segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7778: Memória dos lugares (139): Bedanda no meu tempo (Rui Santos, ex-Alf Mil, Op Esp, 4ª CCAÇ, 1963/65)

1. Mensagem, do dia 12,  do nosso camarada Rui Santos (ex-Alf Mil, Op Esp, 4ª CCAÇ 1963/65), ao poste P7771 (*)

Caro António Teixeira:

Devo referir que devo ter sido dos primeiro a comentar BEDANDA [, que tem já meia centena de referências/marcadores no nosso blogue]. Estive nessa região que calcorrei a pé por bolanhas, subi o Unguariuol de canoa, ía quase todos os dias a Cobumba, onde estava um cais com rampa, onde atracavam os Navios da Marinha maiores, a escolta era apenas dentro desses transportes, uma a duas secções, comandadas por um ou dois sargentos

Fiz sózinho cerca de 56 Kmts pela mata do Cantanhês. Na 4ª CCaç eramos apenas 3 a 4 alferes e um capitão.  Estive nesses locais desde 20 de Setembro  de 1963 a Agosto de 1964, fui alferes e as povoações que o meu amigo fala são Amedalai lá no alto, a companhia estava para leste dessa, em frente da casa do Chefe de Posto, havia um destacamento comandado por um sargento e eu comandava o pelotão que aboletava em Bedanda propriamente dita,  a cerca de 700 metros  do "cais" no Unguariuol, a norte, e a sul, o campo de aviação.

Fui flagelado no meu pelotão pelo menos duas vezes por mês, quer via morteiro, quer de ataques directos, quer de canhão sem recuo (penso) e de uma metralhadora .50 [?].

Conheço a região palmo a palmo e penso actualmente nela como se lá estivesse, minei em volta do meu aquartelamento com cerca de 28 minas pessoais e anti-carro adaptadas a antipessoal com cordões de tropeçar e garrafões de 10 litros cheios de invólucros e gasolina por cima (o detonador superior desactivei-o), e bem camufladas em arbustos naturais.

Vejo no Google  e reparo que há muito mais moranças e os campos estão cultivados, mas meu amigo num dos seus primeiros comentários referiu que esteve numa operação nocturna no Unguariuol, junto do Nhai com o Figueiral a inspeccionar tudo o que era canoa.

Meu amigo, Nhai fica a cerca de 7 km (de mata) do riozito que, no local mais perto de Nhai, deve ter cerca de três metros de largo, deve ter-se por certo enganado.

O pequeno afluente do Cumbijã distava cerca de 800 mts das povoações de Incala; Rossum Hole; Caboxanque e mais duas aldeias que de momento não recordo o nome.

Pois, já tentei comunicar com o Figueiral via mail, mas "nepias"!

Gosto das suas fotos que acho magnificas, só tenho pena que no meu tempo só houvesse "caixotes" de fotografia.

Cumprimentos
Rui G. dos Santos
ex-alf-mil 


2. Comentário de José Figueral:



Que grande memória tens! Esqueceste-te de dizer que as batatas já chegavam sempre podres e,por isso,a ementa do almoço e jantar era sempre a mesma:bife de vaca com arroz,durante 2 anos.


O alferes do Pelotão era o Baltasar de Esposende. Vê se o descobres.

Abraço. José Figueiral

3. Novo comentário do Rui Santos:

Caro Figueiral,

Bem dito por quem ainda comia batatas pois nós houve uma altura que não tivemos reabastecimento e tivemos que comer bacalhau com arroz, arroz com bacalhau,e por aí fora durante 36 dias seguidos, o que vale é que gosto de bacalhau e ía porvezes caçar rolas e eu e os meus sargentos comiamos rolinhas fritas ao pequeno almoço.

Voltei apenas para rectificat que Caboxanque fica mais para sudoeste 12 a 15 Kmts em linha recta e queria-me referir a Contumbum.

Tenho uma boa memória, sim, senhor, obrigado!

Uma vez fomos reabastecidos via aérea, mas os pilotos tinham medo de aterrar com os Nordatlas (ou coisa parecida) e então faziam a pista no sentido oeste leste e deixavam cair as caixas com batatas, cebolas, couves, cenouras, etc e claro partiam-se todas quando caiam, e ai estamos todos á procura de alimentos em volta da pista.

