Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 2617, Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971... Três fotos (em mau estado...) do Fur Mil Abílio Pimentel, de seu nome completo Abílio Alberto Pimentel Assunção, junto à peça de artilharia 11.4. (Fotos do acervo da AD - Acção para o Desenvolvimento).
Fotos : © Abílio Pimentel / AD - Acção para o Desenvolvimento (2006). Direitos reservados. (Editadas por L.G. Reprodução com a devida vénia...)
1. Do nosso leitor (e camarada, ex-Alf Mil, Pel Art, Gadamael) C. Martins (actualmente médico), em comentário ao poste P7768 (*):
Em primeiro lugar a fotografia que apresentas com dois camarigos junto a uma peça 11.4, nenhum deles sou eu
Aproveito para mais uma lição de artilharia para os infantes.A diferença entre peça e obus tem a ver com a relação calibre/comprimento do tubo, isto quer dizer que a peça tem o tubo mais comprido.
A orgânica de uma bateria de campanha (=companhia de infantaria) era constituída por PCT (posto de comando e transmissões), IOL(informação,observação e ligação) que no caso da Guiné era feito normalmente pelos infantes e pilavs,sim porque nós artilheiros não eramos burros, em caso de engano não levávamos com os supostórios na mona que para isso estavam os infantes, e CAMPANHA (obuses ou peças).
O tiro de obus 14 era feito da seguinte forma: (i) introduzia-se a granada no tubo, claro que com a respectiva espoleta; (ii) depois soquetava-se a granada com um soquete (pau comprido e mais grosso na ponta)..(eh!, nada de segundas intensões... este também podia servir para outras funções.. que deixo a vossa imaginação), de forma a que a granada ficasse bem acoplada ao tubo; (iii) depois introduzia-se a carga ou cargas consoante o critério do "inteligente" que comandava, fechava-se a culatra principal, introduzia-se a escorva (cartucho) na culatra auxiliar que era fechada e, (iv) à voz de fogo, o servente à culatra puxava o famoso cordel que accionava um percutor na escorva que ao rebentar transmtia uma chama, através do cogumelo, à culatra principal onde estava a carga que explodia fazendo sair a granada do tubo.
E pronto, a partir daqui era ter fé que a granada impactasse onde se pretendia e que explodisse...
Oh infantes, vocês depois de dispararem a G3 iam fazer coreccção da trajectória da bala ?!.. Ah... como o tubo era estriado, imprimia um movimento de rotação à granada que servia para dar uma trajectória mais correcta e também armava a espoleta.
Perceberam ou querem que vos faça um desenho ?
Um alfa bravo
C.Martins
[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
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Nota de L.G.:
Vd. postes do C. Martins (que não integra formalmente a nossa Tabanca Grande):
23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7662: (Ex)citações (127): Um lição de artilharia... A propósito do obus 14, de Bedanda, bem como dos artilheiros e infantes... (C. Martins)
(...) Quero rectificar os dados referidos do obus 14: o alcance máximo era de 16.600 metros com carga 4 e num ângulo de 45º, o peso da granada era de 45kg.
Quero ainda dizer que os cálculos de tiro eram feitos em jardas porque o obus era de origem inglesa e o peso da granada era em libras. Os dados referidos em cima são a conversão para o sistema métrico e decimal.
Os cálculos tinham ainda em linha de conta a densidade do ar, que variava com a temperatura e humidade e ainda o chamado ângulo de sítio para a crista se houvesse um obstáculo à frente do obus, por isso, meus caros infantes, era muito difícil aos artilheiros calcularem com exactidão o local exacto do impacto da granada, mesmo hoje com GPS é difícil.
Aquela velha anedota de "Deus no livre da nossa artilharia, que da do IN nos livramos nós", só por ignorância, mas nós, artilheiros, aceitamos com bonomia.
Para terminar quero dizer que a velocidade de saída da granada do tubo dependia da carga mas era sempre superior à velocidade do som, por isso fazia aquele som tão característico e se estivesse cacimbo então era cá um "ronco". O custo de cada tiro era apenas a módica quantia de 2.500$00. (...)















