Queridos amigos,
Estou na 23.ª hora.
Depois ficam as saudades.
Prometo contar tudo o que vou ver e sentir.
Um abraço do
Mário
Tempo Africano: aquelas longas horas em 8 andamentos
Beja Santos
O lançamento da 4.ª edição de “Tempo Africano”, de Manuel Barão da Cunha realizou-se em 16 de Novembro, na Livraria Galeria Municipal Verney, em Oeiras.
Imagem alusiva à sessão de lançamento
Casa cheia, vários oradores intervieram para saudar o que há de novo nesta revisitação de Barão da Cunha às suas comissões em Angola e na Guiné, de 1960 a 1962 e de 1964 a 1966, respectivamente. A matriz é sempre a mesma: solidariedade com a gesta do soldado anónimo, o primeiro intento que o moveu é que esses soldados (que tanto pode ser o capelão, o enfermeiro, o ordenança ou o radiotelegrafista) saiam do anonimato neste seu registo de admiração e gratificação. Fala de guerras num tempo ainda que se combatia com catanas e espingarda Mauser. À semelhança da edição anterior, a obra aparece dividida em andamentos, momentos cronológicos estruturados em diálogos entre um veterano da guerra e um jovem ávido em perceber as experiências vividas pelo primeiro. A nova edição junta documentos e testemunhos e traz anexos sobre as diferentes operações em que Barão da Cunha participou. O autor recorre a um alter-ego, Pedro Cid, um quase mancebo que vai comandar dragões em Angola. Descrevem-se os acontecimentos de Fevereiro de 1961, depois Nambuangongo. Pedro Cid não se cansa de elogiar esses seus soldados que participam no contra-ataque na região dos Dembos. Vem depois para Portugal, tira em Lamego a Especialidade em Operações Especiais e parte para a Guiné na CCav 704. Vai ao Morés e combate na região Sul. Na documentação que anexa referente à Guiné fala de duas operações: a operação “Tornado”, que se realizou de 19 a 21 de Setembro 1964 e a operação “Base”, que teve como palco o Oio, entre 4 e 7 de Outubro de 1964.
No tocante à operação “Tornado”, o autor extrai alguns elementos da história do Batalhão de Cavalaria 705:
“A área do Cantanhez não era percorrida desde o início de 1963, pelo que as forças terrestres de Cabedu foram forçadas a limitar muito as suas surtidas, em virtude da força e organização do inimigo na região.
Esta está centrada na principal linha de reabastecimento do inimigo que daí se bifurca em direcção ao Como e a todo o resto da Província.
A população de toda a área colaborava abertamente com o IN, pelo que convinha que as nossas tropas marcassem presença na área, a fim de atingir o IN no seu percurso e permitir às forças de Cabedu um alargamento da sua zona de acção. O IN está comandado por João Bernardo Vieira, “Nino”. Como armamento, dispõe de metralhadoras pesadas e ligeiras, morteiros 82 e eventualmente lança-granadas foguete. (…)
(…) O comando do agrupamento W deslocou-se, durante a operação junto da CCav 707 (…) o major de Infantaria Vitorino Azevedo Coutinho, Oficial de Operações do Agrupamento 17 e Comandante do Agrupamento W, foi do seguinte parecer que dá bem a ideia da satisfação e entusiasmo que este oficial sentiu ao comandar forças do BCav 705:
“(…) A disciplina do seu fogo foi sempre de molde a satisfazer os seus chefes e ainda mais notável foi a sua disciplina de baixo de fogo inimigo, nomeadamente durante o desembarque da CCav 704 (…)”.
O desembarque em Catesse realizou-se pelas 7 horas do dia 20, após a Força Aérea ter comunicado que não era possível dar apoio, em virtude do “tecto” estar muito baixo. Este local de desembarque, por se encontrar a cerca de 120 metros da orla da mata mais próxima e permitir uma actuação eficaz do IN após a acostagem da lancha de desembarque, foi o único em que se previa apoio aéreo (…).
A LDM (Lancha de Desembarque Médio) 301, que transportava o Comando e os dois Grupos de Combate da CCav 707, juntamente com o Comando do Agrupamento W, encostou a um caminho que conduzia a uma mata cerrada. O caminho subia, oferecendo comandamento a quem estivesse instalado naquela, e toda a orla era constituída por tarrafo alagado.
O primeiro Grupo de Combate, que recebera a missão de estabelecer uma testa de praia, desembarcou rapidamente, tendo o resto do pessoal aguardado na LDM. A cerca de 50 metros da orla da mata, rebentou enorme tiroteio de metralhadoras, espingardas e pistolas-metralhadoras, para além de granadas de mão. O sinal que desencadeou a acção foi um tiro de pistola, o que permitiu que, quando a metralhadora abriu fogo, já todo o pessoal se encontrasse no chão. Este Grupo de Combate ficou detido pelo fogo intenso, vindo da mata, e sem possibilidades de manobra…
Conseguiu-se abater um elemento inimigo que fazia fogo em cima duma árvore e criou-se uma base de fogos na posição onde ficou detido o primeiro Grupo de Combate… em lanços sucessivos, a força de manobra conseguiu atingir a orla da mata, expulsando o inimigo (…)”.
A operação “Base” também é registada neste livro, foi uma investida à base de Mansodé, na região do Morés. Estimava-se na época que o inimigo tivesse ali mais de 650 homens. As forças saíram de Bissorã, foi violentamente atacada em Iaron por um enxame de abelhas e durante a evacuação de um sinistrado o inimigo revelou-se.
Encontrou-se um acampamento com cerca de 15 casas de mato, que foi destruído. O contingente do BCav 705 pernoitou na mata de IaronCambaju, foi emboscado, mas o inimigo foi obrigado a retirar. Mais adiante, a CCav 704 foi alvejada e registou-se um ferido. Durante a segunda noite da operação, o inimigo flagelou a força estacionada, tentou assaltá-la mas foi repelido.
“Tempo Africano” foi editado por DG Edições com o patrocínio da Câmara Municipal de Oeiras, Comissão Portuguesa de História Militar e Liga dos Combatentes.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7316: Notas de leitura (175): África Dentro, de Maria João Avillez (Mário Beja Santos)
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