Estou apto a responder a tudo o que tenha ocorrido no meu tempo nessa região!
Rui G.Santos 
_____________

Nota de L.G.:
 

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Rui.
Foi com imenso prazer que li e reli o seu comentário, sobretudo porque temos mais um Bedandense entre nós. Melhor, o Rui é que encontru mais Bedandenses pois pelos vistos está há mais tempo aqui no Blog do que nós.
E é também com muito prazer que lhe comunico que está em marcha a realização de um encontro de Bedandenses, e claro está, contamos consigo. Nesta fase, estamos a tentar encontrar mais pessoal para engrossar o grupo (que já não é pequeno).
Quanto ao seu comentário em que faz a descrição da Bedanda do seu tempo, creio eu que pouco mudou para o quando lá etivemos. A Companhia lá em cima, com o Capitão e mais 4 Alferes (um deles destacado no "Pelotão"), a casa do chefe de posto, etc. Nós tinhamos felizmente mais um alferes médico e outro alferes artilheiro. Mesmo a sua descrição do Pelotão foi minunciosa e eu quase que me vi lá.
Quanto á operação representadas nas fotografias, tratava-se de uma operação de rotina executada todos os meses. Limitava-se ao patrulhamento das margens do rio para a passajem do comboio fluvial, já ele de si patrulhado por 2 LDM's (ou LDP's ?) e alguns sintex's dos Fuzileiros e também com proteção aérea dos Dakotas. Assim, até dava para levar a máquina fotográfica (Tenho quase a certeza absoluta de que nunca houve problemas nestes patrulhamentos, pelo menos durante o meu tempo. Quanto ás outras operações, essas já eram bem mais complicadas e por várias vezes tivemos "embrulhanços", isto para não falar dos ataques ao aquartelamento que eram habituais.
Quando referi a noitada passada no rio Ungariuol para controle das canos junto ao Nhai, realmente há um erro aqui. Não se tratava do Ungariuol, mas sim de um outro afluente do Cumbijã (se é que realmente se pode chamar aquilo afluente). Referi Nhai, mas é preciso ter em conta que nós consideravamos 2 Nhais: o Nhai Grande e o Nhai Pequeno, e eu referia-me a este, que ficava um pouco acima de Incala.
Quanto a fotos, ainda tenho por aqui bastantes, que irei postando com o tempo. Como disse noutro lado, tive a sorte de herdar do Furriel Vago Mestre um laboratório de fotografia que ficava nas traseiras do posto médico e que foi responsável pela minha paixão pela fotografia.
Muito mais havia a falar, mas ficará para outra oportunidade.
Para já fica a grande alegria de encontrar um novo amigo.
Daqui lhe envio um grande abraço e com ele segue a minha amizade.
António Teixeira

Anónimo disse...

Caro Figueiral.
Vamos a notícias. Este fim de semana tive aqui em casa a companhia da família Carvalho. Como te disse as nossas famílias ficaram muito unidas e é com frequencia que nos visitamos.
Ele, que está a par destes acontecimentos, referiu-me que já falou pessoalmente com o Dr. Nuno, com o Dino e com o Luis Nicolau (era o cabo que tratava do correio. Todos eles confirmaram a vontade no nosso encontro. Vai tentar entrar em contacto com o Capitão que te substitui, o Gastão Silva, que parece que está no Algarve.
Também enviei um mail ao Cap. Ayala Botto e ele teve a gentileza (eu não o conheci) de me enviar o mesmo mail que te enviou.
Quanto ao Baltazar, parece que vai ser possível. O Vasco já esteve com ele há uns tempos e parece que tem o telemóvel dele. Vamos esperar.
E já agora quanto á memória, nunca esqyeceria aquela noitada, pois foi a minha primeira acção militar. E até teve piada.
Quanto ás batatas, como me lembro, assim como o sabor do vinho que nos enviavam, daqueles ovos com sabor a quimicos e da bianda e marmelada quando já não havia mais nada.
UM grande abraço, companheiro

Luís Graça disse...

Certamente por lapso, o António Teixeira não assinou o comentário anterior... LG

Anónimo disse...

Apenas quero ilucidar a .50, pois foi num ataque diurno, começaram a disparar de Incala, após umas experiencias nossas de longo alcance pela autometralhadora que nos foi visitar, pois deviam querem dizer:-" Nós também temos"
Confirmamos pela bala que recolhemos do corpo da vaca que eles mataram.
Rui Santos

Anónimo disse...

Caro Rui,

Sejas bem regressado.

Os aldeamentos que não recordavas, posívelmente um seria Flaque Injã.

Os tempos embora não muito longos, mas verificaram-se muitas alterações.

Conheci Bedanda de passagem já com a 4ª. CC a funcionar em finais de 1965 quem comandava nessa altura a companhia era o agora general Aurélio Trindade.

O tempo passa mas a memória fica.

Cobumba tornou-se mais tarde, um grande poiso do PAIGC, cujo passoal descia de Cansalá até ali. A minha C.CAÇ. 763 ainda fez operações a Cobumba saindo de Cufar. Com a 4ª. CC várias fizemos tanto na margem esquerda como direita do Cumbijã.

Um abraço,

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caro Rui,


fala varias vezes acerca do porto de Cobumba, ora acontece que, no meu tempo(chegada a Bedanda em Jan72) nao existia absolutamente nada em Cobumba. No seu tempo estava la tropa estacionada? pois em finais de 1972/inicio de 1973 foi la colocada uma companhia, assim como, passado algum tempo, tambem colocada uma outra no Chugue.

um abraço,

vasco santos