre, me foi fiel durante a minha comissão na Guiné.


Não dei muitos tiros em combate. Ainda hoje me lembro que foram 22, em toda a comissão. Só que de uma vez, logo no início da comissão, quando me encontrava ainda em Cuntima, na CCAV 489, despejei o carregador até ao fim numa emboscada entre Faquina Fula e Faquina Mandinga.

Depois nos Comandos, a minha história com a G3 quase dava um romance. Na carreira de tiro que havia lá para os lados do aeroporto (lembras-te?), esvaziei um cunhete. Há quem diga que foram cinco, não acredito. Certo é que o cano, sem tapa-chamas, rachou. E o Saraiva obrigou-me a pagar a asneira.

Achei, na altura, que ela me tinha sido ingrata, pela vergonha que me fez passar. E que o Cap Saraiva era um exagerado. Troquei-a por uma FN, também sem tapa-chamas (ainda estou para saber porque é que eu as preferia assim).

Meses depois, reconciliámos-nos, fizemos as pazes e foi a minha namorada até ao fim. Custou-me tanto a liquidação da dívida que, a partir daí, passei a ser eu a tratar dela. Como tu dizes, com as mãos na massa.

Mário, foste um dos instrutores que me ensinaste a pegar nela. A pôr os meus olhos no cano, a usá-la o estritamente necessário, a trazê-la no colo, com meiguice.

Não vou aqui falar de outras coisas que me ensinaste, que a hora é de honrar a G3. Mas é sempre tempo para publicamente reconhecer que foste um instrutor que nos deixou marcas muito positivas, nomeadamente pelo teu saber e conhecimento daquela terra e daquelas gentes que, eu sei, tanto apreciavas.

vb

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Nota de L.G.:

(*) Vd. 17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

1 comentário:

Torcato Mendonca disse...

Olá Virgínio Briote

Que bom ver-te vb. "Sodade...sodade"

Também eu gostei da minha G3. Era quase uma peça de arte, coronha de madeira polida pelo uso, ronco com mesinho na parte mais estreita, meiga e sentia-se certamente estimada. Tanto assim que respondeu sempre ao que lhe pedi.
Só para nós vb, também passaste por aqueles momentos de solidão da emboscada montada ou a ansiedade do assalto e, nesse momento, eu e ela éramos um, falava com ela, um afago, uma palmada de carinho. Nada me dizia claro mas a resposta era dada no tiro,na rajada curta ou do empurrar do dilagrama-disso talvez gostasse menos era violento e os roletes tinham maior esforço. Há aí mais que uma foto com ela. Era a minha defesa, a minha defensora. Deixei-a em Bissau com ronco e tudo. Já aqui perguntei por ela. Certamente julgaram-me louco. Não. Há amores que se não esquecem.

Volta mais vezes. Agora um abraço do T