terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7787: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (63): Na Kontra Ka Kontra: 27.º episódio




1. Vigésimo sétimo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 14 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


27º EPISÓDIO

Praticamente o Alferes e a sua mulher só se encontram na cama. Será pouco para um relacionamento saudável.

Aos poucos começa a haver desinteresse mútuo na cama. Parece repetir-se o que se tinha passando com o João Sanhá e a sua primeira mulher Kadidja, pois o João só comia a comida feita pela outra mulher, a Mariama.

Os dias vão passando e o desinteresse de um pelo outro acentua-se. Ao fim e ao cabo tudo o que aconteceu talvez não passasse de uma fantasia do Alferes Magalhães que, depois de realizada, nada mais interessava.

Passou um mês do dia do casamento. A situação estava a tornar-se insustentável e o nosso Alferes começa a pensar como há-de sair da situação em que se tinha metido. Tinha agora plena consciência dos problemas que se podem criar com a diferença de culturas. Também aprendeu que o amor não se pode reduzir à cama.

Apesar de o Alferes Magalhães ter os patrulhamentos diários que lhe ocupam muito do seu tempo e até certo ponto o distraem, não deixa de pensar na sua situação de vida com a Asmau e na forma de a resolver. Como tem o Furriel que lhe resolve quase todos os problemas de comando, tem mais tempo para conversar com o João e o resto da população da tabanca.

Os autênticos concertos de kora dados pelo Braima, à noite, no “bentem”, ajudam à distracção de todos e especialmente do Alferes. Mas tudo isso não basta, o seu grande problema actual mantém-se.

Foi nessas conversas nocturnas que vem a saber que o milícia Samba não se importaria de ficar com a Asmau se o Alferes se divorciasse. Subsistia porém o problema de o Samba não ter dinheiro para a “transacção”.

Poderia haver um divórcio formal, passando pelo pai da Asmau em que este devolveria o dote ao casal, em partes iguais, ou o Samba poderia entender-se com o Alferes sobre o pagamento que lhe teria que fazer para ficar com a Asmau.

O Alferes fala com o Adramane e ambos concordam em que não haveria divórcio formal, ficando o Alferes com a liberdade de “negociar” com o Samba.

No patrulhamento do dia seguinte saem, como costume em fila indiana, afastados uns dos outros seis ou sete metros, conforme as instruções do Alferes, seguindo atrás deste o seu “ordenança” o Dionildo. Logo ao entrar na mata o Alferes dirige-se ao Dionildo:

- Desta vez quero que troques a tua posição com o Samba. Vais lá à frente e diz-lhe para ele vir para aqui.

- F… meu Alferes, fui despromovido?

- Não penses que te livras assim de mim. Só quero conversar com o Samba e depois volta tudo ao mesmo.

Depressa a ordem foi cumprida. Quando o Samba ia a passar pelo Alferes para se posicionar à distância combinada, este diz-lhe para se colocar a seu lado pois queria conversar com ele. Continuando a andar ao lado do Alferes o Samba não tira os olhos do chão. Em voz baixa como a dupla situação exigia, o Alferes vai-o pondo à vontade falando de algumas banalidades e de seguida passa a abordar o assunto que diz respeito aos dois.

- Samba, podes crer que ao chegar aqui a Madina Xaquili, se soubesse que tu gostavas da Asmau e só não tinhas casado com ela por não teres dinheiro para dar ao seu pai, eu não teria feito o que fiz. Gostei muito da Asmau, mas agora as coisas já não estão a correr bem entre nós.

Continuam a andar pela mata, pouco densa nessa zona, calcando o capim que já atingia quase um metro de altura. O Samba ao lado do Alferes nada dizia, continuando de olhos baixos.

- Samba, se eu me divorciasse da Asmau estavas na disposição de casar com ela?

Nesta altura, pela primeira vez, o milícia levanta a cabeça e encara o Alferes. Admite que a Asmau ainda pode ser sua.

- Mas meu “Alfero” não tenho “patacão” que chegue para dar ao pai dela.

- Já falei sobre isso com o Adramane e podes crer que de alguma forma se há-de resolver o nosso assunto. Vou pensar bem sobre isso e depois tornamos a falar.

O nosso Alferes estava decidido a resolver a situação. Chegado do patrulhamento, tomou outro banho, almoçou com os seus homens e “dormiu” o que pensava ser a última sesta com a Asmau.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7779: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (62): Na Kontra Ka Kontra: 26.º episódio

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