terça-feira, 23 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7324: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina (8): Dia de Aniversário

1. O nosso Camarada Manuel Traquina, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, enviou-nos, com data de 21 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,

Para que possa constar no blogue o meu dia de aniversário é o dia 5 de Junho. Aproveito para enviar este texto que consta no meu livro “Os Tempos de Guerra”que relata um “equívoco” passado na messe de Buba naquele dia 5 de Junho de 1969.
Dia de Aniversário
Naquele dia o jantar tinha terminado, a messe de sargentos de Buba estava em “festa”. Normalmente era assim, quando alguém fazia anos.
Era a minha vez, era o dia 5 de Junho de 1969, dia do meu aniversário. Completava 24 anos de idade, contava já cerca de dois anos e meio de serviço militar e, para regressar a Portugal calculava que me faltava à volta de um ano. Tinham-se bebido umas frescas cervejas e, animadamente cantava-se a canção, Senhor de Matosinhos/ Senhor da Boa hora/ Ensinai-nos o Caminho/ Para sairmos daqui para fora. Além de outras esta, pela sua letra, era a preferida.
A música vinha da viola do Cardoso da 15ª Companhia de Comandos, e do acordeon do Gonçalves da CCS do Batalhão 2834. O Furriel Henrique, (mais conhecido pelo Henrique da Burra) com a sua habitual actuação teatral, punha todos a rir. Aquela alcunha ao que parece tinha sido herdada do seu pai, que lá para os lados de Cascais, era bastante conhecido pelo “Chico da Burra”.
Naquele dia o Henrique da Burra, descalço, e com uma toalha atada á cintura, simulando uma mini-saia, tentava imitar a bonita e popular cantora inglesa Sandiechow, que tinha sido concorrente ao festival da Eurovisão.
Assistindo a esta festa estava o Dr. Franco, médico do aquartelamento de Buba, acabado de chegar de Bissau, estava visivelmente desambientado, apenas abanava a cabeça, enquanto dizia “ estão todos apanhados”, assim achou melhor retirar-se. Mas quando a “festa” atingia o seu auge, eis que se gera o pânico. Atropelando-se, todos largam a correr porta fora em busca de abrigo. Ouvira-se o que se julgou ser a “saída” de um morteiro iniciando mais um ataque. Afinal tudo não passara do bater da porta do frigorífico do bar que produzia o ruído semelhante à saída da granada do morteiro.
O Simplício, encarregado do bar, foi repreendido para não voltar a bater assim com a porta do frigorífico. É que, naquela situação de guerra em que se vivia, qualquer barulho do género era suspeito. Bem, depois de tudo acalmar beberam-se mais umas cervejas, e a festa continuou embora tivesse perdido um pouco o seu ritmo. Foi esta a festa do meu 24º aniversário que ficou para não mais ser esquecida.

Um abraço,
Manuel Traquina,
Fur Mil At Inf da CCAÇ 2382
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas

1 comentário:

Luís Graça disse...

Manel, que sejas bem aparecido... De facto, é caso para não mais esquecer essa festa dos teus 24 anos... Quanto ao "senhor de Matosinhos", era uma cantiga favorita da malta do norte... e brejeira. O refrão era muito cantado na Guiné... Pudera!

Aqui fica a letra:


Pom pom...

Da chidade da birgem, os dois,
Nós biemos há dias para cá,
A biagem foi bom mas depois
Ninguém biu o que a gente biu já.

Dizem que lá por Lisboa
A bida é boa, boa bai ela,
Mas só se beêm p'las ruas
Catraias nuas, ó lariló lé las.

Por isso como em Paranhos
Há paus tamanhos que é de 'spantar,
Na Baixa ou no Arrebalde
São de ramal os paus no ar.

Refrão

Oh! Shenhôr dos Matosinhos,
Oh! Shenhôra da Boa-Hora,
Enshinai-nos os caminhos
P'ra desandarmos daqui p'ra fora.

Pom pom . . .

Sant' Antoninho da Estrada,
Não digas nada, de tudo isto,
Quinté já sinto ingonias
Das porcarias que tenho bisto.

Ind' ontem ali na abenida,
Uma astrebida de perna à bela
Quis m' agarrar na mãozinha,
Mas, coitadinha, lebou com ela.

Refrão

Oh! Shenhôr dos Matosinhos
Oh! Shenhôra da Boa-Hora
Enshinai-nos os caminhos
P'ra desandarmos daqui p'ra fora.

Fonte:

http://www.arlivre.com/escotismo/cancioneiro/sr_dos_matosinhos.pdf